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História O Terceiro Filho - Os negócios da Família Romano (Parte 1)


Escrita por: martellfake

Capítulo 4 - Os negócios da Família Romano (Parte 1)


You could try and take us

But we're the gladiators

Everyone a rager

But secretly they're saviors

Glory and gore go hand in hand

That's why we're making headlines

You could try and take us

But victory's contagious

Glory and Gore - Lorde

 

RODRICK

— É uma história e tanto, senhor Romano — o repórter disse olhando para o gravador, colocado sobre a mesa do meu escritório — O senhor conta que seus avós vieram da Itália sem nenhum dinheiro e agora, aqui estamos, duas gerações depois, em um dos maiores impérios financeiros da Filadélfia, com filiais espalhadas por todo país. Ao que o senhor atribui o sucesso?

— Confiança! Quando meu pai começou a empresa, tínhamos poucos clientes, estes poucos clientes perceberam que podiam confiar no nosso nome e assim, através do trabalho eficiente, nós fomos crescendo — respondi sem muita variação a pergunta feita em praticamente todas as entrevistas.

— O senhor acredita que os escândalos pessoais de sua filha e herdeira, Angela Romano podem afetar, de alguma forma, a confiabilidade da empresa?

Eu me ajeitei na cadeira, coloquei a mão no queixo, analisando a figura daquele rapaz. Ele deveria ter a idade de Matthew, não era muito mais velho que isso. Por mais que sua postura estivesse ereta e suas roupas perfeitamente alinhadas, ele parecia desajustado.

 Eu podia notar o jeito que segurava as próprias mãos e em como ficava variando os olhos entre o gravador e meu queixo, nunca focava diretamente em meus olhos, parecia não ter coragem para isso. 

Passe mais de trinta anos de sua vida sendo presidente de uma empresa e decifrará as pessoas com um olhar atento.

— Meu jovem, você já olhou o quadro de ações? As ações da Romano nunca estiveram tão em alta — respondi, evitando entrar na questão pessoal daquela pergunta.

— Mas o senhor não se preocupa com seu legado? O senhor acredita que seus filhos estariam bem preparados para continuar o trabalho da Romano&Sons?

Garoto pertinente, provavelmente teve de decorar uma lista de perguntas e se não as levasse respondidas teria problemas com os editores. Encarei ele de forma séria, sem deixar minha pose se abalar. 

Boa parte do jogo de lidar com a imprensa se resumia em manter-se convicto em suas respostas. Mesmo se estivesse mentindo, é importante sempre aparentar ser sincero.

— Eu tenho três filhos, Angela pode estar passando por um momento difícil, mas sempre se mostrou eficiente no trabalho, sua vida pessoal não importa para os negócios. Stanley, meu filho do meio, conduz a filial de Nova York com a genialidade que eu não tinha na idade dele, sempre com decisões muito pontuais para qualquer problema. Meu terceiro filho, Matthew, acaba de se formar na área de economia e administração, em breve dará seus primeiros passos dentro da Romano e julgando por suas notas e trabalhos na faculdade, será um bom homem de negócios. Meu legado está seguro e eu confio em meus filhos, assim como meu pai confiou em mim e em minha falecida irmã.

Ele rabiscou alguma coisa no bloco de notas e enquanto isso o silêncio se alastrava pela sala. Eu não ficava constrangido com isso, aprendi há muito tempo que o silêncio é uma boa arma se usada corretamente, me mantive confiante, o mesmo eu não podia dizer daquele pobre garoto.

— O senhor tem feito sucesso nas redes sociais, após se pronunciar sobre a sexualidade de seu filho mais novo. Diversos grupos defensores dos direitos LGBT enalteceram sua atitude e seu discurso viralizou. O senhor poderia comentar um pouco sobre este assunto?

Ele estava mesmo me perguntando sobre a sexualidade de Matthew? Isso era real? Aquele garoto trabalhava para uma revista conceituada ou para um tabloide? Eu havia concordado em falar sobre a empresa e a nossa história no mundo dos negócios, não sobre a vida particular de meus filhos.

Era ridículo, mas não inesperado: meus anos de experiência com a mídia diziam que os veículos de comunicação estavam muito mais interessados em assuntos tidos como polêmicos do que no resto. Quando se tratava de alguém de sucesso, o que vendia era aquele tipo de coisa: As situações pessoais que nos tornavam humanos.

Ao menos aquela nota à imprensa lançada há um ano atrás tinha trazido uma boa propaganda para a Romano, e agora, além de parecer um homem bem sucedido, eu era também um bom pai aos olhos dos possíveis clientes.

— Eu realmente sinto muito, por ter de me pronunciar sobre este tipo de assunto em pleno século XXI, nunca precisei falar ao público sobre a vida amorosa de Stanley e Angela, no entanto a sociedade me pressionou a falar sobre a vida de Matthew. Eu não deveria precisar falar sobre isso, pois não há nada de errado em quem ele é, este assunto não deveria ser uma notícia, pois é algo normal.

Acho que ele levou para o pessoal, recebeu como uma alfinetada ou como um soco no estômago, pois ficou completamente desestruturado. Os jovens jornalistas, assim como qualquer um que dá os primeiros passos em uma carreira, geralmente sentem medo dos mais velhos e das pessoas importantes, isso era bom, mas ao mesmo tempo, tinha de medir o desconforto dele.

 Eu precisava passar a impressão de ser um bom homem, alguém com quem se quer tomar um drink depois do expediente, mas ao mesmo tempo, tinha de representar uma figura de poder. É isso que um líder faz em um mundo de finanças.

Você precisa deixar os outros pensarem que o controle está nas mãos certas.

— O senhor já está com quase setenta anos e ainda trabalha diariamente, ainda ocupa o posto de CEO e isso tudo de maneira eficiente e aclamada pelos economistas. O senhor acredita que a experiência trabalha ao seu favor?

Eu precisava ser cuidadoso neste ponto. Se eu falasse que sim, teria novamente, os meus filhos na mira, a credibilidade deles seria colocada em cheque, no entanto, se eu negasse, pareceria um homem presunçoso, com complexo de genialidade.

— Depende, no meu caso, é claro que a experiência ajuda, mas as pessoas são únicas, todas aprendem de formas diferentes e veem o mundo de seus jeitos. Não posso dizer que alguém mais jovem dirigiria a empresa de uma forma pior ou melhor do que eu, pois a situação faz a pessoa.

Eu abri um sorriso simpático. O rapaz pareceu ficar satisfeito e mais tranquilo.

— Obrigado, senhor Romano, é só isso, eu o agradeço pelo tempo, sei como é atarefado — ele disse pegando o gravador e desligando o aparelho.

— Eu que agradeço pelo espaço em sua revista, além do mais, eu gosto de responder as perguntas e contar um pouco a história da minha família, falar sobre o passado sempre é muito agradável. — respondi enquanto apertávamos as mãos, era a hora de parecer simpático, se eu passasse esses ares familiares, aquele rapaz se sentiria mal apenas em pensar em manipular qualquer uma das minhas respostas.

— Obrigado senhor — ele guardou tudo dentro da bolsa e pela primeira vez me encarou de forma direta, sinal de que tudo havia dado certo.

— Escute, quando a edição sair, mande um e-mail avisando. — eu disse antes que ele deixasse a sala — Até mais.

— Até mais, senhor!

Assim que ele entrou no elevador desfiz o sorriso e voltei para a papelada sobre a mesa, olhei brevemente para o computador, que atualizava as ações da Romano em tempo real. Comecei a ler alguns documentos e um minuto depois da saída do repórter, ninguém menos que Matthew adentrou a minha sala e sentou-se diante a mesa.

Eu sabia sobre o que ele viera falar: Angie havia bebido na noite anterior e tentara, em vão, ocultar isso de mim se escondendo no apartamento de Matt.

— Como está Luke? Desistindo da ideia absurda de ser professor? — perguntei com ares de brincadeira.

Se Luke tivesse seguido a carreira administrativa agora teria um bom cargo, pois possuía um talento inegável para os números e daria um ótimo contador. Stanley ficaria furioso, mas quem se importa? Eu ainda sou o dono desta empresa, ele ainda é meu filho e meu empregado, nem tão competente como eu gostava de dizer, diga-se de passagem. A verdade é que sempre me ligava em tardes difíceis perguntando que passos deveria seguir.

Angie era diferente, ela sim era uma verdadeira mulher de negócios, ninguém nunca ganhava dela, ninguém nunca parecia eficiente o suficiente para supera-la, era lógica e precisa, pensava no melhor para os negócios, mas apagava tudo isso com muitos escândalos derivados de suas constantes bebedeiras.

Matthew, bom, ele era inteligente, mas nada astuto, caía uma, duas vezes e só conseguia aprender no terceiro tombo. Se eu confiava que meu legado estava a salvo com aqueles três? 

Claro que não!

 Mas, era o que eu tinha, e graças a Deus eu não ia precisar limpar a merda de ninguém depois de morto. A partir do momento em que eu morresse, que os vivos se virassem com o que tinham e meus filhos não podiam reclamar de nada, pois oportunidades não lhes faltam. 

Se fizerem tudo direito, quando chegarem a minha idade terão feito o que eu fiz: Dobrado a merda da fortuna da família.

— Luke está bem, e ele não vai desistir, ele não nasceu para trabalhar em um escritório — respondeu.

Ahh, o ingênuo Matthew, ninguém nasce para trabalhar em um escritório, as pessoas nascem para ser astronautas, artistas, rockstars, ou qualquer porcaria que se sonha na infância. O problema é que não há muitas vagas de emprego para astronautas, artistas morrem de fome e os rockstars ficam velhos ou morrem de overdose. Quando a realidade descarta estas opções das mentes infantis, nos sobra os caminhos mais óbvios, aqueles que nossos pais percorreram. A maioria acaba de forma convencional, sentado atrás de uma mesa. 

A sorte dos meus filhos era que os escritórios deles ficariam nos andares mais altos do prédio.

— Eu soube sobre o que aconteceu ontem à noite, o motorista me ligou — entrei no assunto, pois precisava terminar de ler a papelada em cima da minha mesa e queria resolver todos os problemas familiares logo, era melhor do que não conseguir se concentrar e ficar remoendo preocupações pessoais.

— A situação é preocupante, eu pude jurar que ela iria entrar em coma alcoólico de novo, o senhor ouviu o que os médicos disseram da última vez, se ela não parar...

— Eu sei, eu sei, Matthew, e é por isso que eu paguei a melhor clínica de reabilitação dos Estados Unidos para a sua irmã. — respondi em meio a um suspiro, desviando o olhar do garoto e focando na paisagem panorâmica da cidade.

— Pensei em falar com o Carter, ele não precisa saber que ela bebeu de novo, eu posso tentar convence-lo a deixar as gêmeas passarem uma temporada com Angie, acho que se as filhas dela estiverem por perto, as coisas melhoram um pouco, ela vai ter motivos para seguir o tratamento. — ele falava com os ares preocupados.

Era de suma importância que minhas netas estivessem na festa de Halloween, a imprensa notaria se elas não estivessem lá. 

— Você está completamente certo, filho — respondi, pois ele estava, ainda que pelos motivos errados — Sua irmã precisa das filhas e nós daremos um jeito de consegui-las por alguns meses, eu mesmo sinto falta delas em casa.

Sentia de verdade. Minhas três netas, as duas filhas de Angie e a filha de Stanley, eram as vezes, mais perspicazes que muitos de meus empregados. Além do mais, dê netos a um homem e veja como ele se torna um grande velho sentimental que faz de tudo para mimar as crianças.

— Então, eu entrarei em contato com Carter — disse Matthew.

— Deixa que eu faço isso!

Eu não colocaria um assunto tão importante nas mãos dele. Matthew ainda não sabia convencer nem mesmo o mais idiota dos homens, quem dera conseguir alguma coisa do astuto e oportunista Carter Carraway.

Nunca dei nenhuma credibilidade a Carter: Um grande idiota que chegou na família com toda a politesse, paparicando todo mundo, agindo como um perfeito cavalheiro inglês. Heroico e destemido. Não era como Luke, não, não, Luke tinha os pontos fracos estampados na cara de garoto que recém tinha saído da adolescência e sua presença entre nós era uma faca de dois gumes: Era ótimo tê-lo do nosso lado, poderíamos facilmente molda-lo como quiséssemos, a única coisa que não podíamos, era deixar que as mãos erradas tocassem naquelas fraquezas expostas.

— É nossa última opção, conversarei com Angie quando eu chegar em casa, não quero manda-la de novo para reabilitação, é terrível deixa-la lá, trancafiada. Ela é uma mente brilhante que deveria estar sentada aqui, no meu lugar e estaria se não fossem todos esses problemas. — eu disse encarando Matthew e observando ele assentir as minhas palavras com um prolongado e distraído aceno de cabeça.

Sua mão estava apoiando seu queixo e pela primeira vez, notei aquele círculo dourado contornando o dedo anelar esquerdo. 

Era só o que me faltava, ele tinha casado! 

Por todos os Deuses, diga que assinou um contrato pré-nupcial.

— Está usando aliança? — eu estreitei um pouco as sobrancelhas, tentando averiguar a situação da melhor forma possível.

Matthew acordou daquele estado de transe e estendeu um pouco a mão olhando para o objeto em seu dedo.

— Sim, eu e Luke, nós decidimos nos casar!

Seu desgraçado, diga que assinou a merda de um acordo pré-nupcial.

— E que tipo de filho não convida o pai para o próprio casamento? Sério Matthew, nenhuma festa, nenhum jantar, nada? — perguntei me esforçando ao máximo para conter toda a vontade que eu tinha de esganar e gritar com aquele imbecil.

— Luke não gosta dessas coisas — ele respondeu — na verdade não foi um casamento legal, nós só trocamos as alianças, sem nenhuma testemunha, sem papéis.

Obrigado universo! 

Não consegui evitar o suspiro aliviado. Era só o sentimentalismo de Matt, nada que eu precisasse me preocupar por enquanto.

— Precisamos fazer um jantar para comemorar. Sei que Luke, mas seria uma reunião de família, nada mais. Podemos fazer isso depois da festa de Halloween, e aliás, precisamos discutir isso logo. — disse aproveitando a deixa para entrar em um assunto importante.

 



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