História O Último Reino Antes do Fim - Ato 12 - A Hime e a Sombra

O Último Reino Antes do Fim

Escrito por: Cherry_hi

Revisado por: Yoruki Hiiragizawa

Ato 12 - A Hime e a Sombra

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Como prometido, cerca de 15 minutos depois, os três adolescentes chegaram com segurança nas imediações do Fundamental 3. A Hime orientou-os a entrarem em um dos inúmeros bosques que ladeavam a escola. Embora já estivesse se sentindo bem melhor, Kurōkami-senpai continuava carregando-a. Ela já havia se oferecido três vezes para andar, mas ele havia negado. Bem verdade que ela podia insistir, mas gostava da sensação de estar tão perto dele e escutar seu coração batendo.

Embora ela estivesse toda suja de sangue, sendo carregada pelo Presidente do Conselho estudantil e segurando uma espada, as poucas pessoas pelas quais eles passaram não pareceram se importar. Na verdade, nem pareciam ter visto aquele estranho grupo.

- Do que vocês nos disfarçou hoje, Illusion? - Naoko perguntou a borboleta em seu ombro. Segundos depois, deu uma risadinha - Como a Kurokawa-sensei carregando um monte de livros sobre dieta? Que malvado…

- Não é hora para ficar brincando, Yanagisawa! - Kurōkami-senpai falou bruscamente, finalmente largando a Hime e colocando-a gentilmente em um tronco caído. - Precisamos achar os outros Conselheiros!

- Isso não vai ser problema. Illusion pode chamá-los…

- Não… eu posso chamá-los. - a HIme falou, com a voz mais firme - E o Kero-chan também. E depois…

- Depois vocês precisam sair da cidade. Imediatamente. - O rapaz falou, devagar e sem tirar os olhos dela. A Hime sentiu um nó na boca do estômago

- Sim… precisamos.  Só que antes preciso recuperar minha chave! - Ela gemeu, colocando as mãos no rosto - Infelizmente, eles tiraram ela de mim.

- Ah!! - Naoko falou, um pouco alto demais, assustando-a - Desculpe, acabei me esquecendo no calor do momento, mas… - Ela tirou do bolso da saia a correntinha dourada com a chave - Illusion pegou-a no meio da confusão e entregou a mim. Toma.

Foi com uma enxurrada de alívio que a Hime pegou sua correntinha.

- Muito obrigada! Com isso consigo chamar Flower. Mas ainda precisarei chamar Glow, Watery, Kero e Tomoyo.

- Eu e Illusion vamos vigiar o bosque. Kurōkami-senpai…

- Eu vou ficar com ela! - Ele a cortou, sem desviar os olhos da Hime. Por isso não viu o olhar curioso que a moça de óculos lhe deu.

- Tudo bem, então… hã…

Ela pareceu desistir do que ela ia falar e desapareceu entre as árvores.

- Não precisava ser tão duro com ela. - A Hime o repreendeu, suavemente.

- Posso me dar o direito de estar nervoso e agitado depois dessa sequência de acontecimentos dramáticos. Quando olhei você caída no chão, achei… - Ele segurou suas mãos com força e isso foi muito mais significativos que qualquer palavra.

- Eu sei. Mas estou bem agora. Foi o esforço… e a situação toda - Ela lembrou-se de Nara-san e estremeceu sem querer. Falou, mais para si mesma que para ele - Vou ficar bem!

- Sei que vai. Você é a Hime-sama, no final das contas. - Havia algo em seu olhar que deixou-a agitada e a fez lembrar da última conversa que haviam tido…

- Kurōkami-senpai… sobre o que aconteceu na terça… eu… eu não quero que você pense que… que eu não queria ter algo com você porque sou a princesa. - Ela sentiu a boca seca enquanto tentava encontrar as palavras certas para se explicar - Eu… sabia que seria doloroso para nós dois. Porque com tantos problemas com os quais preciso lidar e com essa incerteza das coisas que estão acontecendo… e que vão acontecer… eu…

- Atualmente, você não tem espaço na sua vida para se envolver… com quem quer que seja. - Ele completou calmamente por ela.

- Sim. Não tem nada a ver com o fato de você ser um súdito e eu a princesa. - Ela levou uma das mãos até o rosto dele, carinhosamente - Eu… - Ela sentiu suas bochechas ficarem vermelhas e limpou a garganta - Eu também gosto de você.

Ele sorriu, com ternura, mas havia também uma certa melancolia ali.

- Eu nunca vou esquecer você. Nunca!

- Também não vou esquecê-lo… - ela piscou, aturdida. Por um brevíssimo instante, os olhos do rapaz mudaram de cor, ficando mais escuros.

- Está tudo bem? - Ele perguntou, franzindo o cenho.

- Sim… eu… achei ter visto… ah! - Ela disfarçou, dando uma risadinha nervosa - Ainda devo estar um pouco cansada.

- Tem certeza?

- Sim, sim… mas... - Ela suspirou - Preciso chamar os outros. Ainda bem que Flower é bem fácil.

A Hime simplesmente puxou a flor presa na chave. As pétalas brilharam e desapareceram. Em questão de segundos, eles ouviram um som baixo e um tremor leve, que foi aumentando até que, na frente deles, uma planta enorme e florida germinou da terra e tomou a forma de Flower.

- Hime-sama!!! - Ela quase infartou quando o viu sangue nas roupas da moça - O que houve?? Está ferida?? De quem é esse sangue todo??

- Calma, Flower. Eu estou bem.

- Mas o que aconteceu???

- Eu… eu vou explicar quando todos estiverem aqui.

A Hime sabia que Flower não sossegaria enquanto não descobrisse o que acontecera por isso agradeceu quando Kurōkami-senpai se interpôs.

- Ela está bem. Deixe a Hime-sama fazer o que precisa.

A garota fechou os olhos. Logo localizou Watery entediada em suas aulas e a chamou:

- Watery… preciso que você venha me encontrar…

Imediatamente a aura azul da Conselheira ficou em alerta e ela sentia a pergunta sendo formulada…

- Onde?!

- No bosque atrás do Fundamental Três. Saia com descrição da aula.

Ainda viu brevemente Watery levantar a mão para a professora antes de procurar a aura esverdeada de Glow, bem mais perto. Pediu a mesma coisa para a Conselheira do Brilho.

- Muito bem… agora faltam Kero-chan e Tomoyo.

Pensou na personalidade simpática, alegre e comilona de Kero, localizando-o no dormitório delas e ela teve uma grande surpresa ao visualizar a figura pequena e engraçadinha do guardião, pois em vez de ter uma luz cálida, que iluminava apenas os objetos e lugares mais próximos, o guardião possuía um brilho tão grande que iluminava tudo com uma luz dourada, intensa, como se todos objetos, paredes, teto e chão fossem feitos de ouro.

- Caramba! - Ela não conseguiu segurar o espanto.

- Ele é, afinal, um dos guardiões, que possui luz própria. É Extremamente poderoso. - Sword ainda estava em contato direto com a Hime por isso conseguia ver e sentir o que ela via e sentia.

- Agora eu entendo porque vocês ficam perguntando pra ele porque ele está nessa forma… - ela murmurou, ainda impressionada - Realmente, tanto poder não combina com esse ser fofinho que ele é agora....

- Hime-sama… termine o que você estava fazendo. - Flower pediu, um tanto nervosa - Não podemos nos demorar!

A Hime se concentrou outra vez em Kero e o chamou:

- Kero-chan… Me escute… precisamos ir embora de Seitomura. Encontre-me no bosque atrás do Fundamental Três.

Quando ficou segura que o guardião havia entendido sua mensagem, ela continuou de olhos fechados para procurar Tomoyo. Pensando na personalidade doce da amiga e em sua grande tenacidade em observar as coisas… e não a encontrou a princípio. Franziu a testa, esforçando-se. Ela deveria estar na sala de aula, onde ela em teoria conseguiria alcançar. Mas ela parecia não estar lá.

- Eu… não estou achando a Tomoyo! - Ela começou a ficar nervosa.

- Fique calma. - Kurōkami-senpai apertou levemente sua mão e, embora ainda mantivesse os olhos fechados, sabia que ele estava olhando diretamente para ela - Eu sei que você consegue.

Ela queria abrir os olhos, queria falar com sua voz trêmula que não conseguia, mas algo na força e calor daquelas mãos na sua a fazia pensar que era possível sim! Engolido o medo, ela tentou outra vez. E teve uma súbita ideia. Pensou em Yusa-chan, a primeira amiga que fizeram na escola, que sentava ao seu lado na sala. Em questão de segundos localizou a figura esguia e de cabelos rebeldes da moça, irradiando uma luz fraquinha, branca e quase fria. A luz refletia a forma de uma carteira vazia a sua direita e três formas humanas a sua frente, a suas costas e a sua esquerda. Ela franziu a testa, lembrando-se que quem sentava atrás de Yusa-chan era um rapaz gordinho que usava óculos. Lembrava-se claramente que ele lhe emprestara o livro de matemática e lhe explicara alguns cálculos um dia. Era uma pessoa boa e muito inteligente. Então, ele “acendeu” na escuridão, brilhando com a mesma luminosidade branca e cálida de Yusa-chan.

Ela apertou sem querer a mão de Kurōkami-senpai, esforçando-se para manter a concentração enquanto mantinha tanto Yusa-chan quanto o garoto “acesos” na escuridão, iluminando melhor a carteira em que a Hime costumava sentar na aula. Mas ainda não era suficiente. Então pensou na pessoa que sentava atrás dela na aula e ao lado do rapaz inteligente. Era um outro garoto, Muito alto, de bonitos cabelos pretos encaracolados. Ele tinha algumas sardas no nariz e costumava contar piadas muito boas. Alegre, simpático… e ele também irrompeu no negrume da sala de aula, iluminando ainda mais a carteira da Hime e um pedacinho da de Tomoyo… mas ainda assim, não era suficiente: precisava da luz da carteira diretamente atrás da de Tomoyo...

- Mais… uma… - a Hime grunhiu, apertando tanto a mão de Kurōkami-senpai e o cabo de Sword que ela chegava a tremer.

Pensou na garota gentil e comilona que sempre lhe oferecia comida no almoço e que gostava de conversar com Tomoyo nos intervalos das aulas sobre moda. A luz dela finalmente se acendeu na escuridão, por apenas alguns segundos, mas o suficiente para constatar, com horror, a sua suspeita: a carteira de Tomoyo estava vazia!

Ela abriu os olhos e respirou como se estivesse emergindo de um lago após ficar muito tempo mergulhando, pálida e trêmula.

- Ela… não está na sala. Não está… no quarto… Eu acho… que eles a levaram.

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A Hime precisou de mais uns 15 minutos para poder se recuperar das sua incursão por Tomoyo e até lá, Kero e Watery também haviam se reunido no bosque. Quando finalmente contou tudo o que havia acontecido, as Conselheiras e o guardião exibiam os mais variados graus de terror e nervosismo em seus rostos.

- Parece que não podemos deixá-la sozinha mesmo, no fim das contas!! - Watery quase berrou. - Foi só o Kerberus sair e você já foi se aventurar por onde não devia!

- Eu não estava sozinha!! - A Hime argumentou, aborrecida - Sword estava o tempo todo comigo!

- Mas Sword, ao contrário de nós, é bem inútil quando não está em suas mãos. Desculpe por isso, Sword-kun! - Glow rebateu, olhando para a arma.

- Até Kerberus seria mais útil que ele nessa ocasião!! - Flower completou.

- Estou vendo que sempre sou subestimado nesse grupo… - O guardião resmungou - Mas tenho que concordar: No que você estava pensando??!!

- Eu não esperava ser atacada por ninguém!! - A Hime explodiu, exasperada (e um pouco envergonhada) - Só queria encontrar Illusion e não pensei direito no que estava fazendo!

Ela tentou se levantar, mas Kurōkami-senpai, que não havia saído um minuto do seu lado, não permitiu.

- Calma aí, Hime-sama. Não quero que você desmaie de novo. E seus Conselheiros têm razão - Um enorme sulco apareceu entre suas sobrancelhas grossas - Foi extremamente imprudente de sua parte sair virtualmente sozinha.

- Até você, Kurōkami-senpai?! - Ela falou como se estivesse sendo mortalmente traída. - Eu já disse… não pensei nisso na hora! E do que adiantaria?! Eles mesmo falaram que se eu tivesse demorado mais um pouco, eles teriam invadido o meu quarto!!

- Mas…

- Eu já estou me sentindo culpada o suficiente porque, por minha causa, Tomoyo-chan foi pega!! Não preciso de mais recriminações!!

Todos ficaram calados, embora claramente se via em suas expressões que ainda havia muito a ser dito.

- Isso já passou. - Naoko, que estivera calada num canto o tempo todo, falou de repente - Precisamos nos focar em encontrar Tomoyo-chan e depois fazer com que a Hime saia da cidade em segredo e em segurança.

- Como faremos isso? - Glow perguntou, preocupada - Nem sabemos por onde começar e a Hime não está conseguindo localizar Tomoyo-chan!

- Eu tenho uma boa ideia de para onde a levaram. - Continuou a garota de óculos - De acordo com o que Illusion me contou, Shadow tomaria a forma de uma pessoa importante, de alto escalão.

- É verdade. Shadow sempre foi muito orgulhoso de sua posição e muito ambicioso - Confirmou Watery.

- Então com certeza ele está na forma do diretor do Colegial 2. Quando fui tentar confirmar minhas suspeitas, fui pega pelo maldito e suspensa.

- Você teve sorte que ele não tentou roubar sua sombra. - Argumentou Kero.

- Não foi sorte. Desde que comecei a ajudar Illusion, ele tem me acobertado e fica muito difícil qualquer um me localizar. Vai ser assim que conseguirei ir no dormitório da Hime e pegar qualquer coisa que ela queira e vai ser assim que todos vocês sairão da cidade.

- Eu nem havia pensado nisso. Em nossas coisas. Será que dará tempo?

- Acho que sim. Vocês ainda precisam resgatar Tomoyo-chan, não é?

- Mas… e se ele tiver roubado a sombra de Tomoyo-chan? - Watery fez a pergunta sinistra, que calou o grupo por vários segundos.

- Acho que não! Quando atacou a Hime no jardim, ele se expôs e todos os Conselheiros conhecem seus métodos. E ele sabe que se roubar a sombra da Tomoyo-chan, não valeria a pena resgatá-la. - Naoko-chan rebateu logicamente.

- Ainda assim, penso se vale a pena. - A Conselheira da água insistiu. Quando olhou a cara que a Hime fazia, apressou-se em explicar. - Não me leve a mal, Hime-sama, mas ele poderia chantageá-la a se entregar em troca da sombra dela. Gosto muito de Tomoyo-chan, mas temos que pensar em sua segurança e de todo o Reino.

- Em outras palavras, vocês estão dispostos a sacrificar minha amiga! - A Hime falou, azeda e Watery se encolheu ligeiramente.

- São só suposições. - Flower apressou-se em dizer, tentando acalmar a situação. - Se Yanagizawa-san está certa, então é possível que Tomoyo esteja na sala do diretor do Colegial 2. Watery, molde sua forma como a de um professor ou qualquer outro funcionário e tente averiguar se a suposição está correta. Enquanto isso, Yanagisawa-san, você poderia ir no quarto da Hime pegar as coisas dela e de Tomoyo? Eu irei ao meu dormitório, ao de Glow e Watery pegar nossas coisas. Glow e Kero, vocês ficam de guarda. - Ela fez surgir uma bonita rosa nas mãos e entregou para a garotinha - Se acontecer algo, puxe as pétalas e estarei aqui em segundos.

A Conselheira das Flores ainda olhou para Kurōkami-senpai como se quisesse falar algo, mas desistiu ao encontrar com olhar determinado do rapaz. Ela deu com os ombros, transformando-se em uma pequena planta florida e eles assistiram a planta decrescer, com a flores transformando-se em botões, depois os galhos encolhendo no caule, que afinou até sumir completamente no solo. Naoko-chan também sumiu entre as árvores, correndo, com a borboleta rosa em seu ombro.

- Bom, vou facilitar minha vida e a de todo mundo nesse momento. - Watery falou, depois de suspirar de frustração.

- O que você vai fazer? - Kero perguntou, desconfiado.

- Farei desabar uma chuva em Seitomura como nunca se viu antes!

- Mas então os alunos irão saber que vocês estão aqui. - Retrucou imediatamente o Presidente do Conselho Estudantil - Só você tem esse poder e todo mundo sabe que você está junto da Hime.

- E qual é o ponto em negar isso? - Watery retrucou, ácida - Nossos inimigos já sabem! A chuva vai desencorajar qualquer um a sair dos prédios e farei durar alguns dias, o que pode levá-los a pensarem que ainda estamos na cidade, o que nos dará alguns dias de vantagem!

Ninguém falou nada depois disso e, voltando a sua forma verdadeira, Watery brilhou intensamente, parecendo muito concentrada enquanto erguia as mãos para o céu. Imediatamente, ele se encheu de pesadas nuvens negras, que se remexiam muito rápido e os primeiros pingos d’água começaram a cair imediatamente. Momentos depois, caía um aguaceiro que deixou todo mundo encharcado em segundos. Watery se mesclou com água da chuva e também desapareceu.

- Ela podia ter poupado essa área para podermos ficar secos. - Resmungou Kero, tentando se abrigar embaixo das árvores

- Ia chamar muita atenção se só uma área da cidade ficasse sem chuva. - Argumentou Kurōkami-senpai - Você deveria ter pensado nisso, sendo o guardião da Hime.

- Cala a boca, moleque insolente. - O guardião retrucou, irritado - E se a Hime ficar doente?!

- Tenho certeza que você estava pensando só em sua pelúcia molhada quando falou isso. - O rapaz volveu, tranquilo, o que só serviu pra deixar o guardião mais irritado.

Glow tiritava de frio. Voltou a sua forma verdadeira, indo rapidamente até a copa de uma das maiores árvores ali. Quando voltou, estava enrolada em uma grande folha, como uma manta. A Hime sentiu então um peso extra nos seus ombros e viu que Kurōkami-senpai havia tirado o casaco dele e posto nos seus ombros. Imediatamente, ela ficou vermelha como um pimentão.

- Ah, não precisa… estou bem… isso não vai evitar que eu me molhe mais do que já estou.

- Mas a protege do frio.

- E você?

- Você é mais importante do que eu. - Ele respondeu. Ele viu o expressão frustrada o rosto da moça adquiriu e completou, com suavidade. - E não é porque você é a Hime.

- Ah, que lindo! - Falou Glow, com os olhos brilhantes

- Não é lindo, Glow! - A Hime reclamou, muito embaraçada. Ela tentou tirar o casaco, mas ele não deixou. - Não quero que você fique doente por minha causa!!

- Mesmo se você tirar, eu não vou usar! - Ele falou com um sorrisinho matreiro.

- Ouw…!

- Quieta, Glow!

Ficaram em um silêncio desconfortável até que Flower reaparecesse no bosque, carregando três mochilas.

- Caramba, qual a ideia de Watery? Afogar a cidade?? - Então viu a situação em que estavam a Hime e os outros. com um movimento das mãos, fez surgir um abrigo de flores coloridas

- Obrigada, Flower! - Glow agradeceu a moça ruiva. - Pegou tudo?

- Creio que sim. Agora, só nos resta esperar pela Yanagizawa-san e por Watery.

Cinco minutos depois, Watery surgiu vinda sabe-se lá de onde.

- A garota estava certa: Tomoyo-chan está na sala do diretor. Mas… não deu para ver se ela ainda tinha sombra.

- Antes de qualquer coisa, será que você pode nos secar, Watery? - Pediu Glow, ainda tremendo de frio.

A Conselheira da Água fez um gesto com a mão e de repente a Hime, Kurōkami-senpai, Glow, Kero e Flower estavam completamente secos embaixo do abrigo de rosas.

- Mas ela parecia bem? - A Hime perguntou, preocupada.

- Pelo o que eu vi, ela estava inteira. - A garota cruzou os braços - Mas toda essa situação é absurda e ainda acho que…

- NEM PENSE em dizer que não vamos resgatá-la!! - A Hime a cortou, olhando duramente para Watery. - Ela faria o mesmo por você e eu também!!

- Mas aí que está o problema, Hime-sama! - A voz de Watery derramava frustração. - eu NÃO quero que você me resgate se eu for pega! Eu quero que você FUJA! A gente vive dizendo isso para você e parece que não entra na sua cabeça!!

A Hime se levantou, possessa.

- Se eu tiver uma chance de salvar meus amigos, eu farei isso!

- É justamente essa atitude que Phobos espera e por isso sabe como montar suas armadilhas!

- Mas se não for assim, ele vai dar um jeito de achar outras maneiras de tentar me pegar!! Eu não quero mais discutir isso! Com nenhuma de vocês! Vamos esperar Naoko-chan chegar! - Ela viu Watery e Flower abrirem a boca para protestar - Em silêncio! É uma ordem!!!

Seguiu-se um silêncio amuado quebrado apenas pela chuva intensa e pelos muxoxos de Watery e suspiros Flower e Glow. Felizmente, poucos minutos depois, Naoko-chan voltou com as coisas da Hime e Tomoyo.

- Que clima pesado. - Comentou, olhando para as caras azedas da Hime e de Watery. - O que foi que aconteceu?

- Nada de relevante, Naoko-chan. - A Hime respondeu, tentando sorrir. - Como foi no dormitório?

- Tranquilo, fora o fato que cruzei com alguns alunos muito irritados por causa dessa chuva. Illusion me disfarçou de Kurokawa-sensei então não levantei suspeitas quando entrei no quarto de vocês. Estou vendo que vocês estão secos. Watery-san, poderia me ajudar com isso?

Segundos depois, ela também estava seca.

- Precisamos planejar como faremos esse resgate. - A Hime olhou para Watery e Flower. - E como sairemos da cidade logo depois.

- Essa segunda parte é fácil, porque Seitomura só tem duas entradas e saídas que são os portões norte e sul. - falou Kurōkami-senpai e Naoko-chan concordou com ele - A saída sul vem de Pengiki e Tsukimine. E saída norte leva à  Floresta do Silêncio e a uma pequena vila, Ichigo.

- Sairemos pela sul então… - Ia dizendo Glow, mas Naoko começou a sacudir a cabeça.

- Não! O mais sensato é sair pela norte. Justamente porque a turminha de Phobos espera

que vocês saiam pela saída sul, já que a Floresta do Silêncio é o destino mais improvável para tantos seres mágicos.

Watery e Glow gemeram em protesto, mas Flower apenas franziu a testa e, em seguida, comentou, lentamente:

- Você tem razão… Tsukimine seria o destino mais provável e aposto que teriam um monte desses soldados e pessoas sem sombra na cidade.

- Mas Flower… ficaremos sem magia nem para nos manter direito. - Watery falou, nervosa.

- Não vamos entrar na Floresta. Poderemos ficar alguns dias nessa vila e depois pegarmos outro caminho. Só espero que as pessoas sem sombra nãos nos descubram.

- É uma boa estratégia. -  Enquanto expunha seu raciocínio, Naoko andava de um lado para o outro e a Hime estava quase pedindo que ela parasse quando ela de fato parou. - Sei o que faremos. Eu, juntamente com Illusion, iremos em direção ao portão sul obviamente disfarçados para chamar a atenção deles, enquantos vocês fogem pelo norte.

- Não, Naoko-chan, você não precisa se arriscar. - A Hime protestou imediatamente.

- Não estou me arriscando, só unindo o útil ao agradável.

- O que quer dizer?

- Eles sabem que eu estive ajudando Illusion por um bom tempo. Sabem que eu a ajudei, Hime-sama. Lógico que não posso ficar mais em Seitomura. Preciso fugir.

- E… para onde você vai?

- Por enquanto, para Penginki. Quando a poeira baixar, vou para Kasokuma, que é onde eu moro.

- Mas e seus estudos? - perguntou Glow.

A jovem deu com os ombros, fazendo a borboleta estremecer.

- Enquanto a situação do Reino continuar assim, não dá para pensar em estudar.

- É muito perigoso você ir sozinha. - Kurōkami-senpai observou, franzindo a testa para ela. - Com tantos soldados pelas estradas e pessoas sem sombra, você se tornaria uma presa fácil.

Naoko virou-se muito lentamente para a Hime, que entendeu logo ouviria notícias não muito agradáveis.

- Hime-sama, eu sei que você falou recentemente com Illusion e o convidou para ir com vocês. Mas a verdade é que ele, por enquanto, não pode se juntar a vocês.

- E por que não?? - A voz de Watery estava agressiva.

- Ele gostaria de investigar algumas coisas em Yamamoto e Okiyama.

- Que lugares são esses? - Kero perguntou.

- Okiyama é a grande montanha, o ponto mais alto do Reino. - Respondeu Watery, franzindo a testa. - O que teria de mais importante nesses lugares que a segurança da Hime?

- Vocês já notaram que os dias aqui no Reino são muito mais longos e intensos que as noites? - A garota de óculos perguntou. Embora fosse uma pergunta retórica, a Hime, Kero e Glow acenaram afirmativamente com a cabeça. - Até antes de Phobos aparecer, os dias e as noites tinham exatamente a mesma duração e intensidade, garantido o equilíbrio da fauna e da flora do Reino. Illusion acha, e eu concordo com ele, que Light e Dark estão por trás disso. As duas podem estar sendo controladas por Phobos ou uma delas, ou estarem sendo obrigadas a mudarem o clima e a duração do dia.

- E Iilusion acha que as respostas estão… nessa montanha? - A Hime perguntou, hesitante.

- E em Yamamoto, que é a cidade ao sopé dela…

- Tá, muito bom esse seu trabalho de detetive, Illusion… - Watery cortou a moça repentinamente, muito irritada. - Mas isso não explica porque você não quer proteger a Hime! Logo você, que seria essencial para  disfarçá-la!!

A borboleta voou do ombro de Naoko até chegar bem perto de Watery, então começou a brilhar intensamente. O brilho foi aumentando até ficar numa forma e tamanho humanos. Quando finalmente passou, havia uma segunda Watery parada na frente da primeira. A Watery falsa piscou maliciosamente.

- Talvez não tenha passado por essa sua cabecinha limitada, Watery, que o que preciso fazer pode trazer um grande bem para o Reino e para a Hime. Preocupo-me com a segurança dela também e exatamente por isso não devo ir com vocês. - Ilusion/Watery virou-se para a Hime e sorriu com doçura. - Suas palavras na horta foram essenciais para mim. Tocaram-me e me lembraram do porquê você é tão importante para nós, Hime-sama. E acho que você entende que o que estou fazendo vai ser de grande ajuda no futuro.

Ligeiramente vermelha porque toda a atenção do grupo estava voltada para ela, mas também tocada pelo pequeno discurso de Illusion, ela sorriu e apenas confirmou com a cabeça. Illusion/Watery sorriu e, num movimento rápido e gracioso, passou por detrás de Naoko. Quando reapareceu, estava na forma da garota de óculos.

- Logicamente, iremos nos encontrar de novo. - Illusion/Naoko sorriu amplamente agora. - Naoko e eu vamos esperá-los em Kazokuma. Agora… não temos uma amiga de vocês para salvar?

Isso os trouxe de volta para o problema mais urgente: como fariam isso??

- Se a Kamei-san está mesmo na sala do diretor da escola, - Começou Kurōkami-senpai, pensativo - Eles estão no último andar da escola, numa ala sem salas de aula.

- Fica no mesmo setor da sala Presidência do Conselho estudantil. - A Naoko verdadeira complementou. - E de alguns clubes escolares.

- Isso é bom porque significa que inocentes não vão se machucar. - A Hime complementou, com firmeza, desafiando qualquer um a contrariá-la.

- Mas também é ruim, Hime-sama, porque não teremos como chegarmos de mansinho. - Illusion argumentou, andando calmamente na direção de Kurōkami-senpai. analisou-o por alguns segundos e, num movimento muito fluído e rápido, que ninguém sabia exatamente como aconteceu, O Conselheiro havia se transformado numa cópia perfeita do Presidente do Conselho Estudantil. - Hum… interessante…

- Illusion, pare de fazer gracinhas!!!! - Explodiu Watery, zangada. - Trate com seriedade a situação ou vá embora!! Muito ajuda quem não atrapalha!

- Você continua a mesma, Watery, estressadinha como sempre. Eu tenho um plano que pode dar certo se todos vocês, principalmente você e Glow, ajudarem.

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A Hime andava pelos corredores cheios tentando parecer o mais natural possível, enquanto  desviava-se dos alunos distraídos pelas conversas cujo tema principal era a chuva repentina e violenta que tomava conta da cidade. Ela tentava conter o nervosismo, enquanto o coração batia cada vez mais depressa a cada esquina que virava.

Fazia parte do plano de Illusion parecer que estava sozinha, embora estivesse com Sword em forma de broche em sua lapela. A tensão crescia a cada rosto que olhava com seus olhos arregalados, esperando ver a qualquer momento um rosto desfigurado pelo ódio que finalmente a reconhecesse e tentasse atacá-la, mas não aconteceu nada disso. Quando finalmente alcançou a porta do telhado do Colegial 2, ela deu um profundo suspiro antes de abrí-la.

O barulho da chuva forte batendo no chão de pedra encheu seus ouvidos. Sem hesitar, ela entrou na cortina de água gelada, tão densa que era quase impossível respirar. Caminhou até o meio do telhado, tiritando de frio, olhando ao redor como se procurasse algo embora, na verdade, estivesse esperando. Não foi preciso esperar muito...

- A Princesinha é muito corajosa de voltar sozinha para cá.

Ela se virou e deu de cara com um dos seus captores de algumas horas antes. Ela engoliu seu medo e falou bravamente:

- Estou com Sword e já me basta. - Ele deu um risinho de desprezo que a irritou - Não quero saber de você ou dos seus amiguinhos humanos! Cadê a Tomoyo?!

- Sua bela amiga está aos cuidados de nosso Mestre. - Ele respondeu, calmamente, enquanto dava passos vagarosos na sua direção. - Ele está disposto a trocar a cabeça dela pela sua.

- Não vou negociar com você. - A Hime cruzou os braços, aparentando calma - Quero falar com Shadow.

- Ah… então já sabe que ele está aqui… - A adolescente parecia divertido. - Talvez você seja mais inteligente do que nós pensamos.

- Vocês não tem sombra, então deduzi que Shadow estava por trás disso! - De fato, agora que prestava atenção no rapaz, percebia que ele de fato não tinha sombra.

- Uuuuh! Parabéns, princesinha! - Ele bateu palmas vagarosas. - Se é tão inteligente, sabe que não adianta lutar contra qualquer um de nós.

A Hime Fez Sword ficar em sua forma verdadeira em dois tempos e a apontou diretamente para ele.

- Não foi bem o que aconteceu algumas horas atrás. - Sua voz tremeu  um pouco. A verdade é que não sabia se conseguiria matar qualquer um que fosse humano, mesmo que atentasse contra sua vida, mas precisava cumprir o seu papel - Eu vou repetir: só vou negociar com Shadow.

- Claro… então posso levá-lo até ele…

- Você acha que eu sou burra??!! Se acha que vou entrar na escola com um bando de alunos pelos corredores sem saber distinguir quem é inocente ou inimigo, você está redondamente enganado!

- Não é culpa nossa que sua amiga Watery resolveu fazer esse aguaceiro cair na cidade. Aliás, por onde anda seus amiguinhos traidores?

- Eu não sei. Suponho que devam estar me procurando. - Sua voz tremeu mais um pouco. Odiava mentir.

- Então você não sabe a causa dessa chuvarada.

- Sei, sim. Combinamos que se eu não checasse com Watery, Flower ou Glow em determinados períodos do dia, Watery faria chover para dificultar qualquer possível fuga. Por isso eu sei que eles estão me procurando.

- Interessante… Mas quero saber então por onde você andou escondida e como sabe que sua amiguinha foi sequestrada por nós. Sabemos que não foi até a sala, pois a escola está sendo bem vigiada.

A Hime fez Sword se transformar na comprida lança e a apontou diretamente para o rosto do rapaz. A lâmina brilhante ficou a milímetros da ponta do nariz dele.

- Chega de conversa!!! Traga Shadow aqui ou vou partir você em dois!!

O universitário deu um passo pra trás, sorrindo desagradavelmente.

- Está bem, princesinha. Não precisa ficar nervosa. Imagino que não vá fugir correndo de mim assim que eu virar as costas…

- Você mesmo disse que a escola está sendo vigiada. E eu não vou me arriscar a sair no mar de alunos.

Ele sorriu um pouco mais, deu as costas e sumiu pela porta do telhado. Só então a Hime pôde respirar direito.

- Foi muito bem, Hime-sama. - Sword elogiou. - Agora resta esperar que os outros façam suas partes.

- Esse plano é bem arriscado. Pode dar tanta coisa errado. - Murmurou a Hime, ansiosa.

- É um bom plano. Tenha fé. Zettai Daijoubu Dayo.

A Hime sentiu-se um pouco mais calma, mas essa falsa tranquilidade só durou até uns dez minutos depois, quando a porta do telhado voltou a se abrir e o diretor da escola entrou, seguido pelo universitário de antes, Nana-chan e mais cinco humanos sem sombra que ainda não tinha visto antes, embora todos estivessem com o uniforme do Colegial 2. A Hime engoliu em seco, apertando o cabo de Sword.

- Que exigente você é, Hime. - Falou o diretor. - Mas acho que podemos atender, já que provavelmente este será seu último pedido. Agora, que tal você me dar a chave mágica?

- Não irei fazer isso. - Ela rebateu com a voz mais firme que conseguiu produzir. O diretor deu um sorriso de desprezo.

- Então você não se importa com o que vai acontecer com a sua bela amiguinha… ou com o resto do seu Reino.

- O que… você quer dizer com isso?

- Bom… Phobos não está nem um pouco interessado neste Reino, se você quer saber a verdade.

- Não… não… - A Hime falou, pasma, olhando feio para o diretor - Lógico que ele quer o Reino! Então para que ele estaria atrás da chave??

- Ah, minha pequena princesa ignorante… o que você não sabe é que essa chave guarda um poder muito maior do que você imagina!

- Não… o que… você está… dizendo?

- Basta você saber que, uma vez que em possessão da chave, Phobos não precisa mais deste ou qualquer reino. Mas, se você morrer sem dar trabalho, ele será benevolente e deixará tudo intacto.

A Hime estava chocada. Sempre achara que o objetivo de Phobos fosse tornar-se o Rei do Reino das Flores de Cerejeira. E muito menos imaginara que aquele objeto tão pequeno que carregava no seu pescoço fosse tão poderoso.

- Eu… não… eu não posso fazer isso.

O diretor deu um sorriso cruel antes de dar com os ombros.

- Então começaremos nossas investidas mais… impetuosas. Veja. - Ele fez um gesto amplo, abarcando os outros habitantes de Seitomura ali presentes - Isto aqui foi uma mera experiência bem sucedida que eu e Phobos testamos. Logo, conseguirei roubar a sombra de milhares de pessoas e vai ser muito divertido vê-las matando seus próprios entes queridos… começaremos uma guerra com proporções inigualáveis… e seu Reino será destruído, Hime, de um jeito ou de outro!

A Hime apertou com tanta força o cabo de Sword que seus dedos ficaram brancos. Estava com medo, perplexa, mas, muito além de tudo isso… estava com raiva. Muita raiva.

- Seu grande filho da…!!

- Calma, Hime-sama!! - Sword vibrou com força em sua mão. - Se você ficar com raiva fará exatamente o que ele quer!!

A Hime fez um esforço para engolir todos os palavrões que vinham ao seus lábios e ficou apenas olhando para a cara debochada do diretor.

- Achei que isto seria mais divertido, mas vejo que você se tornou uma pessoa bastante entediante. Entregue logo a chave ou você morrerá lenta e dolorosamente.

- Não.

Assim que a Hime pronunciou sua resposta, os humanos possuídos por Shadow correram para atacá-la. A Hime, deu um passo pra trás, mas respirou fundo, erguendo a espada…

TUM!

Nana-chan, que correu mais rápido que os outros, foi a primeira a bater de cara com a parede invisível. Os outros não tiveram tempo de frear e logo todos estavam estatelados no chão, dois com os narizes sangrando. O diretor da escola pareceu surpreso por um instante, mas logo voltou a sorrir

- Entendi… Watery estava o tempo todo aqui.

A parede invisível ondulou, se desfazendo em seguida e a Conselheira da água apareceu ao lado da Hime.

- Como se fôssemos deixá-la sozinha com você por um instante!!! - Ela declarou, preparando-se para atacá-lo. Mas alguns dos sem sombra já haviam se recuperado e partiram pra cima delas. A Hime se desviou agilmente do primeiro e quase levou um soco do segundo, se não fosse por Watery

- Hime-sama, precisamos atacá-los também!! - Vibrou sword, preocupado.

- Não podemos matá-los! - Ela retrucou, com os olhos cheios de terror ao se lembrar da cabeça sem vida de Nara-san.

- Não vou matá-los! - Ele retrucou. - Confie em mim!! - Insistiu, ao ver mais dois sem sombra se levantarem e se aproximarem da Hime.

Ela engoliu em seco, apenas afirmando com a cabeça. Isso era o suficiente para o Conselheiro. Ele brilhou e esquentou, alongando-se num risco de luz comprido. Quando parou de brilhar, havia se transformado num sólido bastão de luta dourado. O universitário foi o primeiro a levar uma bordoada na altura da cintura, gritando de dor. Outro levou um estocada na barriga, deixando-o sem ar. Havia um terceiro que tentara se aproximar por trás da Hime, mas Watery, atenta, lançou um jato d’água que lhe empurrou até a parede da entrada do telhado.

Foi uma luta rápida, mas violenta, até todos os sem sombras estarem espalhados pelo chão, desmaiados ou sentindo dor demais para se levantarem. Restou apenas o diretor, que observava tudo muito calmamente.

- Bravo, minha querida princesa. Suponho que agora será a minha vez e depois será apenas uma questão de achar sua amiguinha e salvá-la.

- Você vai me dizer isso! - A hime falou, voltando a transformar Sword em espada, aproximando-se dele.

- Uhuhuh… nada de bastões para mim? Então não se importa em machucar seriamente este humano?

A Hime parou, indecisa

- Você não é humano. Está apenas na forma do diretor!

- E como pode ter certeza absoluta disso?

A Hime hesitou, mas Watery respondeu por ela.

- Por mais que Phobos tenha lhe dado poder, Shadow, os Conselheiros se conhecem e sabemos como funcionam os poderes de todos. Então eu sei que você não poderia ser apenas uma marionete controlada a distância. Está agindo com muita liberdade e sabe de muitas coisas para ser um simples possuído. Você é ele.

A boca do homem se tornou um esgar de cinismo.

- Touché, Watery! Muito inteligente da sua parte. - A Conselheira ficou apenas olhando para ele, emburrada. - Mas isso não quer dizer que venceram.

Repentinamente, o corpo do diretor começou a escurecer e se retorcer, alongando-se ligeiramente. as roupas marrons da escola se tornaram negras e os cabelos brancos também. Só a pele que se tornou extremamente branca, como um fantasma. Seu rosto era comprido, com dois grandes olhos cinzentos, nariz reto e boca muito fina e larga. Os ossos salientes da bochecha ficavam quase completamente esticados sob a pele fina. Parecia uma caveira.

Ele fez um gesto com os braços e de seu capuz escuro começaram a surgir manchas negras que se espalharam pelo chão. Elas se levantaram e se contorceram até ficarem em uma forma humanoide um tanto disforme. Então Shadow colocou a mão em um bolso interno e tirou um pequeno frasco roxo, que ela mal viu através da cortina de água. O Conselheiro das sombras jogou o frasco no chão, que quebrou-se e uma substância Roxa e esquisita se espalhou pelos bonecos de sombra e foi absorvida por eles. Cada um brilhou levemente e então, para a sua completa surpresa, eles se transformaram nos soldados com quem já estava acostumada a lutar.

- Então você é o responsável por essas aberrações??? - A voz de Watery mostrava toda a surpresa que sentia.

- São os frutos dos meus primeiros experimentos com Phobos! Soldados de sombra temperados com um pouquinho de miasma, cortesia de nosso querido rei.

- Que vergonha, Shadow!!

- Diga o que quiser, Watery, mas Phobos deixa eu experimentar, ao contrário de certas princesas fracas e sem imaginação! - A boca de Shadow se esticou num sorriso cruel. - Estamos experimentando várias fórmulas diferentes com resultados muito animadores. Vai ser divertido soltá-las por aí, espalhando sombras e destruição.

- Eu não vou deixar!!! - A Hime gritou, já transformando a espada em machado de batalha e partindo pro soldado que estava mais próximo a ela.

Eram sete soldados, mas a Hime estava cada vez mais experiente em batalhas e sua sintonia com Sword era total agora. Também ajudava o fato que o miasma venenosos era contido pela chuva forte que os castigava.

- Não vai ajudá-la, Watery? - Perguntou Shadow, desconfiado. A Conselheira da água apenas cruzou os braços, emburrada.

- Esses seus soldados não são páreo pra ela. Além disso, ela precisa se defender sozinha. Estou aqui pra garantir que você não fuja ou tente algum truque sujo.

Shadow apenas deu um sorriso de desprezo. De fato, a Hime explodiu o último soldado, arfando. Estava começando a se cansar.

- É a sua vez, Shadow.

- Acha mesmo que vou me dignar a lutar contra você? Não sou um lutador, sou um articulador e estrategista, que fica por trás das cortinas do espetáculo.

- Então entregue-se a nós, Shadow e não vamos machucá-lo.

Ele jogou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada

- Ah, minha princesinha ingênua. Não ache que sou burro o bastante pra cair nessa sua conversinha fiada. Sei que você está tentando ganhar tempo para seus amiguinhos salvarem sua amiga. Pois que tentem. Mesmo que consigam passar pelo meu pequeno exército humano, vocês não vão conseguir deixar essa cidade. Agora mesmo, um grande exército está se movendo pra cá para capturá-la, Hime. Eu que estou ganhando tempo e daqui a pouco estarão a porta de Seitomura!!

A Hime e Watery se entreolharam e quase imperceptivelmente a Hime balançou a cabeça afirmativamente. Watery então virou água e sumiu em meio a chuva.

- Não adianta tentar chamar seus amigos. - Ele falou, de um jeito lento e arrastado que a irritava. - Esconder-se também vai ser inútil.

- É sua última chance, Shadow! entregue-se ou faremos você se entregar!! - A Hime falou, enérgica.

O sorriso de Shadow vacilou outra vez.

- Não vou me entregar, sua princesinha faju-

- AGORA WATERY!!!!!!

De repente parou de chover e o céu se abriu num círculo perfeito em cima de Shadow, que gritou e tentou se proteger. O dia brilhava com força e a luz foi demais pro Conselheiro traidor. Uma fumaça começou a sair de suas roupas. Ele tentou correr para fora do círculo, mas Watery agiu de novo, criando uma uma parede sólida de água que corria no sentido anti-horário, indo até uma altura considerável no céu. Pareciam que estavam no olho de um furacão.

- Até parece que isso vai me prender!! - Ele gritou, enfurecido e sua pele começou a escurecer, até ficar da cor do seu manto. Logo ele era apenas uma massa negra de sombra na forma de um humano muito alto. Ele se moveu para a parede de água, pronto para atravessá-la.

Mas ele não tinha visto ainda Glow, que ficara o tempo todo escondida no telhado. Rápida, ela fez dezenas de bolas de luzes surgirem e se fixarem na parede de água, que refletia a luz e girava extremamente depressa, iluminando mais ainda o telhado e criando uma prisão intransponível para o ser feito de sombra.

- Como falei antes, conhecemos todos os segredos e truques sujos dos outros Conselheiros. Você não gosta de luz, precisa dela pra existir, mas não pode se esconder nem fugir exposto a tanta assim, de uma vez.. - Explicou Watery, calmamente. - Seria muito mais efeitvo se Light estivesse conosco, mas Glow está se esforçando.

- Nosso objetivo aqui não era só resgatar Tomoyo-chan, mas também pegar você. - Completou a Hime, se aproximando cautelosamente. - Watery e Glow estavam guardando suas energias para este momento.

E o que você vai fazer, princesinha?? Matar-me?! - Ele perguntou, após voltar a ficar pálido e sólido.

- Não. Nunca mataria nenhum dos meus Conselheiros, por mais mal intencionados que eles sejam. - A Hime fechou os olhos, concentrando-se. - Mas tornou-se imperativo deter você. E farei isso retirando os seus poderes.

Shadow gritou alguma coisa, mas a Hime já estava além de qualquer conversa, realizando a Abstração. De qualquer forma, sabia que Watery e Glow a defenderiam caso ele tentasse atacá-la. O círculo mágico surgiu muito rápido a seus pés, criando um vento poderoso que circulava na mesma velocidade da parede de água.

A Hime visualizou a aura cinza escura e brilhante de Shadow e começou a enfraquecê-lo, reivindicando a magia que ele usava e que era sua. Era uma mistura de sombras, formas, espectros, que eram parte dele e a sua energia, de partículas douradas, que o alimentava.  

Estava quase o enfraquecendo por completo quando sentiu algo diferente. Ali dentro, escondido no âmago mais íntimo do Conselheiro, havia uma energia desconhecida. Era densa e venenosa, de um roxo escuro e brilhante, que conflitava com a sua própria magia. Estava cravada nele como raízes de uma planta parasita, enterradas bem fundo em seu coração. Quando a Hime tentou tirar aquela magia dele, sentiu uma dor excruciante por todo o seu corpo, como se tivesse sendo empalada por mil agulhas.

Ela deu um grito agudo que ecoou horrivelmente pelo pátio e a última coisa que se lembrou era ouvir as vozes alarmadas de Glow e Watery antes de desmaiar.

(continua)