História O Segundo Anjo (Crônicas de Antuerpéria) - Parte 2 O astuto Oni de Pergamon

Parte 2 O astuto Oni de Pergamon

Mercado de pulgas – Hisenburg

O dia de Etzel, o mago cego e Dawn, a fada banida

Não foi difícil encontrar o vilarejo mais próximo considerando o conhecimento de Antuerpéria que carregava em seus olhos de mago.

Todavia, isso de modo algum queria dizer que seria fácil arrumar um transporte realmente eficiente para seus propósitos.

O Mercado de pulgas do Vilarejo de Hisenburg parecia não ter fim, um lugarejo repleto de entradas e vias, ruelas que se encontravam cheias de lojinhas e barracas vendendo todo tipo de quinquilharia e antiguidade.

Quase que Etzel preferia voltar ao labirinto sombrio da Floresta de Tânatos, quem sabe teria mais sorte encarando alguns insetos devoradores de ossos...

Tudo parecia-lhe inútil, tantas roupas e objetos, alguns supostamente mágicos. Tapeçarias e panelas, caldeirões, lamparinas em ferro, vidro e cobre.

E havia uma infinidade de criaturas vagando entre as barracas, um mercado a céu aberto tão extenso que deixava o comércio da Aldeia de Hanja no chinelo.

Até conseguiu achar alguma montaria à venda, mas os cavalos estavam muito magros para suportarem o trajeto a ser percorrido, nem serviam para puxar carruagens.

Depois de andarem numa lenta travessia por parte do mercado, pararam para comer algo numa locanda.

E nisso, metade do dia tinha ido embora mais uma vez.

__Esse lugar é uma colossal perda de tempo!__ Etzel rezingou de modo que apenas Dawn ouvisse.

__Foi você quem disse que seria boa ideia vir para cá, ora!__ E Dawn rebateu naturalmente fazendo uma tosca careta.

__E você tinha uma ideia melhor?... Não tem outra vila dessas há vários quilômetros, mas nem pensar que vou pernoitar por aqui... Já perdemos meio dia só procurando um transporte e enquanto isso Shou apenas se afasta um pouco mais.

__Você é mago! Não pode evocar um dragão ou coisa parecida?

__Claro que não, Dawn!... Eu teria que ser um necromante, aí sim poderia evocar o espirito antigo de algum dragão, ou quem sabe um grifo... Não é fácil controlar um animal elemental em vida.

__Bla-bla-bla...__ Dawn prosseguiu zombando.__ Se você fosse tão bom em fazer feitiços, quanto é em arrumar desculpas para sua preguiça... Já teríamos encontrado Shou.

__Dispenso esse seu tipo de ajuda, orelhuda!

E a fada bem que revidou lhe mostrando a língua, displicente.

Etzel e Dawn estavam tão compenetrados em sua rixa que nem perceberam alguém bem interessado naquela conversa a se aproximar da onde estavam, sentados em banquetas de palha trançada de fronte ao balcão de cedro daquela velha locanda.

__Com licença, jovens viajantes... Por acaso ouvi alguém dizer que precisa de um transporte?

O mago e a fada disfarçada de elfa olharam simultâneos na direção daquele sujeito que usava vestes em tom de negro e cinza claro, cabelos escuros que se escorriam até o meio de suas costas e um chapéu de palha cônico em duas cores no topo de sua cabeça deixando seus olhos densos e espertos encobertos por uma sombra sutil. Acima de tudo, o que era bem visível era a cicatriz que repartia o meio de seu nariz e seu sorriso próprio de um barganhador.

Uma mecha escura de seu cabelo caía pelo meio de sua face ardil.

__Se for me oferecer outro daqueles cavalos magricelos... Pode esquecer.__ Etzel se adiantou pouco paciente.__ Precisa de algo que me sirva para atravessar uma grande distância e em pouco tempo.

__Se me permite... Acho que tenho exatamente o que procura.

Dawn estava atenta e não estava gostando nada, segurou no braço de Etzel e deu-lhe um puxão, mas acabou ignorada pelo mago.

__Ah, é?__ Etzel provocou mostrando-se duvidoso.__ E o que seria, senhor...?

O homem de cabelos escorridos fez uma mesura e tirou o chapéu cônico para se apresentar.

__Oni de Pergamon, ao seu dispor.__ A voz dele soou musical.__ Estariam interessados em ouvir a minha proposta?

__O que você teria rápido o bastante para atravessar até mesmo todo esse vale?

__Parece que o senhor mago tem um longo caminho para percorrer, hum?__ Oni indagou tornando a por seu chapéu de palha.__ Tenho à sua disposição um pássaro gigante que o levará com facilidade ao destino que desejar, claro... Por uma pequena barganha.

__Etzel!__ Dawn sibilou dando-lhe outro puxão no braço.

__Calma aí, Dawn...__ Etzel também sorriu audaz para a fada e tornou seu olhar para o homem de chapéu.__ Será que pode me esperar lá fora, Oni de Pergamon?

__Se assim deseja... Estarei a sua espera.

E fazendo outro mesura, esta mais breve, o homem dei-lhe as costas a se afastar.

De pronto Dawn meteu um cascudo em Etzel, tendo uma expressão demasiado contrariada!

__Ficou maluco, Etzel?! Sei que esse tal Oni é encrenca só de olhar!

__Ei! Confie em mim, poxa... Também sei bem com quem estou lidando!

E ainda mais enfática, Dawn agarrou Etzel pela bochecha a cochichar bravia:

__Ele é um ser amaldiçoado!

__Ai! Sua orelhuda maluca!... Sei disso, percebi assim que meus olhos confrontaram os dele! Mas, eu não tenho outra opção, Dawn.

Etzel deixou a banqueta de palha trançada no intuito de sair pela porta da Locanda.

Se bem que antes, trocou olhares com Dawn...

__Eu preciso tentar... Vou ficar maluco de verdade se eu não puder ver Shou de novo.

Dawn praguejou baixinho arrastando as unhas no balcão, tinha um péssimo pressentimento.

Como queria que seus instintos falhassem ao menos uma vez...