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História O Reverso é Mágico. - O Mundo Espiritual.


Escrita por: FellipeAnthony

Notas do Autor


"A realidade, distante do Mundo dos Espíritos, é frequentemente almejada pelos seres desse mundo."

Capítulo 16 - O Mundo Espiritual.


Já se acostumavam com o Mundo dos Espíritos. Não é muito complicado depois de entender que não há nada a entender. Elas só precisavam se desprender de seus conceitos e então terem uma das vistas mais estranhas e maravilhosas que poderiam ter em suas vidas.

— Espíritos muitas vezes são traiçoeiros, meninas — avisava Cerfille, ficando não muito à frente delas. — Sejam espertas!

Elas assentiam, enquanto observavam um espírito largo, gigantesco, com uma cabeça minúscula e mãos descomunais que batiam no chão. Logo, interessavam-se em um ratinho minúsculo, aparentemente normal, correndo de uma velha com braços de polvo.

— O que são espíritos, mais ou menos? — Angelie se divertia enquanto uma pequenina menininha pulava em sua cabeça.

— O mesmo esquema de onde estamos. — Cerfille cutuca seu chifre direito. — Não posso explicar o que somos. Somos espíritos e é verdade que somos influenciados pela realidade de vocês. Mas ao mesmo tempo temos certa influência no imaginário popular das pessoas — Cerfille ria, olhando para as duas com seus olhos negros e profundos. — A palavra certa para nos descrever é inexplicável!

— Entendi — mentiu Angelie confusa. Na verdade, não entendeu nada.

— Realmente. Não conseguiríamos explicar isso daqui a ninguém...

O mundo dos espíritos, brilhante e opaco, colorido e monocromático, quente e frio, ameno e insuportável, estupendo e tedioso. A realidade, aos olhos da menina, transmutava-se constantemente.

Sorrateiramente, um espírito se esgueirava entre elas:

— Agora tente pensar em quem está narrando tudo isto — metia-se no meio das duas e colocava suas mãos em cima das cabeças delas.

— O que disse? — Sayumi tirava com voracidade a mão dele de cima de sua cabeça. — Espera. Quem é você?

— Não possuo o que vocês humanos chamam de nome. — Ele reverenciava as duas tirando o chapéu. — Aqui, no nosso mundo, não necessitamos disso.

Parecia mais humano que todos os outros. Tinha uma feição galanteadora, não possuía cabelos, usava uma cartola característica e tinha trejeitos misteriosos.

O espírito sem nome desapareceu sem dizer mais nada e, nesse momento, tinha um sorriso inquietante. Angelie começou a rir vendo o semblante desconexo de Sayumi ao ter presenciado aquela cena. Sayumi logo acompanhava a menina na série de risos, sem motivo algum.

O momento de descontração, contudo, foi breve. As duas rapidamente se esqueciam do misterioso espírito e se mantinham concentradas no que precisavam fazer: encontrar a kitsune, se é que ela ainda estava por ali. Sayumi ainda não sentia efeitos de perda mágica ou qualquer sintoma parecido, e não quebraria a cabeça se preocupando com isso. Decerto, sua condição enquanto omnimagi favorecia a absorção das escassas partículas mágicas presentes naquele ambiente.

A fim de construir uma linha lógica do que fazer para não perder tempo, ela tentava se concentrar:

— Cerfille, você tem um plano para achá-la?

— Vamos a um Espírito Superior, uma variedade de nós, espíritos, que consegue chegar ao ápice, alcançando um novo estágio. Digamos que eles possuem onisciência em relação a todos nesse mundo.

— E onde encontramos um desses? — Angelie queria sair logo dali. Já estava ficando enjoada.

— Tenho um amigo. Apenas precisamos sair do aglomerado de desorientados.

— Isso é o que chamam de Aglomerado dos Desorientados? Agora entendo. Ficar aqui por muito tempo pode deixar qualquer um maluco! — Sayumi retirava um minúsculo parasita que se instalava na sua panturrilha. — E muitos destes espíritos são incrivelmente irritantes!

Os espíritos surgem, espontaneamente; geralmente surgem do nada, de maneira inesperada, manifestando-se mediante as energias que ecoam do universo até alcançarem o Mundo Espiritual. Essas energias transpassam as barreiras entre a realidade concreta e a realidade abstrata, perfurando-as, à medida que, em contato com a energia espiritual do mundo dos espíritos, formam-se essas criaturas inconstantes e curiosas, os espíritos. Assim, esses seres incompreensíveis vêm a existir. O aglomerado é o lugar onde os espíritos começam a existir, por isso é superlotado e cheio de criaturas desnorteadas, as quais provavelmente acabaram de “nascer”.

É possível inferir que seja o centro daquele mundo tão finito e infinito ao mesmo tempo, tendo em vista que é um ponto de partida e, frequentemente, também o ponto final daquele mundo.

Caminhavam a passos largos e já ficavam tontas com a vista. Irritante. Monótona. Barulhenta. Desagradável. Parecia que aquela multidão de espíritos não acabaria nunca e mais e mais deles surgiam a cada momento. De início, poderia parecer maravilhoso. Mas agora queriam sair dali o mais rápido possível. Sayumi ficava cansada. Sentia que os efeitos da perda mágica já a afetavam. As partículas mágicas enviadas por Oliver diminuíam mais e ela tinha que ser cautelosa a qualquer ação.

Apertavam o passo, seguindo Cerfille, que flutuava calmamente. Aos poucos, ela assumia uma forma diferente, mais majestosa, as galhas prateadas estavam maiores e cintilavam, o rosto mais largo, os braços e pernas dela se tornaram patas, com garras brilhantes; Sayumi e Angelie acompanhavam a transmutação dela, maravilhadas. Rapidamente, Cerfille tinha se tornado em uma criatura carmesim, de chifres brilhantes, uma calda longa, garras afiadas e olhos ainda mais negros, se é que isso era possível.

Por um momento, as duas não poderiam acreditar: finalmente saíram daquela profusão de espíritos. Não havia mais multidões e nem seres irritantes.

Elas saíram do aglomerado e seguiam Cerfille, que não parecia muito segura de si. As patas saltitando no ar e o brilho vermelho dela deixando um rastro luminoso.

— Meninas...

— Sim? — Sayumi percebia a expressão de Cerfille.

Apesar do rosto dela estar em uma forma mais animalesca, Sayumi e Angelie incrivelmente conseguiam enxergar as nuances das feições de Cerfille, apesar da sua atual forma bestial.

— Entendam que nem sempre podemos confiar em espíritos, nem se os considerarmos como amigos...

— O que quer dizer?

— Principalmente quando são Espíritos Superiores...

— Então, é possível que seu amigo não nos ajude? — Sayumi disparava um olhar repreensivo.

— Apenas entenda que nós, espíritos, podemos querer manipular os humanos de várias formas e Espíritos Superiores, principalmente esse meu amigo, são os que mais tendem a ter esse tipo de ação.

Ela parava por um instante diante das meninas, lançando um olhar preocupado para as duas. Sayumi rapidamente entendia o que ela queria dizer:

— Você acha que a kitsune que nos roubou o medalhão de Federico possa ter sido enviada pelo seu amigo ou por qualquer outro espírito-superior?!

— É possível, pelo que eu o conheço. Na verdade, a ascensão espiritual pode se tornar um fardo para alguns espíritos, pois eles ficam presos ao mundo espiritual, pela eternidade, até se dissiparem em energia espiritual e renascerem em outra existência. A ascensão é um acúmulo de poder extraordinário que nos torna finitos, haja vista que começamos aos poucos a compor as estruturas dessa realidade. Entende o que quero dizer? Pode parecer uma coisa muito divertida, mas na realidade não é, por isso quando nos tornamos poderosos e antigos o suficiente, escapamos para o mundo de vocês, em fendas, e só voltamos aqui interligados a um paladino — Cerfille dizia em um tom visivelmente carregado, a voz com uma nuance de amargura. — E eu não acho que aquela garotinha tenha pegado o colar dos amigos de vocês sem propósito, entendem? O que uma vulprum iria querer com um dos nove artefatos do paraíso? Um poder como esse, nas mãos dela, não possui tanta ofensividade, mas nas mãos de um espírito-superior possui potencial de dar a ele a liberdade dessa realidade.

Sayumi, ouvindo tudo, estava cada vez mais ansiosa sobre aquilo, mas sentia uma confiança inexplicável em Cerfille. Em seu íntimo, a presença dela fazia com que ela se sentisse mais segura, além de fornecê-la uma dose necessária de otimismo. Concentrava-se na imagem de voltar com um sorriso no rosto, enquanto estivesse com o artefato em mãos para devolvê-lo a Federico: era esse o seu plano. Esse sentimento de que queria provar o seu poder e a sua importância davam-na certo impulso em meio às incertezas e, às inseguranças aos seus pavores

Trazer alguma diversão para o monótono Mundo dos Espíritos é, por inúmeras vezes, o passatempo preferido dos espíritos, principalmente dos que evoluíram à classe superior. Cerfille, conhecendo aquele em questão, tinha quase certeza de que o culpado por trás daquilo que estava acontecendo é o velho e poderoso Altanaz, um espírito superior que, há alguns séculos, havia servido um paladino sagrado e mancomunado com o inimigo do mesmo para matá-lo.

Ela se recorda do próprio Altanaz bradando que foi ali que percebeu o poder que tinha em mãos, concluindo que o coração humano é falho, corruptível e manipulável. O Espírito Superior viu graça em poder manipular a realidade, mas se via incapaz disto, uma vez que chegou ao ápice do seu intelecto espiritual, alcançando o mais alto patamar dos espíritos, o que o impede de criar fendas espirituais e poder entrar em contato com a realidade.

Depois de séculos atormentando o mundo concreto, viu-se preso naquele mundo monótono e sem graça, condenado a viver eternamente a observar espíritos, kitsunes e alguns tolos humanos que se aventuravam naquele lugar, enquanto vê, aos poucos, a sua existência se dissipar e se amalgamar à realidade. Cerfille conhecia Altanaz e sabia o quão perigoso é o espírito, mas isso não a impedia de levar aquelas duas meninas ao seu encontro, pois ela sentia que ele era a única alternativa para elas.

Na parte “vazia” do mundo dos espíritos, não havia mais “recém-surgidos” e não mais seres desorientados. Hora ou outra, circulavam alguns espíritos que fugiram do Aglomerado ou que já evoluíram seus intelectos. Elas se aproximavam cada vez mais de um lugar esverdeado e um grupo de alguns espíritos baixotinhos passava murmurando em uma altura possível de que elas os escutassem:

— Vão ao território do Altanaz? É isso mesmo?

— São loucos! — O mais baixotinho deles dizia um tanto alto, esticando suas bochechas rosadas para falar. — Serão usados nos experimentos horríveis dele? E vão mesmo assim?

— Não. Vejam — dizia o último deles, que tinha orelhas de coelho. — São humanas...

Cochichavam isso e outras coisas, parecendo não se importar que as três os escutavam. Sayumi e Angelie engoliam em seco e não perguntariam nada a Cerfille, que já parecia estar bem tensa. Os três espíritos tão baixos seguiam muito longe de onde Sayumi, Angelie e Cerfille iam, o largo e sombrio território esverdeado, que parecia ter casas em forma de cogumelos verdes e uma grama brilhosa por conta do orvalho. O céu também verde, cintilando pelo brilho das estrelas também verdes. Pisando na grama, Angelie observava:

— É verde... E diferente de tudo que vimos aqui!

— Altanaz tem uma paranoia irritante pela cor verde. Tudo tem que ser verde, por ele, o mundo dos espíritos e a realidade de vocês... Bom, para ele, ela também deveria ser verde, mais do que já é.

— Como sabe que esse Altanaz, que você chama de amigo, nos ajudará, Cerfille? — apontava Sayumi, sentindo um frio que vibrava seu corpo da cabeça aos pés.

— Não sei. Ele me deve alguns favores, então...

— E nos trouxe até aqui sem mais nenhuma ideia? — interroga Angelie de um jeito grosseiro.

— Vocês têm outro plano?

 As duas olharam para baixo amarguradas e reconheceram que não tinham nada a fazer, a não ser confiar no plano de Cerfille. A cada passo que dava, Sayumi reconhecia que a sua espiritomagia diminuía cada vez mais. Uma hora não teria mais tempo, então aquilo teria que ser rápido, muito mais rápido do que ela esperava.

Entravam em um grande castelo de cogumelo, muito maior do que as casas que o rodeavam. Também verde. Até mais verde que tudo ali. Gritando bem alto, aquela kitsune de antes, fazia cara de indignação:

— Você prometeu! — gritava ainda mais alto. — Prometeu que se eu roubasse esse medalhão estúpido, você me diria a forma de matar aquela Tormenta da Sociedade que...

—Que matou o seu precioso namoradinho — uma expressiva voz calma, mas difícil de escutar de tão irritante —, você é tão tola quanto os humanos, raposa.

— Eu fiz tudo que você quis! Agora me ensine como ativar o medalhão — pedia com muita vontade.

— Eliminar Tormentas? Não. — Tinha uma boca gigantesca, muito maior que os olhos e até mesmo que o seu rosto. — Elas que fazem da realidade interessante! Escute-me, jovem vulprum, usarei o reversium deste artefato para sair deste mundo tão sem graça. Estou cansado de apenas observar...

— Você me enganou! — rugia exasperada.

— Ainda estou intrigado que confiou em mim.

De canto, escondidas, Sayumi, Angelie e Cerfille se esforçavam para não fazer nenhum barulho. Aquela era a oportunidade perfeita. Poderiam pegar aquele colar que estava atrofiado nos dedos de salsicha verde de Altanaz e sairiam daquele lugar, sãs e salvas. Mas nada era tão fácil. Teriam, antes, de pensar no que poderiam fazer para conseguir completar tal ambição.

As suspeitas de Cerfille eram verdadeiras e ela ficava intrigada com o objetivo de Altanaz. Ela sabia que o Espírito Superior sempre foi obcecado com a realidade e compreendia que não poder mais influenciá-la era um castigo e tanto para o terrível e horrendo Altanaz. Ele então ativaria o poder do artefato para destruir as bases da realidade e do mundo espiritual? Faria algo dessa magnitude apenas por um desejo impensado? O espírito superior Altanaz alcançou o ápice de seu mundo, tinha poder, quase ilimitado, e autoridade, mas se afundara em repleto tédio, além da iminência do fim da sua existência. O mundo dos espíritos é, indiscutivelmente, inexplicável, maravilhoso e diverso, porém monótono. E a realidade era algo ansiada por todos que se viam encarcerados naquele mundo tão repetitivo e sem graça.

Cerfille mantinha o olhar atento aos dois e percebia que Altanaz já tinha conhecimento sobre as três que os espreitavam.

— O que eu farei? Preciso vingar meu pobre Viktor! — Parecia maluca pelo seu tom ensandecido e descontrolado. — Preciso! Preciso! Preciso! Vingá-lo! Preciso vingá-lo! — Tinha um jeito gritante e selvagem de falar, que fazia Angelie e Sayumi, que escutavam de longe, tremerem de medo. — Não posso deixar que sua morte seja em vão! Preciso! Preciso! Preciso... Vingá-lo! —

A kitsune tinha um olhar furioso. Uma aura amarelada a rodeava e incendiava o coração de todos que a observavam. Três caldas compridas apareciam e garras afiadas, do tamanho de agulhas cirúrgicas, surgiam na ponta de seus dedos agora felpudos. Rugia mostrando os afiados dentes:

— Altanaz, melhor que me devolva o medalhão, já que não me ajudará!

Ela pulou para cima do espírito que tinha uns quatro pés de altura. Ele desviou furtivamente com os braços inchados e, com seu corpo esguio, Altanaz conseguiu se safar com facilidade dos ataques furiosos da kitsune Eternelle Amarante, descendente de um poderoso e forte clã francês de kitsunes do mundo reverso, o clã Amarante. Ela fazia que suas garras ficassem cada vez maiores e mais afiadas e tinha instantes que conseguia acertá-lo. Incendiava em suas mãos uma gigantesca bola de calor amarelo e disparava em Altanaz, que ainda não demonstrava nenhum esforço, lesão ou cansaço. Mantinha um olhar provocativo e um sorriso maléfico sobre a pobre e apaixonada kitsune, que tinha em seu ódio uma ponta de frustração.

— Vamos... Ajudá-la? — Angelie olhava aos dois com um olhar compassivo.

— Sim, para depois pegarmos o colar dela e fugirmos! E vamos deixar que esses dois se resolvam nessa loucura — argumentava Sayumi, parecendo cansada, mas não perdendo sua expressão etilista e arrogante.

Angelie realmente queria ajudar a pobre kitsune. Via o sofrimento em seu coração, mesmo dentre tanta loucura. Não tinha nenhuma maldade em mente ou qualquer pensamento que poderia se aproveitar de Eternelle Amarante. Ela apenas queria ajudar. Mas então se lembrava do que Sayumi a disse antes das duas estarem naquele mundo, “eu vou morrer se algo der errado”. Angelie não deixaria que acontecesse nada de ruim com Sayumi, ela prometera isso, jurara para a herdeira dos Kubo e para si mesma. A partir do momento em que viu a expressão de Sayumi, de uma menina decidida a ajudar seus amigos, deduzia que a duas-caras não era tão má assim.

Na verdade, aquele sorriso fez com que a mestiça da família Lumiliques acreditasse que Sayumi é a amiga que ela sempre quis.

Cerfille anunciava o momento para se intrometerem no meio de Altanaz e Eternelle. Mas Sayumi perdia forças mesmo antes de andarem, mal conseguia ficar em pé e via a hora que não teria mais espiritomagia para se manter naquele lugar. Aos poucos, desesperava-se mais, sem saber o que fazer. Angelie agachava, pegando na mão de Sayumi:

— Você está bem? — ela segurava firme nas mãos de Sayumi e transmitia tranquilidade à menina, que se via sem orientação. — Se não tiver mais forças, não precisa arriscar sua vida.

Novamente, Sayumi, por um segundo, pensara que via Angelie brilhar. Aquele toque de Angelie revitalizava as forças da Kubo. Ela apercebia que sua magia havia aumentado e, olhando para frente, tinha convicção de que tudo daria certo outra vez.

— Vou terminar isso e voltar... Vou voltar esfregando na cara daqueles dois patetas que sou melhor do que os dois juntos!

Angelie sorria, ao passo que Sayumi devolvia um sorriso maior. Não se conheciam há muito tempo, porém tinham uma grande confiança uma na outra.

A Kitsune Eternelle fazia uma expressão desgastada, enquanto o poderoso Altanaz não demonstrava qualquer cansaço ou que fora atordoado. Continuava com o gigantesco sorriso estampado no rosto e, para sua diversão, via-se ansioso em pegar a kitsune pela mão e esmagá-la. Queria, antes de poder deslumbrar a realidade pelos seus olhos novamente, ter um gostinho da realidade pelo sangue daquela pobre, apaixonada e inocente kitsune.

Lançando um raio de luz concentrado, Angelie berrava com força palavras ininteligíveis. Sayumi, conforme Angelie se afastava dela, ficava cansada e sua visão tornava-se dúbia. Lenta. Ela não conseguia acompanhar nem Angelie e muito menos Cerfille. Mal a luta entre a Kitsune e o Espírito Superior, ela tinha capacidade de distinguir o que estava acontecendo.

Cerfille, por outro lado, queria provar as capacidades de Sayumi como paladina sagrada e deixaria ver até onde ela chegaria no mundo dos espíritos.

O espírito superior Altanaz esperava a reação delas e se encontrava mais ansioso ainda para o embate com Cerfille. Os chifres de Cerfille reluziam e ela lançara um enorme raio trator que atravessava a barriga magra de Altanaz, que se regenerava.

— Já estava na hora! — Altanaz se recuperava. Ainda tinha o medalhão de Fanua atrofiado nos dedos e parecia que seria difícil retirá-lo da mão do espírito. — Pensei que nunca viria para deixar essa luta mais interessante...

— Não preciso de muito tempo para te derrotar...

— Sabe que agora sou um Espírito Superior, não é? Mas ainda assim confia em suas habilidades... — Altanaz tinha dentes quadrangulares esverdeados em um tom de limo, que mostrava cada vez que abria sua boca nojenta. — Mas ainda assim é poderosa. Não tem medo do seu intelecto espiritual crescer e... — Com um poderoso golpe, Altanaz tentava acertar Cerfille, que flutuava acima da altura dele. — Agora entendo. Se está aqui sem medo de nunca mais voltar para realidade, quer dizer que tem um novo mestre...

Cerfille sentia um medo momentâneo de Altanaz querer fazer alguma coisa com Sayumi. Ela caminhava em direção a eles de forma lenta, mal conseguindo se lembrar de dons sagrados. Sayumi, no entanto, não desistiria ali. Ela tentaria o máximo que podia até o final. Estava cansada de sempre ficar para trás, afastada das lutas e deixada a escanteio como se fosse nada. Caída no chão, a kitsune do clã Amarante parecia não ter mais forças.

E Angelie formava, com energia branca, uma grande esfera de luz, até rodeá-la de magia, fazendo com que Sayumi sinta mais os sintomas da perda mágica. Com essa esfera de alto poder ofensivo, atingira Altanaz, que apenas prestava sua atenção em Cerfille. Depois do golpe de Angelie, a espírito do antigo Chanler Lumiliques fazia alguns selos com energia espiritual, imobilizando Altanaz.

— Realmente, você me pegou...

— Não é preciso de muito para te derrotar, velho Boca-Verde — dizia despreocupada, lembrando algo desagradável para Altanaz.

— Agora o que fará? Sua mestra está prestes a morrer bem ali, Cerfille...

Cerfille olhou desesperada para onde estava Sayumi e tinha de decidir: ajudaria sua mestra naquele momento ou colocaria prioridade no artefato que estava na mão de Altanaz? Os selos espirituais se desatavam rápidos e ela não sabia se teria outra oportunidade.

 Mas Sayumi estava quase desmaiando e, depois, Cerfille tinha certeza de que sua energia vital se desprenderia com a realidade e ela encontraria seu final ali. Cerfille teve que fazer uma escolha. E escolheu o mais plausível no momento, obviamente. Foi rápida na direção de Sayumi, em uma estrondosa velocidade. Angelie fazia o mesmo. Sayumi ainda mantinha os olhos abertos, mas não conseguia falar palavras audíveis. Ela fazia barulhos indecifráveis, mas que entendiam que era para não se importarem com ela e darem prioridade à missão.

— Não se preocupe — Cerfille dizia tentando não transparecer sua frustração. — Vamos te tirar daqui rápido.

— Não — esbravejava Altanaz alto. — Devolva-me. Esse é o meu passaporte para a realidade!

Cerfille, Angelie e Sayumi se assustavam. De longe, viam a pequena kitsune Eternelle em pé diante de Altanaz e balançando o colar de Federico, o medalhão de Fanua, um dos nove artefatos, para o alto. Ela ria mesmo estando tão fatigada e machucada. Sayumi ainda conseguia se manter consciente, mas não por muito tempo. Eternelle Amarante dizia alto, quase berrante, transparecendo muita felicidade, em direção às três:

— Muito obrigada por terem me ajudado! — Ela balançava o cordão ainda mais, rodopiando freneticamente. — Vou ajudar essa paladina sagrada por hora...

Ela formava com a mão alguns sinais engraçados e rapidamente sua aura amarela ia para Sayumi, rodeando-a. Sayumi sentia que tinha um pouco mais de magia, porém era insuficiente. Se não fosse uma omnimagi, Sayumi já teria morrido há muito tempo. Um paladino sagrado comum não consegue ficar no mundo dos espíritos por mais do que alguns minutos; Sayumi, no entanto, manteve-se lá com Angele por mais de uma hora.

A kitsune desaparecia com risadinhas, que ecoavam nos ouvidos de Sayumi e de Angelie, que se sentiam ainda mais malogradas. Elas não conseguiam esquecer aqueles risinhos irritantes. Sayumi, mordendo os lábios com força, não controlava seus pensamentos ou suas ações:

— Vamos segui-la — dizia mais alto, com dificuldade na fala por conta de sua respiração, que estava ofegante e doída. — Vamos pegar o rastro que ela deixou e ir para onde foi! Raposinha miserável! — xingava.

— Não! — exclamava Cerfille, que sabia o resultado de fazer isso, explicando: — Se deslocar sua energia vital, é quase certeza de que morrerá! Você não pode!

— Vou sim! — Estava irredutível. — Ai de quem me deterá — bradou confiante.

“Dessa vez, mostrarei para vocês dois, patetas, que sou importante também”, pensava entusiasmada sem demonstrar qualquer resquício de indecisão e, incrivelmente, sem medo algum.

Um pensamento diretamente para Federico e Oliver e ela esperava que eles o recebessem. Ela queria, acima de tudo, que eles entendessem que ela precisava de atenção. Sayumi queria ser o centro das atenções de todos, principalmente deles.

A Kubo fechava os olhos e dizia alguns dons sagrados. Agarrava com força a mão de Angelie, que não compreendia a situação. Cerfille, como a espírito de Sayumi, tinha de obedecê-la. Ela desconstruía as barreiras entre a realidade e o Mundo dos Espíritos com mais cuidado. Tinha medo por Sayumi. Sabia que poucos paladinos sagrados conseguiam o mérito de deslocar sua energia vital sobre o espaço e continuar vivos depois disso. E não seria apenas uma energia vital, seriam duas, a de Angelie também contava.

— Estão prontas? — Sayumi acelerava o processo.

— Sim! — dizia Cerfille apreensiva, olhando para Altanaz que observava tudo já liberto dos selos. Ele poderia estar indignado, mas não perderia chance de aproveitar algo fora do chato habitual do Mundo Espiritual.

Elas desapareceram. As três. Sayumi, Angelie e Cerfille. Altanaz murmurava para si mesmo e mantinha aquele gigantesco sorriso acompanhado de um olhar perverso:

— Fazer o quê? Vou ter que esperar mais um pouco para voltar à minha realidade e poder sair dessa prisão insuportável

Suas palavras ecoavam por todo aquele castelo em forma de cogumelos e estremeciam os espíritos ali ainda existentes.

— Confio em você, Cerfille, e na sua mestra também! Quero ver coisas interessantes. Ainda mais interessantes — gargalhava tão alto, que, por muito, poderia ser escutado do outro lado daquele mundo, na realidade.

 

Trinta minutos depois de Angelie e Sayumi partirem, Oliver se assustava. Ele estabelecera um raso encanto rastreador, que o sinalizava que a kitsune havia ido para não tão longe daquele lugar e que foi acompanhada.


Notas Finais


Obrigado por ter chegado até aqui!

Até o próximo!


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