História O que nós somos agora? - Único.

O primeiro olhar para um amigo, em que você pensa se deveria chamá-lo realmente de amigo, é o também o primeiro sinal de que as coisas deveriam seguir em frente. Evoluir para um relacionamento que duas pessoas devem considerar entre si. Tão intimo tão incrível e tão precioso quanto poderia ser. O primeiro olhar para um amigo em que Namjoon tivera esse pensamento, fora durante um programa.

Aquele com certeza não era o momento certo pra isso. Yoongi continuava falando sem perder uma única linha, com sua língua presa e a voz arrastada que sempre o fazia parecer bêbado ou sonolento. Nada daquilo o fazia focar nas palavras que o moreno deliberadamente soltava diante da câmera, sua cabeça movia-se em uma constante afirmação, mas era obvio que não fazia ideia do que ele estava dizendo. Na sua própria mente, uma única pergunta ecoava e causava uma confusão grande o bastante para, sem muito cuidado, ser dita ali, ao vivo: O que nós somos agora?

É claro, havia momentos em que a resposta obvia é “companheiro de grupo”. Inevitável dizer, afinal, eles cantavam, dançavam, trabalhavam e faziam sabe-se lá mais o que junto de outros cinco membros. BTS, Bangtan Boys, Rap Monster, Suga. Companheiros de grupo e é isso. Mas havia um ponto crucial na vida dos dois que o impedia de dizer que eram apenas companheiros de grupo e esse ponto estava dividido em longos anos de amizade.

Amizade deveria ser a palavra final. Rap Monster, em sua “forma” original, Kim Namjoon. O verdadeiro eu de Suga, Min Yoongi. Eles eram amigos, próximos o bastante para que não precisassem trocar palavras para dizer o que sentiam um pelo outro. Amigos o bastante para que não precisassem dizer seus gostos, preferências, medos, porque tudo já foi dito. A amizade em um ponto que nada mais precisava ser omitido, nenhuma vergonha ou timidez deveria dominar entre os dois, uma amizade forte o bastante para que pudessem trocar rápidos olhares, rápidos sorrisos e sinceros sentimentos um sobre o outro. Mas sentimento era outra palavra que confundia a mente de Namjoon.

Porque ele sabia, ambos sabiam que o sentimento entre os dois era mais do que apenas amizade e ao contrário dela, só eles sabiam daquilo. Não era como se os outros precisassem saber... Não ainda. Amor era a seguinte, pior e mais confusa das palavras que ecoavam na mente do rapper. Palavra esta que o acompanhou até o fim da entrevista, à volta pra casa e, quando sentiu seu corpo afundar contra a cama, percebeu que, mesmo tímida e sutil, continuava ali, sussurrando em seu ouvido.

Não havia mais nada que Namjoon precisasse pensar sobre seus sentimentos para Yoongi. Eles já haviam trocado palavras carinhosas, suas mãos estiveram juntas desde a primeira noite em que Yoongi invadiu sua cama, somente porque sentia vontade de conversar e posteriormente dormir com ele. Namjoon conhecia todos os pontos mais sensíveis de Yoongi: seu pescoço, o lóbulo da orelha, até mesmo seu “abdômen fofinho”, como ele adorava chamar e morder. Conhecia a maciez de seus lábios, descoberta em noites viradas no estúdio e sabia que este sabia exatamente as mesmas coisas sobre si.

Nam sabia quão bem soava um “eu te amo” na voz perfeita de Min Yoongi. Yoongi sabia quão incrível eram as mesmas palavras pronunciadas por aquela voz tão grave e macia. Joon sorria para o teto aquela noite. Sorria pensando no quanto gostava de Yoongi, como colega de grupo, como Hyung, como melhor amigo, como... Algo. Esse algo, que lhe fizera voltar a questionar: O que eles eram naquele momento?

Eles eram próximos. O bastante para que Namjoon pensasse em buscar seu celular no criado-mudo e mandasse uma mensagem de texto para seu “sweetie Hyung” e assim o faria, se seu olhar não tivesse fixado na porta de seu quarto, sendo lentamente aberta. A única pessoa que fazia aquilo, daquela forma, era Yoongi e o mais novo não podia sorrir mais largo do antes, ao ver o dono dos fios escuros fechar a porta e cuidadosamente seguir para sua cama. Jungkook, no móvel ao lado do seu e um pouco distante, mantinha a boca aberta e seu peito subia e descia cuidadosamente. Era seguro.

“Pensei que já estivesse dormindo...” Yoongi disse baixinho, se enfiando manhosamente por debaixo das cobertas. Passou os braços pela cintura do mais novo e Nam fizeram o mesmo em torno dos pequenos ombros de seu Hyung.

“Não consegui... Fiquei pensando sobre algo...” confessou baixinho, vendo o outro logo se interessar por aquilo. O bico confuso que ele fizera nos lábios causou em Namjoon uma onda de admiração forte o bastante para lhe fazer sorrir, mostrando suas belas covinhas. Yoongi também sorriu, apesar de ainda estar curioso. “Pensando sobre você...”.

“Você nunca vai se cansar de ser um romântico gorduroso?” o mais velho brincou e aquilo quase fizera Joon estragar a noite dos dois com uma risada um pouco mais alta que provavelmente acordaria Kook, mas impedida a tempo.

A mão que antes permanecia livre e a acariciar o braço de Yoongi, lentamente subira para seu rosto e, sem responder sua provocação, puxou o garoto para si. Quando seus lábios se tocaram, tudo na mente do rapper desapareceu por completo. Seus carnudos quentes e aconchegantes, de encontro aos finos e macios lábios do mais velho era uma das coisas que mais lhe acalmava em todo o mundo. O selar, retribuído pelo outro, logo fora cessado, somente para que o fizesse novamente, duas, três vezes, longo e apaixonado, aos poucos se tornando um aprofundado beijo, um carinho já conhecido, o que já não era mais uma guerra de dominância.

Yoongi deixava que Namjoon comandasse o beijo, sempre. O porquê, ambos não faziam ideia, mas a forma como o mais alto encaixava e movimentava perfeitamente a língua de encontro à de Yoongi, a forma como ele explorava sua boca, tudo naquele ato era encantador para o mais velho, assim como para o mais novo. O pequeno corpo de Yoongi aos poucos subia para o alheio, com uma perna a cada lado de Namjoon, os braços o apoiando aos lados de sua cabeça. Eles já conheciam aquilo, tudo aquilo. Joon já conhecia a cintura de Yoongi e sabia como segurá-la com perfeição, Yoongi sabia exatamente como seu corpo encaixava-se ao outro quando estavam daquela forma. A superfície dos dígitos de Namjoon já conhecia a pele de Yoongi, a qual era cuidadosamente tocada, à medida que ele expulsava o tecido do pijama do garoto daquela região, levantando-o somente o bastante.

As sensações, apesar de familiares, eram incríveis para os dois, sempre. Desde a primeira vez, talvez até o fim dos tempos. Pouco tempo depois, interrompeu o beijo, mesmo contra sua vontade e assim o rapper mais alto passou a encarar o rosto alheio. Seu rosto continuava a ficar vermelhinho, não importava o tempo que passasse, ou quantas vezes fizessem aquilo. Com um pequeno e bobo sorriso em seus lábios, Joon voltou a fazer o carinho na bochecha alheia, vendo-o retribuir o sorriso daquela forma tão doce que apenas ele conseguia fazer.

“Tem algo que eu gostaria de te perguntar...” disse finalmente, vendo-o mais uma vez ficar alarmado. Como você consegue ser tão lindo? De repente cruzou a mente de Namjoon e ele quase deixou escapar isso. A conversa sobre a beleza de Min Yoongi precisaria ficar pra outra hora.

“Tudo bem... Aconteceu algo?”

“Um pouco, sim... Hoje, durante aquele programa, uma pergunta surgiu na minha mente de repente e eu queria te fazer. Acho que por pouco eu não te interrompi e ali mesmo falei.” Começou, vendo o mais velho sorrir um pouco mais sereno. Ambos sabiam que, se Namjoon brincava sobre algo, não vinha nada ruim em seguida. “Hyung... O que nós somos agora?”

A pergunta fizera Yoongi franzir o cenho e Namjoon não pôde deixar de sorrir. Ver a confusão no rosto alheio e sua busca incansável por uma resposta de certo modo lhe aliviava. Afinal, seria péssimo para o mais novo se o outro já o considerasse oficialmente algo a mais do que melhor amigo. Quando suas expressões suavizaram novamente, o rapper tornou-se curioso pelo leve sorriso nos lábios de seu pequeno Hyung. “Isso depende de você...” ele disse e, quase em um tom mais alto do que os atuais sussurros que ambos trocavam, Namjoon, perplexo,  indagou:

“Como assim depende de mim?”

“Namjoon-ah, você quer ser meu namorado?” as palavras alheias soaram como um baque enorme para Namjoon. Sim, porra, claro que eu quero! Pensou em responder, mas as palavras mal tinham chance de sair de sua boca, a qual abria e fechava diversas vezes. Yoongi, diante daquela reação, deu uma breve risada e prosseguiu: “Eu sei que é extremamente difícil para dois homens e ainda ídolos se relacionarem, mas é obvio que não somos só amigos, Joon-ah. A minha amizade com os outros não contam com coisas como beijar, ou... Você sabe... Isso tudo que fazemos. Então eu acho mais do que justo se eu você formos mais do que amigos. Nem que seja só pra nós dois... Eu realmente quer-...”

Antes que o outro pudesse continuar, Namjoon tomara a frente e, puxando-o para si, roubara um intenso selar de seus lábios. Somente quando deixara o outro se afastar é que vira agora o olhar confuso nele, como se Nam tivesse lhe transmitido o seu através do beijo. Com uma risada baixa, roubou mais um ou dois selares desajeitados, já que nenhum dos dois poderia parar um segundo de sorrir.

“Isso significa sim?”

“Definitivamente sim, Hyung.” Ainda com largos sorrisos nos lábios, o mais velho deitou a cabeça novamente sobre o outro, de forma a esconder o rosto em seu pescoço. Abraçando-o com força por cima dos ombros, Namjoon sabia que o final feliz não era ali. Sabia que, no dia seguinte, teriam de levantar e enfrentar todos os compromissos, todas as responsabilidades e dificuldades. Mas, diferente daquela manhã, do que pensara durante o programa de mais cedo e de todas as vezes que pusera os pés para fora da cama, sabia o que ele e Yoongi eram um para o outro.

Eles eram companheiros de grupo, Hyung e Dongsaeng, melhores amigos e agora, oficialmente, namorados.