A partir daqui utilizarei as palavras dele. O "eu", quando entre aspas, agora é Athos. A guilda ainda não passa de lenda. É um plantador de uvas e fermentador de vinhos vagabundos. Boa parte dessa história está incompleta ou sucinta demais porque é baseada no que ele me contava, e ele odiava esse período da vida dele. Quando começarmos a chegar mais perto de partes mais interessantes, o texto ficará mais denso.
"Eu vivia do que plantava. O governo-geral chamou meu irmão mais velho para a guerra. Meu irmão do meio (segundo irmão) foi para uma capela retirada se tornar monge eremita.
Sobraram apenas eu, minha irmã, a caçula, meu pai na lavoura e minha mãe louca numa cama.
Eu e meu pai trabalhávamos na lavoura de videiras (nome que herdei de meu pai) enquanto minha irmã cuidava de nossa mãe.
Tinha dezoito anos quando ela completou treze. Meu pai deixou-me responsável pelo casamento de minha irmã. Lembro-me bem... Foi durante a manhã do aniversário dela.
Ela teve sorte. Conseguimos que um homem dono de um trigal casasse-se com ela. Meu pai me disse: "Athos, eu sabia que você saberia escolher. Nossa filha terá uma vida abençoada". Ela morreu dez meses depois, durante o parto de seu primeiro filho. Sofremos dez moedas de prata e quatro dias por ela. Depois voltamos ao trabalho para não morrermos de fome.
O olhar do meu pai ficou vazio, depois que minha mãe foi encontrada junto com a lenha queimada do fogão. Estávamos voltando das tinas fermentadoras. O vinho ficaria pronto em vinte dias. O silêncio dominava a viela que levava ao nosso casebre. Encontramos o corpo dela sem sangue algum em volta e com queimaduras por todo o corpo; no fogão das costas da casa. Mais dez moedas de prata e quatro dias de pranto para enterrar a louca.
Duas mortes em um mês. Metade da família presente. Meu pai ficou desgostoso. Teve que vender vários de nossos pertences. Menos bocas para alimentar, mas menos comida para alimentar as bocas que sobraram. Dez moedas de prata alimentavam três bocas por uma semana. Não sobrou nada dentro de casa.
Dois anos depois, meus vinte invernos pesam-me as costas. Meu pai morre de repente ao preparar o terreno novo para o plantio das videiras. Estou sozinho. Minha casa foi vendida para pagamento de dívidas.
A rua se tornou minha casa. Pedi o que comer por dias a fio. Raramente eu conseguia. Estava quase desistindo..."
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