A tarde chegara límpida e fria, os primeiros flocos de neve que caíam sugerindo a vinda de uma noite gelada. Não que isso fosse lá uma grande surpresa naquela parte do continente de Tamriel, embora nessa época do ano não costumasse fazer tanto frio em Skyrim quanto noutras. Acompanhado por ninguém mais que Shadowmere, o cavalo mágico da Dark Brotherhood cedido a ele por Astrid muitos anos atrás numa de suas primeiras missões importantes, Eiryan cavalgava pelas planícies revestidas do castanho claro da grama seca e o branco da neve, como se um pintor tivesse aleatoriamente espalhado gotas de tinta pelo cenário. Alguns anos atrás estaria nervoso com a sua atual situação, mas agora, no auge de sua experiência e habilidades, o Dragonborn não tinha uma centelha de dúvida em seu ser. Fora a primeira vez que ele considerara deixar Skyrim desde sua quase-execução em Helgen, muitos anos atrás, mas dessa vez era a mando do General Tullius, o líder da Legião Imperial sediada naquela província, e não de maneira ilegal. A guerra civil de Skyrim, encerrada pouco mais de dois anos após a derrota de Alduin, havia culminado na derrota dos Stormcloaks e na execução de Ulfric Stormcloak graças à ajuda prestada por Eiryan ao Império.
O homem que havia chegado a Solitude naquela se dizia um estrangeiro de terras longínquas, originário de um continente ao leste distante chamado Westeros. É engraçado, Eiryan pensou, Como um continente chamado Westeros fica a leste do nosso. Pensar nisso fazia-o ter vontade de rir, mas tinha de se manter centrado. Ele estava ainda a pelo menos duas horas de distância de Solitude, a cidade imperial, já que sua principal residência atualmente se localizava em Riften, a cidade dos ladrões. Lembrava-se das histórias que ouvira da primeira vez que chegara à cidade, os mitos sobre a guilda dos ladrões. Naquele tempo Eiryan era só mais um cidadão de Skyrim, e nunca teria esperado se tornar o mestre da temida guilda. Tampouco da Dark Brotherhood. Westeros, pelo que a carta do general dissera, estava atualmente submerso numa guerra civil que parecia ainda longe de acabar. A guerra civil de Skyrim, terminada pouco tempo atrás, foi um confronto muito longo e que causou um imenso derramamento de sangue, lembrou-se Eiryan. Ele só podia imaginar o que uma guerra que (pelo menos segundo o estrangeiro) durava mais de uma década poderia fazer. Mas onde os homens comuns veriam só tragédia e dor, Tullius viu oportunidade: oportunidade para expandir a influência do império e formar uma aliança com esse novo continente, oportunidade para tornar o Império grande outra vez.
Mas o general não era um tolo idealista como Ulfric Stormcloak. Não, ele sabia o valor do preparo, da discrição. Sabia que, independente do acordo ou trégua, era impossível prever quando alguém o trairia e iniciaria uma nova guerra contra ele. E foi justamente por isso que, dentre todos os outros homens, Eiryan havia sido o convocado por Tullius para ir até Westeros. Ele era leal, inteligente, e um guerreiro nato, sem contar o Dragonborn. Tullius confiava nele, embora Eiryan duvidasse que essa confiança continuaria tão firme se o general suspeitasse que ele era um membro da Dark Brotherhood, ou que havia sido ele o assassino a matar o imperador alguns anos atrás a serviço do infame grupo de assassinos. O general temia que tudo aquilo não passasse de mentiras, e resolvera o enviar sozinho naquela missão antes de envolver um exército inteiro. Obviamente o estrangeiro não sabia disso ainda, mas era melhor assim. Eiryan tinha a impressão de que, dentro da viagem, o estrangeiro seria seu maior problema. Seu nome era Illyrio Mopatis, e segundo sua história, ele estava ajudando seu senhor numa guerra para retomar o trono de sua família, usurpado por um homem chamado Robert Baratheon muito tempo atrás.
As respirações de homem e cavalo se misturavam, assim como o sacolejar da armadura leve de Eiryan se misturava ao cintilar das partes metálicas das rédeas do cavalo negro. O Dragonborn mantinha o corpo inclinado contra o pelo denso de Shadowmere, sua boca só não tocando a cabeça do animal por causa do elmo de ferro. Um vento vigoroso soprava pelos campos abertos, o frio ajudando a manter os olhos de Eiryan abertos. Sobre sua cabeça agitava-se o estandarte da legião: o deus dragão Akatosh ilustrado sobre um fundo vermelho com bordas douradas.
Felizmente Shadowmere era muito mais rápido e forte que qualquer outro cavalo em Skyrim, o que permitia que o animal o carregasse facilmente mesmo com todo o peso adicional da armadura. Conforme o vento soprava e o vulto negro que era Shadowmere cruzava as estradas da província de Skyrim, o cenário lentamente começou a mudar. De vastas planícies a montanhas, a fortes abandonados ou dominados pela legião, acampamentos de gigantes, até que por fim o grande arco de pedra sobre o qual se situava Solitude surgiu à vista, as grandes e imponentes muralhas da cidade dali parecendo impenetráveis. Sua posição privilegiada fazia com que cercar a cidade de maneira efetiva fosse uma tarefa impossível. Eiryan estava feliz por estar ali outra vez. Uns vinte ou trinte minutos depois, Eiryan finalmente chegou aos estábulos de Solitude. Shadowmere não era um cavalo normal, obviamente; no mesmo instante em que desmontou, o animal mágico desapareceu numa poça de escuridão, assustando o guarda que fazia patrulhamento.
O caminho até onde general Tullius estava aguardando, no porto, pareceu ainda mais cansativo do que a viagem a cavalo de Riften até Solitude. Perto do general, cinco guardas imperiais e um homem que Eiryan não reconheceu à primeira vista, mas o cabelo e barba levemente descoloridos facilmente o identificou como o estrangeiro do qual a carta falava. Dos lados da cintura de Eiryan havia uma espada e uma adaga, ambas feitas do mesmo material: aço da Skyforge, um tipo especial de aço usado apenas pelos Companions. Manejar duas armas ao mesmo tempo não era algo muito comum entre os guerreiros que ele conhecia, mas com certeza era incrivelmente útil. Em suas costas Eiryan tinha um escudo de ferro, um arco e um aljava cheio de flechas negras como breu. Com mais de um metro e oitenta de altura e mais armado daquela maneira, qualquer um juraria que estava pronto para matar um dragão. E estava mesmo pronto pra isso.
O estrangeiro não fez questão nenhuma de esconder o espanto ao vê-lo pela primeira vez. Eiryan era humano, mas bastante alto mesmo assim, e todo aquele equipamento de combate o fazia parecer bem mais com uma máquina de guerra do que com um homem. Parecendo não o ter notado até o momento em que Eiryan parou perto dele, General Tullius se virou, não tão impressionado: — Você demorou, Eiryan. Será que está ficando velho? — apesar do tom sério, Eiryan sabia que era uma brincadeira. Ainda assim não pôde evitar imaginar se realmente estava ficando velho, agora com quase trinta anos de idade.
Entretanto, pôs um sorriso no rosto e respondeu em tom brincalhão:
— Acho que sim. — disse. — Talvez esteja na hora de me tornar general, só que acho que ainda sou jovem demais pra isso, também.
Tullius manteve a expressão séria por alguns segundos, mas no fim simplesmente riu e chacoalhou a cabeça.
— Falando em se aposentar, estive pensando nisso por algum tempo. Já estou velho demais pra lidar com tudo isso. — suspirou. — Mas deixemos a conversa de lado por hora. Eiryan, conheça Illyrio Mopatis, a quem você acompanhará até as terras no leste distante.
Os olhos do Dragonborn instantaneamente pararam sobre Illyrio, que até então tinha estado em silêncio.
Demorou alguns segundos para que o viajante percebesse que estavam olhando para ele, o que não passou despercebido para nenhum dos dois. Claramente algo o estava distraindo, provavelmente assuntos da terra longínqua da qual viera.
Quando finalmente se deu conta de que estavam esperando por uma resposta dele, o estrangeiro virou a cabeça. Parou por um segundo, como se estivesse pensando no que devia fazer, e finalmente estendeu a mão para Eiryan. O sorriso no rosto dele era claramente falso, mas não um de quem não queria sorrir; um de quem estava preocupado com algo mais, mas tentando se concentrar em outros assuntos. Eiryan imediatamente decidiu que gostava de Illyrio, aceitando seu aperto de mão amistosamente.
— É um prazer conhecê-lo, Lorde Eiryan. — pelo tom natural na voz dele, Eiryan deduziu que o estrangeiro já estava muito acostumado a se dirigir a pessoas importantes. Provavelmente estava associado à nobreza das terras das quais viera. — General Tullius disse que você é o melhor guerreiro em Skyrim e está disposto a ajudar o meu senhor, o rei Viserys Targaryen, a recuperar o trono que foi usurpado de seu pai. Espero que possamos nos entender.
O tempo parecia mais frio em Solitude do que era comum naquela época do ano, mas Eiryan não se importava. Neve era o que mais existia em Skyrim, e um pouco a mais não faria tanta diferença assim.
— O prazer é meu. Pode me chamar só de Eiryan, eu nunca consegui me acostumar com esses títulos. — disse Eiryan. Não há tanto tempo assim ele era só mais um prisioneiro de guerra prestes a ser executado, alguns hábitos nunca morrem. — Eu não sonharia em dizer que sou o melhor em Skyrim. Sempre tem alguém melhor por aí. Mas eu lhe asseguro, Lorde Mopatis, que enquanto estiver ao seu lado nada há para se temer.
Illyrio não soube como reagir a princípio. Mas ele pelo menos tentou sorrir.
— Tenho certeza que sim. Humildade é algo que está ficando cada vez mais raro hoje em dia. — disse calmamente. — E tenho certeza de que o exército do meu senhor será o melhor de Westeros com você no comando dele. E com certeza a ajuda do Império vai ser uma grande motivação para eles. — claramente Illyrio não fazia ideia de que seria Eiryan o único a ir junto com ele, pois falava como se fosse receber do Império um exército. Foi aí que ele decidiu que seria melhor fazer essa revelação de uma vez e tirar isso do caminho.
Tullius percebeu o que o Dovahkiin estava prestes a fazer, mas não o impediu.
— Eu sou o único suporte que o Império estará enviando por agora — falou sem titubear, não dando muita atenção à expressão surpresa do visitante. — General Tullius enviará uma mensagem para Cyrodiil e o resto da Legião chegará alguns meses depois de nós. Espero que entenda. Skyrim estava numa guerra civil uma década atrás, e só agora o Império está fazendo algum progresso significativo. Não podemos nos arriscar a ficar sem homens por aqui, por isso vamos precisar que a capital do Império em Cyrodiil os envie.
Por um segundo Eiryan jurou ver uma expressão preocupada no rosto de Illyrio. Mas o homem rapidamente se conteve e falou, tentando parecer calmo:
— Entendo. Neste caso, seria melhor partirmos o quanto antes. — disse ele, virando-se e cruzando a prancha que dava acesso ao navio. Eiryan suspirou e concordou com a cabeça, virando brevemente o olhar para o general. É claro que havia uma parte que eles não haviam contado a ele: Tullius só enviaria o exército após receber uma notificação de que a situação era real.
— Até mais, general Tullius.
Tullius acenou com a cabeça, mas não falou nada.
Nenhum dos guardas fez menção de segui-los.
Eiryan não sabia o que pensar. Tão logo quanto a prancha de acesso ao navio foi removida e a âncora recolhida, o navio se pôs a zarpar na direção do horizonte, onde os últimos raios de sol terminavam de morrer. Algumas horas depois, para todo e qualquer lugar que olhasse, tudo que o Dragonborn podia ver era água. Água tão negra quanto o céu noturno que ela refletia, com apenas alguns poucos pontos cintilantes na superfície, identificando as estrelas. Ali de Skyrim, podiam-se ver quase todas as constelações imagináveis. Sentiria falta pelo tempo que estivesse fora.
O vento soprava frio, mas isso não o incomodava. O sangue nórdico em suas veias lhe tornava resistente ao frio, mas mesmo Eiryan sabia que, naquele ritmo, em breve seria obrigado a se cobrir com algum casaco, assim como os poucos homens no convés do barco.
— Então, Lorde Eiryan... — a voz de Illyrio o tirou de seus próprios pensamentos. O homem tinha estado no convés inferior durante toda a viagem até então, e seu casaco luxuoso não deixava a menor dúvida de que se tratava de alguém rico. — Com você auxiliando o nosso exército, logo Westeros estará pronta para ser conquistada. Tullius me garantiu que você é o melhor guerreiro do seu reino.
— O general me honra, mas como eu já disse antes, é impossível saber quem é o melhor em uma terra como Skyrim. — disse-lhe Eiryan. Olhou para cima. Envolto em sua armadura e com um pé apoiado no corrimão do navio, sua sombra pairava sobre a água como um gigante. — Espero que possa ajudá-los na sua batalha. Assim que possível, estarei ao seu lado para que marchemos até a terra que você chamou de Westeros.
— Tenho certeza de que o meu senhor Viserys ficará muito satisfeito em saber disso. — O estrangeiro disse-lhe num tom de felicidade contida, provavelmente tentando manter a postura nobre. — Você conhecerá ele e sua irmã mais nova, Daenerys Targaryen, assim que chegarmos à minha casa em Pentos. Assim que o exército que arranjei para eles chegar e o acordo for feito com os dothraki, poderemos começar a campanha.
Embora a maioria dos homens pouco poderia concluir a partir de tão poucas palavras, Eiryan não era como a maioria das pessoas - por isso mesmo Tullius o havia escolhido dentre tantos. Ele não deixou passar despercebido que Illyrio lhe dissera que o exército de Viserys, fosse esse homem quem fosse, ainda não estava pronto. Tampouco se deixou enganar quando ouviu dele que o acordo com os dothraki, dos quais Eiryan nada sabia, ainda não havia sido feito. Em suma, eles não têm exército algum ainda. Precisarei relatar isso ao general.
— Quem são os dothraki? — Perguntou, decidindo que aquela era a melhor hora para tirar dúvidas acerca desse novo continente.
Illyrio pareceu surpreso por um segundo. Provavelmente não esperava que Eiryan estivesse realmente ouvindo o que ele dizia, ou talvez os dothraki simplesmente fossem tão conhecidos que não saber sobre eles fosse algo incrivelmente raro.
— Os dothraki são um bando de selvagens que aterrorizam Essos há séculos. Atacando vilarejos, queimando plantações, estuprando mulheres. Mas eles são grandes guerreiros, e um khalasar como de Khal Drogo já é um exército por si só.
Eiryan tinha mais questões, é claro: quem era esse Khal Drogo? O que era um khalasar? Embora, a julgar pela frase, um khalasar provavelmente seria uma horda ou exército, e esse Khal Drogo fosse provavelmente o seu líder. Pensando a respeito disso, Eiryan não pôde deixar de perceber as semelhanças entre esses dothraki e os Forsworn que aterrorizam The Reach em Skyrim.
— Grandes guerreiros você diz? — Não que ele fosse lá um guerreiro arrogante ou muito orgulhoso, mas como Dovahkiin e um nórdico de sangue, a guerra corria nas veias de Eiryan. Uma batalha com adversários fortes não era algo que ele costumava evitar. Mas havia algo mais que ele precisava saber — Diga-me, Lorde Mopatis. Dragões são uma ocorrência comum no seu continente?
— Dragões? — Indagou o lorde estrangeiro, em tom incrédulo. — Eles se foram há séculos, se é que tenham existido. Não, receio que não encontrará nenhum dragão em Essos.
Duvido. Pensou Eiryan. Desde que descobriu sobre seu status como Dragonborn, os dragões frequentemente apareciam para ele para o desafiar; Eiryan duvidava que demoraria muito tempo para que eles descobrissem para onde ele foi e fossem atrás dele também. Mas uma coisa de cada vez.
— Desculpe, não pude deixar de perguntar. — Disse-lhe Eiryan, sorrindo. — Sempre foi um assunto bastante… pessoal, digamos assim… para mim. Eu acho fascinante.
— Então o senhor se dará melhor com Lorde Viserys e Daenerys do que eu havia pensado inicialmente, Lorde Eiryan. É uma lenda bastante comum em Westeros e em Essos que os Targaryen, do sangue da Antiga Valíria, têm sangue de dragão. — Illyrio disse isso em tom brincalhão. Obviamente não acreditava em tais coisas. Mas isso chamou ainda mais a atenção do Dragonborn.
— Sangue de dragão? — A cada palavra trocada sobre o assunto, tudo tornava-se ainda mais curioso para ele. Eiryan naturalmente duvidava que aquilo fosse verdade, mas e se fosse? O Dragonborn é um mortal nascido com sangue e alma de um dragão, seria possível que esses Targaryen fossem uma espécie de família de Dragonborns? E se isso fosse verdade, por que eles estavam isolados nesse continente tão distante, e não em Tamriel, onde certamente seriam tratados como reis e rainhas? Todas essas perguntas e nenhuma resposta. — Então as pessoas da sua terra gostam de exagerar em lendas. Eu gostei.
— Acho que sim, mas tente não falar dessa forma na frente de Lorde Viserys. Ele realmente acredita nessa história de sangue de dragão.
Eiryan fez que sim com a cabeça. Pela descrição, esse Viserys, fosse quem fosse, provavelmente não era do tipo guerreiro. Ao invés, Eiryan suspeitava que ele fosse um daqueles nobres que usam títulos, dinheiro e homens para conseguir qualquer coisa, provavelmente sem nunca ter tido qualquer treinamento em combate. Ele só esperava não ter que trabalhar para algum idiota. Sentindo o cansaço finalmente começar a pesar em seus olhos, ele decidiu que era hora de dormir.
Despedindo-se respeitosamente do lorde estrangeiro com quem estava conversando, Eiryan seguiu ao convés inferior e adormeceu pouco depois. O dia havia sido longo, e se a descrição da distância entre Skyrim e a terra de Illyrio não fosse exagero, eles precisariam de pelo menos um mês navegando para chegar lá. Não muito tempo depois ele havia caído no sono
— Problemas, senhor? — Eiryan se virou para ver um dos tripulantes do navio olhando diretamente para ele, quem havia feito a pergunta. Ele estava no convés superior, já há algum tempo com os olhos vidrados no horizonte. Fazia então quase três semanas desde que deixaram Skyrim, e sinal algum tiveram de terra.
— Não. — disse o Dragonborn, pondo um sorriso no rosto. — É só uma mania que desenvolvemos com o tempo, essa de suspeitar que qualquer coisa seja uma ameaça. — decidindo que ficar ali dessa forma só serviria para deixar a tripulação nervosa, afastou-se da beirada.
Dias depois os primeiros sinais de terra começaram a aparecer. Tamriel, o continente no qual Skyrim ficava, se localizava a oeste de Westeros, e portanto Eiryan facilmente concluiu que aquelas eram terras desse novo e misterioso continente. Como de costume, pouco depois do meio-dia daquele dia o Lorde Mopatis emergiu do convés inferior do navio vestindo túnicas luxuosas, mas mais finas do que o casaco que estava usando quando deixaram Skyrim. Compreensível -- nem havia colocado o pé em Westeros ainda, mas Eiryan já sentia calor.
— Estamos, neste momento, a sudoeste de Oldtown. Vamos passar pelo sul do continente, pelo mar, e seguir rumo até Pentos, em Essos, o que provavelmente vai nos tomar ainda mais um ou dois dias, se tivermos sorte. — disse-lhe Illyrion.
A essa altura, Eiryan já estava familiarizado com ele e, embora não confiasse no homem, já podia ver que não era uma má pessoa.
— Então rezemos aos deuses para que tenhamos sorte. Nunca fui um homem do mar. — disse Eiryan num tom brincalhão, embora fosse verdade que não gostava muito de navegar.
Mas os deuses tinham outro destino para eles antes que chegassem em Pentos, e isso eles não tardariam a descobrir, pois foi na tarde daquele mesmo dia que aconteceu o primeiro imprevisto desde a chegada de Eiryan a aquele novo mundo.
Um grito de um dos tripulantes fez com que o Dragonborn imediatamente fosse do convés inferior ao superior do navio. Da amurada, podia ver, ao longe, quatro grandes navios, cada um com a figura de um gigantesco polvo desenhado, a se aproximarem.
— Navios westerosi? — Perguntou Eiryan, notando que Illyrio havia acabado de parar perto dele. Pelo olhar no rosto do homem, não ia ser um encontro entre amigos.
— São os Greyjoy. Mas o que estão fazendo tão ao sul do continente? — o lorde estrangeiro se aproximou da beirada, suando. — Eles têm os melhores navios dos Sete Reinos. Precisamos cooperar, ou estaremos mortos antes de anoitecer.
É claro que eles tentaram cooperar, mas parece que o capitão daqueles navios tinha outros planos. Quando finalmente um dos navios Greyjoy e o navio de Illyrio estavam lado a lado, um homem se aproximou da beirada do outro barco e berrou:
— O que um navio de Essos faz tão longe de casa, eu imagino? — Não era uma pergunta de verdade. — Estariam contrabandeando escravos? Talvez mercadorias de alto valor? Acho que não se importariam se déssemos uma olhada, não é?
Mas Eiryan já sabia o que ia acontecer, pois já tinha visto aquilo antes: aquele homem, fosse quem fosse, não tinha nenhuma intenção em poupá-los. E foi justamente como ele antecipou. Logo depois de pegar tudo o que queria, o capitão do outro navio ordenou um ataque, e logo em seguida tudo virou um caos. Mas Eiryan não viera tão longe para morrer.
— FUS… RO DAH! — O berro ecoou pelo convés no momento em que os primeiros dos homens dos Greyjoy pularam para o barco deles. Um segundo depois seis deles estavam voando a vários metros de distância dali. Mas eles não eram seu alvo: o impacto soprou a vela de um dos navios inimigos, impulsionando-o com tanta força que ele foi soprado para a frente e a proa acertou diretamente o casco de um navio aliado que passava tentando fazer um ataque.
O conflito foi sangrento e brutal. Dois homens cercaram Eiryan. Um deles, o maior, tentou atacá-lo com uma grande espada enquanto o outro vinha por baixo com um machado de batalha. Mas Eiryan não era amador. Dando um passo para o lado, evitou o golpe de espada e agarrou o cotovelo do homem que a brandiu, puxando-o bem na frente do golpe de machado. Em seguida chutou as costas do cadáver e o fez cair sobre o Greyjoy que havia atacado com o machado, dando a Eiryan tempo o suficiente para quebrar o pescoço dele com um pisão.
No mesmo momento o Dragonborn aparou um golpe com sua espada e, puxando da cintura uma adaga com a mão livre, perfurou o olho do agressor com um golpe rápido da faca de aço. Ao redor do convés a batalha prosseguia firmemente. Os soldados eunucos de Illyrio, por ele chamados de Imaculados, eram inegavelmente fortes, e foi só isso que os manteve vivos. Por todo o convés a batalha seguia viva e feroz, mas eles estavam conseguindo vencer.
— DISPARAR! — Foi quando essas palavras foram berradas de outro dos navios. Eiryan se virou e arregalou os olhos quando viu uma grande balista apontada para eles.
— TIID KLO UL! — Gritou o Dragonborn, e um segundo depois o mundo inteiro ao seu redor parecia congelado; mas ele sabia que na verdade era só o tempo passando mais lentamente, e também sabia que o efeito não duraria demais. Mas para Eiryan era tempo mais que o suficiente pra correr até a amurada e saltar para o convés do outro barco; usando a espada de aço da Skyforge, rapidamente acertou o cordão da balista, rompendo-o logo antes do arpão ser disparado.
— Mas o que… — Para o soldado operando a balista, era como se Eiryan tivesse simplesmente aparecido do lado dele. Mas ele não teria tempo pra se recuperar do choque, pois um segundo depois sua cabeça rolou para fora dos ombros e o corpo caiu no chão sem vida. Três outros rapidamente trataram de cercar o Dragonborn e atacar em equipe, mas não levou mais que dez segundos até que três novos cadáveres tivessem se juntado ao outro.
— Olhe só o que temos aqui. — Foi nesse momento que Eiryan ouviu novamente a voz do capitão dos navios, que se aproximava dele com um machado na mão. — Você não é nem de Westeros e nem de Essos. E de onde seria o próximo a ser mandado para o inferno?
— O próximo a ser mandado para o inferno é de Westeros, e ele está bem na minha frente. — Respondeu o Dragonborn, lançando-se contra o desconhecido com a fúria pela qual os Nords de Skyrim são conhecidos.
Espada e machado se tocaram repetidamente, cada vez com um CLANG ecoando para além dos dois combatentes. Eiryan se esquivou para o lado e atacou com um corte, mas o capitão deles era bem melhor que os outros; dando um passo para o lado, desviou e atacou de volta, só pra ter o golpe aparado. Cada esquiva, cada bloqueio, era uma morte que foi evitada, cada passo feito com a precisão e graça de um dançarino, e era mesmo uma verdadeira dança de lâminas.
Aquele homem era bom, mas Eiryan não era nenhum amador. Foi num momento de descuido de seu inimigo que o Dragonborn puxou novamente a adaga da cintura e desferiu um corte no ombro do homem, que urrou de dor -- abrindo sua guarda por tempo o suficiente pra ser logo em seguida atirado contra a amurada do navio por um chute de Eiryan no estômago. Eiryan deu um passo à frente e atacou outra vez com a espada, mas mesmo ferido e pressionado contra a beirada, o Greyjoy lutava bravamente, interceptando e fazendo o melhor possível para responder a qualquer ataque feito contra ele.
Eiryan deu um passo pra trás e esperou; como previsto, o homem se recuperou e veio com tudo em sua direção, mas logo depois teve seu ataque aparado pelo Dragonborn. Agindo rápido, Eiryan fingiu um ataque com a adaga contra a coxa do homem, mas logo depois cancelou e, realizando uma manobra ofensiva, rodopiou para o lado, chutando o calcanhar do Greyjoy, que caiu duro no chão de madeira da embarcação.
— Você lutou bem. — Disse-lhe Eiryan, usando um pé para chutar o machado do homem para longe dele enquanto se preparava para desferir o golpe final. Mas se nos planos de Eiryan morrer não era uma opção, nos desse capitão também não era; rolando para fora do caminho do ataque bem antes de ser atingido, ele correu e se jogou para fora da beirada da embarcação, seu corpo desaparecendo no oceano vários metros abaixo.
— Ou não — Sussurrou o Dragonborn, chacoalhando a cabeça com a atitude covarde de seu inimigo. Suspirando, ele olhou para cima novamente e não estava surpreso ao ver que a essa altura os Imaculados já tinham matado os invasores, os únicos sobreviventes dentre eles sendo os que pularam na água para se salvar. No horizonte longínquo, o último navio dos Greyjoy estava parado, provavelmente esperando que eles partissem para só depois procurarem por sobreviventes.
Quando voltou para o navio de Illyrio, Eiryan foi recebido pelo Lorde Mopatis com um sorriso no rosto e uma expressão de espanto.
— Quando Tullius me falou que você era o melhor em Skyrim, eu sabia que era um homem diferente dos outros. — Disse ele. — Mas nunca imaginei que fosse ver alguém forçar Euron Greyjoy a fugir de seu próprio navio.
Eiryan não sabia qual o peso do nome Euron Greyjoy, mas pela forma como Illyrio falou aquilo supôs que fosse bastante conhecido pela proeza naval.
— Até o melhor espadachim do mundo pode ser derrotado por um truque que ele não conhece. — O Dragonborn sorriu enquanto embainhava suas lâminas.
— Os deuses te deram habilidades acima do comum para lutar, e você escolheu não se gabar delas. Eu respeito isso. Mas tenha em mente que em Westeros e Essos, pouquíssimos homens conseguiriam ir contra Euron Greyjoy e vencer.
O resto da viagem continuou sem problemas. Entretanto, mesmo na calma que se sucedeu dali até Pentos, uma pequena agitação corria no navio: alguns homens falavam de como o forasteiro tinha arremessado seus inimigos e empurrado um barco com nada mais que a voz, e da forma como ele havia repentinamente desaparecido de um navio e aparecido no outro. E desse dia adiante nenhum Imaculado ou servo em Pentos se esqueceria da história de um guerreiro capaz de vencer batalhas com a sua voz.
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