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História O Rei dos Condenados - Sangue nobre


Escrita por: Anchovinha

Notas do Autor


Hello amoras, como estão? Espero que estejam bem.


Finalmente as coisas vão ficar divertidas, pois acho que agora vou conseguir encaixar algumas cenas que tinha projetado para cá. Digamos que este capítulo é o início da experiência em si de Yoongi e Hoseok, então, espero que leiam com calma e colham as pequenas informações disponibilizadas durante o capítulo.

Capítulo 5 - Sangue nobre


Ossos, tecidos, frutas, madeiras, barracas e até carrinhos de mão eram lançados para trás em uma tentativa de retardar nossos perseguidores. Moradores e visitantes não compreendiam o que estava acontecendo, então, apenas mantinham-se gritando ou apontando na direção em que corríamos. Os fogos em comemoração a Passagem explodiam no céu enquanto Yoongi e eu avançávamos pela estrada principal deixando um rastro de destruição para trás.

Tínhamos sido abordados por uma equipe da Guarda das Brumas quando corríamos para sul esperando encontrar Seokjin e Jeongguk numa casa abandonada. Não conseguimos nem chegar na metade do caminho antes de sermos interceptados pelos homens do rei Vladimir e obrigados a nos afastar para que os outros não fossem pegos.

Os marujos neste momento já deveriam ter descoberto que algo tinha dado errado e correram para o leste a fim de encontrar o restante da tripulação e encaminhar o navio para o norte da ilha onde Taehyung estaria. Esta era uma das medidas de segurança para que ninguém soubesse do nosso percurso, deveríamos estar em movimento com o máximo de gente possível em Eleanor para que pudéssemos encontrar os outros.

— Hoseok, para onde estamos indo? — gritou Yoongi olhando-me por cima do ombro enquanto corria e empurrava as pessoas para que pudesse passar.

— Norte — respondi alto buscando com o olhar uma brecha para desviarmos daqueles que estavam atrás de nós.

Barracas estavam por todo lugar, rostos mascarados a cada virada de cabeça e muitas vozes ordenando-nos a parar. Nossos passos eram pesados e rápidos, os movimentos que produzíamos quando empurrávamos comerciantes e suas mercadorias para trás eram fluídos e calculados. Yoongi nunca tinha participado de uma perseguição como esta, mas sabia o que lançar para trás a fim de deter os guardas.

Levantando o olhar, observei as bandeiras pretas com uma lágrima balançarem no ritmo do vento enquanto os vãos por entre as construções de pedra davam-me uma ideia para tirar o príncipe daquela situação. Ele não poderia ser exposto demais, pois um dia seria rei e as pessoas daqui lembrariam de seu rosto.

Maldita hora que deixei-o ficar sem a máscara.

— Onde iremos encontrar os outros? — perguntou ofegante desacelerando as passadas para correr ao meu lado.

Lançando um olhar para trás, vislumbrei os guardas uniformizados empurrarem os objetos que jogamos no caminho e olharem em nossa direção. Suas expressões revelavam raiva e uma promessa de que não hesitariam em atirar quando estivessem próximos o bastante.

— Hoseok?

— Mais a frente — respondi por fim, enquanto esticava a mão para segurar seu braço e puxá-lo para o lado fazendo-o desviar de um feirante.

O som de um tiro foi escutado e nós nos abaixamos para que este não nos acertasse.

Soltando seu braço, olhei-o de soslaio a procura de uma faísca de medo, porém o que encontrei foi algo diferente. Yoongi estava com os fios loiros presos na testa enquanto em seu rosto uma expressão aventureira brincava, eu reconhecia isso, a sensação de estar fazendo algo novo e grande, perigoso e importante.

Pisquei algumas vezes com a constatação de que aquilo não o assustava e sim, talvez de um jeito distante, o divertia.

— Não temos saída — dissera com os dentes cerrados e com a mão no coldre em sua cintura.

— Temos sim — afirmei com um sorriso na voz.

Empurrando-o com o ombro para um beco úmido, segurei-o antes que caísse por derrapar no musgo verde do chão enquanto obrigava-o a continuar correndo. As paredes de pedra cinzenta se erguiam como muralhas ao nosso redor, pedaços de móveis de madeira estavam jogados por todo lugar e algumas barras de ferro cintilavam mais adiante por terem sido esquecidas por alguém.

Aquilo teria que servir.

— Continue correndo até a terceira viela e se esconda em uma das casas.

— O quê?

— Só corra — gritei empurrando-o para frente enquanto buscava com o olhar por algo que pudesse usar contra os homens de Vladimir.

Os passos de Yoongi faziam barulhos conforme atingiam as poças d’água no chão e se distanciavam, porém aquilo não denunciaria sua localização, pois a guarda não teria tempo de procurar por si já que estariam ocupados comigo. Tentaria ao máximo atrasa-los até que o príncipe estivesse longe o bastante ou escondido o suficiente.

Esta não seria a última vez que me sacrificaria por algum dos meus tripulantes, mas era a primeira vez que fazia isso por alguém da coroa.

Soltando o ar pesaroso, abaixei para pegar uma das barras de ferro enquanto ouvia as conversas dos guardas que se encaminhavam para onde estava. O ar gélido da Ilha do Mortos soprou e eu lancei um olhar para a névoa esverdeada no céu, no vão entre as duas construções o breu reinava junto ao som tremulante da minha respiração, desejei naquele momento que Yoongi estivesse fora de riscos e escondido.

Ele não poderia se machucar.

— Cansou de correr, Jung? — uma voz grave e risonha rompera o silêncio.

Eu iria protegê-lo enquanto estivesse junto a si.

— Sabe como é, a idade chega e não conseguimos fugir como antigamente — respondi debochado me levantando — Vocês devem entender bem disso, já que só me alcançaram agora.

Apertando o ferro gelado nos dedos, inclinei a cabeça para o lado enquanto testava o peso do objeto na mão. O barulho de passos chegando pela direção que Yoongi correra alcançava meus ouvidos fazendo-me rir soprado, pois agora eu estava cercado. Não seria fácil de escapar sem um arranhão, então, na melhor das hipóteses, não teria nenhum osso quebrado como da última vez.

— Peguem-no — sibilara alguém próximo à mim.

— É bom vê-los novamente — falei divertido preparando-me para o embate. Com um estalar de dedos, homens vestidos de preto correram na minha direção empunhando espadas e pistolas, ninguém atirava, pois ainda não tinham recebido ordens para isso.

Girando a cabeça para vislumbrar quantos guardas estavam por perto, segurei a barra de ferro com força e procurei alguém desarmado para começar a distraí-los. Yoongi tinha de estar o mais longe possível, pois em breve alguém notaria sua ausência e as buscas começariam. Não poderia permitir que ninguém pusesse as mãos sobre si, pois tinha prometido para mim mesmo levá-lo em segurança para Capital.

— Onde está seu parceiro, Jung? — perguntara uma voz sem rosto — Ele te deixou?

— Nunca fui bom em trabalho em grupo — falei dando de ombros e girando sob os calcanhares para atingir o guarda mais próximo.

Erguendo o objeto frio para o alto como se fosse um carrasco, lancei-me contra um dos homens almejando começar a briga, ele tentou revidar e se defender, porém o ferro não atingiu seu rosto ou alguma parte do corpo, mas sim a lâmina que empunhava. Ninguém ao redor me tocou, apenas continuaram a me observar bater a barra na espada e fechar uma das mãos em um punho para socar o guarda na face.

O estalo dos nós de meus dedos em seu rosto foi alto e por conta disto os outros despertaram. Em um instante estavam todos parados, noutro avançavam contra mim. Alguém gritou para que não me matassem, porém não compreendi o restante da frase, pois um dos homens uniformizados socou meu abdômen antes que pudesse acertar o objeto pesado em si.

Cambaleando para trás, atingi uma das paredes úmidas enquanto tentava recuperar o ar que tinha sido arrancado dos pulmões. Porém não tive tempo o suficiente para isso, pois um dos guardas lançara-se contra meu corpo para atingir-me no rosto, não esperei pelo golpe chegar, apenas me abaixei e fui de encontro com o uniforme de alguém à frente. Agarrando-o pela cintura, empurrei-o para trás atingindo alguns dos meus perseguidores num efeito cascata até me separar e deixá-los caírem no chão próximos a uma das paredes de pedra.

Novamente, quando me pus ereto, não consegui puxar o ar que faltava, pois, apesar da escuridão do local, vislumbrei a silhueta de um dos homens com uma espada tentar me atacar com lâmina cortando o espaço entre nós de cima para baixo. Contudo, bloqueei o movimento com a barra de ferro fazendo os objetos provocarem um barulho ruidoso e incômodo aos ouvidos.

Antes que conseguisse forçar a espada contra meu agressor, senti um par de botas golpearem minhas costelas fazendo-me cair desajeitado no chão molhado e pedregoso. Minha mão soltou o objeto pesado que empunhava e uma sessão de chutes iniciou-se por todo meu corpo, as botas vinham de todas as direções juntamente com as risadas. Algum dos guardas tentaram agredir-me no rosto, porém meus braços estavam protegendo-o ao máximo enquanto gemidos de dor escapavam de meus lábios.

— Se afastem — gritara alguém — Deixem-me vê-lo.

Os chutes cessaram e meus ossos e músculos reclamaram. Tentando me sentar, senti uma dor aguda no ombro esquerdo e nas costas, o ar saia ofegante e doloroso conforme minhas mãos apoiavam-se no chão para que pudesse erguer a cabeça. Meus olhos encontraram com os do líder da Guarda das Brumas e lá eu vi que seria uma longa noite se não ignorasse a dor e acabasse com o máximo de pessoas possível.

Com a boca cheia de sangue pelos golpes no estômago, continuei com o olhar preso no rosto do homem de meia idade e pele com cicatrizes. Ele me observava como se eu fosse um cervo no qual abateria com um único tiro.

Não temi, apenas comecei a pensar num jeito de sair dali.

— Que situação deprimente, Capitão Jung — começara enquanto caminhava ao meu redor — Sempre esperei vê-lo no chão, aos meus pés, como está agora.

Cuspi o sangue em suas botas e ele chutou meu peito em resposta.

— Você ficou da mesma forma quando te marquei — falei debochado me sentando com dificuldade e sorrindo com a boca manchada de vermelho —Lembra da faca pontiaguda que cortou cada centímetro da pele de sua barriga? Lembra dos seus gritos implorando para que eu parasse? — sua expressão se fechou e seu corpo ficou de frente para o meu enquanto a lua, encoberta pela névoa, iluminava-o sutilmente — Eu me lembro de cada som que sua garganta produziu quando terminei.

 O som das conversas parou enquanto nos encarávamos. Um confronto indireto estava sendo cravado e ninguém deveria atrapalhar, os guardas mal respiravam temendo desconcentrar seu líder e acabarem punidos por isso. Eu conhecia o receio, pois tivera um contrabandista como professor no mundo escuro da Capital, ele não tinha misericórdia de ninguém, tampouco sofria ao condenar aqueles que o desafiavam.

Certa vez fui contra suas regras e o homem de dentes podres e pele suja ordenou que me amarrassem num tronco e não me alimentassem por cinco dias. Ali eu aprendi como deveria agir para que respeitassem-me em todas as situações.

— Espero não ter chegado atrasado — uma voz divertida atraíra todos para uma das entradas do beco. Não consegui ver quem era, porém não precisava, pois a voz o denunciava — Capitão Jung, pensei que gostaria de uma ajuda.

Maldita hora que decidi trazer Yoongi comigo, pensei com raiva.

Aproveitando-me da distração dos guardas, levei uma das mãos para a cintura e retirei uma faca escondida no cinto. O cabo de madeira se acomodou em minha palma enquanto o gume curvado numa meia lua cintilava sobre a pouca luz do local. Ninguém tinha os olhos em mim, todos estavam concentrados na figura mais adiante que começara a caminhar lentamente em nossa direção.

Mais tarde, quando estivéssemos em Eleanor, teria que conversar sobre os atos heroicos de Min Yoongi. Ele não poderia continuar agindo como bem entendesse enquanto estivesse sob minha proteção.

Levantando-me com dificuldade, apertei a empunhadura por entre meus dedos antes de me lançar contra o líder da Guarda das Brumas, a lâmina chegou a atingir sua nuca e cortar a pele da região, porém não consegui cumprir o tinha em mente por um dos homens uniformizados estar atrás de mim e enganchar o braço no meu pescoço fazendo-me arfar de dor.

Meu ombro esquerdo estava sendo pressionado e uma queimação no lugar fizera-me suspirar em agonia, ele tinha sido descolocado em algum momento e agora me impedia de agir com perfeição.

Minha visão embaçou pela pressão no pescoço, mas consegui ouvir e vislumbrar o príncipe se atracar com alguns guardas em um ato de heroísmo e idiotice. Não permiti que a atenção se voltasse para si, pois tinha que me livrar do aperto antes que perdesse a consciência e deixasse-o sozinho com todos eles.

Novamente, Yoongi estava me causando problemas.

Empurrando-me para trás com força, caminhei junto ao meu agressor até a parede mais próxima enquanto o restante da guarda se dividia entre me atacar, ir lutar contra Yoongi e ajudar seu líder. Este último estava curvado por culpa da dor e do sangue que manchava sua nuca.

Tinha que aproveitar o momento de euforia para escapar junto ao príncipe.

Apertando uma das mãos no antebraço do guarda e a outra na empunhadura da faca, lancei do meu peso para trás fazendo-o bater as costas na parede enquanto minha nuca acertava sua testa a fim de que afrouxasse o aperto. Um ruído sofrego chegou até meus ouvidos e neste instante vi a possibilidade de escapar; alguns guardas começaram a me cercar, porém, com o pescoço livre de pressão seria mais fácil de escapar com vida.

Percebendo a movimentação ao redor, inclinei o corpo para baixo segurando firme o antebraço do homem enquanto usava seu peso para jogá-lo por cima ombro direto no chão. O barulho de suas costas atingindo as pedras foi o estopim para que um grito solicitando minha morte preenchesse o local, não me permiti pensar no que poderia acontecer com aquela ordem, pois o ombro esquerdo latejava e a coluna reclamava. Mas a mente só pensava no príncipe.

Tinha que tirá-lo dali.

— É só isso que vocês têm? — perguntei audacioso e ofegante com o gosto metálico do sangue na boca.

Homens com suor escorrendo pelas têmporas olharam-me com desprezo e promessa de morte, mas não recuei, apenas lancei uma das mãos para dentro do casaco enquanto tirava a pistola presa na parte interna da peça. Alguns guardas levantaram suas armas na minha direção, porém, antes que conseguissem atirar algo foi arremessado entre nós e uma fumaça laranja começou a nos cegar junto o som de gritos a nos ensurdecer.

Alguém tinha chegado para nos socorrer.

— Capitão! — a voz de Taehyung chegara alta em meio a comoção.

Levantei o braço e atirei no primeiro rosto que se projetou contra mim.

— Tire-o daqui — gritei para ele enquanto olhava ao redor tentando vislumbrar a roupa de Yoongi em meio a nevoa laranja.

Esticando o braço novamente, comecei a girar os homens que estavam à frente enquanto buscava pela cabeleira loira do príncipe. Os guardas lançados contra mim, por culpa da fumaça colorida, eram tirados a vida por tiros ou facadas, pois empunhava nas duas mãos armas letais naquele confronto.

O barulho de socos e gemidos eram ouvidos por todo beco conforme a névoa começava a baixar. O som de disparos iam para cima e não para um alvo específico, talvez por isso temi uma tragédia.

— Capitão — gritara uma voz ao meu lado e um alívio repentino percorreu meu corpo.

Yoongi estava vivo por enquanto.

— Corra para longe — ordenei procurando-o com o olhar. Silhuetas se moviam em uma luta diante da fumaça laranja e meus olhos não conseguiram se ajustar para encontrar tanto o príncipe quanto Taehyung.

Respirando fundo, apontei a pistola para o lado e atirei enquanto chutava um corpo que tinha se postado à frente. Cotoveladas e socos eram distribuídos sem hesitação a primeira sombra que se movesse dificultando minha passagem por entre a comoção e obrigando-me a cravar a faca em ombros e pescoços. Gritos eram ouvidos e tecidos rasgados, o cheiro de sangue pairava no ar e o chão se tornava mais escorregadio.

Teria que caçá-los em meio a toda essa gente, pensei com raiva.

Em algum momento da minha forçada passagem por entre os corpos, senti uma mão agarrar-me pelo braço e puxar-me para trás, cai no chão por cima daquele que me impedira de avançar enquanto sentia uma dor dilacerante no ombro lesionado.

— Você terá uma marca minha, Jung — sussurrara uma voz em meu ouvido.

O líder da Guarda das Brumas apertava um objeto cortante em meu ombro esquerdo enquanto homens pisoteavam-nos. A dor vinha de todos os lados e a única coisa que consegui projetar na mente era o desejo de sobreviver, porém, para aquilo acontecer teria que ignorar tudo e levantar.

“Você é forte, garoto. Vai aguentar ficar aí sem muito esforço”, essas foram as palavras de um saqueador quando tentei roubá-lo na primeira vez que fui para ruas da Capital. Eu tinha acabado de fugir da casa de meu pai e Namjoon não estava na cidade para me abrigar. Sem dinheiro algum tentei apanhar algo de uma pessoa perdida por entre as vielas, foi quando encontrei o saqueador e ele me prendeu numa casa onde eram abandonados restos de peixe. Aquela situação me fez aprender uma lição de sobrevivência: seja forte e ignore tudo se deseja viver.

Me mantive vivo por tantos anos e não seria agora que me renderia a morte.

Puxando o ar com força, lancei a cabeça para trás fazendo o crânio alheio impactar com o meu, o barulho foi alto e som remetia a algo quebrado. Mas não liguei, apenas forcei-me a levantar com dificuldade enquanto alguns corpos atropelavam-me. Ninguém parecia distinguir amigo de inimigo, então, atacavam às cegas esperando alguém cair e torcer para que não fosse um dos seus.

A fumaça laranja estava escassa e alguns corpos fardados apareceram diante da minha visão, franzi o cenho buscando pelas roupas empoeiradas e velhas dos meus dois marujos, porém não tive muito tempo para pensar, pois um par de mãos agarrou minhas botas em um ato de sobrevivência. Olhando para baixo, vislumbrei em meio a escuridão o rosto daquele que me apunhalara no ombro, o líquido viscoso em sua face brilhava perante a luz da lua junto ao pedido de misericórdia.

—  Você não cansa de ficar aos meus pés? —  questionei debochado sentindo o objeto preso no ombro. Levando uma das mãos para o local retirei o incômodo enquanto escutava a voz de Taehyung chamando o príncipe em algum lugar – Um canivete? Pelos santos, você precisará de mais do que isso para me derrubar.

Limpando o sangue na calça, vislumbrei minha faca e pistola caídos ao lado do corpo do guarda. Ambos se soltaram de minhas mãos pela dor que me alcançara, elas poderiam se relevar um perigo nas mãos de alguém inteiro para o combate, mas o homem no chão não tinha condições de segurar nenhuma das duas pelo sangue que tinha perdido na nuca e pelo desconforto que o nariz, agora quebrado, lhe concedia.

Abaixando para ficar próximo de seu rosto, senti sua respiração oscilante misturado ao cheiro de sangue e suor. Minha coluna reclamou junto ao ombro enquanto minhas mãos esticavam-se para as armas perdidas no chão, tê-los por entre meus dedos era reconfortante, assim como o simplório peso do canivete.

Talvez devesse entregá-lo a Jeongguk quando o encontrasse, pois o garoto estava querendo um há dias.

— Acabe logo com isso — dissera o homem no chão enquanto ouvíamos o som de corpos caindo por todo o beco. Seus guardas estavam ficando no chão e os meus de pé.

Sorri torto levando a mão com a faca e canivete para dentro do casaco guardando-as num bolso próximo à adaga que usara em Lia, enquanto colocava a pistola na testa do guarda ensanguentado.

— Que a morte te leve para um bom lugar — sussurrei puxando o gatilho e sentindo o sangue do homem atingir meu rosto manchando-o mais — Se merecer, é claro — o som do disparo ressoou por todo o beco, pois os barulhos de luta tinham se encerrado.

Levantando-me, deixei o corpo sem vida cair para frente enquanto começava a caminhar cambaleante por entre os homens fardados sem vida, não queria cogitar a ideia de ter perdido Yoongi ou Taehyung, meus marujos eram bons demais para morrer em um lugar assim e eu tinha minha palavra para cumprir. O príncipe voltaria sã e salvo para Capital.

— Hoseok!

Não tive tempo para procurar a direção da voz, pois num instante uma mão tocou a ferida em meu ombro e um grunhido escapou de meus lábios fazendo minhas pernas fraquejarem pela dor.

— Pelos santos, você está horrível — dissera Yoongi ofegante e surpreso enquanto um de seus braços rodeava minha cintura para me apoiar.

Jogando a cabeça para o lado, vislumbrei seu rosto com cortes pequenos e recoberto por sujeira. Sangue escapava de alguns ferimentos na testa onde sua franja estava colada pelo suor, em sua boca um pouco do líquido viscoso escapava, mas fora isso o príncipe parecia bem.

Não consegui fazer uma análise geral de seu estado, pois a dor misturada ao cansaço estavam me arrebatando.

— Você está lindo também, Yoongi — respondi sarcástico forçando minhas pernas a caminharem — Onde está Taehyung? —  questionei tentando mover a cabeça para procurá-lo.

— Capitão — ouvir sua voz ao lado era reconfortante, pois não tinha perdido um dos meus melhores homens — Pensei que não escaparia com vida desta vez.

Soltando uma risada fraca, continuei caminhando lentamente enquanto o braço do príncipe me mantinha firme. Nós precisávamos sair dali antes que mais gente aparecesse e nos confrontasse, não acredito que teria forças o suficiente para mais uma briga.

— Eu sou como a esperança, Taehyung — sibilei risonho enquanto tossia pela dor que inundara meu peito respingando sangue pelo chão — Nunca morro — a risada do rapaz que me mantinha em pé chegou até meus ouvidos fazendo-me direcionar minha atenção para si – Você pode rir, Yoongi, mas já passei por coisa pior e ainda continuo de pé.

— Você está sendo arrastado por mim, Hoseok — respondeu debochado prendendo-me com força em seu braço para não cair — Se eu não tivesse voltado para lhe ajudar, provavelmente você estaria morto.

— Não conte com isto — dissera o marujo de fios laranjas pegando um de meus braços e passando ao redor de seu pescoço para que servisse de apoio também — Eu já o vi lutar sozinho com homens mais fortes que esses.

Ambos riram baixo me arrastando para uma rua sem som, eles pareciam estar se dando bem e isso, se confirmado, resolveria alguns dos meus problemas.

— Eu disse que não sou fácil de morrer — afirmei num fiapo de voz.

Aos poucos minha visão ficava turva e a dor aumentava, minha cabeça parecia que iria explodir e meu corpo só queria se jogar em algum lugar para descansar. Eu sabia que a inconsciência estava chegando, porém não poderia ceder, pois tinha que levá-los em segurança até Eleanor.

— Capitão? — a voz de Taehyung parecia distante e o aperto de seus dedos em minhas costelas machucadas vívidos.

Gemi em angústia enquanto tentava manter os olhos abertos.

— Hoseok! — a voz urgente de Yoongi me alcançara, porém o cansaço misturado a dor eram grandes demais — Hoseok, fique comigo, tudo bem? Acha que consegue se manter vivo?

— Eu sempre estou vivo — resmunguei sentindo meu peso ceder por sobre as pernas enquanto os marujos tentavam manter-me de pé.

— Capitão nós estamos perto de Eleanor — dissera o ex-corsário — Namjoon conseguiu colocar o navio numa baía próxima daqui.

Assentindo com a cabeça, deixei-a pender para baixo conforme a escuridão me inundava.

— Mas que droga Hoseok — o príncipe parecia desesperado enquanto forçava-me a avançar mais rápido pela rua pedregosa — Se você morrer, eu juro que vou te dar uma surra, ouviu?

Senti vontade de sorrir, porém não consegui. Em um instante a voz de Yoongi estava ali, noutra o silêncio me tomou e eu caí.

 

****

 

O mar brincava na janela oval do gabinete que chamava de quarto. A rede balançava seguindo o movimento das ondas que se chocavam contra a proa. O cheiro envelhecido dos artigos que guardava ali atingiram-me fortemente fazendo-me sorrir por estar de volta ao navio que eu mesmo construí.

Eleanor não foi roubada de algum outro pirata, as madeiras, cordas, botes, tecido e os ornamentos sim, mas a embarcação inteira foi projetada por mim com a ajuda de Namjoon. Nós precisávamos de um navio novo se queríamos continuar sendo temidos e navegando por entre os mares tenebrosos. Foram longos dias buscando recrutas para trabalhar conosco e mais algumas noites protegendo nossa criação.

Eleanor era nossa casa.

— Vejo que acordou, Capitão Jung — dissera uma voz grave ao lado.

— Voltei dos mortos — respondi enquanto fazia um esforço para me sentar. Um desconforto surgiu pelo meio peito conforme meus olhos se abriam e vislumbravam faixas por todo o local junto a uma pressão no ombro esquerdo.

Lançando as pernas para fora da rede, olhei para Taehyung sentado ao meu lado com cortes pelo rosto junto a um olho roxo. O marujo de fios laranja estava tranquilo, porém seu olhar me dizia que ele virara a noite velando meu sono.

— Não faça essa cara, capitão — alertou erguendo as mãos para o alto em defesa — Estou cobrindo o turno do príncipe.

Franzi o cenho confuso enquanto o desconforto pelo o corpo aumentava.

— Turno?

— Ele não saiu do seu lado desde que saímos da Ilha dos Mortos. Mal deixou Jin cuidar de seus ferimentos alegando que não poderia sair daqui sem ver se você continuava vivo — dissera calmo e sem raiva — O príncipe teve a chance de escapar, capitão, eu vi quando ele se escondeu numa casa abandonada, porém, poucos minutos depois, Yoongi saiu correndo na direção onde tiros poderiam ser ouvidos. Ele voltou por alguém como nós — havia respeito no tom de Taehyung.

Isso era difícil de se alcançar, mas ele conseguiu.

Assentindo com a cabeça, busquei pela cabeleira loira enquanto movia a destra para o queixo. Meu corpo ainda estava dolorido e minha mente cansada, mas senti-me bem ao ouvir as palavras de Taehyung, pois, mais uma vez, o príncipe me surpreendera mostrando que era diferente de seu pai.

Talvez ele fosse a melhor opção para a Capital.

— Por quanto tempo dormi? — questionei sério não olhando para o rapaz a frente, pois meus olhos estava concentrados em fios dourados esparramados sobre as duas caixas que usava como mesa.

Yoongi parecia estar num sono pesado com as mãos servindo de travesseiro. Sua respiração mal era ouvida, mas não me preocupei por saber que ele estava num lugar onde pudesse protegê-lo.

— Nove dias.

Balancei a cabeça em concordância sem tirar os olhos do futuro rei.

— Ele é um nós, Taehyung — sussurrei enquanto um sorriso despontava nos lábios — Min Yoongi é um pirata com sangue nobre.

— Não, capitão — respondera atraindo minha atenção pelo tom saudoso na voz — Min Yoongi é um nobre com sangue de pirata.

Naquele momento, comecei a entender como o príncipe estava conquistando os tripulantes e provando ser o oposto daquilo que pensávamos. Ele agia com bravura e teimosia, retornava para buscar companheiros e salvar-lhes a vida, não discutia sua função de observador e passava noites em claro olhando para o horizonte. Compreendia que não deveria se curvar diante de ninguém, pois nascera para receber esta saudação e não ao contrário.

Um dia ele seria rei, mas continuaria sendo respeitado como condenado.

 


Notas Finais


Gostaria de agradecer imensamente a todos que andam acompanhando este projeto, realmente obrigada por cederem a imaginação de vocês para mim.
Não sei quando volto, mas tentarei não demorar.
Novamente obrigada.

Bjocas amoras até qualquer dia.


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