História O Segundo Anjo (Crônicas de Antuerpéria) - Yang, a salamandra negra

Yang, a salamandra negra

Para Shou era uma outra lição a ser aprendida.

A lição que ensinava a destilar o desejo, transformá-lo em satisfação.

Não havia como dosar o prazer que cada carícia lhe causava, fossem os beijos em sua boca ou em seu pescoço, as mãos de Etzel acarinhando sua pele do mesmo modo que tratava de prendê-lo bem junto de si.

Subindo sua blusa, fazendo o colete escorregar por seus braços.

Quando a mão de Etzel se espalmou contra o volume pulsante que se insinuava dentro da calça azul escura, Shou se agarrou desnorteado as vestes dele.

Etzel esfregou sua mão entre as pernas de Shou atento a expressão tímida e excitada em seu rosto, quando enfim deslizou sua mão alcançando-lhe a ereção, Shou gemeu e levou a própria mão a boca como se pudesse frear assim a festa insandecida transbordando em seus poros.

Tendo o rosto corado, uma inevitável expressão febril de desejo.

__Gosto de ouvir sua voz excitada, Shou...__ Etzel confessou num cochicho.__ Deixe fluir...

__Mas... Sua voz me causa arrepios...

E a confissão de Shou ressoou cava, estritamente meiga e desprotegida. Causou um sorriso discreto em Etzel que guiou a mão de Shou também para o meio de suas pernas... Os dedos compridos e mornos vacilaram ao sentir o membro de Etzel saindo para fora da calça.

__Etzel...

__Toque-me um pouco mais...__ Etzel pediu deslizando a língua no lábio inferior.

Provocou um beijo ainda mais demorado, estavam de pé e nesta altura Shou estava entre a parede e o corpo de Etzel, ambos se tocavam, seus membros se roçavam...

A entrega de Shou durante o beijo era sincera, assim como sua hesitação e ausência de experiência... Para Etzel estava claro que cada vez que o beijava, roubava um pouco mais de sua inocência.

Era quase como seduzir a criança existente em sua essência de anjo.

Não podia se negar esse prazer mesquinho... Se pudesse roubar as virtudes do anjo, talvez ele fosse banido do Plano Etéreo.

Era essa a vontade mais forte em Etzel, que Shou não precisasse ir embora.

Que ficasse ao seu lado.

Que fosse sempre seu... Ou o quanto lhe bastasse.

Não que achasse que poderia mesmo amar alguém que mal conhecia em apenas cinco dias, Etzel estava apenas convicto de seu afeto e pelo fato de que se sentia demasiado atraído pela beleza e existência de Shou.

Por isso, não teve pressa de ir tão longe quanto desejava, até o sexo em definitivo.

Aos beijos, tocando sensualmente um ao outro, foi assim que saciaram o desejo fugaz daquela noite.

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Shou despertou na manhã de seu sexto dia em Antuerpéria.

Tinha dormido ao lado de Etzel em seu aposento, mas acordara sozinho na cama.

Sentou-se a se espreguiçar e olhando o canto vazio antes ocupado por Etzel, suas asas novamente sumiram, como se encolhessem para dentro de seu ser.

Estando despedido, com apenas a roupa de cama macia envolvendo parcialmente sua nudez, encolheu as pernas diante do corpo, levando um mecha comprida de seu cabelo azulado para trás de sua orelha.

Shou suspirou pensando desde o instante que despertara em tudo que acontecera na noite anterior.

Era para estar diferente? Se sentir diferente?

Quando alcançara o limiar do prazer sendo tocado por Etzel, sendo tomado por um breve extase, seu corpo mergulhara numa sensação profunda de relaxamento e depois de trocar poucas palavras amigas com Etzel, acabou por adormecer recostado em seu ombro, sentindo o calor de seus corpos dividindo a mesma cama.

O curioso é que antes estavam no quarto de Etzel, não se lembrava de ter caminhado com ele até o aposento que usava para dormir.

Era como se tivesse flutuado nos braços de Etzel simplesmente.

Olhou para si mesmo, para a palma de sua mão, o comprimento de seu braço, um dos próprios ombros... Ainda se sentindo o mesmo.

Estava tudo bem em experimentar o prazer carnal?

Ao menos parecia, não podia negar que era aprazível sentir o calor de outro ser.

Etzel teria razão?

Antuerpéria não era domínio de Deus?

Shou não compreendia, sabia que nada acontecia sem o consentimento de Deus.

De algum modo Deus, seu criador, poderia ter consentido que se perdesse?

Shou abraçou os próprios joelhos a sentir-se tão desamparado.

Etzel era tudo que tinha naquele mundo estranho, em Finis Tempore.

Deixou a cama e vestiu os trajes deixados pelo mago na beira da cama, peças em branco e lilás.

Constatou depressa que Etzel não estava, quando saiu para fora viu as nuvens pairando apressadas, o vento soprando mais forte que nos dias anteriores.

Colheu pequenas frutas roxas que carregavam um dos arvoredos e comeu, tendo que lamber depois os dedos manchados pelo sumo.

Encostou-se por um momento na rocha encravada no solo, a garrafa triangular de absinto e os dois copos sujos e vazios ainda estavam sob sua parte plana.

O vento fazendo seu cabelo esvoaçar com especial doçura, quando viu uma salamandra negra com manchas brancas também fixada naquela rocha.

Já a tinha visto outros dias, ela gostava de ficar entre os arbustos de hibisco-de-fogo e costumava chamá-la de Yang.

Shou às vezes deixava o anfíbio subir em seu ombro quando escalava os galhos nas árvores para colher frutos.

__Ei, Yang... Você não viu Etzel, viu?

Não esperava que Yang lhe respondesse, geralmente lhe estendia o braço e ela subia por ele como se fosse uma ponte.

Foi o que Shou fez e ela subiu rapidamente para seu ombro, desencostou-se da rocha e antes de deixar o quintal, cobriu sua cabeça com o capuz do manto.

Estava disposto a descer o caminho ladeado por antigos muros de pedra que cercavam as poucas casinhas vizinhas, o caminho que geralmente causava hesitação ao coração de Shou.

A trilha que levava ao coração fervilhante da Aldeia de Hanja.