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História O Rei dos Condenados - Apreensão em alto mar


Escrita por: Anchovinha

Notas do Autor


Hello amoras, como estão? Espero que estejam bem.

Eu deveria começar pedindo desculpas pela demora para aparecer, certo? Digamos que tive semanas incrivelmente péssimas, dias cansativos e mais uma porção de coisas para fazer, então me mantive ocupada e desanimada grande parte do tempo. Como minhas férias chegaram estou de volta, espero que não tenham pensado que havia desistido desta estória, mesmo se eu quisesse não conseguiria, pois vocês me deixaram animada e envolvida numa narrativa que inicialmente surgiu para representar um desejo particular.
Obrigada por me deixar apaixonada por escrever mais uma vez.

Leiam este capítulo com calma, tudo bem? Apenas para tentar pegar a sensação do navio e afins.

Capítulo 7 - Apreensão em alto mar


Os rangidos das madeiras de Eleanor contrastavam com o som dos trovões que cortavam o céu, as nuvens pesadas junto com a névoa densa tentavam impedir nossos olhos de procurar sinais do término da tempestade e dos rochedos que haviam no caminho. Gritos de comando eram dados por todos a fim de certificar cada área sua situação, mesmo sendo pouco o que poderíamos fazer caso algo estivesse errado era uma forma de nos manter conectados e esperançosos.

As ondas nervosas do Mar Silencioso chicoteavam a proa nos fazendo perder o equilíbrio e a força nas pernas, as roupas molhadas pela tempestade prendiam nossos movimentos enquanto os sapatos tentavam se firmar no convés escorregadio. O cansaço das semanas em alto mar cobrava seu preço através da dor nos músculos e exaustão mental, porém não podíamos fazer nada além de aguentar o baque das águas para mover o navio na direção certa.

Faltava muito para conseguirmos passar pelo temporal tão característico do País Cinzento, mas faltava pouco para que minha mente entrasse em combustão.

Sacudindo a cabeça em uma tentativa de dissipar a água do cabelo, segurei firme as cordas da vela enquanto buscava com o olhar os marujos que se prendiam em todo o convés. A tempestade ficava mais agressiva conforme adentrávamos mais no território cinzento, parecia que aquela chuva era um teste para se entrar no país, se fosse digno resistira às ondas agitadas, se fosse fraco sumiria na névoa e morreria em algum lugar do mar.

Somente os idiotas tentavam atravessar o Mar Silencioso, talvez por isso eu, junto a minha tripulação, fossemos os melhores nesta classe.

Eleanor balançava de um lado para o outro enquanto o convés se encharcava com a água salgada no mar, a garganta dos homens presentes na embarcação deveria estar tão arranhada quanto a minha pelos gritos que tentavam se sobressair diante dos trovões. Alguns relâmpagos cortavam as nuvens densas e provocavam sobressaltos na tripulação de músculos rígidos e corpos cansados, não sabia até quando iríamos durar naquele ritmo de conduzir à grosso modo o navio, mas teria que ser até chegarmos em terra firme.

Com os olhos semicerrados pela chuva que despencava do céu, tentei vislumbrar as costas de Yoongi mais adiante, o casaco escuro que sempre usava estava molhado o suficiente para me fazer pensar sobre o quão difícil deveria estar sendo conduzir Eleanor naquelas condições, seu corpo parecia tenso daquela distância e ele ainda não havia dito quase nada sobre sua situação com o leme.

Minha preocupação se estendia por todos no navio, porém o príncipe estava silencioso demais para alguém que manuseava o timão pela primeira vez. Ninguém contestou minha decisão de deixá-lo naquela posição, mas talvez tenha sido pressão o suficiente para ele naquele momento. Yoongi nos conduzia firme pelo mar agitado, contudo, parecia que o rapaz estava com a mente distante e não ouvia uma palavra sequer do que dizíamos.

Fale comigo Yoongi, pensei preocupado mantendo os olhos presos no marujo de fios claros, me deixe saber se você está bem.

Seu cabelo se movimentava junto com o vento nervoso que trazia a tempestade e levava objetos consigo, meu chapéu já tinha se perdido mar à dentro algum tempo, Jimin tentou agarrá-lo quando ele se desprendeu da minha cabeça, porém não conseguiu alcançá-lo. A tripulação ficou em silêncio enquanto observava o acessório ser levado para longe de nós, eles não sabiam o motivo exato de eu gostar tanto daquele chapéu de material gasto, porém entendiam que ele era algo especial para mim.

Teria que me desculpar com Kwan quando o encontrasse.

— Capitão, estamos com problemas — a voz de Jeongguk surgiu alta e quase desesperada.  A chuva nos castigava, mas o jovem não deixava seu posto na amadura do navio, meus olhos correram para o lado em que estava e sua mão trêmula segurando a luneta me deixava em dúvida se ele tremia pelo frio ou pelo que tinha visto.

— Mais? — falei irônico apertando as cordas para que a vela não mudasse de direção.

— Consigo ver uma muralha de rochedos mais adiante, as ondas estão nos levando diretamente para eles — respondeu alto mantendo os olhos no horizonte — Se não formos rápidos Eleanor irá bater.

Franzindo o cenho, pressionei um lábio no outro enquanto pensava numa solução para aquele problema. Meus olhos correram para o rosto de Namjoon que estava ao meu lado ajudando a manter a vela firme, seu cabelo estava preso contra testa e a boca entreaberta buscando fôlego para continuar fazendo o seu trabalho, pela chuva gelada que recaía sobre nós consegui notar o frio que estava sentindo da mesma forma que vi a teimosia nos seus esforços para permanecer de pé.

Ele mal tinha dormido durante as semanas que estávamos em mar aberto, porém não havia insistido para descansar um pouco mais que os outros. Gostando ou não, Namjoon tinha alguns privilégios comigo por ser meu amigo de longa data, mas ele não usava de nenhum deles para se sobressair diante dos outros, o rapaz sofria junto com a tripulação enquanto os ajudava no que quer que precisassem.

Eu deveria aprender algumas coisas com ele, pensei desviando o olhar, talvez assim não tomasse atitudes precipitadas.

— Jeongguk, consegue me dizer se os rochedos são muito estreitos? — falei alto voltando a semicerrar os olhos pela chuva.

Cada vez que avançávamos pelas ondas, mais a tempestade se tornava agressiva e Eleanor chiava por entre as madeiras devido a agressividade do mar. Não sabia até quando aguentaríamos neste ritmo, mas tínhamos que tentar resistir ao máximo, pois não aceitaria morrer deste jeito. Nós lutamos vezes demais para ter um final tão pequeno.

“Você vai desafiar a morte, Hoseok? Espero que ela não tenha piedade de você”. Isso foi algo que minha mãe me disse quando resolvi caçar um urso que diziam residir nas florestas da Capital, aquela tinha sido a primeira vez que senti a adrenalina subir e a vontade de viver um tipo de vida daquele jeito crescer. Eu era um jovem teimoso e apenas consegui rir dos machucados que ganhei por aquela atitude imbecil, algumas cicatrizes perduravam até os dias de hoje pelo meu corpo, porém não as via como algo vergonhoso e sim como motivo de orgulho.

Eu irei desafiar a morte quantas vezes forem necessárias, pensei determinado, não importa se estou duvidoso quanto às minhas atitudes, nós vamos passar por este temporal e eu vou ajeitar as coisas.

— Pelo jeito são muitas curvas e os rochedos são pontiagudos demais — respondeu o jovem de fios pretos — Não acho que seja viável tentarmos passar, Capitão Jung, precisamos de uma outra rota.

— Não há outro caminho — respondi grosseiro deslizando o olhar para o restante da tripulação que tentava se manter no convés.

Cenhos franzidos, lábios mordidos, cansaço no rosto e frio por todo o corpo, era assim que os marujos estavam e era desta forma que permaneceriam até passarmos por isso. Eles não iriam morrer através de um naufrágio, são bons demais para tal.

Não havia prometido vez alguma que eles estariam totalmente seguros estando comigo, porém tinha-lhes assegurado que não teriam uma morte simples. Ser um pirata representava muito mais que o título, existiam cicatrizes e sangue pelo caminho, assim como dias dolorosos e gloriosos, era por estas coisas que me recusava a baixar a guarda diante de qualquer situação mesmo correndo um grande risco.

O fato de desafiar reis e homens perigosos formavam nossa reputação. Se fosse para morrer, que fosse brigando com um deles e deixando uma marca sobre cada corpo fazendo todos reconhecerem nossos esforços tanto quanto nossas habilidades. Era por isso que desafiava o Mar Silencioso, para mostrar que nem mesmo ele conseguiu me lançar, junto aos meus homens, no esquecimento. 

— Acha que consegue nos fazer atravessar, Yoongi? — perguntei firme puxando uma das cordas enquanto meus olhos corriam para as costas do príncipe.

Nós precisaríamos dele.

—  Hoseok, você ficou maluco? —  a repreensão de Namjoon soou alta no meu ouvido, porém não o olhei —  Está tentando nos matar?

Sorri de canto enquanto dava um passo para  trás e inclinava o tronco para o lado direito a fim de buscar um novo ângulo do vento. Minha vontade era de respondê-lo como antigamente, mas não poderia fazê-lo por ainda esperar uma resposta de Yoongi, ele se mantinha quieto e talvez este fosse o momento apropriado para descobrir como está. Porém, independente de sua resposta, nós iríamos atravessar aqueles rochedos e adentrar ainda mais a tempestade, tínhamos o objetivo de chegar na baía do País Cinzento e não seria um mar agitado que nos impediria.

Yoongi deveria ter um peso sobre os ombros, pois, talvez por nunca ter experimentado ondas furiosas de um mar frenético com vidas dependo de si, não compreendia o quanto uma palavra poderia contagiar ou desencorajar as pessoas ao redor. Por mais que tivesse sido lhe ensinado desde a infância como se portar e dirigir um país a prática se revelava completamente diferente, pois havia fatores a se considerar, mas não existia tempo o suficiente para pensar.

O que você fará, Min Yoongi? Pensei deslocando o quadril para o lado a fim de manter-me firme. Na Capital não será tão diferente, seus homens irão cobrar ordens e você terá que tomar decisões sem considerar todas as opções, o que vai fazer quando essa hora chegar? 

— Escute, Hoseok, eu não tenho ideia do que você tem em mente, mas não coloque nele mais responsabilidade do que deveria — a voz de Namjoon soava baixa, porém alta o suficiente para se fazer ouvir em meio a chuva.

Eleanor chiou mais uma vez quando uma onda forte atingiu seu casco fazendo todos se sobressaltarem. Mas o príncipe permaneceu rígido e quieto segurando o leme.

— Sua preocupação é válida, mas eu sei o que estou fazendo — respondi calmo lançando-lhe um olhar astuto — Ele vai passar por coisa pior na Capital, você sabe bem disso, estou apenas dando a ele um pouco de bagagem para quando a hora chegar — o marujo me olhou incrédulo enquanto, ao fundo, Seokjin pedia para que Taehyung firmasse a corda no mastro.

— Yoongi não é como nós, Hoseok — começou balançando a cabeça para tirar a água de sua franja — Ele precisa estar vivo para conseguir assumir o trono. Eu pensei que estava entendendo os motivos para você deixá-lo conosco, mas a cada dia vejo que nada faz sentido — o rosto teimoso na qual estava acostumado estava assumindo a expressão de perdido conforme Namjoon falava, ele não tinha medo de morrer, porém estava receoso sobre como as coisas estavam se desenrolando — Nós estamos acostumados com seu desafio à morte, mas o príncipe não, estamos passando por muitas situações que normalmente não nos envolveríamos. Me diga, capitão, o que você está fazendo?

Engoli seco enquanto fitava seu rosto sendo coberto pela chuva e água do mar que invadia o convés através das ondas. Isso não tinha nada haver com eles, minhas dúvidas e preocupações, porém não poderia deixar de envolvê-los diante disso, não poderia chegar até Kwan sozinho, talvez fosse uma atitude imprópria mas era para um bem maior.

De qualquer forma, Yoongi estava colhendo experiências conosco e isto era algo que ele poderia decidir como usar futuramente, pois o ser humano vive disto, de experiências passadas para projetar suas ações no futuro.

Aquilo tudo iria valer em algum momento tanto para ele quanto ao restante da tripulação, era nisso que estava acreditando.

— Yoongi, se não tem confiança para nos fazer passar, venha ajudar Taehyung e me deixe assumir o comando — a voz de Seokjin era firme e direta, não havia sugestões em sua fala, apenas uma convicção que sempre estava consigo quando as coisas se tornavam ruins. Meus olhos vagaram para onde o marujo estava e ele mantinha seu rosto virado na minha direção, Jin confiava em mim e isso bastava para si — Se o Capitão Jung acredita que nós podemos passar é porque podemos, sem mais e nem menos. Ele esteve nos guiando até agora e se você duvida disso não precisa se forçar a ficar num lugar que não lhe cabe.

A sombra de um sorriso dançou em meus lábios, nós estávamos perdidos na tempestade do Mar Silencioso, mas um dos marujos continuava sendo idiota acreditando que o venceríamos. Era por isto que estava ali, Seokjin era tão fanático por desafiar a morte quanto eu, confiava na persistência cega de um homem e tomava para si os objetivos que deveriam ser alcançados. Um navio pirata não era conduzido por somente um capitão, existiam pequenas lideranças que fortaleciam o primeiro e o fazia deixar as fraquezas para trás.

Precisava me tornar melhor por eles, pensei grato por ter um tripulante como Seokjin, tinha que dar motivos para que continuassem me escolhendo dentre todas as alternativas que existissem.

— Nunca disse que esse lugar não me cabia, Jin — a resposta de Yoongi soava desafiadora enquanto trovões brandiam no céu — Estava apenas pensando no melhor jeito de atravessar os rochedos sem que nenhum de vocês caísse no mar, porém não existe travessia tranquila — a voz profunda e grave do homem de fios claros dispensava questionamentos, pois se parecia com a voz de um líder; tranquila, objetiva e confiante — Vocês terão que me obedecer se quiserem viver.

Erguendo o queixo para fitar as costas do príncipe, vislumbrei seu rosto virar minimamente e me encarar por cima do ombro, não existia medo em seu olhar, apenas expectativa e surpresa por aquilo estar acontecendo. Ainda não tinha aprendido a descifrar Yoongi em meio a tantas manias e trejeitos, mas eu reconhecia o sentimento por ter estado da mesma forma quando assumi às rédeas do meu navio.

Aquele rapaz vai dar trabalho, pensei risonho, mas ainda sim ele é o tipo de homem que eu gostaria de ver regendo um país.

— Vocês o escutaram — disse Taehyung atraindo as atenções — Nós teremos que nos segurar e obedecê-lo. Não se disperssem dos comandos de Yoongi.

Assenti com um aceno enchendo o peito de confiança para passar pelos rochedos com toda força que ainda restava dentro de mim.

— Apenas nos tire dessa tempestade — Jimin se fez presente com seu tom irritadiço — Estou cansado de correr atrás das coisas e jogar a água de volta para o mar.

Um raio cortou o céu enquanto trovões selavam o desafio, nós estávamos próximos da nossa travessia e já se conseguia ver algumas formas se elevarem na neblina que rodeava a embarcação. O silêncio recaiu sobre Eleanor e cada tripulante respirava fundo ao se ajeitar onde estava esperando pelo próximo passo, não seria fácil e eles sabiam disso, um naufrágio deveria ser esperado mas todos estavam confiantes quanto suas forças para aquele momento.

Confiança demais havia arruinado muitos reinos e afundado centenas de navios, porém nós éramos condenados pretensiosos guiados por um príncipe sem experiência. Não havia muito o que perder, apenas desejávamos rivalizar contra o mar enquanto podíamos.

— As ondas estão nos levando para o primeiro vão entre os rochedos — anunciou Jeongguk — Estejam preparados para a correnteza irregular.

Apertei firme a corda em volta das mãos enquanto travava as botas no convés úmido, meu olhar cruzou com o de Namjoon como nos velhos tempos, onde recebíamos ordens de pequenos navegadores em época de pesca, um sentimento de urgência para que aquele momento acabasse era compartilhado em todas as vezes. Porém, agora, o que trocávamos de forma silenciosa era a ansiedade pela pré-movimentação.

Expectativa demais sempre foi o nosso ponto forte.

— Nós já estamos acostumados com isso — falei sorrindo de canto controlando um dos lados da vela — Será como nos velhos tempos.

— Como nos velhos tempos — afirmou derrotado puxando as cordas presas em sua mão — Apenas seja mais obediente, Hoseok, porque o capitão da vez é o Yoongi.

A voz do príncipe dando sua primeira ordem se fez presente enquanto todos se preparavam para o impacto com as ondas. Estava na hora de desafiar a morte mais uma vez.

—  Nunca fui bom em seguir ordens — respondi baixo antes do primeiro impacto nos atingir.

As ondas que nos agrediam antes pareciam ter entrado em fúria junto com as enormes paredes de rochas ao nosso redor, Eleanor estava pequena diante destes últimos enquanto tentávamos driblar o vento para sair daquela situação. O repuxar de cordas, os gritos de ordens, a tentativa de se manter em pé e o reforço dado por Jeongguk e Jimin marcavam nossa primeira descida pelo vão dos rochedos.

Água salgada molhava o convés enquanto a chuva forte dificultava nossa visão, as botas começavam a deslizar sobre a madeira levando os corpos em direção ao chão, nossa força estava sendo testada junto com a audição, pois estava sendo difícil escutar a voz de Yoongi com trovões brandando no céu e o som de Eleanor virando contra as pedras ao seu redor. As madeiras permaneciam chiando enquanto trabalhávamos na vela, o príncipe girava o timão com força e falava o mais alto que podia para indicar os próximos movimentos.

O corpo doía pelo esforço, porém cerrava os dentes mantendo o foco. O ar que enchia os pulmões entravam dolorosos pelo nariz e a visão embaçava pela névoa misturada com a chuva; o navio fazia viradas bruscas conforme descia pelas águas furiosas do Mar Silencioso, lançando os tripulantes de um lado para o outro fazendo-os se deslocarem de suas posições. O tecido das velas se movimentavam numa direção enquanto desejávamos outra, Eleanor estava cada mais próxima das paredes sólidas conforme o caminho ficava mais estreito.

Nós precisávamos de mais controle, pensei preocupado tentando observar a travessia mais a frente, se continuarmos inconstantes vamos acabar batendo.

— Mantenham-se firmes — gritei enquanto mudava o corpo de posição — Vamos seguir o vento para conseguir rapidez nas decidas. Estamos ficando próximos demais dos rochedos, por isso puxem as cordas com força para mudar a vela de direção.

Ninguém respondeu, mas começaram a se ajeitar da forma que podiam para seguir minhas coordenadas.

— Só vamos poder fazer isso depois que passarmos pelo trecho seguinte — a voz de Yoongi se sobressaltou — Se seguirmos o vento agora vamos ir direto para uma das paredes, temos que manusear as velas contra ele se quisermos ter chance de manter Eleanor inteira.

Apreensão recaiu no navio enquanto tentávamos nos segurar pelas decidas da embarcação sobre as águas agitadas, estavam todos tensos e esperando uma ordem concreta para seguir, mas ninguém se moveu depois do pronunciamento do príncipe. O silêncio cortado pelos sons da tempestade retiniam nos corpos molhados e os olhos buscavam o céu em uma prece para que os santos nos livrassem do naufrágio; os pertences sendo revirados no interior do navio se fizeram ouvir quando algo grande se espatifou abaixo de nós, mas novamente ninguém se moveu.

Precisávamos agir rápido.

— O que sugere que façamos, Yoongi? — questionei altivo buscando apoio no mastro — Dê suas ordens para que possamos sair disso.

Um raio cortou o céu e o navio deslizou pelas ondas que tentavam nos jogar contra as pontas das rochas.

— Vou girar Eleanor para a direita na próxima curva, preciso que vocês movam as velas na direção contrária. Assim podemos conseguir rapidez pelos vãos estreitos que irão nos tirar daqui — disse firme deslocando o corpo para o lado a fim de criar resistência contra o timão que teimava em sair do seu controle — Nós não vamos poder fazer muita coisa depois da próxima decida, então segurem firme nas cordas e sigam as instruções do Capitão Jung.

— Você tem certeza de que isso vai funcionar? — perguntou Jeongguk da outra extremidade do navio.

Sua voz revelava o início de um medo que não tinha-o acompanhado até então, pois gostando ou não, o que Yoongi sugeria era algo arriscado demais para um trajeto tão pequeno.

— Não — a resposta do rapaz de fios claros chegou temerosa a todos —  Mas é o melhor que temos no momento.

Puxando a respiração, lancei um olhar de soslaio para Namjoon que estava começando a ceder ao cansaço, suas mãos teimavam contra a cobrança dos dias sem descanso enquanto as pernas bambeavam sobre o convés. Ele não iria conseguir seguir aquilo proposto por Yoongi se continuasse a tremer deste jeito, por mais persistente que Kim fosse seu limite havia chegado e eu não poderia sair da minha formação para ajudá-lo.

— Jimin, fique junto com Namjoon — gritei para o marujo que prendia uma caixa de pólvora às argolas de metal no chão do navio para que ela não caísse no mar como as outras coisas — Não largue a corda por nada, ouviu? — o jovem de fios rubros se apressou até onde estávamos assentindo com a cabeça no processo. Apesar do corpo pequeno, o rapaz era forte o suficiente para dar o suporte necessário que meu amigo precisaria.

Erguendo o olhar, vi a sombra de duas rochas pontiagudas se aproximarem conforme navegávamos por aquele caminho estreito, a saliva escorregava por minha garganta arranhada enquanto meus olhos vislumbravam o vão entre elas pelo qual teríamos que atravessar. A irregularidade daquele trajeto fazia os músculos se tencionarem diante da probabilidade de não sairmos vivos dali, mas por um instante um sorriso despontou em meus lábios contrariando todo temor que residia em meu corpo.

Eu deveria ter previsto uma trajetória muito mais complicada para o País Cinzento, deveria ter preparado o psicológico e o físico dos marujos e ter-lhes deixado parar numa ilha a fim de descansar o corpo. Porém, mesmo com todos os pontos negativos da nossa viagem, estava ansioso para o que viria a seguir.

Apesar de já ter passado por situações perigosas, aquelas que envolviam estar em alto mar me deixavam com o coração batendo forte e com os olhos fascinados pelas coisas que encontrávamos no caminho. Namjoon me dizia que eu era uma criança presunçosa desafiando os pais com atitudes ruins, às vezes tinha que concordar por sempre me sentir da mesma forma quando enfrentava a natureza marítima: eufórico.

Nós não morreríamos ali de forma alguma, pensei apertando as cordas com toda força enquanto a voz de Yoongi ao fundo falava sobre o momento pelo qual deveríamos agir. Isto é um desafio para se entrar no território cinza e eu nunca fugi de nenhum que foi proposto, sempre bati de frente com o mar para provar do que Jung Hoseok era feito. Eu não iria morrer tão cedo.

— Que os santos nos guardem — o sussurro de Namjoon chegou um segundo antes da voz grave do príncipe eclodir e nós cairmos na correnteza feroz.

Eleanor seguia bruscamente pelas ondas tentando se manter inteira enquanto nós seguíamos o plano de Yoongi, este último girava o leme com força conforme passávamos pelas paredes rochosas que se erguiam ao nosso redor, a água do mar invadia ainda mais o convés e a chuva alcançava seu ápice com o vento. Eles nos empurravam e usavam a imponência da correnteza para tentar nos naufragar, mas continuávamos firmes direcionando as velas contra as rajadas de ar da tempestade.

O fôlego faltava neste último ato de persistência, o peito doía pelo esforço de levar ar aos pulmões e os olhos se machucavam pela água raivosa que caía do céu. Com movimentos vorazes, as ondas nos mandavam de um lado para o outro mesmo que nós tenhamos conseguido seguir até então o que foi planejado, as paredes sólidas cheias de musgo se aproximavam da embarcação mas não as atingimos, pois Yoongi estava fazendo um ótimo manuseio do timão.

Ele tinha pegado o jeito, pensei orgulhoso.

Uma curva pequena e rápida nos pegou de surpresa, lançando-nos para o lado que forçávamos as velas. Os gritos abafados dos marujos diante do movimento brusco foi abafado em meu ouvido pela dor que consumiu meu corpo, na virada repentina de Eleanor fui jogado contra o mastro fazendo as costelas entrarem em atrito com a madeira e a força do impacto dominar todo meu ser.

Minha visão embaçou enquanto a mente girava, o corpo vacilou para frente pela tontura me fazendo quase cair no convés, porém fechei os olhos e puxei o ar com força em uma tentativa de me recuperar para continuar segurando firme as cordas que estavam enroladas na mão. Ainda tínhamos mais um tenebroso caminho pela frente e eu não poderia ceder para meus machucados, eles teriam que ser ignorados até estarmos em águas mais tranquilas.

— Agora, façam o que o Hoseok tinha nos dito, coloquem as velas a favor do vento — a voz de Yoongi se exaltou e um tom de euforia transcorria em suas palavras — Estamos quase saindo da linha dos rochedos, só precisamos conduzir Eleanor com rapidez por entre as ondas.

Cerrando os dentes, comecei a ajeitar a postura com dificuldade enquanto dava passos para o lado colocando o corpo numa posição que ajudaria na condução da vela. Uma lufada de ar gelado atingiu meu rosto fazendo meu queixo se erguer em petulância conforme me mantinha de pé, aquele vento poderia me derrubar facilmente por conta da pouca força nas pernas, porém não iria cair de joelhos até estármos longe dali, estávamos vencendo o Mar Silencioso e eu não veria nossa vitória do chão.

Jung Hoseok era orgulhoso demais para isso.

A velocidade com que o navio arrancava pela correnteza era muito acima daquela que estávamos vindo, a ajuda do vento soprando as velas e guiando Eleanor pelas ondas nos permitia afrouxar as cordas para esperar que ele nos tirasse daquele caminho. O mar continuava furioso, mas não tanto quanto antes, pois estávamos saindo da zona de rochedos e a névoa começava a ficar menos densa em decorrência disso.

Com a visão mais clara, meus homens iniciaram uma série de sussurros entusiasmados enquanto o navio era levado para o final da abertura das paredes rochosas. As madeiras da embarcação pararam de chiar e os relâmpagos não caiam mais do céu, as nuvens pesadas continuavam, mas agora traziam uma chuva mansa para coroar nossa trajetória.

— Conseguimos — a voz de Jimin soara baixa e desacreditada — Nós passamos pelo Mar Silencioso.

— Eu disse para acreditar em mim — falei com um sorriso direcionando meu olhar para as costas do rapaz de fios claros que mantinha as mãos no timão — E também falei para confiar nele.

A risada alta de Jeongguk se fez presente enquanto uma chuva fraca nos banhava, num momento estávamos tensos pelo trajeto perigoso que teríamos de vencer, noutro risadas e assobios inflamavam o navio por ainda estarmos vivos. O sorriso fraco em meus labios foi se fechando quando Yoongi lançou-me um olhar por cima do ombro, um tom agradecido e espantado residia em seu rosto por não estar acreditando no que havia feito, com um manear de cabeça cumprimentei-o silenciosamente antes de voltar a face para o céu.

Ele merecia um reconhecimento.

Estava orgulhoso de Min Yoongi, estava satisfeito com minha tripulação e estava feliz por ter vencido a natureza mais uma vez. Não sozinho, mas com seis marujos que valiam por centenas.

Fechando os olhos, entreabri os lábios enquanto sentia as costelas latejarem de dor, a água fria que me atingia não levava embora minhas frustrações, porém sentir o gosto de ter vencido mais uma batalha contra o mar renovava algumas esperanças. Com a parte mais difícil completada e a reafirmação da minha promessa para com os marujos, tinha apenas que me preocupar com nossos passos seguintes, mas isto seria debatido Kwan e ele iria julgar e guiar minhas próximas ações.

Neste momento, iria esquecer das dúvidas e deixar o vento levar Eleanor enquanto Yoongi nos conduzia pela chuva calma no mar tranquilo. Naquele instante queria aproveitar a sensação de estar vivo mais uma vez.

 


Notas Finais


Vocês lembram que está estória teria somente três capítulos, certo? Mas a pessoa aqui pensou em coisas demais e teve que começar a estender a fanfic, porém, gostaria que soubessem que isso só aconteceu por causa de vocês que apoiaram a ideia e que me deixavam eufórica pensando se tudo estava seguindo uma linha certa. Graças a vocês que continuei seguindo a estrutura dos capítulos e adicionei coisas para que nada ficasse vago demais.

Novamente, obrigada por me fazer ficar apaixonada por escrever.

Bjocas amoras.


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