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História O Silêncio Dos Sentimentos - Capítulo 2


Escrita por: cakeslittlegirl

Capítulo 3 - Capítulo 2


1995

Há quem diga, pela experiência, que quando se está grávida tudo se sente com maior intensidade. Não faço ideia se estarão a falar de pontadas no coração ou maus pressentimentos, porém hoje estou demasiado nervosa e inquieta. Não há nenhum calmante que me acalme, ou até um copo de água com açúcar que me suba as tensões. Mas não ousei preocupar-me pois deduzi que há dias assim. Tenho mais que fazer, e eu sei que está tudo bem com o bebé (ele é a única coisa com que me deveria preocupar).

Estou grávida de dezoito semanas. Foi uma bênção depois de tantas tentativas sem sucesso. Na adolescência tive vários problemas com a menstruação e a sua regularidade, que o meu médico sempre me foi avisando que possivelmente iria ter dificuldades para engravidar - por causa dos inúmeros quistos nos meus ovários. Porém a palavra dele não estava nem um pouco correta. Da primeira vez não foi uma tentativa e sim um pequeno descuido que se tornou o maior de toda a minha vida. Engravidei aos dezassete anos e com todo o meu arrependimento fui obrigada a abortar.

Quando a minha mãe descobriu, levou-me até uma amiga dela que na altura fazia abortos - ainda que os fizesse de forma ilegal pois a partir de 1973 o aborto foi legalizado nos hospitais sendo proibido fazê-lo fora deste - porque toda a gente iria ficar a saber da vergonha que era fazer um aborto se eu fosse ao hospital. Toda a gente comentava tudo no bairro onde eu morava. Porém, a minha mãe dizia que era muito mais vergonhoso ser mãe (solteira) aos dezassete anos de idade.

Foi doloroso. A pior dor pela qual passei no mundo; não sendo na sua totalidade qualificado como uma dor física, mas sim psicológica. Perdi um bebé, a minha bebé. Os dias depois do aborto ainda foram mais horríveis. Sentir que uma vida foi retirada de dentro de mim, matava-me cada vez mais a cada segundo que pensava naquilo que fiz. Porém não podia culpar ninguém a não ser eu e o meu namorado na altura - que quando soube que eu estava grávida desatou a arranjar mil e uma desculpas e acabou por sair do país sem mesmo saber que eu ia realizar um aborto. Nós é que não tivemos cuidado. É como dizem "na adolescência pensamos que somos eternos", fazemos tudo e mais alguma coisa sem pensar nas consequências.

Após o aborto foi quando tive mais dificuldades em engravidar quando já era altura para tal. As razões, não sei, mas desde os vinte e cinco anos que tento ter um filho e não consigo, simplesmente porque acabava sempre por perder o bebé aos três ou quatro meses. Já passaram dez anos desde que tento. Tenho trinta e cinco anos agora e já sofri desilusões amorosas suficientes para não voltar a sentir a dor de sofrer por amor. Todos os companheiros que tive acabaram por me deixar porque eu não podia ter filhos - mesmo que isso não estivesse confirmado.

Há quase cinco anos conheci alguém quando julguei que isso iria ser impossível de acontecer ou porque eu já me preparava para ficar presa numa vida de tédio; ou porque achava que nunca ninguém ia gostar de mim apenas porque eu não conseguia construir uma família.

E daí apareceu o Mark que tem esperado e tentado sem me abandonar. Finalmente consegui; pelo menos nada tem mostrado que estou num mau caminho até porque o médico diz que desta vez tudo está maravilhosamente bem.

- Parece milagre! - Ele disse ao fim da décima sexta semana. - Mas não quero ser pessimista, Meredith. Tens de ser cuidadosa. 

E eu tento ser. Tento mesmo. Só que por vezes não conseguimos conciliar os sentimentos com a razão, e é por isso que raramente me consigo esquivar de tarefas duras no trabalho, ainda por cima quando passamos por uma diferença entre sexos. Os homens sempre vão ser mais importantes que as mulheres e eu não vou desistir até que, pelo menos aqui nesta casa, as mulheres possam ser tão reconhecidas quanto os homens.

Ser mãe e continuar a trabalhar é um tanto difícil. Ainda para mais quando estou dependente de cursos e formações de risco. Porém é o meu sonho e eu sei que tenho vocação para tal. Salvar pessoas, ajudá-las. Eu nasci para isto. Eu nasci para salvar vidas, para ser bombeira. Tenho de ser corajosa para tal, eu sei, mas nesta vida temos de ser corajosos para tudo; somos obrigados a tal logo a partir do nosso primeiro suspiro.



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