Perséfone simplesmente amara a companhia de Cérbero. Ela nunca soube a história daquele cão. Jamais tivera qualquer contato com uma criatura daquele porte. Fora algo diferente, uma sensação boa conduziu-se para dentro de si quando esteve com o canino. Ela não havia ficado exatamente sozinha naquele dia. As horas voaram e logo trouxeram a noite. Perséfone pouco diferenciava o dia da noite, seus jardins ficavam mais floridos durante o período do dia e quando a noite pairava algumas flores prendiam seus brotos e escutava-se apenas as corredeiras dos rios descendo pelo submundo.
Pelos seus cálculos, Hades estaria logo no palácio e enfim ela poderia vê-lo. Nem sempre o deus dos mortos iria para os julgamentos, ele era o rei, as ordens cabiam aos outros, não a ele. Ela torcia para que tudo isso fosse possível.
Ela teve de pedir ajuda a um guarda que fazia a ronda. O soldado usava um elmo romano, prateado. Perséfone deduziu que todos aqueles homens, haviam morrido tragicamente em uma guerra e eram dignos o suficiente para protegerem o palácio de Hades. A deusa o seguiu pelos corredores, tudo era tão parecido, portas iguais, core pouco brilhantes e sem nenhum conteúdo distinto, tudo para que se algum intruso quisesse se aventurar ali, morreria na certa. Era como um labirinto.
A capa do soldado esvoaçava-se suavemente pelo chão de acordo com a rapidez dos passos que dava. O silêncio era nítido e cumplice do eco daqueles passos, era agradável nada mais que isso. Com toda aquela tranquilidade fora fácil para Perséfone cair nos seus próprios pensamentos.
Qual seria a surpresa? Por que não iriam se juntar aos outros deuses? Mas além de tantas interrogações, uma boa parte dela concordava e lhe agradava ficar um tempo com Hades. Eles precisavam disso.
Então ela sentiu a sala ficar mais fria que o normal, e um pouco antes de pensar em ver do que se tratava, ela trompa no soldado que para de repente. Ele se sujeita a manejar uma perfeita reverência. Nisso Perséfone reconhece Hades parado logo a frente.
Não conseguindo se conter, ela desvia do soldado e corre para os braços do deus dos mortos. Passa seus braços ao redor do pescoço dele e sente aquele delicioso cheiro que somente ele possuía.
____Senti sua falta! ____ela sussurra agonizada pelo sofrimento.
Hades se demorou alguns minutos a responder, dispensou o soldado que evaporou dali, passando a observar a formosura que era sua esposa.
____Você não sentiu minha falta tanto quanto eu senti a sua. ____ele confessa, pegou o rosto dela com as mãos e mergulhou naquele doce olhar. ____Me contaram que estivera em uma ótima companhia.
Ela não conseguiu conter o sorriso.
____Suas cumplices cumpriram seus pedidos corretamente.
____Então você já sabe? ____ele pergunta mesmo sabendo a resposta.
____Não. ____ela mostrou-se chateada. ____Não quiseram me contar. Nix foi muito esperta, tentei de várias formas fazê-la me falar. Mas você sabe que ela não conta.
Ele riu sem esconder o gostinho da vitória.
____Ela fez bem em não lhe contar, quero eu mesmo lhe mostrar. Por falar nisso achei que já estivesse pronta.
Perséfone se faz de desentendida e o olha fascinada.
____No início da manhã confesso que estava me sentindo sozinha, fiquei só no almoço e durante a tarde pude me divertir um pouco. ____os olhos dela se encheram de alegria. ___Cérbero me fora uma excelente companhia, encontrei ele quando entrei nos jardins. Achei estranho ele ter estado lá, desconfio que você o mandou até mim. E sim, eu amei conversar com ele, acho que consegui entender por que ele é tão importante para você.
Hades a observa com um profundo olhar, era hipnotizante olhar para ele, uma doçura preenchia aquele mar negro. A cada segundo que ficava perto dele, a deusa o amava ainda mais.
____Geralmente, ele não percorre a extensão do palácio, nisso você tem razão e está correta em achar que eu o mandei aqui. ___ele reflete as próprias palavras e fica fascinado ao ver a atenção dela. ____Sabia que se dariam muito bem, quem não gostaria de ficar com você? É impossível alguém odiá-la. Não queria deixa-la completamente sozinha, Cérbero gosta de falar e brincar. Eu senti quando ele se comunicou com você por pensamento.
____Sentiu? ___ela estava fascinada, pois logo voltou a observar a beleza de seu marido. ____Você é tão lindo.
Hades se mostrou confuso, franziu o cenho, procurou desviar o olhar e retornar com alguma resposta, mas ele nunca havia sido elogiado daquela forma. Perséfone aproximou seu rosto do dele dizendo.
____Absolutamente lindo.
Selou seus lábios nos dele, não gravara quase nada do que Hades havia dito, passou tanto tempo longe dele que precisava beijá-lo logo. Ele separou seus lábios, sussurrou um “eu amo você” e a tomou em seus braços por completo. Teve a impressão que iria queimar, pois ela aquecia toda aquela solidão que havia nele.
Perséfone adentrou em seu quarto rapidamente, ao ver Tersa organizando as coisas da rainha, a deusa suspirou aliviada.
____Tersa!
A ninfa voltou-se para a direção da porta e sorriu ao ver a amiga.
____Senhora. ____ela cantarolou. Perséfone foi chegando mais perto, queria ser mais rápida e chegar logo em seu armário. Tersa a acolheria e faria magica com seus vestidos.
____Preciso de sua ajuda, com certa rapidez. ____Perséfone desaba contra a porta do armário. ____Não tenho certeza se conseguirei ficar pronta na hora exata. Preciso que você faça algo e rápido.
A ninfa começa a rir baixinho, com um olhar que Perséfone sabia muito bem o significado. A deusa revira os olhos e põe as mãos sobre o rosto, dizendo:
____Nem comece com isso, acho que você precisa urgentemente de um marido. Apenas assim vai sossegar. ____a voz sai sufocada com um tom cansativo.
____O beijo deve ter sido bom pelo o que me parece. ____ a ninfa continua achando graça. Perséfone mostrou desentendimento ao olhar ara Tersa. ____A senhora tem toda a razão, eu preciso de um marido logo. E espero que ele também borre meus lábios com batom.
____Como assim? ____a deusa ficara perdida.
____Aqui. ____Tersa mostrou em seu próprio rosto o local em que estava sujo de batom. ____Ele fez um estrago isso sim. Adoro um deus com iniciativa.
Perséfone correu para o espelho e caiu na risada quando viu seus lábios borrados em um tom avermelhado.
____Tersa você nunca muda. ____ela continua na brincadeira, porém ainda contente ela muda o humor para um movimento mais sério. Preocupada. ___O que você poderia fazer por mim, além de arrumar meu batom?
____Você vai amar o que está lhe aguardando neste momento. Relaxe, aproveite a noite. Minha senhora, entrou tão preocupada que nem notou o vestido ao lado da cama.
A deusa procura rapidamente pela cama, sentiu sua boca cair levemente sobre nobreza do vestido. Ela não conseguia desviar o olhar, nem conseguia acreditar que era todo seu. Aproximou-se maravilhada, o vestido cintilava em seus olhos.
____Você quem o fez? ____perguntou emocionada. ____É magnifico!
Tersa esboçou um sorriso tímido e respondeu:
____Fiz o que pude, a um bom tempo estive trabalhando nele. Tudo para que um dia ele a vestisse. ___ela ficou ao lado da amiga e pôs a mão no ombro da mesma. ___Achei que túnicas poderiam ser um pouco mais sofisticadas que o normal.
____Achou certo, é perfeito. ____gritou Perséfone eufórica. A tonalidade vermelha do tecido parecia brilhar intensamente sobre as lamparinas que iluminavam o quarto. Perséfone passou seus dedos pelo contorno do decote, desde o ombro até o centro que deveriam unir seu busto. O material era divino. Sedoso como um fino algodão e leve como o voo de uma pluma. Ela desceu as mãos pela curvatura cinturada do vestido, sorrindo ao dizer. ____É a roupa mais bela que já vi em toda a minha imortalidade. Tersa querida, você possui um dom extraordinário.
____Obrigada, majestade. ____agradeceu empolgada.
Perséfone estava tomada pela emoção, eram tantas surpresas que aconteciam. Uma atrás da outra.
____Então o que estamos aguardando! ____diz Tersa desprendendo as alças do vestido no cabide. ___Você não estava com pressa?
A ninfa ajudou Perséfone a retirar o vestido em que a deusa havia usado durante o dia. Hidrataram a pele com ervas medicinais que Tersa pegara no jardim de Hécate. O perfume era suave e delicado, combinavam perfeitamente com a ocasião. Começavam a colocar o novo vestido, com muito cuidado Perséfone entra graciosamente pelo pequeno espaço. Ele coube exatamente na medida de seu corpo.
____Nunca ne senti tão bem em um vestido, uma túnica feita em mais tecidos, perfeita. ___a rainha girava pelo quarto cantarolando de alegria. Sentindo-se encantadoramente única. Ninguém nunca tivera vestidos como aquele.
Tersa deu os últimos retoques na barra do vestido, prendeu os cabelos de Perséfone e ajeitou o borrado nos lábios da mesma. Ela estava pronta. Em poucos minutos estava de vestido novo e mais arrumada do que nunca. Tinha a certeza que Hades iria amar.
____Como estou? ____ela pergunta nervosa. ____Não sei o que fazer, nunca estive tão receosa. Ele me deixa nervosa as vezes.
Tersa sorri levemente enquanto calça os sapados na rainha.
____Aproveite o momento, a noite é de vocês e somente para vocês. As preocupações se foram, estão livres para se amar e reinarem juntos.
____Obrigada, Tersa. Não sei o que seria de mim sem você. ____Perséfone recolhe cuidadosamente as lágrimas que escorrem pela maçã de sua face.
Em cinco minutos, ela caminhava pelo corredor, um trilho de luminárias misteriosas a levaram para o jardim. Hades a esperava no gramado. Nada havia modificado em seu jardim, as flores eram as mesas e sempre que a deusa da primavera marcava presença naquele lugar, elas brilhavam ainda mais.
O que lhe chamara a tenção fora o clima que recebia a energia de Hades. Ele estava diferente. Muito diferente. Perséfone sabia que seu marido estava ali, mas ainda assim não deixou de notar a elegância com que os trajes lhe proporcionavam. Costumava vê-lo com seu elmo, capa escura e trajes metálicos misturados a tecido. Mas assim como ela, Hades estava mais moderno, confiante como de costume e sereno como um puma atento em sua presa.
Tersa. Aquilo só podia ser obra dela, a perfeição, o cuidado e o ouro dominante nos detalhes daquelas peças. O bordado, as joias preciosas nos pequenos detalhes, faziam Perséfone desejar aqueles botões em seu próprio vestido. O tom das cores ainda permanecia nas mais escuras. Mas o corte e o modelo da roupa era o que tornava tudo mais interessante.
Ele também a analisava, a beleza e suavidade a deixavam espetacular. Era difícil desviar o olhar. Perséfone queria chegar logo até ele, cuidando para não pisar na barra do vestido. Ela precisava tocá-lo, sobre aquele olhar vigilante a deusa repara no corte de cabelo do deus dos mortos. Passa com cuidado os dedos na face do marido, ele era tão perfeito. O espaço diminuía entre eles e Hades quis beijá-la novamente.
____Não, você borrou meu batom da última vez. ____ela afasta os lábios dele, com um rápido sorriso ela encosta sua testa na bochecha do mesmo. ___Está diferente esta noite. Sei que ainda é você, mas ao mesmo tempo sito o contrário.
Ele solta uma risada, olha para ela e revela um lido buque de narcisos amarelos em seu braço livre. A rainha pula com a surpresa, emocionada recebe as flores e o abraça com força.
____Você é demais!
____Você é o meu tudo Prosérpina.
Ele estala um beijo na face da deusa. Então agora ela entendia, qual era a situação e o que sentiu quando seu visual modificou. O rei dos mortos ainda era Hades, porém, ainda era Plutão o deus romano das riquezas subterrâneas. Assim como Perséfone era a deusa grega da primavera, como também, Prosérpina a deusa romana dos mortos. Ela era a vida como poderia ser a morte.
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