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História O Sombra - Úmidas Ruas


Escrita por: R4p0s4

Notas do Autor


Por favor, a partir desse capítulo (talvez um pouco no anterior) Sombra e Terremoto passam por 2 situações paralelas. O Sombra no passado escrito pelo Terremoto, mas com seu jeito diferente de escrever (se ambos parecerem muito "mesmos", por favor critiquem, o objetivo é que pareçam duas pessoas distintas). E o Terremoto passando vez por outra, no presente, por alguma coisa ou simplesmente comentando o jeito como o Sombra escrevia.

Capítulo 3 - Úmidas Ruas


Fanfic / Fanfiction O Sombra - Úmidas Ruas

               Palavras de Átila. Bem, apenas transcrevi o que ele me disse. O uso da expressão "conseguir" me leva a pensar que já começava a roubar. O uso de "desistindo" não ficou bem explicado. Mas vamos prosseguir ao depoimento de Athos das Videiras, o Sombra - é utilizado no presente, como o Sombra pediu:

                "É noite de lua nova, chove." Acabo de começar a escrever e já interrompo. O Reverendo Augusto já dizia: "Tudo termina como começa". Um início de carreira na lua nova dá sorte. Mas a chuva que começa um livro, uma carreira, indica o fim de uma vida também. Mas a despeito do começo, lá vai o primeiro tropeço do Sombra:

                "Ando completamente ensopado pela rua principal. As carruagens jogam-me água das poças. Um senhor requintado passa ao meu lado com um olhar bondoso. FIz uma cara de coitado. Estava com fome, frio e nenhum lugar para dormir.

                - O que faz na rua uma hora dessas na chuva, meu jovem?

                - Não tenho abrigo, meu senhor - digo eu. E penso: Ele não é alguém pouco abastado. Basta um coração mole.

               - Posso acolhê-lo em minha hospedaria... Gostaria que você pudesse pagar, mas se quiser pode trabalhar comigo uma semana, lhe daria abrigo e comida. Tem braços e ânimo para trabalhar, meu jovem?

                - Sim, tenho - trabalhar não era exatamente o que pensava, mas já era melhor que ficar na chuva.

                - Então, meu jovem, siga comigo até minha carruagem.

                Fomos até que o quarteirão acabasse."

                Ouso interromper outra vez. Na sequência há um diálogo entre os dois. Não sei quem mente mais, mas ambos estão. Desculpe a interrupção, peço perdão. Mas não se iluda. Um ladrão que não mente é um policial sem um cacetete na mão. E um dono de hospedaria que não rouba é pobre. Este é rico. Acho que o resto agora está claro. Prossigamos:

                "Entramos na carruagem. Ele ordenou ao condutor para nos dirigirmos à hospedaria Ferradura da Sorte. É uma hospedaria conhecida, com uma boa taverna no patamar térreo e quartos escada acima. Primeira vez que via o dono.

                - Lorde Baluarte. E você meu jovem?

                - Martel Cantor - respondi.

                - O teu serviço será arrumar quartos e servir meus clientes quando pedirem. Estás disposto?

                - Qual o pagamento?

              - Duas moedas de prata por semana. Terás direito a metade das gorjetas que conseguir. Seu quarto lhe custará uma moeda de prata a semana. O resto você tem para comprar comida e o que quiser consumir.

                - Aceito, Lorde Baluarte. Começarei hoje?

                - Não, amanhã."

                A cobiça por trabalhar indica que ele tentou. Coitado, ele tentou não roubar. Veja o que ocorreu:

                "Ao chegarmos na grande hospedaria, entrei. O quarto dos fundos é meu. Um cubículo com uma cama e um baú. Três mudas de uniforme e uma muda de roupa de cama no baú. A cama estava arrumada. Havia também uma caixa de velas.

                Precisava reorganizar as ideias. Comer e recrear com uma moeda de prata por semana... Pouco. É, tenho direito a metade das gorjetas, o que não deve ser muito. Acendi uma vela e grudei -a com sua própria cera em cima do baú. Tirei a noite para avaliar a hospedaria como um todo. Havia vinte quartos. Apenas oito ocupados. Resolvi gastar minhas três moedas de cobre. Desci para o térreo e comecei a ouvir as músicas que eram cantadas, pedi uma bebida (vinho tinto bem melhor do que o que eu produzia) e finalmente sentei-me a uma mesa.

                Tochas iluminavam os corredores e o salão a partir das paredes. Reparei como largas sombras eram lançadas em determinadas áreas da construção.

                A música cantada por um homem gordo me fazia parar e pensar no que poderia fazer para arrecadar mais dinheiro. Gastei uma moeda de cobre com a bebida. Precisava gastar o resto do dinheiro com roupas novas. Fariam uma melhora em minha aparência. Resolvi voltar para o meu quarto. Pararia de gastar dinheiro com bobagens. Precisava economizar. Precisava dormir.

                A manhã que segue à minha chegada está clara e sem nuvens. Choveu muito ontem. Saí na procura de uma boa alfaiataria. Encontrei um alfaiate muito bom.

                - O que precisa, meu jovem? - indagou o alfaiate

                - Preciso de roupas novas. Uma calça e uma camisa, para ser exato.

                - Ótimos preços e as melhores qualidades de tecidos, você veio ao lugar certo!

                Ele tinha um pequeno saco nas mãos. Ele o pôs sobre a mesa e entrou para as dependências da loja. Não resisti e observei o interior do saco à distância. Vi um brilho amarelo vindo lá de dentro. Ao observar, o saco foi lentamente inclinando... Eu o segurei a tempo para que não caísse. Minutos depois o dono voltava com três rolos de tecidos.

                - Tenho esses três que parecem adequados às suas condições.

                Eram panos leves e macios das cores azul, vermelho e amarelo. Nenhum deles me agradou.

                - Não, obrigado senhor. Creio que não é isso que eu quero. Procurarei em outros lugares, obrigado.

                - Tenha um bom dia!

                Ao sair da loja, percebo que algumas das moedas que estavam dentro do saco estão presas em minha luva! Quando pensei em voltar para devolver, percebi que poderia ser preso se o fizesse... Antes algumas moedas para mim do que alguns anos preso."

                Ouso interromper outra vez, desculpe, evitarei fazer isso de novo. Se você cai nessa tina, eu acho que você é muito ingênuo. Essa foi boa... grudar na luva! Continuemos:

                " São sete moedas de ouro! Posso procurar algo bem melhor para comprar... Mas, ao mesmo tempo, fico pensando se preciso mesmo comprar roupas novas.

                Fui a uma loja mais distante do centro. Vi várias pessoas caminharem em pequenos grupos enquanto somente eu me mantinha só. Entro numa loja que me parece decente. Uma loja pobre, mas decente. Puxo de meu bolso minhas duas moedas de cobre. Coloco sobre a mesa as moedas e falo:

                - Quero fazer uma roupa bonita para noite!"

                Somente para o entendimento de todos, roupa para noite, na linguagem dos gatunos quer dizer a mesma coisa que roupa de serviço. Sinceramente não sei se foi apenas um golpe de sorte ou se nesse ponto da história ele já tinha algum contato com essa linguagem. Talvez ele queria uma roupa de festa para a noite, não sei. Prossigamos:

                "- Bem, meu jovem, você quer uma bem bonita ou uma comum?

                - Uma bem bonita.

                - Com essas duas moedas eu não tenho. Mas com duzentas e oitenta e oito dessas, talvez eu possa te mostrar uma roupa muito especial

                - O quê? Duzentas e oitenta e oito? Que raios de roupa é essa?

                - Vou lhe mostrar.

                Logo ele retorna com um conjunto de camisa de manga longa, calças, luvas e um capuz de chuva; todos muito negros e sem brilho algum. Muito bonitos e de qualidade excepcional.

                - Creio que seja adequado para seu tamanho.

                - Posso experimentar?

                - Jamais. Pague as duas moedas de ouro!"

                "Pago as moedas e não resisto em vesti-la. Ficou muito bonita, com certeza, e tinha o dinheiro. A sensação é de que esta roupa foi desenhada e costurada para mim. Mas:

                - Por que o preço é tão alto?

                - Porque ela é feita de um tecido muito especial, que não reflete luz alguma. No escuro, seu usuário fica quase invisível.

                - Nossa. Tomara que o que diz seja verdade.

                Efetuo a compra, era exatamente isso que eu queria. Voltei para a Ferradura. Era quase o momento de almoçar. Paguei um almoço farto. A roupa estava dobrada e escondida. A havia guardado em meu baú.

                Me dirijo para o Lorde Baluarte:

                - Lorde, alguma recomendação?

                - Todo e qualquer dinheiro que receber para pagamento ou gorjetas deve ser armazenado aqui com o respectivo pedido - apontando para uma caixa de fundo baixo.

                - Está certo. Terei direito às gorjetas no final da noite?

                - Sim. E tenha educação com os clietnes na taverna. À meia-noite arrume as cadeiras e vá dormir. Às cinco em ponto você será acordado para arrumar os quartos. Às oito poderá voltar a dormir, após seu desjejum.

                - Então que assim seja. Posso receber a clientela da minha forma?

                - Pode. Mas deverá utilizar os uniformes enquanto estiver trabalhando.

                - Se não for desonroso, posso agir à minha maneira?

                - Pode. Mas gere lucros. O que você conseguir extra é por direito metade meu e metade seu.

                - Está certo. Peço que não me impeça. Quero liberdade total de ação.

                Percebo que a caixa apontada por Lorde Baluarte tem o "meu nome": Martel Cantor. Fui para meu quarto nos fundos de forma tão rápida quanto me vesti e voltei à taverna.

                Agora estou a observar a clientela entrar e pedir-me ajuda ao servi-los. Sempre estou a postos. Mas este momento foi um dos mais longos da minha vida. Eu a vi dislumbrante no que ela entrava, parecia que estava a purificar o ar por onde passava. Ela é o que eu mais precisava no momento. Ela estava bem vestida e arrumada, pintada e com o tilintar das joias que utilizava.

                Quando pisquei os olhos, ela já estava sentada e chamando alguém para atendê-la. Fui prontamente até ela. Ela sorri e fala mansamente:

                - Você trabalha aqui a pouco tempo?

                - Sim, senhorita. Comecei hoje. - não gaguejei, mas a concentração foi altíssima para não fazê-lo.

                - Hoje? Traga-me do melhor vinho da casa - colocou uma moeda de prata em minhas mãos - o resto da quantia é seu.

                - Obrigado, senhorita. Qual seu nome?

                - Catrina. E o seu, bom jovem?

                - Martel Cantor - ela é jovem, bela e arrumada - mas jovem é bondade sua. Perto de ti sou um ancião.

                - Sois bondoso, Cantor. Sua família tem a voz de seu sobrenome?

                - Apenas meu pai. Qual seu sobrenome?

                - Ele não interessa. Traga-me o vinho rapidamente, Cantor.

                Estou a ir para a adega. Um colega de trabalho me observa e diz:

                - Catrina já chegou? O vinho destinado a ela é o de rótulo vermelho. Pegue com rapidez. Ela não terá paciência com atrasos.

                - Obrigado. Sua graça?

                - Tomás.

                - Martel. Ela frequenta aqui há muito tempo?

                - Sim, tem muito dinheiro, se lhe importa.

                - Obrigado, Tomás.

                Pego o vinho na adega, rótulo vermelho. É um vinho caro, destes vindos do outro lado do mar. Levo-o até a mesa.

                - Eis seu vinho, Catrina. Alguma coisa que posso fazer por você?

                - Sim - ela sussurra - você é responsável pelos quartos, não é mesmo, Martel?

                - Sim.

                - Então quero que me visite esta noite - continua a sussurrar - quarto vinte, bem na ponta da Ferradura.

                - Está certo, senhorita. Estarei lá.

                Fiquei com esta cena na cabeça. Ela era sedutora, destas mulheres que fazem um homem parar de pensar por alguns instantes preciosos.

                Continuo a servir até a clientela debandar ou subir para os quartos. Fui para meu quarto e visto minha roupa nova. Precisava pegar as chaves. Só tenho autorização para pegá-las de manhã.

                Dirijo-me para o segundo andar. O molho de chaves está pendurado no cinto de um funcionário do período noturno, que desconheço. Estou nas sombras e ele não me percebe. Apenas uma tocha pode ser vista daqui e está na parede próxima a ele. Ele se move de forma a me fazer ver o arco de madeira que lança as sobras para as escadas.

                Bendito seja esse arco! As sombras levam até onde ele passa em sua ronda. Me aproximo por esta sombra até onde ele faz seu vai-e-vem. Ele se aproxima e, ao mesmo tempo, pego o molho do seu cinto de forma suave. Ele nem percebe quando me distancio da tocha e de seu olhar inquisidor. Dirijo-me até o último quarto, que está com os números dois e zero em metal, nesta ordem, e testo chaves para abri-la.

                Catrina está dislumbrante. Sentada está sobre a cama. Usando roupas sensuais, e com duas taças de vinho nas mãos. Ela começa então a falar:

                - Que roupa bonita. Vejo que além de bem vestido está também com o molho do guarda do Lorde Baluarte. Eficiente; pegue uma taça!

                - Obrigado, senhorita! Todo este esforço realizo para ver-te.

                - Encantada. Beba do vinho e vamos nos divertir."

                Desculpe. Não entrarei em detalhes maiores que esses. Apenas devo dizer que ele se apaixonou por uma vagabunda que já fornecera alegria a metade da cidade porque pediram e à outra metade sem pedir mesmo. Devo dizer que Catrina tem várias qualidades. Mas gosto mais de ressaltar seus defeitos porque o Sombra se apaixonara e desviava de sua visão os defeitos de sua paixão.

                Para ele, musa inspiradora. Para mim, mais uma dessas meretrizes que vendem o corpo por moedas para qualquer um. Questão de gosto e visão.


Notas Finais


"Tropeço" é uma gíria local do universo fictício de Sombra que indica uma aventura ou problema.
"Tina" é uma gíria para mentira ou uma armadilha. Como se "não caia nessa tina" fosse "não caia nessa armadilha" ou "não acredite nessa mentira".
Neste mundo, doze moedas de cobre equivalem a uma de prata. E, de igual modo, doze moedas de prata valem uma moeda de ouro.


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