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História O Rei dos Condenados - Dúvidas


Escrita por: Anchovinha

Notas do Autor


Hello amoras, como estão? Espero que estejam bem.

Eu deveria pedir perdão pela demora, certo? Certo! Digamos que a criatividade me abandonou por tempo indeterminado e quando ela começou a aparecer meu computador quebrou. Logo, foram alguns dias de pura anedonia e a pessoa aqui não estava conseguindo produzir nada, peço desculpas por isso.
Mas, antes de mais nada, quero agradecer enormemente a TaeYeol pela capa linda que ela fez para esta estória maluca, realmente obrigada por isso e espero que não tenha tirado muito do seu tempo.
A todos vocês, muito obrigada pelo carinho e paciência, viu?

Capítulo 6 - Dúvidas


O cheiro da água salgada chegava forte até meu nariz. O vento de ar pesado prometia nos levar até as terras do País Cinzento com alguns problemas, mas nada que impedisse a oportunidade dos outros descansarem em solo firme por alguns dias enquanto eu me aventuraria pelas ruas a procura de informações e ajuda.

Nós estávamos cortando alguns mares por semanas e mesmo que os marujos não reclamassem da falta de rumo que Eleanor seguia, compreendia o quão cansativo era. A expressão relaxada em seus rostos era apenas uma fachada que escondia a exaustão, seus músculos deveriam reclamar pelo trabalho excessivo puxando as cordas das velas, pelo lançar de redes ao mar em busca de alimento, pelas noites em claro vigiando a escuridão e pelo tempo em pé andando de um lado para o outro.

Eles mereciam um descanso.

Quando saímos da Ilha dos Mortos, a princípio, desembarcaríamos na baía da Ilha Vermelha, porém desisti do pensamento quando lembrei que Seok Lee poderia estar lá junto com seus homens, um confronto direto após o embate com a Guarda das Brumas e uma singela recuperação poderia nos dizimar em pouco tempo. Yoongi corria o risco de morrer e seu corpo ser jogado no mar em companhia do meu e dos outros quando afundassem Eleanor.

Não poderia correr um risco tão grande enquanto Lee estivesse encarregado pela busca do príncipe.

A fuga de nossa rota principal recaiu em um mal momento, porém os marujos não reclamaram, somente mantinham o navio em constante movimento conforme Namjoon e eu ditávamos o caminho. O País Cinzento não era uma das melhores opções, porém não tínhamos muito o que fazer se quiséssemos algum descanso provisório.

Lá, meus homens descansariam e conquistariam recursos para o restante de nossa trajetória. Lá, eu roubaria um cavalo e iria visitar a antiga Prisão dos Sussurros, existia alguém ali que poderia me direcionar para os lugares certos e manter Seok Lee longe o bastante até ter percorrido todo o território além da Capital.

Talvez eu estivesse tomando a decisão errada por fazer o caminho mais longo para conseguir descobrir àqueles que estão na Capital e com quais deveria manter os olhos abertos, é muito fácil se enganar pelos mercenários e corsários agindo de forma independente ou à mando de alguém. Estes últimos são os que me preocupam, pois foram instruídos de matar o filho do rei assim que este aparecesse, por isso precisava de mais detalhes para conseguir nos manter um passo a frente de todos.

Era cansativo manter tudo sob controle.

Fechando os olhos, deixei que a cabeça se inclinasse para trás enquanto o sol da tarde iluminava minha pele. O chapéu de três pontas não caía quando fazia o gesto, ele apenas se mantinha ali, comigo, como um fiel escudeiro que observara todas as atrocidades que cometi e benevolências que fiz. A peça foi me dada quando conquistei meu primeiro navio, Beija-Flor, ele era menor do que Eleanor, uma corveta que permitia fugas e ataques rápidos.

A medeira escura pertencia a um homem de meia idade dono de uma taverna na Capital, Chul Kwan. Nós, eu e Namjoon, frequentávamos o lugar apenas para podermos aprender como aqueles homens viviam e se portavam. Éramos jovens e impulsivos, talvez meu amigo fosse menos devido a vida que levava.

Ele tinha mais conhecimentos sobre as ruas do que eu, porém não hesitou quando propus que nos tornássemos foragidos da Capital. Aquilo nos pareceu uma oportunidade de apagar o passado e construir um futuro.

Desta forma, quando começamos a aparecer naquela taverna cheio de homens perigosos e influentes, tentei comprar Beija-Flor de seu dono oferecendo tudo o que tinha naquele momento em troca do navio. Kwan tinha uma cicatriz na têmpora esquerda e um sorriso sarcástico que levava para todas as conversas, quando fiz minha oferta ao homem de fios castanhos pensei que seria fácil dobrá-lo e conseguir o que queria. Mas o que ganhei foi um nariz quebrado e palavras sobre ser um deles, dos donos de terras e militantes que desejavam a morte de pessoas como ele.

Lembro de Namjoon ter interferido e dito algo que fizera o homem rir, porém não me dei conta das palavras de meu amigo, pois, apenas me lancei contra o rapaz e o fiz me pedir desculpas pelo ato e dar-me o que desejava. Naquela época, além de impulsivo, eu era alguém de ego frágil que não sobreviveria se continuasse a agir daquele jeito.

Kwan percebeu isso quando avancei contra si, graças ao meu ato imprudente ganhei meu primeiro e único chapéu tricórnio e conquistei um quase-amigo. Chul enxergou algo naquele garoto que havia abandonado sua casa e regalias para viver na penumbra da Capital. Desde a noite do incidente ele havia reivindicado minha presença todo início de manhã em sua taverna para que pudesse me apresentar o mundo pelo qual eu estava almejando conquistar.

Namjoon não havia sido requisitado, então ele continuava com seus afazeres na banca de tecidos enquanto eu recebia ordens de um homem infantil e ardiloso. As semanas que passei fazendo o que ele me mandava eram extensas, porém, no período, acabei tendo a oportunidade de saber com quem me relacionar, quando e como me apresentar, que atitudes ter e principalmente em quem deveria confiar.

Eu confiava nele.

Chul Kwan foi preso no País Cinzento por contrabandear pessoas e arquitetar uma rebelião com os mineiros que não haviam o que comer pelo fechamento das minas. Eu nunca mais o vi, tampouco sei de seu estado, mas estou indo até onde está aprisionado esperando que ele me dê alguma ordem e me ajude a evitar os erros mais prováveis até então.

Pela primeira vez não posso contar com Namjoon. Pela segunda vez estou disposto a receber ordens para não errar.

Franzindo o cenho com o pensamento, permiti que meus ouvidos se aprumassem sob as falas e sons que preenchiam a embarcação. A tripulação parecia risonha apesar do cansaço, palavras divertidas e provocativas brandavam por todo convés enquanto risadas e retóricas voltavam sem pudor. Aquele barulho de casa cheia deixava-me tranquilo e aliviado, pois era um sinal de vida e realidade, algo bom que fiz além de todos os crimes que cometi.

Não me arrependia daqueles que fiz sangrar ou que, obrigatoriamente, tirei-os a vida. Nenhum pirata era constituído de bondade, talvez muitos desconhecessem essa palavra, porém eu me esforçava para seguir aquilo que acreditava e neste meio tempo conquistei alguns adeptos com essa visão. Namjoon foi o primeiro e Kwan o segundo. O restante da tripulação foi se juntando à mim em diferentes situações de suas vidas, não lhes prometi um caminho sem sofrimento ou repleto de divertimento, mas os concedi o mar e a liberdade.

Era só isso que eu tinha e eles aceitaram mesmo assim.

— Sozinho novamente, capitão?

Abrindo os olhos, deixei que uma expressão calma e concentrada enfeitasse meu rosto enquanto virava a cabeça para o lado a fim de ver com clareza um dos marujos. Jimin estava com suor por todo rosto e a camisa larga, que um dia fora branca, revelava vários tons de sujeira, a calça marrom estava desgastada e as botas sem brilho algum.

Esta era a realidade que havia proposto à ele quando encontrei-o saqueando uma loja de armas na Capital, Park era um pouco mais novo do que é agora, porém continha a mesma sagacidade e esperteza, no momento em que o vi soube que precisaria de um marujo assim se quisesse ser respeitado e estar a altura dos outros piratas.

Namjoon e Taehyung estavam comigo no dia em questão e contestaram a ideia. Não lhes dei ouvidos e fui atrás de Jimin almejando saber de sua situação para oferece-lhe uma proposta digna. Ele ficou desconfiado no início, porém não havia futuro para ele na Capital, pois não era nada além de um órfã da Guerra dos Trezentos Dias.

Jimin lutou com bravura quando precisei de si e jurou lealdade à mim pelo resto dos seus dias. Ele adquiriu minha confiança e deu a si mesmo um novo motivo para viver; não importa a situação, Park sempre estará seguindo os objetivos que tracei para nós e estará ao meu lado obedecendo as ordens.

Ele era um bom marujo, porém, às vezes, me perguntava o que seria dele se estivesse longe de Eleanor.

— Não estou sozinho, Jimin — respondi por fim voltando a olhar para frente —Estou ouvindo a baderna de vocês e me mantendo longe para pensar.

Uma risada soprada chegou até meus ouvidos enquanto o corpo pequeno direcionava-se para a amadura de madeira. Os passos sobre o convés eram firmes e descontraídos, todo medo que algum dia ele sentiu por mim e por aquilo que oferecia tinha desaparecido ao longo do tempo. Jimin era um dos meus melhores piratas e um ótimo rastreador, porém, às vezes, o pego reclinado numa das pontas do navio com uma expressão pensativa e distante.

Talvez ele sentisse falta da vida que levava.

Reclinando-se sobre a amadura, o marujo deixou-se sentir a brisa marítima que conduzia-nos pela imensidão de água enquanto presenteava o mar com a música sobre condenados em fúria. A melodia cantarolada por ele sempre era usada pelos demais em dias que o mar estava calmo e não tínhamos nenhum lugar específico para ir, as rimas sobre poder e louvor, descrença e lealdade eram nossa a trilha sonora junto as ondas que se chocavam o navio.

A ponta da embarcação era diferente das outras, pois não continha o entalhe de uma caveira ou dos monstros que acreditavam existir, ela era apenas pontiaguda e lisa, simples e confortável ao olhar. Uma embarcação que não oferecia, a primeira vista, perigo, mas quando confrontada revelava-se uma tormenta pelo que abrigava.

O vento atingia as velas sem interrupção de alguma imagem e mostrava-se útil para àqueles que desejavam sentir o cheiro de água salgada. Foi desta forma que eu e Namjoon pensamos quando construímos o navio, precisávamos de algo que fosse inteiramente nosso e que oferecesse boas ventanias para as velas. Nós sorríamos e brigávamos constantemente quando olhávamos para a carcaça daquilo que desejávamos para Eleanor, porém debaixo de chuva ou de sol, formamos uma nova embarcação e conquistamos aliados para nossos objetivos.

Talvez mais meus do que dele, mas isso não importava, pois estávamos indo para o mesmo lugar.

— Capitão, por quanto tempo o príncipe ficará conosco? — a pergunta não vinha acompanhada de irritação ou desconfiança, era algo simples com um ‘quê’ de curiosidade.

Suspirei alto relaxando o corpo enquanto cruzava os braços sobre o peito. Não tinha ideia do tempo que poderia manter Yoongi em segurança, por isso precisava saber a localização exata de seu primo para montar uma escapatória em cima disto. Mas antes precisava encontrar Kwan e perdi-lhe ajuda quanto ao que deveria fazer, mesmo ainda não me sentindo perdido estava com receio de estar tomando as decisões erradas.

Chul provavelmente deveria saber o que eu me tornei depois de abandonar seu suposto treinamento. Possivelmente deve ter esvaziado muitas garrafas de rum pensando na droga que eu havia me metido. Mas sem dúvida deveria estar satisfeito com o resultado de suas ordens e ensinamentos enquanto cumpre sua sentença na prisão.

Contudo, talvez, com Yoongi aqui, eu esteja me questionando sobre todas as escolhas que fiz até então. O príncipe, desde que saímos da Ilha dos Mortos, após se recuperar dos ferimentos e eu dos meus, começou a ter pesadelos quanto as vidas que tirou naquele lugar. Às vezes, no meio da noite, antes do seu turno começar, ele se remexia na rede que dormia enquanto sussurrava coisas referentes àquela noite.

Eu não havia previsto algo como aquela fuga da Guarda das Brumas tampouco o embate, porém, quem estava pagando pela minha falta de atenção era Yoongi.

Quantos, dentro de Eleanor, passaram pela mesma coisa após terem um embate com alguém por um equívoco meu?

— Pelo tempo que conseguirmos evitar um confronto direto com Seok Lee — respondi por fim produzindo um ruído desgostoso com a boca.

Precisava da ajuda de Kwan, caso contrário iria me arruinar por pensar demais.

— Ele tem se portado como um de nós, capitão — disse o rapaz começando a virar para ficar de frente para mim — O príncipe, ao mesmo tempo que age como um desgarrado, consegue se mostrar diferente — seu olhar era uma mistura de fascinação e confusão. Algo que não lembrava em nada o rapaz que recrutei tampouco aquele que lutou ao meu lado pela primeira vez.

Quantas vidas Jimin tirou depois da batalha naval contra os homens de Seok Lee? Quantas noites mal dormidas ele teve ao se lembrar do derramamento de sangue?

— Isso te incomoda? — questionei arqueando uma das sobrancelhas tendo o cuidado para não revelar o que se passava pela mente.

Jimin sorriu tímido negando com a cabeça e relaxando o corpo enquanto o vento agitava sua camisa encardida e seus cabelos ressecados, aquela tranquilidade genuína não era costumeira, pois o rapaz sempre se ocupava com algo no navio. O jovem, outrora tão sagaz e observador, parecia não notar que havia algo de errado com seu capitão, mas este último estava enxergando os traços que a vida no mar deixou em si.

Talvez eu tenha feito a escolha errada no fim das contas.

— O príncipe tem ajudado Jeongguk e eu a ler e escrever — comentou esperançoso baixando o olhar após algum tempo em silêncio — Nunca pensei em receber uma educação assim, Capitão Jung, porém, mais do que isso, é ele se portando como um de nós. O príncipe não se mantém melhor do que qualquer um aqui, ele apenas tenta se encaixar e criar o seu espaço como um pirata.

Eu compreendia aquelas palavras, pois eram as mesmas que me perseguiam todos os dias. Quando lançava meu corpo na rede ao lado da sua, às vezes, me pegava encarando seu rosto preso num sonho qualquer enquanto as ondas balançavam Eleanor. Já tinha perdido a conta da quantidade de vezes que me perguntava o que Yoongi queria e sobre o que estava achando desta viagem alinear.

Alguns dias, depois que fechava meus olhos e me perdia na mente, conseguia escutar o som de sua risada no convés acima no seu horário de vigiar o mar. Era algo reconfortante vê-lo sendo aceito pelos demais e aprendendo e ensinando àqueles que não tiveram oportunidades para tal. Yoongi parecia, a luz do dia, gostar de observar a interação dos tripulantes e olhar para o céu ou horizonte, enquanto a noite, se perdia nos pesadelos e naqueles que matou ao voltar para me ajudar.

Eu sabia disso pois passava olhando-o desde nossa saída da Ilha dos Mortos.

Ainda não tinha conseguido agradecê-lo por ter insistido em ficar na cabine até que eu melhorasse. Algumas vezes fingia dormir para escutar sua breve discussão com Taehyung e Seokjin, ele não queria sair dali sem ter a certeza de que eu ficaria bem e como consequência arranjara uma breve inimizade com os marujos. Certas noites escutava-o cantarolar antes de se deitar na rede ao lado como se pudesse afastar as imagens ruins da mente.

Porém, em todas as vezes, Yoongi não me dirigia a palavra.

Apenas em uma manhã nós conversamos, pois estava entediado e precisava manter a cabeça ocupada enquanto me recuperava dos ferimentos, neste meio tempo perguntei a ele sobre sua vida no palácio. O príncipe somente ria desleixado quando contava de seus criados tentando trocá-lo ou não permitindo que cavalgasse pelos territórios seguros. Seu cabelo loiro pendia na testa e a expressão cansada parecia ser a última coisa que importava, pois ele parecia feliz ao falar.

Nós trocamos alguns pensamentos segredados à mente e nos sentimos bem ao falarmos daquilo tão abertamente, pois parecia que algo estava sendo libertado e um lanço pequeno de confiança estava sendo formado. Enquanto o príncipe contava sobre sua vida no castelo, eu relatava algumas aventuras nas terras distantes da Capital e o respeito que tinha pelo mar.

Talvez Yoongi tenha notado como aquele contato se assemelhava ao que eu tinha com os outros, talvez não. De qualquer forma, ele estava se encontrando no navio e criando um espaço seu por entre os marujos.

Ele estava se tornando um de nós.

— Você deveria parar de chamá-lo de príncipe — falei por fim dando um passo para frente — Se ele é um de nós, devemos tratá-lo como tal.

Jimin lançou-me um olhar descrente conforme me aproximava. Sua confusão era justificável devido as circunstâncias, mas o que mais poderia ser justificável nele baseado em tudo o que já passou?

— Mas ele é um príncipe — disse confuso.

— Só porque ele tem este título não quer dizer que temos de lembrá-lo a todo momento —  falei firme, mas com um sorriso divertido nos lábios —  Chame-o pelo seu nome, Jimin, pois se ele quer se encaixar está será a melhor maneira dele se adaptar.

O marujo me encarava pensativo refletindo minhas palavras, o cenho franzido indicava que ele ainda não sabia se deveria ou não seguir o conselho. Enquanto Jimin pensava no que foi dito o navio explodia em um entusiasmo por estarmos perto das terras do País Cinzento, a tripulação estava cansada e já sabia o que nos aguardaria quando chegássemos à baía.

Nada além de puro silêncio e uma taverna para distração.

As vozes dos homens não calavam as ondas agredindo o casco de Eleanor, o mar agitado e as grandiosas tempestades eram as marcas deste lugar, ninguém poderia entrar no país sem antes passar por elas. Se tivesse sorte, conseguiria manter todo o suprimento no navio e teria poucas perdas, caso contrário, o risco de continuar vivo era quase nulo.

Uma das características marcantes do País Cinzento é a grande taxa de mortalidade, muitos corsários e piratas já se perderam nas ondas gigantes que se arrastavam próximas a ilha. Para chegar até a baía era preciso saber conduzir a embarcação com firmeza e não deixar o timão virar antes do momento, pois um único deslize poderia custar sua vida e a daqueles que estão viajando junto consigo. Foram poucas as vezes que estive por aqui, pois o território era complicado de se chegar e não existia nada que me importasse por lá.

Não até o momento.

— Capitão, você acha que o príncipe vai nos caçar quando reivindicar o trono? — a voz vacilante e temerosa de Jimin atraiu minha atenção. Meus olhos estavam focados no horizonte com o pensamento sobre nosso destino, porém, o marujo permanecia ali, esperando uma resposta e refletindo sobre nosso viajante.

Suspirando pesadamente, indiquei com um aceno para que me seguisse enquanto dava as costas para o mar e caminhava pelo convés. O som dos passos do marujo soaram baixos perto do estrondo provocado no céu, a cor azul deste último cedia lugar para o cinza com nuvens carregadas e, aos poucos, a agitação das ondas que nos rodeavam se tornaram mais fortes fazendo respingos de água entrarem no convés.

Eleanor navegava no ritmo agressivo do mar enquanto o vento balançava as velas e meu casaco desbotado e rasgado no ombro que havia machucado em nossa última parada. O chapéu repousando em minha cabeça ameaçava sair devido a força do ar, porém, antes que ele se perdesse nas águas escuras, segurei-o conforme adentrava o centro do navio.

Agora precisaríamos de ordem e firmeza para passar a tempestade sem dano algum, os pensamentos duvidosos só poderiam voltar quando alcançássemos a terra firme.

— Jimin — falei alto acima do assobio do vento. Ao nosso redor o restante da tripulação encerrava os sorrisos e davam lugar para concentração em suas tarefas — Ele não vai nos caçar — disse olhando-o por cima do ombro.

Seus cabelos vermelhos erguiam-se com a voracidade da ventania enquanto sua camisa de tecido fino e gasta movimentava-se em seu tronco. Sua expressão revelava dúvidas quanto às minhas palavras, mas nada disse. Ele já tinha feito isso, porém a situação era mais favorável para o meu lado, ter Yoongi aqui significava abrir as portas de nossos segredos e apresentá-lo àquilo que fazemos desde que nos juntamos, por mais justo e digno que o príncipe estivesse sendo os marujos tinham receio do que aconteceria quando se tornasse rei.

Fechando os olhos com força, respirei fundo enquanto mais uma trovoada nos avisava da tormenta que passaríamos. Tinha que encontrar Kwan logo, pois precisava sanar as dúvidas dos meus homens e a minha própria, talvez eu tivesse tomado muitos caminhos errados que levassem todos a morte, por mais que tenha avisado-lhes sobre os riscos antes de se juntarem a mim, eles ainda poderiam discordar do que estava traçando para suas vidas.

Talvez, minha decisão desesperada para ver Chul Kwan custe muito a eles.

— Você confia em seu capitão? — perguntei sério virando-me de frente para ele.

— Eu daria minha vida à você, Capitão Jung — respondeu convicto se aproximando.

— Não há o que temer — falei firme olhando-o  nos olhos — Yoongi não fará nada contra nós, pois ele faz parte deste navio.

— Mas e se...

— Sem mas — interrompi sua fala com a voz profunda e altiva. Se passasse a escutar ativamente as dúvidas de Jimin, talvez mais perguntas apareceriam e eu não poderia responder nenhuma delas. Não agora, pelo menos — Ele é um de nós, confie em mim.

Jimin ameaçou dizer mais alguma coisa, porém meu olhar era intenso e não deixava margem para dúvida. Eu precisava da confiança total dele, pois como seu capitão não poderia deixá-lo com distrações avulsas ao nosso objetivo momentâneo, mesmo que em minha mente só existisse perguntas não poderia permitir que mais alguém às tivesse.

Jimin era um marujo e deveria ter outras ocupações sem pensar no que o príncipe poderia fazer com todas as informações que lhes damos, essa era tarefa minha e não poderia dividir nem mesmo com Namjoon.

Precisava chegar até Kwan antes que enlouquecesse.

Com um suspiro, Jimin assentiu com a cabeça e se retirou para ajudar alguém com as velas. Os gritos de Seokjin sobre estarmos entrando no Mar Silencioso ecoou por sobre o vento, a chuva ainda não tinha nos atingido, mas a apreensão recaiu como um cobertor no navio. O Mar Silencioso era tão perigoso quanto qualquer outro em tempo ruim, no entanto, ele era diferenciado por engolir embarcações em meio a tempestades, pois assim nenhum outro navio que estivesse pelos arredores poderiam ouvir os gritos daqueles que estavam sendo naufragados.

Tínhamos que tomar cuidado.

— Hoseok, há uma tempestade chegando, o que vamos fazer?

Olhando para o lado, vislumbrei o rosto de Yoongi suado e com manchas escuras de sujeira enquanto seus olhos demonstravam apreensão. A roupa amarrotada e encardida pendia sobre seu corpo de pele queimada pelo sol, não muito, somente um pouco para lhe render um tom mais escuro do que o pálido habitual. Ele ainda não tinha passado por um mar turbulento desde que começou sua viagem conosco, talvez isto o assustasse pois sua cabeça olhava para a água que entrava no convés pela ondas que chegam firmes contra a proa do navio.

Não poderia dizer que tudo estaria bem, pois mesmo sendo alguém da coroa ele não teria um tratamento igual. Não mentiria sobre nossa situação, apenas omitiria o real objetivo de estarmos navegando pelo Mar Silencioso em direção as terras do País Cinzento.

— Irei precisar de toda sua força — falei por fim — Você irá conduzir Eleanor.

Não esperei para ver sua reação, apenas comecei a me mover pelo convés olhando para os marujos conferindo se estavam todos à postos para as ordens que iria lhes dar. Os passos firmes deles soavam fortes, mas não tão quanto o barulho do atrito da água com a madeira, todos sabiam que este temporal era diferente daqueles que passamos, pois os outros eram fenômenos naturais, mas o que estávamos prestes a passar, parecia ter sido feito para proteger o País Cinzento.

Subindo as escadas que levariam para o timão, senti uma rajada de vento me impulsionar para trás enquanto escutava os questionamentos de Yoongi diante daquilo que acabara de dizer para si. Eu não poderia conduzir Eleanor, pois estaria ocupado redirecionando uma das velas e Namjoon estaria mantendo as coisas do outro lado do navio sob controle.

Poderia, naturalmente dar a tarefa à Taehyung ou Seokjin, mas preferia-os enrolando as mãos nas cordas para não deixar que nada saísse do controle. Jeongguk iria, com a sua luneta, indicar os caminhos para que pudéssemos passar pela tempestade sem perder muito. Jimin por sua vez, ficaria encarregado de manter os barris de pólvora e objetos perigosos longe dos locais que lhe lançariam ao mar.

A desvantagem de ter uma tripulação escassa era essa, você não poderia manter controle geral de tudo, e quando as batalhas surgissem, teria apenas aqueles ao seu lado.

Kwan me mataria por ter poucos piratas em meu navio, mas era uma decisão que tomei quando iniciei esta jornada.

— Hoseok, o que você quer dizer com “conduzir Eleanor”? — a voz grave de Yoongi chegou em tom de exigência me fazendo parar no último degrau e olhá-lo por alguns instantes.

— Você vai fica aqui —  apontei para o leme — Segure firme e não deixe-o virar enquanto eu não te mandar soltar. Entendeu?

Ele me olhou com se estivesse louco.

— Eu nunca conduzi uma embarcação — disse nervoso subindo o lance de degraus para ficar de frente para mim — Peça para Namjoon assumir esta responsabilidade, eu iriei ajudar em outra coisa. Poderei ser mais útil em outra função.

Seus olhos escuros estavam presos no meu e neles consegui enxergar a insegurança sobre ter vidas em sua mão, pois um único movimento no leme e nós sairíamos do percurso e poderíamos ser engolidos pelo Mar Silencioso. Olhando para além do príncipe, vi a chuva começando a vir em nosso encontro como uma cobra para um rato, enquanto a tripulação gritava ordens uns com os outros.

Será que havia feito a escolha errada novamente? Perguntei para mim mesmo cerrando o maxilar.

— Eu confio em você para isso — falei por fim voltando a encarar seu rosto. Yoongi estava surpreso e pela sua expressão não parecia acreditar naquilo. Se os lados fossem trocados, eu estaria da mesma forma — Você, Yoongi, é um pirata e eu, como capitão, confio em você.

— Isso está errado — murmurou levando as mãos para os cabelos — Hoseok, eu não... Pelos santos — disse puxando seus fios loiros —  Eu já desconfiava da sua sanidade, mas ter a confirmação é angustiante.

Sorri brevemente para ele enquanto respirava fundo. Uma garoa começava a nos saudar e o cheiro de água salgada se intensificar, o balanço do navio já indicava que não seria uma tempestade amigável, nenhuma é realmente, porém aquela tinha o sabor do País Cinzento e de sua intolerância com moradores e visitantes.

Descendo um degrau, estiquei uma das mãos para tocar no ombro do príncipe enquanto olhava para frente vendo Namjoon se postar diante do terceiro mastro. Meu amigo olhava para mim com confiança e segurança, ele sabia o que eu estava fazendo, mas não interviu uma vez sequer, pois mesmo não gostando de Chul Kwan entendia que ele seria o único capaz de me acalmar.

Namjoon e eu, pelos anos que passamos lutando lado a lado, já conhecíamos bem um ao outro. Entendíamos quando não poderíamos nos ajudar e quando não queríamos ser ajudados. Independente disto, ele seguia minhas ordens como capitão e implicava com muitas delas como se fosse um irmão.

Só gostaria de ser um capitão melhor para ele e para os outros.

— Nós vamos conseguir passar pela tempestade com você no comando — sussurrei no ouvido do príncipe enquanto apertava de leve seu ombro — Você será um bom rei algum dia, mas agora terá que ser um bom capitão.

Sua respiração vacilava, mas sua cabeça não se inclinou para que seus olhos vislumbrassem os meus.

— Pensei que me achasse como meu pai — respondeu no mesmo tom relembrando daquilo que eu havia lhe dito no casebre da Ilha dos Mortos.

— Talvez eu estivesse enganado — falei baixo com um sorriso na voz.

— Talvez eu não te deixe esquecer disso — sibilou antes de caminhar para o leme.

Isto seria um desafio para ele tanto quanto para mim e os outros em suas funções. Se Yoongi conseguisse se manter firme em meio a densa tempestade conseguiria ter coragem o suficiente quando assumisse o governo da Capital, pois aquilo exigirá muito dele como agora. A pressão é diferente, mas as vidas em suas mãos terão o mesmo valor, quem sabe assim ele esquecesse dos que morreram e pensasse naqueles que poderia salvar.

Erguendo os olhos para as nuvens carregadas que se aproximavam cada vez mais, caminhei pelos degraus restantes enquanto a chuva se intensificava e molhava meu chapéu e minhas roupas. Nós passaríamos por isso como nas outras vezes, nós eramos poucos, porém tínhamos a fúria de muitos e, independente das dúvidas que me assolavam, eu faria o meu melhor para conceder a vitória para meus homens e para Yoongi.

— Ele vai ficar bem? — Namjoon perguntou quando cheguei até o mastro que ele estava.

— Enquanto eu estiver aqui ele vai ficar — respondi tranquilo tentando esquecer das escolhas que fiz até então, pois naquele momento Eleanor e os outros precisavam de um capitão ativo e não um pensante.

 

 


Notas Finais


Ao som das themes de Poldark consegui um pouquinho de inspiração para escrever este capítulo. Quero alertá-los que estamos na reta final da fanfic, então, desde já quero agradecer por cada coisinha que vocês fizeram/fazem aqui. Realmente obrigada por terem aderido a esta ideia maluca e por estarem aqui comigo.
Vejo vocês quando a criatividade retornar e eu não ficar paranoica novamente.

Bjocas amoras, até qualquer dia.


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