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História O Vendedor de Bananas - Capítulo Único


Escrita por: MiguelSalieri

Capítulo 1 - Capítulo Único


— Olha a banana! - Gritava o moço no meio da feira. - Banana nanica, banana prata, banana caixão! Uma palma três reais.

Uma das pessoas que por ali perambulava naquela movimentada feira parou por um segundo para observar o vendedor de bananas que anunciava seus produtos por detrás de uma barraquinha.

— Eita palma cara da moléstia. - Queixou-se a mulher. Ela carregava duas sacolinhas de outras tendas, laranjas e maçãs. Ao seu lado uma menininha, por volta dos sete, que com grandes olhos admirava aquilo tudo sem entender nada. - Tá vendendo ouro é?

— Oh minha senhora, é cara, mas é a melhor da região. - Argumentou logo ele. - Pode rodar essa feira inteira que não vai achar mais barato, e nem melhor.

A mulher não pareceu se convencer. Catou a menina pelo braço e saiu, balbuciando palavras que o bananeiro só conseguiu entender como: "cara demais"

Ele nada podia fazer, já as comprava por 2,50, vítima de insetos que acabaram com boa parte das plantações. Nem bananas mais estavam a preço de bananas, esta era a condição do mundo em que ele se encontrava. Dependia do mundo para poder sobreviver. Mas como todo brasileiro que se preze não se entregava a própria sorte e debaixo de sol anunciava seu produto com eloquência. 

A feira era uma competição amigável. Todos tentavam atrair todos, e ao mesmo tempo todos, de certo modo ganhavam. O vendedor de bananas as vezes se cansava, mas não parava por nada. Ele não tinha sonhos, nem esperanças. Nada em que se agarrar. Acreditava em Deus, mas achava que deus não acreditava nele. Não queria ser rico, ter casa própria - Sua casa, embora pequena, já era suficiente.

Ele trabalhava porque tinha responsabilidade. Ora, era um homem e é a função do homem prover. Sua mulher grávida do segundo filho era sua única alegria. Por que ele sabia que quando chegasse em casa teria a janta pronta e seria feita com carinho. Seu filho... era um moleque travesso. Mas já estava mais longe na escola do que ele jamais estivera. Ele sabia ler mal, seu filho também, porém já era um avanço, pensava ele. Não sabia se era feliz, não sabia se era triste. Não tinha tempo para pensar em coisas assim. Se regojizava na sua casa, quando assistia o telejornal. Não o da globo, onde apenas se falava de políticos e todas essas coisas que, para ele, não interessava. Ele já tava fodido, se o presidente fosse b ou c ele ainda estaria. Não... gostava de ver Marcelo Rezende. Ele via ali gente como ele, histórias mais próximas de sua realidade.

Iria comprar uma panela nova que a senhora sua esposa precisava, e era isso. Este era seu plano para o final de tarde. Sem grandes ambições, mas ele nem ao menos usava essa palavra no dia a dia - Odiava palavras grandes.

Então, naquela tarde, enquanto o sol batia em suas costas, ele atendia a um homem enquanto outro se aproximava. Este era mais esfarrapado, parecia um sem-teto, com cabelo desgrenhado e barba grande. O vendedor apenas observava este homem que não parecia ter direção certa.

Surpreendido, por fim, o vendedor se viu com raiva. O homem surrupiou duas palmas de banana e correu.

O vendedor instantaneamente reagiu. 

— Ei! Pega esse safado! 

O grito do vendedor por fim foi abafado pela multidão. O homem com destreza admirável conseguiu desviar de todos enquanto o vendedor não fora muito longe e decidira desistir.

De volta a sua barraquinha, suado e com raiva, ele tirara o boné da cabeça e começara a se coçar. Neste ponto, seu cliente, que ainda estava ali de pé sorriu.

— O rapaz devia tá morto de fome! - Disse o cliente.

— Isso é vagabundo. Esse tipo de gente que passa o dia na frente de banco mendigando, mas não tem coragem de procurar uma casa para limpar ou uma roupa pra lavar. - Argumentou o vendedor. - Tudo vagabundo.

O cliente não tentou argumentar mais. Ele viu que o vendedor estava exaltado e não podia tirar sua razão. Nem gostaria de discutir com alguém que julgava ignorante - Não há santos nesse mundo. Todo mundo julga todo mundo. - Pagou pela palma que comprou e pelas outras duas que o outro havia roubado.

— Pode ficar. - Ele disse. - São só seis reais.

E ao dizer isso o vendedor notou uma certa nota de menosprezo. O vendedor não contra-argumentou. Naquela noite, ao voltar para casa, levou sua panela nova para sua esposa que o felicitou com beijos e abraços. Jantou e assistiu ao noticiário.

Eis então que seu filho o surpreende com uma dor de cabeça muito forte. Ele não era um alarmista, mas sua mulher era. Ela queria levar seu filho para o hospital, mas ele sabia que era um caso perdido. Não haveria doutores e eles apenas perderiam tempo. Saiu então para comprar um remédio, porém não podia ser qualquer um. Seu filho tinha certas alergias a medicamentes que a doutora havia explicado a eles meses antes no posto de saúde. O medicamente que ele podia tomar era um tanto quanto caro e o genérico também. Saiu de farmácia em farmácia para encontrar o remédio mais barato.

Faltavam-lhe 3 reais para comprar o remédio. Por fim ele pensou... Ah se eu tivesse vendido mais uma palma.

Voltou para casa, consolou seu filho e esperou que enquanto ele dormisse a dor passasse. E dito isto se pôs a dormir também.



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