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História O segredo de Molly Hooper - Dois


Escrita por: JaneDi

Capítulo 2 - Dois


Ela levou o polegar a boca, roendo uma unha quase inexistente num hábito nojento que ela pensava ter se livrado aos quinze anos, mas que voltara com força total no último mês, enquanto seu pé esquerdo insistia em bater continuamente no chão de madeira do apartamento próximo a uma mancha escura, que alguém poderia dizer tratar de uma mancha de vinho qualquer. Molly sabia que provavelmente deveria ser sangue seco mesmo.

Mas quem poderia culpa-la? Sua vida se transformou em um mar de agitação nos últimos dias e ela certamente recebeu dois ou três olhares estranhos no trabalho por se assustar a praticamente tudo. Certamente imaginavam que ela tinha desenvolvido alguma espécie de Transtorno Obsessivo Compulsivo. Até mesmo Mike, seu chefe, tinha perguntando se ela andava bem, e não contente com sua resposta, alguns dias depois sua carga de trabalho foi drasticamente reduzida e Molly foi estabelecida temporariamente para trabalhar apenas no laboratório.

Mas andar nervosa, assustada e ansiosa tinha seu lado bom, as pessoas em geral acreditavam que ela estava nesse estado por motivos que a ajudavam a desviar a atenção do REAL motivo por ela andar nervosa, assustada e ansiosa.

Motivos pelos quais as pessoas PENSAM que Molly Hooper estar com TOC:

a) Um certo ex-namorado psicótico pode ter voltado dos mortos;
b) Ela estar apaixonada por Sherlock Holmes;
c) Viver no apartamento 221B.

 

 

Motivos pelos quais REALMENTE Molly Hooper pode vir a desenvolver um transtorno psicológico:

a) Estar grávida;
b) Esconder essa gravidez;
c) Esconder essa gravidez de Sherlock Holmes.

 

Há sim, e claro, há alguém ai fora fingindo ser Moriarty. E hoje eles estavam indo caçá-los. Sherlock Holmes tinha achado o que faltava para resolver o mistério e estava saindo para cair, novamente, nas graças de Londres e ser o bastião salvador da cidade. O homem tinha um toque de dramático.

Então, por isso as unhas. E seu estado de nervos.

Sentada no ponto mais distante do sofá (que era realmente confortável, Sherlock, ela admitia, tinha um bom olho para móveis... se ao menos ele tivesse uma cor mais alegre....) ela pode ouvir. Uma abrir da porta do térreo firme, um bater de pés e uma marcha crescente.

Dezessete degraus ( e sem evitar a tabua solta do décimo) depois a porta se abriu após uma leve batida e então, tal qual deduziu (deduziu? Por deus Molly, você estar começando a falar como ele!), estava o homem mais fofo que uma vez conheceu.

Altura mediana, sólido, um cabelo loiro penteando a favor do vento e lindos, cristalinos, olhos azuis.

John Watson, ex- médico do exército do 5ºQuinto Regimento dos Fuzileiros de Northumberland, blogueiro, esposo amoroso e futuro pai expectante.

Ele parecia que havia envelhecido alguns anos, tinha perdido peso e ostentava um olhar preocupado em sua direção;

“Molly, como você está se sentindo? ” John logo perguntou após uma breve saudação.

“Eu estou ótima!” ela guinchou pateticamente ignorando todas as coisas que a faziam mentir.

John balançou a cabeça e pegou suas mãos na dele dando um leve aperto.

“Molly, eu sei de tudo! ” Ele disse numa voz baixa, sem desviar os olhos.

O mundo dela deu uma meia volta e sirenes soaram em sua mente.

“Você sabe? ” perguntou com a voz falhando. Como? Ela tinha sido tão cuidadosa e tão meticulosa na frente de todos. Como na terra, John Watson, de todas as pessoas iria saber de seu pequeno segredo?

Molly ainda estava nos primeiros sinais, nem mesmo peso ela havia ganho. Seu apetite não havia mudado drasticamente (exceto pela aparente obsessão nos bolos de aveia da sra. Hudson, mas isso seria irrelevante no contexto) e só para garantir, ela havia deixado cair uma caixa de absorventes no meio da sala para comprovar o fato que seus períodos eram regulares (confie em Sherlock Holmes para saber o dia em que ela menstrua e saber a data exata do seu ciclo).

Foi ligeiramente humilhante pelo fato dela não ter notado que Greg estava lá também e ele que acabou recolhendo a caixa e a entregando.

Vergonhoso, mas medidas drásticas precisavam ser tomadas. E só ela sabia que, o menor dos desvios, seria pega pelos olhares do detetive. Ou do seu irmão, diga-se de passagem.

Então até mesmo pesquisa no google ela evitou. Por via das dúvidas, quem abrisse seu histórico no Chrome só iria encontrar coisas como “dez maneiras de manter seu gatinho saudável”, “Disney cogita fazer a Bela e a Fera com atores reais”, “desaceleramento das células pulmonares: um estudo de caso”.

Nem mesmo a aba anônima ela ousava usar.

Assim, como na terra John Watson tinha descoberto seu segredo?

“Co-como?” ela perguntou para ele. Não era possível, ela ficou ali nervosa, numa mistura patética de nervos e desilusão.

“É tão obvio Molly” ele disse com um olhar afetuoso em sua direção e ela se jogou no encosto do sofá, meio perdida do que ela poderia fazer e já podia sentir um soluço vindo de sua garganta.

“Morar com Sherlock é um inferno! ” John disse com um sussurro confidencial.

Espere, o que?

“Morar com Sherlock? ” Perguntou estupefata.

“Sim, eu não sou um detetive de consultoria, mas eu posso ver o quanto essa situação está afetando você” ele sorriu carinhosamente.

Oh deus, era a isso que ele estava se referindo?

Molly sentiu o gosto do alívio

“Eu- eu estou bem, obrigada John!” Ela disse com um sorriso sincero na direção do médico. Claro, ter um pseudo vilão por ai, criando confusão se passando por Moriarty era uma ótima distração para seus nervos.

Ela quase agradeceu a esse fato por distrair a todos. Quase, por que graças a isso que ela também estava vivendo no mesmo teto que ele.

“Nah, pode contar comigo Molly, acredite em mim, eu comi o pão que o diabo amassou quando eu vivi aqui” ele disse de maneira cúmplice, “se bem que... o apartamento está bem mais limpo da última vez que estive aqui” e John olhou curioso ao redor.

“Bom, há uma certa confusão ao redor, mas desde que cheguei a senhora Hudson vem mantendo várias coisas limpas” ela assentiu, feliz por mudar de assunto “e depois, eu e Sherlock discutimos sobre o uso adequado do freezer da geladeira e concordamos em manter ele limpo, desde então há coisas próprias ao consumo humano no lugar”.

“Sherlock concordou? ” John perguntou incrédulo e Molly pode notar uma certa inveja do médico.

“ De certa forma, eu o ameacei sobre o acesso ao necrotério em Barts e ele foi muito solicito quanto ao fato” ela respondeu.

“Bom, então posso ver que não há amostras de poeira de 2010 por aqui” ele riu e Molly concordou.

“Mas Sherlock pode agir estranho assim as vezes, mas no fundo tudo o que ele faz é para o bem das pessoas Molly. O idiota acha que não tem sentimentos e faz de tudo para mostrar isso, mas no fundo ele sente profundamente” e então uma nota bastante melancólica acaba tomando conta do homem.

“Mesmo que as vezes ele faça coisas estupidas? ” Molly não pode deixar de perguntar, afinal, a coisa das drogas ainda estava fresco na sua mente.

John lhe lançou um olhar avaliador e pegou mais uma vez nas suas mãos, “sim, mesmo quando ele faz coisas estupidas” ele concluiu de maneira solene como se retendo suas próprias memórias.

Molly não insistiu, algo tinha acontecido nos últimos meses que havia abalado John, ela podia ver isso no seu semblante, outrora tão sereno, agora perturbado.

 “Então como esta Mary?” Ela mudou de assunto. Não tinha visto a mulher loira a muito tempo e sabia que a chegada da filha de John deveria estar perto.

“Em casa, ela está enorme! ” e um sorriso voltou em seu rosto suave, “mas por favor não diga que eu falei isso, ou então ela me mata” John respondeu ergueu as sobrancelhas, “sinto que só agora pude dá realmente atenção a esse caso” finalizou.

 “Do que vocês estão falando? ” Sherlock saiu do seu quarto apressadamente enquanto abotoava seu paletó, “não, espere…” ele disse olhando de um para o outro, “não precisa, vocês estão falando de mulheres grávidas” ele disse indiferente;

 John fez uma careta, “cara arrogante” ele disse para Molly que deu uma risadinha nervosa.

“Eu ouvi John”

“Eu não estava tentando esconder”.

“Então, finalmente de saída? ” Molly perguntou tentando desviar da discussão.

Ele acenou ao mesmo tempo em que vestia seu sobretudo e amarrava o lenço sobre sua garganta. Imediatamente a mão de Molly encontrou a boca e ela roeu mais uma vez a unha.

“Não se preocupe Molly, conforme o relato de Mycroft isso é apenas uma forma de chamar atenção e desviar o foco das autoridades de algum esquema de lavagem de dinheiro no governo” John disse afim de tentar acalmá-la.

Sem efeito, claro. Ela ainda estava nervosa.

“Não temos tempo a perder, vamos John, provavelmente você irá narrar mais esse caso com algum sensacionalismo barato em seu blog e Molly poderá ler assim como todo mundo” ele disse meio chateado.

“Ok, vamos lá” John disse cansado, mais se voltando para dá um beijinho na cabeça de Molly, “até mais tarde”.

Ela deu um sorriso confiante e se voltou para Sherlock, mas ao invés de ver o detetive sair dramaticamente do apartamento, ele caminhou de volta para seu quarto e a chamou de lá.

Molly se dirigiu até a porta que dava para o quarto do detetive. Ambos se estabeleceram em uma distância razoável um do outro, ainda que ela pudesse sentir o leve perfume de sua colônia.

“Provavelmente retornarei apenas pela madrugada. De qualquer forma, há vigias de Mycroft por todo o quarteirão e você verá que, acima do quarto livro da terceira prateleira intitulado “apicultura para iniciantes” há uma câmera que meu irmão pensa que eu não sei da existência. Ele vai está vigiando o local” ele disse na sua forma Sherlokiana, “assim, não há realmente o que se preocupar”

“ E você? ” Molly não deixou de perguntar.

“Como dito, eu irei retornar”

“Se cuida Sherlock, por favor” ela lamentou que sua voz saiu tão fraca, mas ela estava no limite e sabia que era impossível não pedir para que ele fizesse algo a respeito, ele era, antes de tudo, Sherlock Holmes.

E então Molly se viu focada pelos olhos oblíquos do detetive, daquela maneira que a fazia se sentir única, especial. O momento trouxe uma familiaridade desconcertante.

Sherlock não se deu ao trabalho de responder, apenas seus lábios se curvaram ligeiramente para cima e saiu passando por ela.

Ela esperou um momento e só então se dirigiu a janela da sala e observou as figuras dos dois amigos na rua. Como sempre, Sherlock mal levantou o braço, um táxi parou e os dois foram embora.

E Molly sentiu um aperto no peito. Ela deveria estar feliz, afinal, quando tudo isso acabasse ela poderia ir embora e seguir sua vida. Aqui não era mais o seu lugar e antes de pensar nela mesma, Molly pensava no seu pequeno bebê secreto. Foi uma decisão ousada da parte dela, mas devido as circunstâncias, quanto mais pensava, mais acreditava ser isso o certo, mesmo que uma culpa pontuasse sua mente em todos os instantes a respeito dele. O pai.

O pai do seu bebê,  pois caso se detivesse nisso, tudo iria água abaixo.

Seu plano até agora consistia em se mudar para a Austrália e começar sua nova vida lá.

E então.... Bom, ela tinha desenvolvido até ai de qualquer forma.

Tinha uma poupança razoável no banco, o suficiente para ela se estabelecer e construir uma vida para seu filho.

Ela tinha que manter ele seguro, mesmo que para isso tivesse que fugir.

Pressionando a cabeça contra o vidro da janela, ela orou para que Sherlock retornasse em segurança. Embora fosse necessário que tomasse tais medidas, isso não a impedia de se preocupar com o homem que tinha transformado sua vida de cabeça para baixo;

Um segundo depois ela correu para o banheiro, tinha segurado o máximo possível para que ninguém percebesse suas idas constantes, mas agora estava no seu limite e sua bexiga estava estourando.

Claro que ela esqueceu da câmera ao lado do "Apicultura para iniciantes".


Notas Finais


Adorei as respostas positivas ao primeiro capítulo :D, obrigada pelos comentários e não se preocupem, a questão "Pai" será já respondida no próximo capítulo =)


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