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História O Vigia - Innocent


Escrita por: lavegass

Notas do Autor


Bom dia!

Capítulo 13 - Innocent


“Wasn't it beautiful when you believed in everything

And everybody believed in you”

 

Sexta-feira, 1 de Janeiro de 2016.

- Aquele esquisito me beijou. – Resmungou Carolina. – E ainda disse que o senhor tinha autorizado. – Completou apontando para mim. Letícia me olhou espantada e disparou a rir.

- Eu não fiz isso. Apenas disse que isso dependia de você e não de mim.

- Mas o papel do Pai é proteger e manter a filha longe de todos os homens.

- Nada disso, eu quero netos e você já tem 19 anos esta passando da hora de arrumar um namorado.

- E supostamente ele deve ser o Omar? – Perguntou. Letícia permanecia em silêncio e parecia se divertir em obsevar aquela conversa.

- Eu gosto dele, mas como eu disse isso depende de você. – Respondi recolhendo as xícaras e as levando para a pia. Carolina bufou e se concentrou em terminar o café da manhã.

- Gabriela pediu para você reservar uma mesa para ela na inauguração do restaurante. – Disse Carolina com a boca cheia. Rapidamente olhei para Letícia certificando-me se estava tudo bem, ao perceber isso ela apenas assentiu sorrindo.

- Tudo bem. Vou colocar o nome dela na lista.

- Ela te procurou para pedir isso pessoalmente, na verdade todo mundo procurou, mas antes mesmo da contagem do ano novo vocês dois desapareceram. – Eu olhei para Letícia e ela sorriu envergonhada, naquela nos noite nos dois resolvemos comemorar o ano novo sozinhos no meu antigo quarto, por sorte a chave estava na porta e família distraída a ponto de não sermos interrompidos e finalizarmos aquele ano da melhor maneira possível. – Ok, eu vi essas carinhas, meu Deus! Como vocês tiveram coragem? Com todo mundo lá! Tem que ter muito fogo. – Completou Carolina nos deixando mais que envergonhados.

...

Sábado, 2 de Janeiro de 2016.

Eu não tinha absolutamente nada para fazer, o restaurante só abriria daqui 11 dias e tudo já estava pronto. Por isso estava disposto a passar o máximo de tempo possível com Letícia, pois sabia que isso seria mais difícil assim que o trabalho começasse e eu pretendia aproveitar nossas “férias”. Para minha sorte Senhor Erasmo já não parecia se importar se estávamos grudados demais ou aonde iríamos e a que horas voltaríamos. As coisas estavam perfeitas demais para sempre reais. E às vezes eu me questionava do que havia feito para merecer tudo isso.

...

Domingo, 3 de Janeiro de 2016.

- Nos temos dez dias para aproveitar. Acho que deveríamos fazer uma lista para nos organizarmos. – Disse Letícia deitando-se no meu colo com um bloquinho de papel e uma caneta em suas mãos.

- Tudo bem. – Falei. – O que você sugere?

- Amanhã poderíamos visitar a minha avó.

- Sim, aproveito e convido-a e o senhor Antônio para a inauguração.

- Ótimo! – Respondeu colocando o primeiro item em sua lista. – E nos próximos oito dias?

- Eu estava pensando nisso e tive uma ideia, mas eu não sei se vai dar certo.

- No que você pensou? – Perguntou ela levantando-se do meu colo.

- A gente podia viajar, eu conheço um ótimo hotel fazendo na cidade vizinha. Passei alguns dias sozinho lá após uma briga feia com a Márcia. É um lugar lindo e muito relaxante. Acho que você iria gostar. E eu gostaria mais ainda de ter a sua companhia.

- O único problema é...

- Eu sei. O seu pai. Mas ele esta bem flexível ultimamente, talvez se pedirmos com jeitinho...

- Você deveria fazer um daqueles bolos que ele gosta hoje e amanhã soltamos a bomba, assim não fica tão na cara que foi só para agradá-lo.

- Tudo bem, mas se vamos à sua avó amanhã e viajar depois da manhã. O que faremos hoje?

- Eu pensei em uma coisa. – Falou com a mão no queixo.

- E o que foi? – Perguntei curiosa.

- Isso. – Respondeu sentando-se em meu colo e me puxando para um beijo devorador. Segurei em sua cintura e beijei o seu pescoço.

- Isso é um bom jeito de passar o dia. – Sussurrei.

- Eu não sei se conseguiremos passar o dia assim, mas podemos tentar.

- Bom, eu sei que eu consigo.

- Então me mostra. – Pediu de forma desafiadora. Levantei-me rapidamente e a segurei subindo as escadas e levando-a até o meu quarto.

...

Segunda-feira, 4 de Janeiro de 2016.

- Seu pai gostou do bolo? – Perguntei enquanto voltávamos da visita a dona Isabela, a qual amou ser convidada para a inauguração.

- Ele amou. Comeu praticamente sozinho.

- Você não quis?

- Eu estava muito cansada quando cheguei em casa, fui direto dormir.

- Agora estou me sentindo culpado. – Brinquei.

- Você não precisa ficar se achando. – Avisou. – Já sabe como vai pedir ao meu pai?

- Pensei que você tinha arrumado um roteiro para facilitar.

- O que? Mas é você quem tem que pedir e não eu.

- Eu sei, mas eu não sei o que dizer. Você sabe que eu tenho medo do eu pai.

- Mas do que de cachorros?

- Muito mais. – Respondi e ela riu. – Você realmente não tem nenhuma dica?

- Você pode mentir.

- Mentir?

- Sim, fala que precisamos viajar para organizar algumas coisas relacionadas ao restaurante.

- Mas não tem nada para organizar.

- Eu sei, por isso será uma mentira.

- Isso não parece certo...

- Mas para ele o que não parece certo é eu e você oito dias sozinhos.

Suspirei pesadamente, Letícia tinha razão, por mais que Erasmo estivesse consideravelmente mais flexível com relação ao nosso namoro ele jamais permitiria uma viagem assim. Eu odiava mentir, era péssimo nisso. Mas mentir para passar um tempo com Letícia valia a pena.

- E o que temos que resolver lá com relação ao restaurante? – Perguntei rendendo-me aquela ideia.

- Eu ouvi falar que aquela cidade é famosa pelos seus queijos. – Respondeu. Sim Letícia já tinha tudo planejado.

...

Já estávamos sentados a um bom tempo naquele sofá conversando com senhor Erasmo e Dona Julieta sobre assuntos aleatórios. Lety sempre me olhava fazendo sinal para que eu dissesse logo. Mas eu não podia porque a coragem ainda não havia alcançado o meu corpo e minhas mãos estavam tremulas. Provavelmente nunca me acostumaria em pedir algo a Erasmo.

- Papai, Fernando quer dizer uma coisa ao senhor. – Falou Letícia. Ela já estava impaciente com a minha demora e resolveu se adiantar.

- O que é? – Perguntou ele. A minha vontade era de negar e cancelar essa viagem, mas ela me matéria se o fizesse. Respirei fundo e sorri. Erasmo levantou as sobrancelhas, provavelmente estava curioso sobre o que eu iria dizer.

- Eu preciso olhar alguns queijos para o restaurante na cidade vizinha. E eu gostaria que Letícia fosse comigo.

- Quando vocês vão? – Perguntou Dona Julieta. Erasmo permanecia em silêncio na espera de minha resposta.

- Amanhã. – Respondi.

- E quanto tempo vão gastar para fazer isso? – questionou ele finalmente.

- Oito dias. – Respondi o que o fez se ajeitar no sofá.

- Vão ficar oito dias olhando queijo? – Perguntou com o tom de voz mais alterado. Eu abri a boca varias vezes e nada saiu, olhei para Letícia que ao contrario de mim parecia estar tranquila.

- Nos queremos conhecer a cidade também. – Disse Lety.

- Não tem nada para conhecer lá.

- É claro que tem, lá tem vários museus e o Fernando adora. – Respondeu ela. Não era verdade, eu não gostava de museus, mas concordei.

- Eu não sei. Não estou gostando nada dessa história.

- Erasmo, por favor, a menina já é bem grandinha e pode sim viajar com o namorado. Você conhece o senhor Fernando. Ele vai cuidar dela.

- O meu medo é que cuide até demais.

- Papai! – Repreendeu Letícia.

- Eu prometo que iremos nos comportar. Apenas quero relaxar antes de começar todo estresse com restaurante. – Expliquei.

- Então por que não vai sozinho?

- Porque todo lugar é melhor com a companhia da sua filha. – Respondi imediatamente. Letícia e Dona Julieta me olharam com ternura.

Erasmo bufou e me lançou um olhar ameaçador, eu continuei o encarando, pois sabia que se desviasse demonstraria fraqueza e isso era o oposto do que eu precisava naquele momento para convencê-lo.

- Vocês podem ir. – Falou ele. Letícia bateu palmas e quando iríamos nos abraçar para comemorar, ele nos interrompeu. – Mas Letícia precisa atender todas as minhas ligações de imediato e eu irei ligar varias vezes em horários variados e se por acaso cair na caixa postal, eu vou atrás de vocês. – Avisou.

- Sim senhor. – Respondi assentindo.

...

Após receber um “Sim” do senhor Erasmo eu corri para fazer as nossas reservas, eu estava com sorte, pois mesmo nessa época do ano eles ainda tinham um quarto desocupado, não era um dos melhores, mas serviria.

Carolina passaria esses dias na casa de meus pais e levaria o Forrest com ela. Combinamos de sair logo pela manhã, por isso arrumei minhas malas e fui direto para a cama. Precisava acordar cedo para me organizar e não poderia atrasar por nada nesse mundo. Não via a hora de ter o meu tempo a sós com Letícia.

...

Terça-feira, 5 de Janeiro de 2016.

Saímos na hora planejada, senhor Erasmo se despediu com um aperto de mão tão apertado que pensei que ficaria incapaz de dirigir depois dele. Letícia estava radiante e mais linda do que o normal.

- Estamos finalmente indo. – Falou enquanto escolhia uma musica na radio.

- Sim nos estamos. – Respondi contente.

- Eu pretendo ficar até de madrugada na piscina no hotel.

- Mas você não vai poder.

- Por que não?

- Porque eu já tenho algo planejado para a gente. – Respondi olhando-a e voltando rapidamente a minha atenção para o transito.

- Posso saber o que é? – Perguntou.

- Não, é surpresa.

- Por favor! – Insistiu. E eu apenas neguei. Amava deixa-la curiosa.

Letícia insistiu durante um tempo, mas logo suspirou em rendição.

Chegamos ao hotel e fomos direto para o nosso quarto guardar as malas. Ele era bem maior do que eu havia imaginado. A cama estava coberta pétalas vermelhas e tinha um vinho ao seu lado. Na recepção nos avisaram que o motivo disso tudo é que a nossa reserva havia sido confundida com a de um casal em lua de mel. Não nos importamos, afinal estávamos em uma lua de mel antes do casamento.

Assim que nos organizamos descemos para explorar o local. Letícia ficou encantada com os lagos e piscinas, me fazendo até mesmo a correr atrás de um esquilo, o qual acabou não se mostrando tão amigável quanto nos filmes.

Já havia escurecido e estávamos exaustos de tanto andar. Seguimos em direção ao nosso quartos e Letícia foi tomar um banho.

- O que eu visto? – Perguntou enquanto se despia na minha frente. Tentei não encara-la muito, afinal eu ainda tinha outros planos para aquela noite.

- Eu não sei.

- Deveria, foi você quem preparou até a surpresa. Preciso ter uma noção do que eu devo vestir. – Disse se aproximando. Eu me levantei e dei um beijo em sua testa. Já estava nervoso, mas precisava me controlar porque aquela não era a hora ideal para isso.

- O que você quiser. Nós não iremos sair do hotel.

Ela me olhou confusa e depois deu de ombros se enrolado na toalha e caminhando em direção ao banheiro.

Enquanto Letícia se banhava eu separei a minha roupa e desci para a recepção do hotel para confirmar se estava tudo certo o que eu havia combinado, eles assentiram e eu pude me tranquilizar.

Quando entrei novamente no quarto, Letícia estava com um roupão em frente ao espelho se maquiando.

- Eu vou tomar meu banho. – Avisei. E ela apenas sorriu concordando.

Tentei ser o mais rápido possível, pois não queria correr o risco de me atrasar, mesmo que eu não tenha marcado nenhum horário. Assim que sai me deparei com Lety sentada na cama. Estava deslumbrante. Ela usava um vestido vermelho um pouco rodado acima dos joelhos e o seu cabelo preso em um coque, assim que notou a minha provável cara de bobo ela sorriu.

- Voc - Você esta linda! – Falei.

- Obrigada. – Respondeu e suas bochechas coraram. – Você também não esta nada mal com essa toalha.

Dessa fui eu a sorrir envergonhado.

- Eu vou tirar isso e colocar algo decente.

Fiquei pronto em menos de cinco minutos e descemos em direção à recepção. Paramos em frente à saída dela.

- O que estamos esperando? – Perguntou Letícia.

- Nosso carro.

- Pensei que não iríamos sair do hotel.

- E não vamos, mas aqui é muito grande e ir andando até o lugar que pretendo leva-la vai ser cansativo.

O carro finalmente chegou, não era bem um carro, mas sim um carrinho que servia apenas para nos levar por todo hotel. Eu e Letícia sentamos atrás e o moço que o trouxe dirigiu levando-nos até a minha surpresa. Havia uma área do hotel a qual eu não levei Lety para conhecer porque fazia parte da minha surpresa. Lá tinha uma cachoeira que naquele momento estava iluminada por varias vê-las. Próxima a ela havia uma mesa com duas cadeiras e um jantar já servido.

- Quando quiserem ir embora é só ligar para a recepção. – Avisou o rapaz, eu assenti e o agradeci logo em seguida, enquanto ajudava Letícia a descer do carrinho. Ela estava boquiaberta observando o local.

- Gostou? – Perguntei assim que ficamos a sós.

- Se eu gostei? Está tudo maravilhoso! Obrigada! Muito obrigada! – Falou puxando-me para um beijo apaixonado.

- Se eu soubesse que ficaria tão agradecida assim teria feito antes. – Falei e acabei levando um soco no braço. – Ai! Já tinha um tempinho que você não fazia isso. – Esfreguei o braço fingindo dor.

- É para você não desacostumar. – Respondeu encaminhando-se em direção à mesa, nos sentamos e ela olhou animada para a comida. – É um dos seus pratos preferidos, não é?

- Sim, e mesmo se não fosse isso está lindo e cheirando muito bem. – Falou dando em seguida sua primeira garfada. – Delicioso também. – Confirmou.

- Melhor que a minha comida?

- Bem... É diferente então não posso comparar.

- Sei. – Respondi desconfiado e ela sorriu.

- Você sabe que você é o melhor para mim em muitas coisas. – Falou segurando minha mão.

- Você também. – Beijei sua mão que estava por cima da minha e peguei a taça a covidando para um brinde. – A inauguração do restaurante, a essa noite maravilhosa e principalmente a nós.

- A nós. – Falou levando sua taça de encontro a minha.

Tivemos um jantar maravilhoso assim como todos os outros. Uma das coisas que eu mais amava em Letícia era o fácil dialogo que tínhamos. Coversávamos sobre absolutamente tudo.

- Quer dançar? – Perguntei.

- Mas não tem musica.

- Não precisamos de musica, mas se quiser eu canto para você.

- Acho que eu consigo lidar com o silêncio.

- O que você quer dizer com isso?

- Eu já ouvi você cantar várias vezes e honestamente não é lá essas coisas. – Explicou.

- Isso machuca, sabia?

- Sim. – Falou Lety puxando-me. – Mas eu posso me redimir depois.

Entrelacei minhas mãos em sua cintura e ela as suas no meu pescoço. Iniciamos uma dança lenta enquanto nos olhávamos nos olhos. Letícia sorria e eu não podia evitar em fazer o mesmo. Estar com ela fazia com que eu me sentisse o homem mais sortudo do mundo.

- Por que seu coração esta batendo tão rápido? – Perguntou repousando sua cabeça em meu peito.

- Provavelmente porque estou perto de você.

- E qual seria o outro motivo?

- Um infarto.

- Não seja bobo! – Xingou. Dando-me um soco no braço.

- Você esta forte meu amor.

- Repete.

- Você esta forte.

- Meu amor?

- Você deveria me chamar assim sempre.

- Meu amor. – Falei beijando sua cabeça. – Meu amor. – Disse novamente.

Letícia levantou o seu rosto e nos beijamos.

- Acho que podemos pedir para que nos busquem. – Sugeri.

- Mas já? Não esta se divertindo? – Perguntou.

- É claro que eu estou, mas pensei que poderíamos terminar essa noite em nosso quarto.

- Isso parece ótimo.

...

Quarta-feira, 6 de Janeiro de 2016.

Pela primeira vez eu tive a oportunidade de acordar com Letícia em meus braços e isso era uma sensação maravilhosa. Depois da noite incrível que tivemos a minha vontade era de passar o dia na cama repetindo o ato. Eu estava completamente viciado nela. Ela fazia com que eu me sentisse completo de diversas maneiras.

Letícia estava deitada de bruços e o lençol branco apenas cobria o seu quadril, não resisti em acariciar suas lindas costas enquanto velava o seu sonho. Ela riu aparentemente sentindo cócegas e abriu os olhos letamente. Piscou algumas vezes e quando sua visão pareceu ficar clara por fim ela sorriu para mim.

- Bom dia. – Sussurrei beijando seu rosto.

- Bom dia. – Respondeu em meio a um bocejo. – Como foi sua noite?

- Maravilhosa. E a sua?

- Perfeita.

...

UMA SEMANA DEPOIS.

Quarta-feira, 13 de Janeiro de 2016.

- Estamos atrasados. Eu disse que deveríamos ter ido embora ontem, mas você não quis me ouvir.

- Você nem insistiu nisso.

- Então eu deveria insistir para que você aceitasse.

- Não foi o que eu quis dizer Lety. Além disso, não estamos atrasados. Conseguiremos chegar antes mesmo do almoço se a estrada for liberada dentro de meia hora.

- SE FOR. – Repetiu ela com o tom de voz alterado.

- Uma hora eles não vão nos deixar nesse sol para sempre.

- Eu não duvido de nada. – Resmungou.

Saímos do hotel logo depois do café da manhã, mas infelizmente devido a um acidente a estrada havia sido interditada e já fazia mais de uma hora que esperávamos por seu retorno.

Passamos uma semana maravilhosa naquele lugar, os oitos dias ao lado dela foram provavelmente as melhores férias da minha vida, incluindo as viagens internacionais na infância. Mas naquele momento Letícia estava nervosa e eu não poderia culpa-la. O sol estava insuportável e tínhamos um milhão de coisas para fazer antes das cinco da tarde que seria a hora que deveríamos estar no restaurante para ajeitar tudo da inauguração que estava marcada para ás 19h.

- Estranho. – Falou Letícia.

- O que? – Perguntei curioso.

- Apareceu uma chamada perdida do Heitor, mas eu não ouvi o meu telefone tocar.

Heitor era um simpático senhor que conhecemos no hotel, ele trabalhava como diretor em um famoso teatro da capital. Quando Letícia lhe contou que havia acabado de se formar em artes cênicas ele pediu o seu numero e prometeu que ligaria assim que encontrasse algo para ela.

- Retorna a ligação. – Sugeri.

- Melhor não, a área por aqui esta péssima, melhor fazer isso quando chegarmos.

Apenas assenti, estávamos entediados com toda aquela espera e ansiosos para chegarmos logo. Nem mesmo as piadas sem graças que passaram na radio foram capaz de nos distrair. Depois de mais de quarenta minutos finalmente fomos liberados. Só de ter o vendo entrando no carro e nos livrando de grande parte daquele calor insuportável era capaz de nos causar um grande alivio.

Chegamos em casa e logo avistamos Julieta, Carolina e Erasmo sentados na sacada.

Carol correu em nossa direção e envolveu-me em um abraço gostoso dizendo o quanto havia sentido a minha falta. E eu é claro, me sentia da mesma forma.

Peguei as malas de Letícia e as levei até o seu quarto. Em seguida nos sentamos na sala e falamos sobre a viagem. Letícia descreveu o hotel detalhadamente e no final dona Julieta já havia pedido a Erasmo que a levasse lá no próximo mês. Falamos sobre Heitor o que os deixou extremamente animados. A conversa estava divertida, mas eu não podia prolonga-la porque estava com o dia e a noite extremamente apertados.

- É melhor eu ir, em menos de duas horas preciso estar no restaurante. – Falei. – Vejo vocês mais tarde.

- Estaremos lá. – Confirmou Dona Julieta. Erasmo assentiu e depois me encarou.

- Posso te perguntar uma coisa? – Pediu ele.

- Claro. – Respondi de imediato.

- Onde estão os queijos que vocês foram buscar?

Sorri sem graça na espera de que uma boa desculpa surgisse como mágica em minha cabeça. Carolina me olhou de forma divertida. Para minha sorte Letícia tomou a frente e respondeu.

- Eles vão envia-los na próxima semana, direto para o restaurante.

- Sei. – Respondeu Senhor Erasmo desconfiado. Rapidamente me despedi e sai de lá, queria me livrar de perguntas constrangedoras, pelo menos por aquela noite.

...

Fui com Omar e Carolina até o restaurante. Surpreendentemente os dois não discutiram nenhuma vez e conseguiram manter uma conversa amigável, mesmo que fosse concentrada apenas em assuntos profissionais. Letícia ficou por conta de buscar Rodrigo e Morgana.

- Como é o nome do restaurante? – Perguntou Omar assim que chegamos.

- Você por acaso sabe ler? – Questionou Carolina apontando para a grande placa. As implicâncias haviam se iniciado novamente.

- É claro que eu sei. Eu só não sei o que Bevouth significa.

- Eu também não sei. – Respondi. – Esse era o nome do amigo imaginário de Carolina.

- Mas por que esse nome?

- Quando eu tinha quatro anos eu cai da minha casa na arvore. Ela era realmente alta, mas eu não me machuquei, não tive nenhum arranhão se quer.

- Ela disse que o Bevouth havia segurado-a. Eu não sei o que isso significa, mas, é o motivo dela estar aqui agora. – Expliquei sentindo-me eternamente grato por ter minha filha ao meu lado. Aquela historia não tinha explicação, mas algumas coisas não precisavam de uma. Pois estas eram conhecidas como milagres e eu acreditava neles como ninguém.

- Então Bevouth é Deus? – Perguntou Omar e eu e Carolina entramos no restaurante ignorando-o.

...

Logo Letícia chegou com Rodrigo e Morgana, e assim começamos a nos organizar. Omar ficaria de garçom assim como Morgana, Carolina se encarregaria do caixa, eu e Rodrigo na cozinha e Letícia tomaria conta da recepção.

- Eu não sei se eu realmente te deixo ai. – Sussurrei no ouvido de Lety.

- Por que não? – Perguntou sem se virar para mim.

- Porque você esta muito linda e eu queria ser o único cara de sorte a vê-la assim essa noite.

Letícia se virou e sorriu entrelaçando seus braços em meu pescoço.

- Você não precisa ter ciúmes, muitas pessoas me verão nesse vestido, mas você é o único que poderá tirá-lo.

- Parece tentador. – Brinquei, beijando-a sem seguida. – Acho melhor eu voltar para a cozinha, os clientes chegaram em menos de dez minutos.

- Boa sorte!

- Obrigado.

...

Foi mais gente do que eu imaginei. Havíamos aberto há apenas uma hora e todas as mesas já estavam ocupadas. Omar e Morgana andavam apressados para todos os lados anotando os pedidos, enquanto eu e Rodrigo fazíamos até mesmo o impossível para atendê-los rapidamente.

- Precisamos fechar a porta. – Disse Carolina ao entrar na cozinha.

- Por quê?

- Continua chegando mais gente e não temos mesas e muito menos espaço. E tem mais um problema. – Avisou em meio a um suspiro.

- O que foi? – Perguntei um pouco assustado.

- Omar estragou o som. Estamos sem musica.

- Como ele fez isso? – Perguntou Rodrigo.

- Ele é um desastre, tropeçou e derrubou um coquetel na caixa.

- Merda! – Resmunguei limpando minhas mãos e tirando o meu avental.

- O que vai fazer? Vai demiti-lo?

- Claro que não Carol. Só vou pedir para Letícia cantar.

...

- Não, não e não. Nós combinamos que eu ficaria apenas na recepção.

- Mas você não precisa. Não vai entrar mais ninguém por aquela porta hoje.

- Eu não posso estrear o palco.

- Não sei se você se lembra, mas nos já fizemos isso.

Letícia revirou os olhos e sorriu.

- Você sabe o que eu quis dizer.

- Sim, mas, por favor. Essa é uma oportunidade de deixar os seus pais orgulhosos. Imagina na felicidade deles em te ver cantando e poder dizer “Aquela é a minha filha”! E também é uma oportunidade de surpreender a sua sogra, eu posso até te dar algumas dicas de musica que ela vai amar em ouvir...

- Eu não vou fazer isso, sinto muito. – Disse Letícia me interrompendo. Suspirei. Eu tinha apenas mais uma carta na manga a qual não queria usar, mas devido a sua resistência seria necessário.

- Tudo bem. – Falei levantando-me. – Vou pedir a Gabriela. – Completei saindo. Como era de se esperar Letícia me puxou.

- Como assim?

- Ela também canta e até tem composições próprias. Agora é só torcer para que ela aceite.

- Nada disso.

- Como não? É impossível deixar o restaurante sem musica. Olha só para todo mundo, eles parecem entediados. – Aquilo era mentira, afinal todos ao nosso redor estavam conversando, rindo e se alimentando muito bem.

- Eu faço.

- Sério? – Perguntei animado. Ao contrario dele que ainda não parecia ter certeza. Por um momento me senti culpado, mas isso logo passou por lembrar na voz incrível que Letícia tinha, a qual deveria ser compartilhada com o mundo.

- Sim. Só me dê alguns minutos para afinar o violão.

- Muito obrigado meu amor! – Falei beijando-a e puxando-a para um abraço. – Agora tenho que voltar para a cozinha, mas logo venho para te ver cantar. Muito obrigado. De verdade!

...

Consegui finalizar mais dois pedidos antes da apresentação de Letícia, a qual havia sido simplesmente incrível. Depois de finalizada todos no restaurante se levantaram aplaudindo-a e eu não pude deixar de fazer o mesmo. Ela sorria envergonhada enquanto agradecia aos diversos elogios e respondia varias perguntas de nossos clientes.

Erasmo e Julieta a olhavam orgulhosos e eu não podia culpa-los, pois me sentia da mesma forma.

- Você estava maravilhosa.

- Obrigada meu amor. – A puxei para um abraço, beijando o topo de sua cabeça. – Obrigada principalmente por insistir que eu fizesse isso. Estava com medo, mas assim que subi no palco e comecei a cantar uma sensação maravilhosa tomou conta de mim. Eu não poderia ter feito isso sem você.

- Fico feliz em ajudar. – Respondi. Quando estávamos prestes a nos beijar o telefone de Letícia tocou.

- Desculpa. – Pediu enquanto o tirava do bolso. – É o Heitor.

- Atende!

Heitor havia ligado para ela algumas vezes, mas Letícia nunca estava por perto quando isso aconteceu. Ela pensou em retornar a ligação, mas estávamos tão atarefados que nos esquecemos completamente disso.

- Alô? – Falou assim que atendeu. – Sim sou eu. Como vai Heitor? Bem, muito bem também. Sério? – Perguntou ficando em silêncio por um longo tempo, apenas ouvindo-o. – São ótimas propostas eu nem sei como agradecer. Preciso dar a resposta agora ou posso te ligar mais tarde? Ótimo e mais uma vez muito obrigada por pensar em mim! Até mais, tchau.

- E então? – Perguntei curioso.

- Ele tem duas propostas para mim.

- Isso é incrível.

- Sim. – Respondeu dando um sorriso triste.

- O que foi?

- Uma delas é daqui dois meses e será apresentada no país todo, ou seja, ficarei mais de um mês viajando por ai. A outra é um musical e será apresentado apenas na capital, mas os ensaios começam em dois dias.

- Você quer fazer o musical, não é?

- Eu não sei. – Disse parecendo confusa. – Eu não quero deixar você.

Ouvir Letícia dizer isso fez com que eu me sentisse na obrigação de incentiva-la a ir. Por mais que precisasse dela por perto e não quisesse me separar dela por tanto tempo eu não me permitiria em interferir em sua vida, eu não podia puxa-la para traz assim como fizeram comigo.

- Você deveria ir. Não se preocupe comigo.

Ela me olhou triste e sacudiu a cabeça.

- Eu não acho que posso. É mais de um mês...

- Eu vou ver você, não é tão longe...

- Sim, mas você tem o restaurante agora. Vai poder me ver no máximo duas vezes, não quero ficar tanto tempo longe de você.

- Isso é por que você não confia em mim?

- Eu não disse isso. Eu confio em você. Só não quero ficar sem te ver por tanto tempo, mas parece que eu sou a única que esta se importando com isso.

- É claro que eu me importo.

- Então por que você quer tanto que eu vá?

- Porque isso é o seu futuro e eu não quero arruína-lo.

- É engraçado você pensar que arruinaria o meu futuro, enquanto eu acreditava que você queria fazer parte dele.

- Eu quero. Mais do que tudo.

- Infelizmente não é o que parece. – Falou em meio a um suspiro, pude notar que seus olhos lacrimejavam, mas ela estava fazendo o possível para se segurar. – Mas você esta certo. Eu vou aceitar esse papel. Na verdade acho melhor eu ir embora agora para preparar tudo.

- Letícia, por favor, vamos conversar. Você entendeu tudo errado.

- Não temos o que conversa, só avise os meus pais e se despeça dos seus por mim. Tchau, Fernando. – Falou enquanto caminhava em direção à porta.

Dessa vez não a impedi, suspirei pesadamente enquanto passava a mão em meu cabelo. Não adiantaria tentar conversar com ela naquele momento. Letícia estava magoada e com razão. Eu não soube me expressar e acabei estragando tudo. A procuraria com a cabeça fria logo pela manhã e resolveríamos isso. Eu não podia e não conseguiria passar nem se quer um dia sabendo que não estávamos bem. E duvidava que conseguisse pegar no sono naquela noite após a nossa pequena discussão. Ver Letícia segurar o choro e saber que a culpa era minha me destruiu. Eu havia me comprometido em fazê-la feliz, mas nem sempre era fácil.

Imagina-la no meu futuro era o que eu mais fazia. Eu tinha inúmeros planos para nos dois e pretendia que todos se cumprissem, mas como eu já citei anteriormente a vocês “Quer fazer Deus rir, fale sobre seus planos.”

 

 


Notas Finais


Prometo tentar postar o próximo no máximo até quarta-feira. Espero que tenham gostado!

Para quem não sabe eu comecei uma nova história no final de semana, por isso quando não postar capítulo novo de "O Vigia" estarei postando dela (aqui esta o link para quem quiser acompanha-la também: https://spiritfanfics.com/historia/fugitivo-6799699).


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