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História O Rei dos Condenados - Atrito


Escrita por: Anchovinha

Notas do Autor


Hello amoras, como estão? Espero que estejam bem.

Este capítulo me deixou altamente animada há duas semanas quando comecei a escrevê-lo. Por algum motivo ele me deixou feliz, então espero que vocês se divirtam lendo ou apenas compreendam os elementos até aqui.

Capítulo 2 - Atrito


A brisa fresca do fim de tarde trazia o cheiro da água salgada, no horizonte o sol beijava o mar enquanto se despedia com seus tons de laranja roseado. Uma parte do céu permanecia azul claro, porém começava a assumir as cores do pôr do sol. Não precisava ver por tudo estar registrado na minha cabeça.

As velas seguiam rumo ao norte, onde a Ilha dos Mortos ficava, este era mais um dos territórios do País Noturno em que seu rei, alguém de nome Markov, governava a grosso modo impedindo que qualquer refugiado se abrigasse nas ruas. “Nós somos um país livre”, era o que dizia.

Mais um hipócrita pra coleção.

Estávamos indo, novamente, para um lugar em que éramos procurados na busca por mais informação sobre os povos que chegavam à Capital. Em nossa primeira parada, um pouco mais ao oeste nas Terras do Sol, tivemos alguns problemas com os contratados de algum aristocrata local, eles nos atacaram enquanto reconhecíamos a área. Eleanor, o navio, se manteve salva num porto afastado das praias que rodeavam a ilha, Namjoon, o velejador, previu que algo aconteceria e nos preparou para uma recepção pouco calorosa.

O rapaz de cabelos platinados e pele morena foi sábio o bastante para imaginar que algo nos esperava, talvez por isso sejamos amigos de longa data, ele pensava melhor do que eu na maioria das vezes.

Quando decidi largar a propriedade de meu pai há anos, ainda garoto para ser franco, já o conhecia. Ele não era filho de algum nobre tampouco pertencia a alta classe da Capital, o rapaz de sorriso fácil e expressão astuta era mais um primogênito de algum combatente da Guerra dos Trezentos Dias. Namjoon trajava roupas gastas de coloração marrom e vendia seda no mercado internacional no dia que o encontrei, ele não me tratou como alguém da aristocracia, apenas conversou comigo como se fossemos iguais.

Foi naquele momento que tomei a decisão de tê-lo como amigo.

Encostando a cabeça numa das caixas de couro roubado, fechei os olhos enquanto o barulho das ondas se chocando na proa preenchiam meus ouvidos. Estava na parte traseira de Eleanor, um canto pouco explorado pela tripulação, eles sabiam que aqui era o meu lugar, o local em que passava o tempo quando não estava os conduzindo para um país ou planejando ataques a outros navios.

Não me admirava que meus homens ficassem mais calmos ao notarem minha ausência ao redor deles. Ninguém dizia nada pelo meu sumiço, os marujos entendiam que o silêncio era a minha melhor companhia quando precisava descansar.

— Posso ficar aqui ou está esperando alguém se materializar?

Um sorriso repuxou meus lábios ao escutar a voz de meu amigo, ele era o único que invadia minha privacidade, pois Namjoon sabia que quando eu vinha para cá era para estar mais perto de casa.

— Estava esperando uma mulher bonita, mas se é você que os deuses me mandaram não poderei ir contra sua vontade.

— Não seja idiota, Hoseok — resmungou.

Sentindo seu corpo pairar ao lado, abri os olhos vagarosamente enquanto Eleanor balançava junto às ondas. Namjoon era alguém que poderia me matar se sentisse vontade e eu não iria reagir, ele era ágil e conhecia cada uma das minhas artimanhas para sair de qualquer situação. O rapaz tinha voz ativa dentro da embarcação e era o único que me fazia parar quando notava que eu estava errado.

Ele seria um bom capitão algum dia.

— O cara tem personalidade — comentou com um sorriso na voz.

Inclinei a cabeça para o lado enquanto o via levar o cantil de água até a boca.

— De quem está falando? — perguntei com uma sobrancelha arqueada.

— Do príncipe — sussurrou humorado.

— Yoongi — corrigi.

— Não deixa de ser príncipe.

Soltando o ar, fiz um barulho de reprovação enquanto fechava os olhos e lançava a cabeça para trás. O som da minha nuca se chocando com a madeira fez o rapaz ao lado rir, porém não compartilhei do seu humor, pois pensar em Yoongi me deixava mal humorado. Desde o instante em que futuro rei pisou na embarcação não tive muitos minutos de paz, a culpa não era totalmente dele, se fossemos apontar um culpado teria de ser a tripulação inteira.

Ninguém entendeu o motivo pelo qual permiti que um ex-corsário entrasse em Eleanor, eles sabiam que eu era rígido quanto as pessoas que circulavam pelo navio, porém não disseram nada, apenas mantiveram os olhos atentos aos movimentos do rapaz de fios claros. Yoongi, por sua vez, manteve a compostura e puxou conversa com os demais, mas ele era muito cordial para ser um de nós.

Namjoon foi o primeiro a se pronunciar, pois, assim como eu, tinha conhecimento da feição do príncipe. Uma reunião às pressas foi convocada em meu gabinete – um pequeno local na parte inferior do navio que consistia em duas redes de frente uma para outra enquanto no meio, duas caixas sobrepostas representavam uma mesa – quando ele viu Yoongi colocando os pés em Eleanor.

Alguns itens roubados descansavam sobre a superfície das caixas ao lado de um pergaminho com o mapa de todos os países. A Capital era marcada com um X vermelho por ser o local que mais tínhamos acesso, o País do Som e as Dunas Silenciosas eram representados por círculos em tinta preta, mostrando as terras pelo qual deveríamos ter cuidado. Os demais países e ilhas ficavam avulsos sendo rabiscados ora ou outra quando decidíamos passar por eles.

Era um mapa estranho e confuso, roubado de um comerciante das Terras do Diamante quando me tornei contrabandista junto com Namjoon no começo de nossa caminhada em direção aos mares. Foram quatro anos de aprendizado bem gastos no fim das contas.

— Eles vão descobrir a qualquer momento — avisou o rapaz. — Espero que você tenha um plano para quando isso acontecer.

Namjoon falava dos marujos referente a origem de Yoongi, ele estava me alertando muito sobre isso ultimamente. Às vezes tinha vontade de jogá-lo no mar por ter razão.

— Eu sempre tenho um plano — falei convencido.

Ele riu.

— Não, você não tem — respondeu chocando seu ombro com o meu.

Abrindo os olhos, suspirei enquanto observava o cinza do início da noite chegar sorrateiro, o navio dançava sobre as Águas de Ossos esperando o breu noturno alcançar seu ápice para podermos desembarcar na Ilha dos Mortos e caminhar pelas ruas sem sermos reconhecidos. Não poderíamos cometer o erro das Terras do Sol, Yoongi correu perigo naquela manhã.

O príncipe estava aprendendo a ser um de nós, porém seus anos de etiqueta lhe impediam de agir como pirata, ele mantinha o queixo erguido e a voz bradava em ordem quando pedia algo a alguém. Namjoon estava tentando ajudá-lo, talvez estivessem passando horas demais juntos e isso me confortava, pois não precisava ficar de olho em si.

Yoongi estava fazendo um bom trabalho como observador. Ele, junto com Jeongguk, intercalavam seus momentos de descanso para olhar o horizonte e nos prevenir contra eventuais ataques surpresa. O rapaz comia em silêncio e permanecia discreto quando os marujos se reuniam para contar histórias e beber, vez ou outra Seokjin, nosso médico e forjador de espadas, conversava consigo sobre os tripulantes e como cada um chegou até mim.

Nestes momentos Yoongi sorria fraco e me lançava olhares questionadores, porém eles nunca se prendiam demais, mas era por tempo suficiente para saber que eu detinha sua atenção.

— Você precisa contar a eles — disse preocupado.

— Vou fazer isso — respondi calmo enquanto relaxava o corpo sobre o convés.

— Quando, Hoseok?

— Ainda não decidi.

Um suspiro cansado chegou até mim. Namjoon sabia que eu não tinha a menor ideia de como contar.

— Taehyung e Jimin já estão desconfiados — comentou girando seu corpo para que ficasse de frente com o meu. — Eles estão fazendo perguntas demais para o príncipe.

Yoongi tinha me dito sobre isso semanas atrás, dias depois da briga nas Terras do Sol. “Seus homens estão começando a suspeitar”, dissera numa madrugada enquanto arrumava a rede que dormiria. Ele não parecia assustado ou com medo quando fez tal afirmação, apenas contou como se estivéssemos conversando sobre as cicatrizes existentes na pele. Algo simples e natural.

— Taehyung está fazendo algum alvoroço?

— Ainda não, mas ele e o príncipe estão trocando farpas já faz algum tempo.

Assenti com a cabeça enquanto pegava impulso para me levantar.

Teria que resolver essa questão antes que todos descobrissem a verdade de alguma forma dramática ou entendessem errado a posição de Yoongi na tripulação, mesmo que o rapaz de fios claros tenha agido com bravura nas Terras do Sol tomando inciativa para encarar a tropa que nos aguardava, não acreditava que os outros tinham confiado em si.

Jeongguk e Seokjin estão mais próximos disto, sendo que o primeiro foi salvo por ele em nossa última parada e o segundo tinha encontrado algum tipo de diversão com o outro. Ele estava se encaixando de maneira sutil.

— Quando chegarmos a Ilha dos Mortos, você ficará em Eleanor junto com Jimin — anunciei olhando para Namjoon por cima do ombro.

A lua já tinha se erguido no céu em conjunto com a típica neblina esverdeada dos territórios do País Noturno, o navio começava a ser envolvido pela névoa enquanto o estrondo dos rojões se faziam ouvir de uma forma distante. Estávamos perto do porto e da ilha, por isso tínhamos que nos preparar e dividir as funções antes de pisarmos em terra firme.

Nada poderia dar errado.

— E o príncipe? — questionou curioso colocando-se de pé.

— Ficará comigo — respondi firme olhando para seu rosto surpreso.

Namjoon suspirou enquanto levava uma das mãos para os cabelos, seu cenho franzido mostrava seu desconforto em deixá-lo ir novamente para o solo, mas não podíamos mantê-lo apenas no navio. Yoongi se comprometeu conosco quando decidiu vir para cá e teria que cumprir obrigações assim como qualquer um dos meus tripulantes.

Além disso, eu tentaria ajudá-lo a agir como um de nós.

— Você vai expor o príncipe?

— Enquanto ele estiver em Eleanor, você irá se dirigir a ele como Yoongi — falei enquanto encarava-o nos olhos. — O rapaz é um pirata como nós.

Às vezes nossas ideias divergiam e momentos como este eram constantes, porém Namjoon não poderia se opor quando coisas do tipo aconteciam, pois gostando ou não, eu ainda era o capitão e ele um marujo.

Soltando o ar, meu amigo levou a mão para trás do pescoço mostrando que não concordava comigo, porém sacudiu a cabeça enquanto resmungava algumas coisas. Decidi não enfrentá-lo quanto a isto, pois tinha que pensar numa maneira de dizer a Yoongi sobre o uso de máscaras esta noite.

Talvez ele pudesse sentir-se de volta a Capital, mas isso não parecia uma lembrança boa, já que manteve seu rosto preso atrás de uma até o momento que veio a mim. Quem sabe conseguisse dizer-lhe que estando ao meu lado poderia ficar mais à vontade para retirar a máscara quando sentir-se sufocado.

Queria que ele ficasse confortável para conversar, pois hoje iria ensiná-lo a agir naturalmente diante dos outros, eu sabia melhor do que ninguém como era complicado se encaixar num mundo tão distante do luxo e honrarias, por isso pretendia mostrar-lhe que não era tão ruim. Talvez ele ficasse mais à vontade comigo, assim como se mantinha com Namjoon.

— Ouviu isto?

Olhei para o rapaz de cabelos platinados que estava com o indicador pressionando os lábios pedindo por silêncio.

— O quê? — questionei tentando ouvir aquilo que tinha atraído sua atenção.

O barulho de algo se partindo e o som de espadas colidindo chegou alto até nós.

— Yoongi? — sussurrei preocupado.

Olhando para o rosto do rapaz, escutamos mais vibrações e desta vez eram os marujos que falavam alto, mas suas palavras eram incompreensíveis.

— Droga — praguejou se virando para correr em direção ao estardalhaço.

Não pensamos muito, apenas agimos.

O som de nossas botas colidindo com o convés parecia fraco diante do som das espadas se chocando e coisas se partindo, a névoa esverdeada cobria todo o navio, porém os lampiões produziam feixes de luz que iluminavam o caminho. Enquanto a madeira lisa de Eleanor nos fazia deslizar, minha mente trabalhava nas possíveis cenas que poderia encontrar, Yoongi deveria estar envolvido, pois nenhum dos meus homens teria a audácia de um confronto direito enquanto eu estivesse no navio.

Eles devem ter descoberto.

Levando uma das mãos para o cabelo, puxei-o com força quando alcançamos a parte principal da embarcação. Estava tudo um caos. Taehyung gritava e atacava Yoongi com sua espada, este por sua vez revidava enquanto mantinha a atenção em todos buscando por mais algum inimigo, Jeongguk e Seokjin imobilizavam Jimin para que não pudesse se envolver e deixar a luta injusta.

O timão foi deixado de lado e o navio seguia rumando até o porto da Ilha dos Mortos, mas ainda não era hora de desembarcarmos. As velas seguiam o vento enquanto seus pontos altos eram escondidos pela neblina, três lampiões estavam despedaçados no chão e um banco de madeira estava quebrado. O pilar que sustentava uma das velas continha marcas de cortes e gotas de sangue manchavam o convés enquanto os dois homens se impulsionavam um contra o outro.

Eles estavam destruindo o navio.

— Parem — falei alto observando a cena se desenrolar à frente.

Yoongi saltava para trás enquanto Taehyung desferia a lâmina contra si. O príncipe não parecia cansado ou intimidado, sua postura de combate demostrava precisão e perigo, a manga de sua blusa estava rasgada e com manchas de sangue, enquanto a calça do outro, de fios laranja, demostrava sua pele machucada pela espada alheia.

— Alguém me diga o que está acontecendo no meu navio — bradei olhando para Seokjin enquanto Namjoon desembainhava sua arma para separar os marujos. — Eu preciso de vocês inteiros para esta noite.

— Ele não é um ex-corsário, Capitão — disparou Taehyung ofegante mantendo-se alguns passos de distância do príncipe e de Namjoon. — Yoongi é uma farsa.

— Abaixe a espada — falei ao rapaz de fios coloridos que tinha os olhos presos em seu oponente —, não quero lutas em Eleanor.

— Você escutou o que Taehyung disse, Capitão Jung? — falou Jimin tentando se soltar das mãos dos homens que o seguravam. — Yoongi mentiu para você.

Suspirei enquanto caminhava até o príncipe. Seu queixo estava erguido mostrando superioridade diante do marujo de cabelo laranja e trajes de couro, ele não ameaçava um novo ataque menos por ter Namjoon ao seu lado e mais por não querer um combate.

“Não quero que seus homens me vejam como uma ameaça, Hoseok. Estou aqui para entender o mar”, dissera Yoongi noites atrás quando deitamos em nossas redes no gabinete. Somente nós dois dormíamos ali, porém nossas prosas eram escassas, ele perguntava sobre minhas conquistas e como liderava todos, mas eu não facilitava e respondia como se tudo não valesse nada. Estava sendo rígido sem motivo.

Yoongi me deixava nervoso.

— Quem começou, Jeongguk? — questionei firme parando ao lado do príncipe.

O jovem de cabelo preto mantinha as mãos firmes no braço de Jimin quando voltou seus olhos para mim.

— Taehyung começou a fazer perguntas sem sentido ao Yoongi e depois iniciou uma série de ataques, Capitão — respondeu obediente.

— Ele não sabia o que era uma visita à cortesã, Capitão Jung — disparou o rapaz defendendo seu ponto de vista. — Eu sou um ex-corsário e sei que Yoongi não pertence à classe.

Levando a mão até a parte de trás do pescoço, massageei a região enquanto soltava o ar. Ora ou outra eles iriam descobrir de qualquer forma.

— Conte para eles — falei ao príncipe sem olhá-lo. Minha atenção estava voltada para a neblina que não me permitia ver o céu, enquanto na mente rondava o alívio de tirar um peso das costas.

— Meu nome é Min Yoongi — começou com a voz bradando em ordem. Ele tinha muito o que aprender. — E sou o próximo na sucessão ao trono — um silêncio desconfortável recaiu sobre Eleanor enquanto o rapaz falava. O som das ondas era alto, porém apenas serviam de canção ao fundo. — Não pretendo lutar com você, Taehyung, apenas estou aqui como um de vocês. Quero velejar pelos mares nesta embarcação e lutar por suas causas.

Lançando um olhar de soslaio para Namjoon, observei seus ombros relaxarem quando o rapaz terminou. Ele deveria ter estado incomodado com este segredo, pois não gostava de esconder as coisas dos outros, talvez por isso não tinha se tornado capitão, porque para exercer tal função é necessário abdicar de alguns ideais.

Yoongi também teria que fazer isso quando assumisse o ofício de rei.

— Você está dizendo que é o príncipe? — perguntou Taehyung debochado. O outro assentiu com a cabeça mantendo a espada firme nas mãos. — Você acreditou nisto? — disse irritado. — Ele continua mentindo, Capitão.

Taehyung fez menção de voltar a atacar, porém Namjoon entrou na frente apontando a arma para o marujo. Gostando ou não, meu amigo ainda tinha fortes laços com a coroa, seu pai lutou na guerra contra o País Cinzento e era leal a família real. Por mais que negasse, eu sabia que estava sendo um privilégio servir como orientador ao próximo governante da Capital.

— Está questionando meu julgamento, Kim Taehyung? — falei lançando um olhar firme a ele. — Min Yoongi é o próximo rei de nosso país, eu já tive a oportunidade de ver seu rosto e confirmo sua identidade. Então não ouse dizer o contrário. — Mexendo no punho da camisa, olhei para meus homens que permaneciam vidrados no jovem príncipe. — Nunca sou o enganado, porque eu sou o enganador.

O desconforto dos demais era palpável, porém para mim, Namjoon e Yoongi a revelação era um alívio. Mesmo com a espada em mãos, o rapaz de fios claros parecia satisfeito em ter dito a verdade, seu corpo mantinha-se tenso esperando um ataque, mas seu semblante era tranquilo.

— Abaixe a espada, Yoongi — sibilei —, aqui você é um marujo e deve seguir minhas ordens. — Meu tom de voz não era opressor tampouco raivoso, apenas simples e firme para fazê-lo entender que não havia perigo.

— Por que não nos contou, Capitão? — a voz de Seokjin chegou curiosa e contida até meus ouvidos.

Suspirei enquanto abaixava para pegar o que tinha sobrado de um lampião.

— Para não acontecer este tipo de coisa — respondi simplista. — Vocês iriam tratá-lo pior se tivesse-lhes contato sua verdadeira identidade.

Girando o caco de vidro na mão, senti o corpo de Yoongi relaxar enquanto guardava a espada. Ele ainda se mantinha em alerta, porém não enxerga a necessidade de ter algo em mãos, o que era bom para este início de conversa.

— Mas Capitão, ele pertence a coroa e nós somos contra o rei — disse Jimin, revelando sua confusão —, então, por que abrigá-lo em nosso navio?

— Eu solicitei a ajuda de seu Capitão — respondeu o príncipe com voz altiva e profunda, digna de um futuro governante.

Yoongi não me permitiu responder, mas também não fiz questão de interrompê-lo. O rapaz não havia me dito o que buscava em Eleanor, porém estava interessado em qualquer coisa que dizíamos e nas histórias que contínhamos. Vez ou outra eu lhe respondia às perguntas sobre como era velejar por mares desconhecidos e lutar pela vida, seus olhos escuros faiscavam em curiosidade quando revelava nossos propósitos e causas pela qual lutávamos. Muitas delas não eram importantes, enquanto outras demonstravam nossa posição política.

Ele sempre pareceu interessado e isso me deixava nervoso, afinal, Yoongi seria o próximo rei e iria caçar condenados como nós.

— Seu Capitão não aceitou meu pedido de início, porém lhe fiz a promessa de não interferir em seus assuntos — falou com clareza, como se estivesse discursando ao povo. — Enquanto eu estiver ao lado de Hoseok não serei o príncipe, somente Yoongi. Por isso, peço a vocês que me tratem da mesma maneira.

Lançando um olhar para a tripulação, notei o sorriso fraco nos lábios de Seokjin, os olhos arregalados de Jimin, a testa franzida de Jeongguk, a compreensão de Namjoon e a descrença de Taehyung. Soltei o ar enquanto atirava o vidro para o mar.

Essa conversa estava durando por tempo demais.

— Agora que estamos resolvidos, podemos tratar do que realmente importa — falei com um sorriso torto nos lábios. Tinha que contornar a situação para não perder o controle. — Namjoon, vá para o timão e contorne a ilha uma vez antes de nos deixar no porto.

— Certo, Capitão — respondeu animado.

Ele parecia mais tranquilo.

— Jin, quando desembarcarmos você irá junto com Jeongguk para as Torres Caídas. — Olhei para seus rostos a fim de obter total atenção. Nada poderia dar errado dessa vez. — Busquem por Ivashkov e interroguem-no ao máximo.

— E se ele resistir quanto a nos dar informações? — questionou o mais novo.

— Prometam-lhe dobrões de ouro ou, na pior das hipóteses, cortem os dedos e deem para os cachorros. Naquele lugar existem muitos cães famintos.

O garoto assentiu com o canto da boca repuxado em um sorriso travesso.

— Taehyung, você irá para o lado oeste da ilha. Preciso que roube o mapa central da Guarda das Brumas e os pergaminhos com seus próximos passos.

O rapaz de fios laranja mantinha a espada na mão e os olhos em frestas para o príncipe. Pelo visto não tinha comprado a ideia de ter alguém da realeza ao seu lado.

— Você me entendeu? — perguntei firme esperando atrair sua atenção.

Kim Taehyung foi um ex-corsário das Dunas Terrosas antes de se juntar a nós. Ele foi meu primeiro tripulante, depois de Namjoon, quando iniciei minha jornada pelos mares. Em nosso primeiro encontro, nas Terras Outonais, o rapaz tentou me matar para levar ao seu rei, porém nossa luta demorou para ser encerrada, foram muitos socos e palavras despejadas, lâminas raspando pelo corpo e gritos de dor enquanto o sangue jorrava.

Dias depois do confronto, quando estava na minha primeira embarcação, Beija-Flor, Taehyung apareceu com a perna enfaixada e um dos olhos roxo, naquele dia, me pediu para fazer parte da tripulação. Namjoon ficou confuso e atento, mas assentiu para presença do rapaz junto conosco.

Desde então, Kim Taehyung, que jurou lealdade à mim e aos meus objetivos, sempre se mantinha desconfiado àqueles que pediam para se juntar a nós e respeitoso quanto aos que lhe cativavam. Ele nunca baixava a guarda e sempre estava planejando nosso próximo passo ao meu lado.

Ele era um bom marujo e não podia perde-lo por algo tão banal quanto ter Yoongi no navio.

— Certo, Capitão — respondeu entredentes.

— E quanto a mim, Capitão Jung? — questionou Jimin.

Tirei meus olhos de Taehyung e direcionei para o rapaz de fios vermelhos.

— Você ficará em Eleanor junto com Namjoon. Preciso de alguém ágil para içar a rampa e soltar as velas quando corrermos para cá. — Jimin assentiu com uma careta enquanto caminhava para onde seu parceiro da noite estava.

— E quanto ao príncipe?

A voz de Seokjin não era irritada ou desconfiada, mas sim curiosa.

— Ele estará comigo na visita à cortesã — respondi esticando o braço e tocando seu ombro. — Hoje você irá entender mais coisas sobre nós, Yoongi. Sinta-se privilegiado. — Minha voz era divertida e debochada, pois queria deixá-lo confortável para seguirmos em frente, porém seu cenho franzido e olhos firmes diziam que minhas palavras tiveram efeito contrário.

— Seus criados te serviam chá em uma bandeja de prata, sua Alteza? — perguntou Taehyung ácido.

Olhei para ele, que guardava a espada, enquanto pensava numa repreensão. Eu estava perdendo o controle.

— Sim, e depois me ofereciam um banho quente numa banheira de mármore — respondeu Yoongi no mesmo tom. — E em todas as vezes ensaboavam minhas costas, algo que você não deve conhecer, eu presumo.

Todos riram, menos Taehyung e eu.

Observando o marujo de cabelo colorido dar um passo em nossa direção, entrei na frente do príncipe enquanto arqueava uma sobrancelha e apontava para a espada em sua cintura.

— Volte para o seu lugar, Tae — falei entredentes —, você precisa se concentrar no que precisa fazer e não em provocar Yoongi. Faça isso quando retornarmos, mas agora se acalme.

Com o maxilar trincado, o rapaz nos deu às costas e caminhou para as escadas que levariam ao interior do navio. Ele precisava se acalmar e focar no desafio de entrar no quartel da Guarda das Brumas, pois seria um trabalho difícil.

Estalando os dedos, chamei a atenção do restante da tripulação.

— Não quero piadas e provocações neste navio até a missão acabar. — Minha voz era firme e profunda. Talvez menos charmosa quanto a do futuro rei, mas funcionava com os meus homens.

— Certo, Capitão — responderam em uníssono.


Notas Finais


A ideia inicial era fazer desta estória uma 3shot. Só que quando terminei este capítulo notei que não iria conseguir colocar tudo em três capítulos, então aumentei um. Digamos que se fosse colocar tudo o que tinha planejado aqui, vocês iriam ficar mais saturados.

Espero que tenham gostado e pretendo voltar o mais rápido que puder.

Bjocas amoras.


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