História O Segundo Anjo (Crônicas de Antuerpéria) - Introdução

Introdução – O Segundo Anjo – Crônicas de Antuerpéria

O cheiro dos hibiscos-de-fogo torna-se intenso nas noites quentes de Antuerpéria.

Numa noite especialmente cálida, na casa mais alta da aldeia de Hanja uma de seus moradores mais peculiares daquela região apreciava a fatia de lua prateada vagando num céu desnudo de qualquer nuvem.

Seu quintal ao pé da colina da Vila Myeon era cercado por arbustos de hibisco que se entrelaçavam na paisagem bucólica.

E num dado instante, uma luminiscência incomum chamou sua atenção.

Etzel achou que seus olhos antigos (visto que seu corpo era um tanto mais jovem) estavam lhe pregando uma peça.

Talvez, fossem vagalumes.

E no entanto, a luz tornou-se maior, crescendo como se mil vagalumes voassem juntos, saindo do interior de hibiscos que se agitavam levemente pela brisa noturna.

Até tornar-se cegante como um sonho, embriagante como o sono.

Por instantes Etzel achou mesmo que estivesse sonhando, perguntando-se atordoado como tamanha luminosidade pudesse emanar de simples flores nos arbustos lenhosos de seu quintal.

Aos poucos os pontos de luz foram sumindo, tal como se um a um fosse se apagando e quando seus olhos puderam tornar a ver, Etzel não estava mais sozinho em seu jardim.

Dentro da penumbra, havia alguém desacordado sobre o chão frio e terroso, parecia haver um manto claro cobrindo suas costas.

E por alguma estranha razão, não havia qualquer medo em seu coração e sim uma curiosidade intensa e pulsante.

Deu um passo deslumbrado pelo vulto, a brisa soprava mais forte e folhas valsavam ao lado do corpo estendido perto dos hibiscos que naquela noitinha pareciam conversar entre si.

Agora havia somente a luz de prata do luar.

Não deu mais nenhum passo abismado e fascinado ao ver aquele ser mover a mão, usando os braços diante do corpo para tentar se erguer confusamente na escuridão.

Não podia ver-lhe de imediato o rosto, mas tinha longos cabelos que cobriam-lhe parcialmente a face e num assombro maior percebeu que aquele corpo estava tão desnudo de roupas quanto o céu estava de nuvens.

Deu um passo na direção daquela criatura, seus lábios entreabriram prontos para romper-se em palavras e entropia.

No entanto, não era um manto que cobria-lhe as costas e antes que qualquer dito pudesse tomar vida em sua voz vislumbrou grandes asas brancas se abrindo, encrustadas nas costas do ser que procurava a descobrir a si mesmo em seu jardim.

As asas tinham uma envergadura espantosa, cobriam parte da paisagem de hibiscos, carregavam nelas a luminêscia fugidia que antes emanara das flores.

Enfim conseguiu vislumbra-lhe o rosto níveo e os olhos que encontravam os seus lembravam a inocência de uma criança recém saída do útero da mãe.

Mas, não era uma criança que tinha diante de si.

Era alguém na flor da juventude e sem demora descobriu que estava diante dos encantos de um rapaz.

Um estranho e belo rapaz alado.

Que brotara dos hibiscos que cercavam seu jardim.