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História O Segundo Anjo (Crônicas de Antuerpéria) - Os olhos verdes do ciúme


Escrita por: GegeXianle

Notas do Autor


Bem vindos, andarilhos!

Espero que façam uma boa leitura. :)

Capítulo 14 - Os olhos verdes do ciúme


Fanfic / Fanfiction O Segundo Anjo (Crônicas de Antuerpéria) - Os olhos verdes do ciúme

Os olhos verdes do ciúme*

Os olhos de Svena eram feitos de um dourado afiado e pálido feito seu cabelo.

Jogando ainda mais seu corpo esguio dentro do vestido sobre aquela mesa, sua face projetando-se bem próximo a de Shou, seus seios quase saltavam do decote.

__Vai ver...__ Ela recomeçou num cochicho.__ Etzel já o enfeitiçou com poção do amor... Você deve saber que poucas gotas colocadas numa taça de licor podem ser suficientes para se escravizar o gostar de alguém.

Shou arregalou seu olhar e segurou forte no pulso de Svena, os dedos dela ainda tocacam sua face.

__Isso não!__ O anjo protestou.__ Isso é impensável... Etzel não o faria! Eu já disse que vou deixá-lo... Uma pessoa sob o efeito da poção não abandonaria a outra assim, não é?...

__Não sinto certeza alguma em sua voz... Por que não prova? Prove a si mesmo que pode deixá-lo sem que se sinta amargurado por isso.

__Eu não tenho como ir... Não tenho outro lugar em Antuerpéria.

__Essa é somente a voz de seu coração enganando sua mente, seu pobre e iludido corpo.

Repudiava os argumentos, a voz de Svena penetrando por seus ouvidos.

Pois, pensar que fosse verdade causava feridas profundas em Shou. Moveu-se tão intensamente que a banqueta de ocupava quase virou, a mesa entre a maga e o anjo tremelicou no chão gasto da alcova.

Desde que entrara ali com Svena, mas ninguém tinha ousado a destrancar a entrada secreta. Foi neste instante em que brigava com as palavras, com o que havia de mais contraditório no próprio pensar, até mesmo brigava com a mão da maga que teimava em afagar sua face ressentida, é que a porta secreta da alcova abriu.

Uma breve ventania penetrou o lugar, alguém entrou e a porta voltou a selar-se por mágica.

Embora Etzel fosse o foco daquela penosa conversa, não era ele que Shou esperava encontrar, nem seus olhos cor de ametista que o azul dos seus fosse confrontar naquele pesado silêncio que se instalara.

__O que você estava pensando?__ Etzel censurou Shou, tal qual um adulto critica uma criança.__ Esse lugar não é digno de você, Shou!

__Ha! Que típico...__ Svena ironizou.__ Vai voltar com ele depois de tudo? Não seja tolo, Shou.

__"Depois de tudo"?__ Etzel ergueu uma das sobrancelhas a zombar.__ Acho que tem passado tempo demais com cobras, Svena! Poupe-me dessa ladainha.

__Seu atrevido! Seu magozinho de quinta!

Svena não perdeu tempo e sacou sua varinha da manga, logo cobras ameaçavam escapar por baixo de seu vestido a sibilarem alto e furiosamente e Etzel não ficou atrás, como não usava varinhas, athames ou cajados, tinha aprendido desde cedo a transformar suas mãos num instrumento de batalha.

Contudo, antes que a "guerra" fosse declarada, o dono daquela alcova se projetou entre os dois e pelo seu tom não estava para brincadeiras!

Há muito a lei tinha sido baixada: Nada de feitiços ofensivos entre os magos assíduos daquela alcova conhecida como Amataretsu.

Shou pareceu hesitar quando Etzel lhe estendeu a mão, mas terminou por deixar aquele lugar na companhia dele.

Somente a se afastarem dali, daquela ruela estreita é que tornaram a trocar palavras.

__Como sabia onde eu havia me metido?__ Shou perguntou caminhando a uma distância respeitável de Etzel, o que para o mago já era de se estranhar.

__Nem percebeu, não é? A Salamandria foi atrás de mim... Ela quem me disse que você estava em apuros, seu anjo danado.

Shou olhou para Etzel de soslaio e viu a salamadra que tinha apelidado de Yang agora no ombro dele, na dobra da gola do manto de mago.

__O nome dela é Salamandria? Gosto mais de Yang... Ela atende quando a chamo assim.

__Yang... Até que eu gostei.__ Etzel riu.__ Sorte ter trazido a "Yang" com você.

__Você conversa mesmo com ela?...__ Shou indagou algo frio e distante, longe de sorrir.

__Estou unido através dela por causa de um feitiço de selamento.__ Ele contou enquanto a salamandra passava de um lado para o outro em seu ombro.__ Usei meu sangue e um pedaço da cauda dela, agora ela é como minha mensageira... Somos parte um do outro assim por dizer.

__Não sei se é justo fazer tal feitiço... Tornar outro ser vivo parte de você, quer queira ou não.

Quando ouviu Shou suspirar, para Etzel era como ter a melancolia em carne, osso e divindade caminhando ao seu lado.

Desejava muitíssimo desvendar o que Shou andava sentindo em sua totalidade para poder acalmar seu inquieto coração de anjo perdido.

__Não veja por esse lado, Shou... Yang é mais um par de olhos que tenho ao meu favor, sem ela eu nunca saberia que estava metido naquele lugar.

__E por que faz diferença se estou perto ou longe de você? Sabe que em algum momento vou seguir meu caminho. Ou... Você seria capaz de me prender a você com um feitiço desses?

Etzel percebeu o tom extremamente sincero e magoado, certa agressividade velada, também tristeza naquelas três frases ditas por Shou que se entrelaçavam e exigiam respostas.

Por isso, fez com que Shou parasse de andar tão depressa e nervosamente, o segurou de leve pelos ombros e sorriu-lhe afetuoso.

__Shou... Porque fica tão preocupado que eu use um feitiço ou poção em você? Há mais de um modo de se fazer parte de outra pessoa e não estou me referindo a feitiços.

__Entendo... Deve ter sido o que você fez com as duas ninfas que vieram te ver antes que eu acordasse.

Shou repeliu seu toque, deu um tapa em sua mão que segurava-lhe carinhoso o ombro e Etzel ficou completamente sem ação.

Era sarcasmo que ouvia na voz comumente calma e doce de Shou?

Um sarcasmo tão feroz que parecia queimar feito ácido.

Observou momentaneamente estupefato Shou se afastar, quase correr na sua frente...

Se fosse seguro Shou materializar suas asas para poder se afastar ainda mais rápido era o que faria.

Mas, se afastar por quanto tempo?

A resposta a esta questão era uma das razões de seu tormento.

 


Notas Finais


Nota da autora: O título é uma alusão a Otelo, obra de Shakespeare:
Do trecho (do terceiro ato, uma fala de Iago): “Oh, tende cuidado com o ciúme. É um monstro de olhos verdes, que zomba da carne de que se alimenta”.


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