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História O Reverso é Mágico. - Humanidade, devastação e reconstrução.


Escrita por: FellipeAnthony

Capítulo 14 - Humanidade, devastação e reconstrução.


Sentada no trono que havia no meio daquela caverna, ela tinha um teor maligno na fala:

— Conseguiu o que estava tramando, velho nojento? — Sua voz ficava mais provocativa, enquanto ele se aproximava dela.

— Não me recordo de você ser tão rude... está com algum problema? Anda enfrentando algum empecilho?

— Meus problemas acabarão quando todos estiverem mortos e eu estiver caminhando sobre as cabeças decapitadas de todos que odeio — ela levantava a perna e colocava em cima do braço do trono. — E, Baltazar, a sua cabeça ficará pendurada em um lugar privilegiado, onde eu poderei apreciar todos os dias essa sua cara de morto-vivo apodrecendo!

— Pensei que tivesse lhe dado mais educação.

— Educação? Você não me deu nada além de agulhadas, velho! Se não me engano, “para o objetivo final”, não é mesmo? — ela roía a ponta da unha do dedo polegar, arrancava-a e cuspia na direção dele.

O pedaço de unha babado caia na bochecha de Baltasar, que a tirava com um peteleco, fazendo que a menina de olhos avermelhados risse com uma estridente gargalhada.

— Vamos, me diga, conseguiu o que queria?

— A tormenta da sociedade já está sendo capturada — possuía um sorriso ainda mais desagradável e uma motivação incomum para alguém da sua idade —, uma mais poderosa que essa que está atrás de você!

Ela se levantava e ia rápida na direção de Baltazar, apontando o dedo na cara dele. Não conseguia raciocinar no que ia dizer, não controlando a velocidade da sua fala:

— Saiba que não existe nada mais poderoso que o meu vermelheão! — ficava vermelha, cerrando os dentes.

— É assim que você chama a poderosa besta Leoru?

— Ela é minha! Chamo como quiser!

A menina se emburrava.

O leão gigantesco atendia à voz da menina com rugidos, fazendo com que Baltazar recue alguns passos, observando com respeito a majestade da Tormenta.

— Sabe como os antigos a chamavam, em reverso-perdido?

Ela se manteve olhando, calada, para Baltazar, esperando que ele complementasse sua fala.

— Kraax’ghur — ele botava as mãos atrás das costas — os antigos, lá no continente perdido, utilizavam uma língua deveras curiosa. Kraax era um vocábulo-geral utilizado para as Tormentas, enquanto ghur significava algo como ciúme ou ciumento, por isso o epíteto: a devastação do ciúme, Leoru.

Com uma pelagem avermelhada, olhos brancos e garras negras, a Tormenta era uma besta de forma felina relativamente comum, com exceção das três caldas e das presas inoculadoras de serpente. Gigantesco em todos os sentidos: poder, altura e magnitude.

Leoru é uma tormenta da sociedade, um ser incompreensível que existe, como as suas irmãs, desde os primórdios, tão antigas quanto a humanidade, causando e representando devastação.

Das trinta e seis Tormentas, doze foram eliminadas durante os séculos; cinco estão sob o domínio do Conselho Paladino; a tormenta da sociedade, a besta do ciúme, Leoru, sob o poder daquela menina; e as dezoito restantes estão livres, cumprindo com o seu significado para a vida e para a natureza.

Tormentas da sociedade são incompreensíveis. Os contos e estudos reversos ensinam que elas são contemporâneas ao surgimento da racionalidade, apesar de alguns estudiosos entenderem que são entidades primordiais do planeta terra, mais antigas do que o primeiro ser senciente. O consenso, porém, está na sua natureza: são o oposto da harmonia expandida pelo imperador.

Originadas para atormentar toda forma de vida. Cada uma das trinta e seis possui um núcleo composto de reversium, um poder longe da energia vital, longe das trevas, da luz, da magia. Um poder apenas presente nelas, nas devastações que destroem a humanidade, que existem opostas à ideia de vida.

No decorrer dos séculos, paladinos poderosos começaram a surgir, com poder o suficiente para encarar as bestas, determinados em expurgá-las.

Chanler Lumiliques e Hokona Kubo, já mencionados, eliminaram, cada um, uma tormenta da sociedade e este feito só foi repetido uma única vez alguns séculos depois.

Fere Sternber recolheu alguns e os aprisionou com sua magia estelar para, posteriormente, serem adquiridos pelo conselho paladino.

No entanto, a pessoa que deu início a uma nova era de paz, em que as tormentas não significariam um fim iminente, foi o que nomeiam de Artesão do Paraíso, no século X. Ele é oriundo do leste africano, do coração da África, conhecido por ser um paladino de feitos lendários. No folclore popular, é dito que ele se deparou com uma Tormenta da Sociedade ainda na juventude, quando o seu povo foi aniquilado por ela, de forma que ele tenha restado como o único sobrevivente.

Logo, ele se propôs a caçá-la por vingança. Tornou-se forte, poderoso, conhecido historicamente como o mais forte paladino que já pisou na terra. O Artesão pertencia a uma tradicional comunidade reversa, cujas artes mágicas — milenares — se perderam no tempo.

Consequentemente, com esse poder perdido e desconhecido na contemporaneidade, ele eliminou a devastação da hostilidade e percebeu que, dos seus restos, sobrou o seu núcleo, repleto de reversium. Logo, constatando as propriedades incomuns daquele material volátil, ele fez o primeiro dos conseguintes nove artefatos. Nesse sentido, eliminou nove tormentas da sociedade e, destas, fez os artefatos, manuseando o reversium presente nos núcleos, fazendo armas poderosas o bastante para abater as denominadas Tormentas da Sociedade.

Os artefatos foram espalhados pelo mundo, perderam-se ao longo da história e foram usados por alguns paladinos durante os séculos para eliminar outras tormentas da sociedade, cujos núcleos foram mantidos e repassados, haja vista que não existem meios conhecidos de repetição das habilidades do artesão: transformar os núcleos de reversium em artefatos de poder. Os métodos do ancião são desconhecidos e, por muito, considerados como uma arte paladina perdida.

No entanto, não existem relatos que tenham registrado o adestramento de uma das dessas Tormentas, ou seja, algum paladino ou ser que tenha as controlado. No conhecimento popular e histórico, dominar uma Tormenta da Sociedade é absolutamente impossível. Aquela menina, contudo, possuía Leoru ao seu lado e ele a obedecia sem pestanejar: ela tinha o poder para controlar uma tormenta como quisesse.

A menina de dezessete anos que é a experiência suprema de Baltazar.

Baltazar, por outro lado, não parecia aquele mesmo velho que vive definhando nas sombras do castelo dos Twihunt. Tinha voz, um sorriso, um tanto maligno, e um olhar jovial. Andava sem dificuldade e não parecia se cansar. Se Oliver o visse nesse momento, questionaria os seus próprios olhos ou se convenceria da dissimulação do velho Baltazar, constatando a sua perversidade.

— Tem certeza se consegue controlar duas tormentas ao mesmo tempo? — perguntava compassivo.

Baltazar era inteligente e calculava seus atos com minúcia, precisava se assegurar que cada detalhe dos seus planos saísse como o planejado.

— Ainda pergunta? — ela retornava ao trono. — Você seria inútil se não fizesse um trabalho bem-feito em mim! Sofri demais para não conseguir fazer isso! — ela abria um sorriso devastador e mantinha um olhar sanguinário. — Acredite, vou cumprir com o meu destino e utilizar as tormentas para criar a devastação final.

 Sob o ponto de vista de qualquer um que possa observá-la, a menina psicodélica e obsessiva. Baltazar, diante dela, encantava-se com a sua sede de destruição.

— Não posso desistir! Não agora! Vou ver o fim de tudo! Vou ver o fim de todos!

— Apenas espere que tudo se conclua para você ter todos os seus desejos — ele respondeu, afinal.

— Sou feita para acabar com a humanidade, não sou, Baltazar? — ela olhava para suas próprias mãos e remoía muitos sentimentos intragáveis, até que fitara o homem com seus profundos olhos, procurando uma resposta. — Sou feita apenas para isso! Para acabar com tudo que existe e, depois, matarei você e restarei sozinha no mundo.

Ele se mantinha calado. Um velho ardiloso que tinha coragem o bastante para acabar com a humanidade, fazer a ordem do mundo se desestabilizar e tentar reconstruí-lo como bem entendesse. Enlouqueceu aquela menina e a transformou na arma perfeita, sem escrúpulos ou algo que a pregue em justiças, medos, inseguranças ou esperanças. Sabia que se desse algo para ela almejar mais do que qualquer coisa, ela faria tudo o que ele quisesse.

Usou da fórmula que conhecia bem: o ódio. Com isso, traria o caos à sociedade reversa. E, com isso, agradaria o seu olhar com, sob o seu ponto de vista, o seu cenário ideal: o sofrimento de todos enquanto estivessem mergulhados em desespero absoluto.

Baltazar é um velho perverso. Foi líder dos Twihunt antes de Melchior e de Oliver. Mas apenas quando se percebeu velho e no fim de sua vida, um sentimento incomum lhe deu uma sensação de juventude: ele não queria morrer. Não queria ver tudo o que havia feito sendo levado pela sua própria finitude. Não queria conhecer a mais suprema e tácita das entidades: a morte.

Pitoresco, Baltazar era incapaz de aceitar um mundo sem ele. Julgava, então, mais adequado, se ele não existisse, que o mundo deixasse de existir, se não fosse para servi-lo, afinal, não existia utilidade em algo que não cumprisse com a sua maior finalidade: servir Baltazar. Seria melhor, portanto, se o mundo acabasse ao invés dele. Ou, melhor, talvez quisesse tomar conta da ordem da vida para então se perpetuar como o ser supremo, dono da humanidade.

Seria possível que, no poente da sua vida, alguém se tornasse perverso e quisesse o fim do mundo para reconstruí-lo? Talvez seja no fim da vida que a pessoa note suas reais qualidades e tenha em mente uma melhor percepção do seu potencial e da sua importância para a humanidade.

Acontece que Baltazar havia reparado que o mundo não seguia como ele queria e que o mundo iria continuar mesmo se ele morresse. Ele não gostou disso.

— Quando nossa diversão irá começar? — A menina perguntava chamando a atenção dele.

— Quando você acha que seria bom que ela começasse?

— Por mim, agora! Mas eu acho que não seria adequado nessa situação... Precisamos agitar mais esse tabuleiro, não acha?

— Acho que você está ficando inteligente, minha bela Izzy — Baltasar fechava os olhos, sorrindo e se aproximando dela.

— Não me chame assim. Nunca mais! — ela gritava com ele. — Abandonei esse nome, e tudo ligado a ele não me pertence mais!

— Se não me engano, quer que eu te chame de Armagetriz, não é mesmo? — ele franzia o cenho com uma expressão inconformada. — Menina, não somos super vilões para termos alcunhas.

— Não quero que me chame mais daquele nome! E não admitirei que me chame assim novamente. — Ela se inclinava para frente. — Pelo menos, deixe que eu acredite ser uma super vilã. Você tirou tudo de mim, velho caduco, se tentar tirar qualquer coisa a mais, eu farei questão de empalhar sua cabeça ainda hoje!

— Não precisa se irritar, Armagetriz — alisava a barbicha acinzentada que tinha —, afinal, todos nós possuímos fantasias infantis, não é?

Ela tirava o sorriso do rosto e mantinha um olhar capaz de amedrontar qualquer um:

— Não se engane, sei que pretende me trapacear para, quando destruirmos tudo e desencadearmos o colapso do mundo, eliminar-me e controlar o poder da vida sozinho, a fim de recriar a existência como você deseja.

— Está ficando esperta. Então o que fará?

— Ainda preciso de você e você precisa de mim. O importante é ver quem conseguirá eliminar quem, para enfim um de nós dois se consagrar como o vencedor desse jogo! Precisamos apenas da oportunidade perfeita.

— Isso é um jogo para você?

— Baltazar, aprendi justamente com você que a vida é um jogo. O jogo da vida é mais simples do que parece. Você só tem que passar por cima de quem te desafia para subir nesse ranking injusto.

— Que bela percepção. — Ele tinha um tom sarcástico.

Os dois mantinham um olhar fixo um no outro. Izzy, ou Armagetriz, odiava Baltazar. Odiava a todos. Odiava a humanidade. Fora enlouquecida pelo velho patriarca, que matou o gosto de viver dela e tirou da menina sua vontade de ser feliz à força. Queria se vingar do mundo da forma mais ardilosa possível. Queria ver o fim da humanidade, da vida.

Conhecia bem o seu desejo, conhecia bem a sua ânsia de se vingar da vida enquanto entidade, sabia bem da autenticidade desse sentimento, do seu perigo e desse extremismo delicioso. Havia algo nela, desenfreado e incalculável, que ela mesma entendia como desprezível e que definitivamente ela não se envergonhava.

Armagetriz enoja o conceito da sociedade sobre felicidade e quer tirar a esperança da humanidade, quer ver a dor, o sofrimento, quer senti-los, usufruir do doce som do desespero humano. Ela estava possessa, sedenta por morte e sabia disso.

A menina de cabelos negros e exuberantes, brilhantes e sedosos, prendia-se à ideia de ser a causa do fim. Considerava-se a reencarnação viva do desespero, tendo nascido especificamente para isso.

Ela odiava qualquer forma de vida, a não ser a dela própria. Acreditava que apenas ela era digna de sorrir, de respirar e de viver. Esteve em estado de hibernação desde o princípio e agora estava disposta a concretizar a sua sina.

Considerava-se a única digna do dom da vida. A tolice dos demais é acreditar na felicidade. Pessoas tolas. Para ela, felicidade é apenas um conceito criado pela sociedade para manterem as massas medíocres. Felicidade é um sentimento utópico, inexistente, que não passa de uma ilusão. Ninguém é feliz.

E isso é o que a menina Armagetriz mais odiava. Qualquer um que acredite que é feliz ou que está em busca da felicidade. Ninguém é feliz e todas as pessoas que desgastam seu tempo em busca disso não merecem viver. Ela odeia essas pessoas com sorrisos mentirosos estampados em seus rostos. Quer tirar — à força — isso de todos os humanos e conta os segundos para anunciar a chegada da era do caos que ela estabelecerá.


Notas Finais


Abraços!!


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