História O Segundo Anjo (Crônicas de Antuerpéria) - O Anjo, o Mago e o matador de lobos

Parte 2

Prólogo

Esperava que a espada de Jang atravessasse seu corpo.

Seu corpo inatingível pela morte, não se importava em ser ferido ou com o tamanho dor se Jang pudesse sentir-se menos triste ao descontar de algum modo sua raiva e desilusão.

Jang sabia, ia avançar com sua espada sobre Shou e seria a última coisa que faria antes de tombar no solo úmido e empoçado do oiteiro.

Havia todos os motivos para terminar assim.

E no entanto... Ledo engano.

Tudo escureceu antes que pudesse enterrar a lâmina nas entranhas de Shou.

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                        O Anjo, o Mago e o matador de lobos

Após deixar os anjos que encontrara depois de abandonar a campina onde tinha amanhecido, Etzel seguiu minucioso o mapa contínuo e após uma pequena corrida, teve certeza que Shou estava no topo de uma colina não muito alta, a única da região de Ceres.

Tinha para si que não podia esperar mais, nem perder tempo em subir o declive. Se concentrou em realizar o feitiço de teleporte e num piscar de olho se viu sobre o topo, Shou estava a certa distância um pouco mais a frente e seus olhares se cruzaram absortos no mesmo pequeno instante que Etzel percebeu que alguém pretendia atacar o anjo com uma espada.

"Ah, não! Isso que não!"__ Foram as palavras que passaram feito um raio em sua cabeça e resolveu agir usando um feitiço que conhecia, que tinha aprendido há bastante tempo em Miríades.

Tal como se saísse uma corda mágica de sua manga e fosse lançada, laçando o animal ou objeto que quisesse pegar.

Um feitiço para crianças e contudo, bem eficaz.

Jang nem viu o que o atingiu, apenas algo apertando seu pescoço com força, puxando num golpe brusco seu corpo para trás. Suas costas bateram com tremenda violência no chão, sua espada caiu em outra direção e seu corpo não se moveu mais.

__Etzel! O que foi que você fez?__ Shou censurou desnorteado.__ Ele está muito ferido! Precisa urgentemente de cuidados!

__O que queria que eu fizesse, Shou? Ele ia te atacar!

Não esperava que Shou reagisse desse jeito e enquanto argumentava observou algo irritado Shou se agachar e tomar o corpo do rapaz inconsciente em seus braços.

Ele se quer pareceu ouvir suas palavras, estava era segurando com carinho aquele rapaz ruivo que a pouco queria estripa-lo com uma espada.

__Shou, não dê as costas para mim... Vim de longe somente para estar com você.

O anjo já tinha virado o corpo, tendo uma expressão tristonha ao fitar Etzel por cima de seu ombro, suas asas naquele instante ligeiramente encolhidas contra suas costas.

__Eu vou para o coração de Ceres, Etzel... Te encontro por lá.

Não disse nada, meramente tornou a observar as asas belas de Shou se abrindo tão majestosas quanto se lembrava e viu seu anjo voar por cima dos pinheiros, carregando nos braços que considerava seu outro rapaz.

Isso não significava que não tivesse um milhão de perguntas para fazer.

Se viu sozinho no topo da pequena colina ladeada por pinheiros e encarou vago e profundamente enciumado a espada caída no chão.

Não era bem o reencontro que esperava ter.

A primeira pergunta, a mais fundamental de todas era:

Mas, que raios andava acontecendo naquele lugar?

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Shou tinha todos os olhares de Ceres sobre si, mais do que nunca.

Os ânimos já andavam alterados desde que o lobo cinzento atacara a estrebaria, mas nada causou tanto furor quanto um anjo, um rapaz alado descer no meio da aldeia de agricultores levando Jang em seus braços.

Conseguiu se refugiar na casa de um dos moradores mais velhos, um aldeão que tinha conhecimentos de curandeiro e era tido como excêntrico pelos outros moradores do local.

Tinha recolhido suas asas para permanecer dentro da pequena casa.

__Ponha-o no futon.__ O velho pediu lavando as mãos numa tina feita de latão.

Shou obedeceu, ajoelhou-se acomodando Jang com extremo cuidado no futon no canto daquele cômodo. Baixando por último a cabeça de Jang, vendo que em seu rosto pairava uma expressão nítida de dor embora suas pálpebras estivessem cerradas.

O velho senhor conhecido por Zinn enxugou rapidamente as mãos, se apossando de uma caixa numa prateleira presa a parede do cômodo e sentou-se no chão próximo ao futon a averiguar os ferimentos em Jang.

Seu olhar furtivo percebeu que apesar de haver sangue nas vestes, o único ferimento com que precisava se preocupar, era a grande ferida aberta no braço.

__Isso é incomum.__ O velho Zinn retrucou meio que para si mesmo, abrindo a caixa.

__O que é incomum?__ Indagou Shou, ajoelhado por perto.

__O lobo conseguir cravar os dentes em Jang... Normalmente os lobos morrem tentando.

Shou engoliu um monte de saliva de forma atravessada, teve ganas de afirmar que não se tratava de um lobo, o monstro era alguém como ele. Também ficou intrigado com o jeito do velho Zinn se referir a Jang, aliás todos pareciam conhecê-lo bem em Ceres e nem era sua aldeia natal.

__Todos parecem gostar muito de Jang nesse lugarejo.__ Shou comentou, tentando driblar o próprio nervosismo.

__Jang é dotado de muita coragem e tem um bom coração... Ceres deve muito a ele.

Zinn resumiu enquanto limpava a parte da pele desfigurada pela mordida.

__Não entendo...__ Shou retrucou inconformado.__ Jang mal pode entrar na Aldeia dos Contrários, sinto que ele é muito triste por conta disso... O senhor quer ajuda?

__Traga-me a tina com água e na gaveta menor daquele móvel antigo deve ter algum lenço... Temos uma febre alta para baixar aqui.

Shou assentiu com a cabeça, obedeceu com presteza. Ajudou a baixar a febre trocando regularmente o lenço molhado sobre a testa de Jang ao passo que Zinn tratava de suturar em movimentos quase mecânicos o perímetro demarcado pela mordida da mandíbula do lobo.

__Então... Você estava lá quando aconteceu?__ Zinn inqueriu quebrando um silêncio em que Shou estava profundamente absorto acariciando a testa de Jang.

__Não... Quando encontrei Jang, já estava ferido.

__E o lobo?

__Não tinha nenhum lobo quando o encontrei.

Zinn franziu ainda mais as rugas horizontais na testa, estreitou seu olhar terminando o curativo desinfetado e suturado.

As dúvidas que lhe sobrevinham somente o próprio Jang poderia esclarecer.