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História O Rei dos Condenados - Os líderes de Eleanor


Escrita por: Anchovinha

Notas do Autor


Hello amoras, como estão? Espero que estejam bem.


Esse capítulos já estava pronto faz muito tempo, mas só consegui postar agora por ter encontrado um espacinho na minha vida maluca.

Capítulo 8 - Os líderes de Eleanor


O ar entrava por meu nariz e boca de um jeito áspero e sufocante. O cansaço estava presente em cada osso e músculo, as roupas molhadas presas ao corpo pesavam mais do que deveriam, e os olhos, machucados pela árdua chuva, queriam se fechar. A falta de ar nos pulmões me fazia ficar ofegante enquanto permanecia escorado no mastro com as cordas da vela enrolada nos pulsos.

A franja negra escorregava por minha testa seguindo o fluxo da água que despencava dos fios molhados. O sal do mar estava por toda parte, desde convés à tripulação, mas isso parecia ser a última coisa a nos incomodar, pois existia o cansaço dos dias longos em mar aberto misturado com a exaustão de manter Eleanor firme durante a tempestade.

Os gritos de ordens dados por mim e Yoongi reverberavam contra as agitadas ondas sobre a proa da embarcação, ninguém ousava fazer um movimento além daquele que ditávamos, ninguém deixava transparecer o medo de morrer ali, na tempestade para o País Cinzento, pois todos queriam se manter fortes e agarrar a esperança do que viria quando chegássemos em terra firme.

Descanso era o que pedia a expressão de cada marujo.

Deixando meu corpo desabar no convés, senti todos os músculos reclamarem enquanto as costelas machucadas repuxavam meu interior. Sussurros e suspiros de alívio nos acompanhavam sob o som das ondas, agora tranquilas, pelo restante do caminho para a baía desolada, a tempestade tinha exigido demais de nós, pois a cada trovão tínhamos que manter as velas na direção certa enquanto o leme se mantinha firme e girava quando necessário.

O vento castigava nossos rostos e levava consigo o restante da força que tínhamos. Para não serem lançados nas profundezas do mar, os tripulantes agarraram-se contra mastros e cordas, porém não houve nenhum grito solicitando ajuda. Cada marujo se prendia no que podia enquanto acatavam ordens para se manterem inteiros, as trocas de olhares e o esforço feito por todos tentavam compensar a falta de mais piratas no navio.

Se tivesse conquistado mais homens a passagem tenebrosa por aquelas águas seria menos dolorosa. Porém, não quis nada além daqueles rapazes que não tinham nada para se apegar além da liberdade e do mar.

Espero que vocês tenham feito a escolha certa e que eu tenha sido o melhor caminho para cada um, pensei angustiado enquanto fechava os olhos pela exaustão. Minha mente estava cansada, mas me recusei a abandonar os questionamentos que nos trouxeram até aqui.

Não poderia recuar agora. Não quando acabamos de atravessar uma tempestade que poderia ter nos matado.

Respirando fundo, permiti que minha cabeça pendesse para baixo conforme o barulho dos corpos caindo sobre o convés preenchiam o ar de Eleanor. Os gemidos de dor dados por Jeongguk eram misturados com as palavras otimistas de Seokjin, a risada cansada de Jimin contrastava com os murmúrios amaldiçoados de Taehyung. Namjoon por sua vez, respirava alto ao meu lado contrapondo a ausência de palavras de Yoongi.

Todos estavam esgotados, porém felizes por estarem vivos. Quando se passava muito tempo com as mesmas pessoas conseguia-se aprender sobre suas manias e entender nas palavras silenciosas seus apreços e gratidão. Por isso, naquele momento, entre suspiros e sussurros, murmúrios e falta de conversa, compreendi o sentimento de cada marujo.

Estávamos vivos, somente isso importava.

— Pelos santos Hoseok, Eleanor está um caos — resmungou uma voz grave enquanto o som de seus passos arrastados brandavam sobre o convés.

Sorrindo de canto, semicerrei os olhos e ergui o queixo para aquele que se aproximava. O rosto molhado e vermelho do príncipe brincou na minha visão conforme ele vinha até mim, suas vestes encharcadas grudavam em seu corpo enquanto sua bota rangia pela madeira. Com os olhos averiguando nossos pertences jogados por todo lado, vislumbrei a sombra do espanto e orgulho presos em sua face.

Ele não teria uma experiência parecida se estivesse preso na Capital.

— Bem vindo à bordo, Yoongi — respondi movendo o corpo para ajeitar-me no mastro logo atrás, as costelas machucadas se repuxaram mais uma vez me fazendo enrugar o nariz pela dor.

Virando a atenção para mim, o loiro franziu o cenho enquanto parava à minha frente. Meus olhos percorriam-o calculando as perdas e ganhos pelo tempo que esteve conosco; quando Yoongi iniciou sua jornada como um aspirante a pirata seu cabelo estava curto e ordenado, suas postura para com os outros era nobre e cordial, a pele leitosa revelava ausência de marcas por batalhas e dourado do sol, com os olhos afiados ele observava cada movimento mantendo cautela e deixando a curiosidade fluir em forma de perguntas.

Porém, agora, o conforto e segurança estavam presentes em seus passos e fala, suas atitudes demostravam seu aprendizado e com isso ele conquistava seu espaço na embarcação.

Com risadas e farpas trocadas com o restante da tripulação, Yoongi construía seu lugar em Eleanor e como membro desta equipe. A superioridade que tinha quando começou a viajar conosco estava dando passagem para que um laço mais forte com nossos objetivos e rotas fosse criado, a cumplicidade instaurada entre cada homem se estendia até o príncipe e ele estava agarrando-a com força.

Talvez, quando retornarmos à Capital, Yoongi esqueça do que criou aqui ou apenas deixe-nos de lado para cumprir com seus deveres, mas acredito que a lição de lealdade que observou entre nós e aquilo que presenciou nas cidades que passamos irá ficar guardado em sua mente.

O povo depositava suas esperanças no novo regente, e eles, por mais miseráveis que fossem suas vidas, ainda tinham o desejo de ter alguém que os protegesse e não os tratasse com descaso. Desde que passei a conhecer o príncipe, desejava que ele conseguisse ser o melhor rei que a Capital já tivera por causa das famílias que ainda viviam por lá.

— Descanse, Yoongi — falei soltando um suspiro enquanto tomava coragem para me levantar — Seu trabalho já acabou.

Um som desgostoso chegou até meus ouvidos.

— O que vai fazer? — questionou contrariado mantendo-se à frente.

Apoiando uma das mãos no chão, peguei impulso para erguer-me enquanto ouvia Namjoon resmungar algo logo atrás. Meus músculos estavam reivindicando um descanso e as costelas exigiam atenção, mas por enquanto não poderia dar o que desejavam, pois iria nos conduzir pelo trajeto até a baía do País Cinzento e deixar os outros descansarem antes de se aventurarem nas tavernas.

Não poderíamos passar tanto tempo num lugar como aquele, porém, enquanto pudéssemos descansar e reunir forças para as próximas batalhas iríamos nos manter ali. Eu precisava da ajuda de Chul Kwan antes de nos colocar à frente de Seok Lee, ele não atravessaria o Mar Silencioso com sua enorme embarcação tampouco se colocaria em risco para vir atrás de nós. Ele esperaria até que estivéssemos próximos de si para atacar.

Esse era o jeito de Seok Lee, deixar os outros irem na sua direção sem fazer esforço para intimidá-los, pois eles iriam cruzar seu caminho gostando ou não.

De uma forma ou de outra nós, eu e Lee, sabíamos que nos encontraríamos e mais uma batalha iríamos travar. Só esperava manter o restante a tripulação bem o suficiente até o dia do confronto.

— Hoseok? — o rapaz à frente me chamou cauteloso — O que vamos fazer no País Cinzento? — seus olhos incertos grudaram nos meus — Você não comentou nada, ignorou qualquer pergunta direta e ficou quieto. Apenas me diga o que vamos fazer para eu poder te ajudar.

Yoongi queria respostas e eu desejava fugir de qualquer pergunta.

Ajeitando a postura quando consegui ficar de pé, inclinei meu rosto para o lado afim de vislumbrar os marujos sentados no convés com as cabeças baixas pelo cansaço. Suas mãos estavam vermelhas e os cabelos encharcados como suas roupas, ninguém demostrava interesse na troca de palavras entre eu e o príncipe, mas todos escutavam com atenção para saber o que aconteceria dali pra frente.

Não poderia dizer nada enquanto não tivesse o respaldo de Kwan. Ele era o único no momento que poderia me ajudar a não errar.

— Jung — a voz firme de Namjoon atrás de mim atraíra minha atenção não me permitindo dar uma resposta para a pergunta de Yoongi —  Vamos revezar no leme.

Soltei o ar abaixando a cabeça minimamente em uma tentativa de desanuviar a mente enquanto levava uma das mãos para o lugar que tinha batido mais cedo. Se tivesse sorte as costelas iriam sarar em pouco tempo, mas o pensamento otimista não diminuía o incômodo que as dores causavam.

— Era o que eu iria propor — falei distraído começando a caminhar até os degraus. No entanto, antes que conseguisse me afastar do mastro e do príncipe, este último deu um passo para o lado entrando na minha frente e me confrontando com sua expressão séria.

Ele teria que usá-la muito quando voltasse para a corte.

— Você não me parece bem — apontou em um sussurro analisando minha reação — E não respondeu minha pergunta, capitão.

Encarei-o com os olhos exaustos e expressão dolorida, talvez ele não compreende-se que a figura postada à sua frente estava daquela forma por estar duvidoso quanto ao que precisava fazer. Talvez não entendesse o quão trabalhoso era pensar nos movimentos do inimigo paralelo aos seus, talvez não quisesse realmente saber a resposta para aquela pergunta em específico. Mas, independente disto, algum dia Yoongi estaria no mesmo estado e, enquanto não estivesse na Capital, iria privá-lo de pensar coisas pelo qual teria que passar no futuro.

Aquele era meu fardo e ninguém em Eleanor merecia carregá-lo. Kwan não iria segurá-lo para mim, somente apontaria o caminho com os menores danos, pois me recusava a errar com meus homens e com o futuro rei.

— Ninguém neste navio estará bem até repousar devidamente — respondi cordial — Quando chegarmos à baía, quero que todos descansem até o anoitecer. Ninguém irá perturbá-los se permanecerem dentro de Eleanor e não fizerem estardalhaço — completei enquanto desviava de seu corpo e seguia em direção aos degraus que levariam até o timão.

Meus ouvidos captaram seu suspiro alto conforme me afastava sendo seguido por meu amigo, não precisava virar para ter a confirmação, pois Namjoon iria estar comigo mesmo não tendo ciência de tudo o que estava acontecendo. Ele estava tão perdido quanto qualquer outro ali e isso me deixava mais cansado só de pensar em como começaria a explicar as coisas, mesmo se tomasse a iniciativa de dizer minhas aflições não conseguia achar certo enchê-lo com minhas preocupações.

Parecia injusto importunar qualquer um ali com isso.

O som das minhas botas retinia contra a madeira molhada do convés que se misturava com o barulho das ondas que nos conduziam até a terra firme, a proa cortava o mar em silêncio como se ouvisse nossas conversas e pensamentos e os levasse para longe. Os marujos não declararam voz alguma enquanto ouviam meus passos seguidos pelo arrastar das botas de Namjoon, talvez estivessem fracos demais para exprimir qualquer coisa.

— E você? — a pergunta ressoou alta por cima do quebrar das ondas —  O que vai fazer quando chegar às terras do País Cinzento, Hoseok?

Virando-me para Yoongi quando alcancei o último degrau, olhei para sua postura ereta e firme enquanto esperava por Namjoon se colocar ao meu lado. Mas ele não fez isso. Meu melhor amigo se mantinha no convés um pouco a frente do príncipe me encarando e não sabendo ler meus movimentos tampouco os conflitos. Me recusei a lhe ceder alguma informação sobre nossa travessia pelo Mar Silencioso por presumir que já sabia da prisão de Chul Kwan, mas seu olhar para mim naquele momento ia contra qualquer pensamento que tive antes.

Ele era mais um marujo perdido sob minhas escolhas.

Deslizando o olhar de Namjoon para Yoongi, notei a diferença de significados entre ambas as expressões; a primeira queria saber a ordem que deveria seguir, enquanto a segunda exigia alguma resposta para poder ajudar. Minha garganta se fechava em angústia por não saber qual caminho trilhar com eles dois, mas foi quando minha atenção percorreu o convés que me senti temeroso quanto àquilo que estava fazendo, pois Seokjin, Jeongguk, Jimin e Taehyung estavam levantados e com os rostos virados na minha direção. A preocupação transpassava seus olhos e a falta de saber o que fazer estavam vestindo suas faces.

O que eu havia feito com eles? Me perguntei enquanto engolia seco.

— Para onde irá quando alcançarmos a terra firme, Capitão Jung? — a pergunta foi feita por Jeongguk, mas ela carregava a dúvida de todos.

Eu estava deixando transparecer minhas preocupações?

— Vou fazer o que preciso — respondi altivo.

— Vamos com você — disse Jimin dando um passo para frente — Desde que saímos da Ilha dos Mortos, o capitão está distante.

— É impressão sua —  falei firme me recusando a ceder para as minhas​ emoções naquele instante. Não poderia enchê-los com as minhas perguntas, preocupações e dúvidas, eles já tinham o bastante para pensar.

“Demonstrar suas inseguranças afeta diretamente o que seus seguidores acham de você”, isso era algo que meu pai dizia quando me apresentava às pessoas que trabalhavam em nossas terras, essas palavras nunca abandonavam minha mente por serem as únicas que achei válidas vindo dele.

Não queria que meus homens me olhassem como um capitão fraco. Eu tinha que mostrar segurança, transmitir esperteza e aparentar ser a melhor escolha entre todas as outras.

— Nós não vamos deixá-lo passar por isso sozinho, capitão. Seja lá o que​ estiver acontecendo, nós não iremos deixa-lo — a voz de Seokjin era mansa, porém não deixava margem para a dúvida quanto ao que queria dizer — Você tem evitado conversas e anda escondendo coisas de nós. Capitão, não somos ignorantes tampouco cegos – os olhos castanhos do rapaz me fitavam firmes e irredutíveis, algo que fizera-me questionar ainda mais sobre o que havia feito com ele — Nos deixe ajudar – o pedido carregava um tom de súplica e preocupação.

Parem de fazer perguntas, pensei em agonia, não posso responder nenhuma delas por não querer decepciona-los.

— Nem tudo vocês precisam saber — falei exasperado fitando os olhos de cada marujo, pois precisava​ transmitir segurança — Apenas confiem em mim, eu sei o que estou fazendo. Não se preocupem com coisas sem importância, deixe-me fazer aquilo que preciso enquanto vocês descansam — completei cansado olhando-os com sinceridade.

As palavras saíram confiantes de meus lábios, porém a descrença da minha mente quanto às atitudes que estava tomando me traziam um sentimento de angústia. Não gostava de mentir para eles tampouco omitir alguma informação, mas não existia um modo diferente nesta vida.

Às vezes, a ignorância era a melhor dádiva para marinheiros.

— Capitão, você é o tipo de homem que tenta reter tudo sob suas mãos não permitindo que terceiros lhe ajudem a mante-las lá — a voz grave de Taehyung se embalava no som das ondas e das gaivotas conforme nos aproximávamos da baía. Faltava muito para estarmos em terra firme, porém o barulho das aves era alto o suficiente para nos indicar a direção correta — Um dos motivos que me levaram a segui-lo foi sua teimosia, perseverança e capacidade de transmitir segurança. Não sei o que está acontecendo consigo, capitão, porém espero que esteja ciente de que estarei ao seu lado — os olhos do marujo de fios laranjas eram intensos e não me permitiam desviar o olhar. Não queria decepcioná-lo — Estou confiando em suas decisões, mas peço que confie em nós para realiza-las.

Passando os olhos por cada rosto, deixei que um suspiro cansado escapasse dos lábios enquanto jogava a cabeça para trás a fim de sentir o vento. Com os olhos presos no céu de nuvens tranquilas e cinzas, me permiti pensar em cada um que estava em Eleanor, nas coisas que passamos juntos e em todas as situações que estiveram frente à morte, em nenhuma das adversidades eles me abandonaram ou resistiram quanto a uma ordem direta, apenas assentiam enquanto confiavam nas minhas escolhas.

Os juramentos feitos antes das batalhas eram promessas que jamais seriam esquecidas por eles e por mim. Suas vidas poderiam ter tido rumos diferentes, porém não hesitaram em me seguir quando os selecionei nas mais distintas situações, nada além de gratidão os marujos demonstravam junto com o laço de amizade que criamos uns com os outros. Eles me conheciam tão bem quanto eu a eles, pois estávamos convivendo a tanto tempo que não tínhamos como ignorar comportamentos diferentes ao que estávamos acostumados.

Mesmo assim, não queria deixá-los cientes das minhas preocupações e inseguranças, pois eu era o capitão e deveria mantê-los distantes das coisas que se passavam por minha mente. Eles enfrentaram a morte diversas vezes e debocharam dos perigos encontrados nos mares, porém não acredito que conseguiriam lidar com as dúvidas daquele que deveria conceder um caminho para cada um.

Eu não conseguiria encarar a decepção em seus rostos se confessa o quão perdido estou.

— Capitão, você é muito transparente. Desde quando nos conhecemos é assim — a voz de Namjoon soava exausta, mas havia uma diversão contida ali, algo que compartilhávamos muito quando mais jovens — Se está preocupado com alguma coisa fale para nós, se estiver irritado grite para o céu, se está cansado de carregar o fardo sozinho divida ele conosco — correndo os olhos para os do meu melhor amigo, vi que eles continuavam perdidos, porém demostravam a confiança cega que nos fez se aproximar um do outro — Se estiver com medo, Hoseok, não se esconda e nos deixe ficar ao seu lado.

Abri a boca para respondê-lo, porém nenhuma palavra saiu. As gaivotas continuavam a cantar ao fundo e as ondas conduziam Eleanor tranquilamente como se estivessem assistindo o que estava acontecendo no convés, o vento chegava sutil e fazia as roupas úmidas balançarem no corpo, os cabelos de todos se moviam em comunhão com a ventania enquanto aguardavam uma resposta. Eles precisavam de uma.

Meu olhar transitava de um marujo para o outro, recolhendo de seus rostos os olhares sagazes e de seus corpos a confiança que parecia ter me abandonado. Com os queixos erguidos e narizes empinados, meus homens demostravam o motivo para estarem ali, naquele navio que acabara de enfrentar uma tempestade e ameaçado de um naufrágio na próxima batalha, aqueles seis piratas exaustos me fitando eram o retrato de como os líderes deveriam se parecer; altivos, convictos e seguros.

Se eu havia me tornado um capitão com essas três qualidades foi por eles terem se juntado a mim, pensei risonho enquanto sacudia a cabeça, por cada um deles eu tinha a audácia de enfrentar todos os desafios possíveis por saber que conseguiriam me acompanhar.

Não era certo mentir ou deixar de contar algo para eles, mas apenas por não terem me abandonado sentia que precisava dar motivos para não irem embora. O que eu seria sem Namjoon para me trazer a realidade? Nada. O que eu faria sem Taehyung com sua lealdade? Nada. O que poderia fazer sem Jimin com sua rapidez? Nada. O que conseguiria fazer para tratar todos os machucados sem Seokjin? Nada. O que eu faria para agir sem ter Jeongguk e sua esperteza? Nada. Quando encontraria alguém tão semelhante e diferente de mim se não tivesse aceitado Yoongi no meu navio? Nunca.

Eu não seria quem sou se não os tivesse por perto.

— Vocês são terríveis — sussurrei conforme a sombra de um sorriso dançava em meus lábios.

Eram eles que me mantinham vivo e não existia agradecimento suficiente para expressar minha gratidão por estarem comigo.

—  Capitão — a voz solene de Namjoon atraiu meus olhos para seu rosto — Estarei sempre ao seu lado como um amigo e um subordinado.

Ele estava sorrindo.

— Capitão — olhei na direção de Taehyung que maneava a cabeça em uma reverência simples — Vou estar contigo até meu último suspiro.

Ele estava convicto.

—  Capitão — deslizei o olhar para Jimin que levava uma das mãos ao coração – Você me salvou quando achei que não existia mais espaço para mim no mundo. Eu estarei pronto para te salvar quando precisar.

Ele estava sendo sincero.

— Capitão — a presença de Seokjin parecia tomar conta de Eleanor quando sua voz chegou até mim — Você me deu uma oportunidade no momento em que eu não tinha nada, quero ser aquele que irá te oferecer tudo para continuar navegando ao seu lado.

Ele estava seguro.

— Capitão — Jeongguk, com os olhos fundos e cabelo bagunçado, estufava o peito como se estivesse prestes a gritar — Você me ensinou a amar a vida e eu não vou sair daqui enquanto o mar existir.

Ele estava sendo grato.

— Hoseok — a voz grave de Yoongi brincava em meio ao vento conforme meus olhos iam para sua direção. Com os braços cruzados e a cabeça inclinada para o lado ele sorria aberto enquanto nossos olhares se cruzavam — Você me deu a sua confiança e me ensinou a amar este navio, tenho uma dívida grande para pagar por tudo isso. Então, me deixe ser útil enquanto estiver aqui.

Puxando o ar com força, me curvei em uma reverência formal enquanto mantinha os braços colados ao corpo. Um silêncio recaiu sobre o navio que era carregado pelas ondas, o vento assobiava em meu ouvido como se estivesse me parabenizando pelo ato e dando-me um tempo para achar as palavras certas quando voltasse a falar. A cada dia que se passava eu sentia o título de capitão escorrer pelos dedos quando olhava para eles; se Eleanor existia era por conta deles, se eramos conhecidos era culpa deles. Se eu continuava vivo era graças a todos eles.

Não deveria errar, mas enquanto os tivesse ao meu lado sentia que deslizes poderiam acontecer e ainda nos manteríamos de pé. Aqueles cinco homens eram a minha força e o futuro rei tinha se tornado uma esperança.

—  Obrigada por estarem aqui — falei me mantendo curvado, pois aquele gesto era um sinal de respeito e era isso que eu tinha por eles, um profundo respeito — Muitas coisas estão para acontecer e eu estive tentando achar uma saída mais fácil para todos nós, porém não encontrei.

— Nós nunca temos saídas fáceis, capitão. Você deveria saber disso melhor do que ninguém — o tom debochado de Jeongguk trouxera um sorriso grande ao meu rosto — A sorte nunca está do nosso lado, mas nunca precisamos dela de qualquer maneira. Temos um bom homem para nos guiar.

 Sacudi a cabeça antes de ajeitar a postura para olhá-los. Algumas risadas fracas preencheram o convés quando meus olhos passearam por cada tripulante, a confiança que emanava deles me fazia ter um pouco mais de certeza de que tinham escolhido o caminho certo. Talvez, se não estivéssemos juntos, eles nunca teriam se encontrado e estariam tendo uma vida melhor do que esta, mas isso não importava, pois estávamos indo para o mesmo caminho neste momento.

— Vocês irão descansar quando chegarmos à baía — falei tranquilo enquanto inclinava a cabeça para o lado com um sorriso fraco nos lábios — Passamos muitos dias sem descanso para irmos até o centro da cidade, então, por hoje vocês estarão livres para dormirem e tratarem dos ferimentos mais graves.

— Ficará conosco, capitão? Você parece exausto — disse Jimin com o cenho franzido.

Neguei com a cabeça enquanto cruzava os braços acima do peito.

— Tenho alguns assuntos para resolver na Prisão dos Sussurros – respondi levando o olhar para Namjoon antes que ele me questionasse — Um amigo está lá e eu preciso conversar com ele, quando voltar irei deixá-los cientes de tudo.

— Kwan? — perguntou o marujo platinado. Assenti em resposta vendo um sorriso brincar em seus lábios — Mande um “oi” por mim.

— Isso é uma promessa, Hoseok — foi a vez de Yoongi se fazer presente — Quando voltar terá que nos contar tudo o que está acontecendo. Vou cobrá-lo, não se esqueça disso.

Sorri maneando a cabeça antes de dar as costas para eles e caminhar em direção ao leme. Ser sincero com meus homens me deixava tranquilo, pois parecia que eu estava fazendo a coisa certa.

— Não esperava menos de você, Yoongi — sussurrei para mim mesmo sentindo a confiança voltar.

 


Notas Finais


ATENÇÃO NAVEGANTES!

Se tudo ocorrer da forma que planejei, está estória será concluída em mais 4 capítulos. Não vou mentir, estou altamente feliz por colocar um fim em O Rei dos Condenados e por ter tido tanto carinho ao longo destes meses.
Muito obrigada pela paciência e amor que vocês têm dado a cada um dos personagens.

Bjocas amoras, fiquem bem.


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