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História O Vigia - Never Grow Up (part 2)


Escrita por: lavegass

Notas do Autor


Como prometido aqui esta a segunda parte do capítulo de ontem.

Capítulo 3 - Never Grow Up (part 2)


Fanfic / Fanfiction O Vigia - Never Grow Up (part 2)

“So here I am in my new apartment
In a big city, they just dropped me off
It's so much colder than I thought it would be
So I tuck myself in and turn my nightlight on”

 

Parte dois:

Segunda-feira, 7 de dezembro de 2015.

- FERNANDO SEU DESGRAÇADO! – Falou Márcia me acordando com os seus gritos. Ela puxou o cobertor do meu corpo com brutalidade. Eu a olhei piscando várias vezes na intenção de me lembrar ou de receber qualquer pista que indicasse o que eu tinha feito dessa vez para ser despertado desse jeito. – VOCÊ DESTRUIU AS MINHAS ROSAS! – Ah então era isso, eu já havia esquecido completamente de ter atropelado a roseira de Márcia. Pelo visto ela estava desatenta no domingo e acabou não percebendo, mas as segundas-feiras eram como um ritual, Márcia as regava e tosava as folhas. Hoje de manhã quando foi fazer isso deve ter notado o estrago que eu causei há dois dias.

- Desculpe, um cachorro me assustou enquanto eu tirava o carro da garagem e acabei esbarrando nelas. – Expliquei.

- DESCULPE? DESCULPE? – Gritou ela. – VOCÊ TEM IDEIA DO QUANTO AQUELAS FLORES SÃO IMPORTANTES PARA MIM? – Sim Márcia, agora eu tenho. – ASSIM QUE VOCÊ CHEGAR DO SERVIÇO QUERO QUE AJEITE AQUELA BAGUNÇA.

- Mas eu não entendo nada de jardinagem...

- Se vira. – Disse ela pisando duro enquanto saia do nosso quarto.

Após o dia ter começado maravilhosamente bem com a gritaria de Márcia eu me levantei e fui me ajeitar para o trabalho. Quando desci para tomar café encontrei apenas Carolina na cozinha.

- Onde está sua mãe? – Perguntei.

- Ela já foi.

- No carro dela?

- Sim. – Respondeu Carolina e eu me espantei, Márcia estava com tanta raiva de mim aponto de querer gastar mais gasolina. Isso definitivamente era mais grave do que eu pensei.

- Ouvi que você destruiu as roseiras dela. Não tem mesmo medo do perigo não é?

- Foi sem querer, um cachorro me assustou.

- Tinha que ser.

- Vamos mudar de assunto, já ouvi muito sobre isso e tem apenas uma hora que eu acordei, ou melhor, que eu fui acordado. – A olhei enquanto comia seus cereais preferidos e algumas lembranças se passaram por minha cabeça. Carolina havia crescido muito, mas continuava sendo a minha garota e nos dois mantínhamos a mesma conexão e eu era extremamente grato por isso.

Assim que terminei o café segui em direção a empresa, o transito estava um caos e dei graças a Deus que Márcia não estava comigo, assim não precisaria vê-la xingar e apontar o dedo do meio para qualquer pessoa que buzinasse.

Ao chegar na Conceitos acabei me assustando a empresa estava um caos, os funcionários andavam de um lado para o outro e todos conversavam alto e ao mesmo tempo, tentei prestar atenção para decifrar o que estava acontecendo, mas não consegui. Até que a secretaria do meu pai veio em minha direção.

- Seu Fernando o senhor Humberto quer te ver. Disse que é urgente.

- Tudo bem, onde ele está?

- Na sala de reuniões.

- Obrigado. – Agradeci quase correndo na para a sala de reuniões. Se alguém quiser que eu fique totalmente desesperado é só dizer que precisa me encontrar com urgência. Abri a porta com certa brutalidade e vi que meu pai ria enquanto conversava com outros funcionários. Não conseguia identificar nenhuma urgência ali.

- Filho, que bom que chegou.

- Lola disse que o senhor precisava de mim.

- Sim. – Respondeu ele virando-se para as outras pessoas que estavam naquela sala. – Podem nos dar licença por um instante? – Pediu e todos eles logo se levantaram saindo de lá. – Sente-se. – Falou indicando-me uma cadeira, me sentei e ele se sentou na ponta da mesa de frente para mim. – Tenho uma ótima noticia. – Começou animado. – A Conceitos recebeu uma proposta para se afiliar com uma empresa publicitária Americana a Bevouth. Isso nos dará oportunidade de fazer comerciais para o mundo inteiro e quem sabe futuramente até ajudar em produções de filmes.

- Isso é maravilhoso papai. – Falei. Meu pai estava feliz com tudo que a empresa alcançou e vinha alcançado, apesar de não ter por ela o mesmo amor que ele tem me alegrava ver tudo o que havíamos conseguido até a aqui.

- Sim é maravilhoso. Tem mais uma coisa. Eles querem que eu envie alguém da Conceitos para ajeitar as coisas por lá, como contratar alguns funcionários que ficarão a nossa disposição e nos representar de modo geral e é claro eu quero que você vá.

- Eu? – Perguntei espantado, nunca imaginei que meu pai depositaria em mim tamanha responsabilidade. – Quando?

- Amanha de manhã. A previsão é que você fique até o natal, mas pode ser que se estenda...

- Eu não vou. – Falei o cortando. Meu pai me olhou espantado.

- Como assim não vai?

- Eu não posso ir. Pai a minha filha acabou de entrar de férias da faculdade, eu não posso simplesmente viajar para outro país e ficar sabe-se lá quanto tempo.

- Mas você vai. – Gritou meu pai e aquilo fez o meu sangue ferver. É claro que eu reconhecia todas as coisas que ele havia feito por mim, mas todos os dias da minha vida ele fazia questão de me lembrar delas. Era como se eu tivesse uma divida eterna com ele e como pagamento eu deveria aceitar calado tudo o que ele dissesse ou me obrigasse a fazer, mas naquele momento diferente das outras vezes eu não abaixei a cabeça e acatei o seu pedido.

- Não pai, eu não vou. – Respondi calmamente.

- Você vai sim porque você é o vice-presidente e não temos outra pessoa para mandar. – Seu tom de se manteve alto e por sua expressão pude notar que ele estava achando tudo aquilo um absurdo. Era um absurdo eu querer passar um tempo com a minha filha no lugar de viajar para um país e ficar durante um mês sendo abrigado e trabalhando para pessoas que eu nem se quer conhecia.

Levantei-me lentamente da cadeira e o encarei. Dediquei a ele um dos meus sorrisos mais debochados o qual eu provavelmente havia aprendido com Márcia.

- Pois trate de arrumar outro papai, porque eu me demito. – Falei. E meu pai novamente me encarou, mas dessa vez estava boquiaberto. Caminhei a direção a porta de saída, mas antes de a abrir. Pude ouvi-lo resmungar.

- Você não pode estar falando sério!

- Pode apostar que eu estou. – Respondi e em menos de cinco minutos eu estava totalmente fora da Conceitos.

...

Eu estava irritado e cansado de todos me dizerem o que eu deveria ou não fazer. Poderia me arrepender de ter me demitido, daqui um mês, uma semana ou talvez hoje à tarde, mas naquele momento eu estava com uma sensação maravilhosa. Uma sensação de liberdade a qual eu já não sentia há muito tempo, mas essa sensação foi embora rapidamente e foi substituída pelo medo. Eu estava desempregado e sabia que não poderia permanecer assim por muito tempo.

Enquanto dirigia comecei a me recordar de outras coisas que eu não fazia há muito tempo como andar á cavalo, ir à praia, acordar depois do meio dia e almoçar um hambúrguer. Sim, eu precisava de um hambúrguer, não queria beber uísque a essa hora da manhã porque não nenhum alcoólatra, mas precisava afogar as magoas em algo. Dirigi até o McDonald’s mais próximo e para a minha surpresa ele estava lotado. Eu provavelmente não era o único deprimido àquela hora da manhã ou as pessoas simplesmente não se importavam com sua saúde.

Tinha tanto tempo que eu não ia a um lugar como aquele que já não tinha ideia do que comprar, por isso prestei atenção no pedido da garota que estava na minha frente na fila e acabei pegando o mesmo, se fosse ruim a culpa era dela. Assim que ficou pronto sentei-me em uma das mesas próximas ao balcão, o hambúrguer não era tão bom quanto eu recordava, mas serviu para matar aquela vontade repentina. Percorri o olho por todo aquele lugar e algo me chamou a atenção, em uma das paredes próxima a porta de entrada havia um cartaz onde dizia que estavam buscando por funcionários. Quando terminei de comer me levantei e fui novamente até o balcão em busca de mais informações.

- Gostaria de saber mais sobre essa vaga. – Falei apontando para o cartaz. A atendente me olhou de cima a baixo com uma cara estranha.

- A vaga não é gerente e nem nada do tipo. – Avisou.

- Eu não me importo, busco pelo mínimo de compromisso possível.

- É para fritar batata. – Continuou, parecia que estava tentando me fazer desistir.

- Eu adoro fritar batata. – Respondi. A mulher me olhou desconfiada e ficou em silêncio por um tempo.

- Tudo bem, vou chamar o chefe.  – E assim ela o fez.

Aquela havia sido a minha primeira entrevista de emprego em toda a minha vida e eu havia me saído tão bem a ponto de conseguir o trabalho. Ele disse que eu começaria no dia seguinte, mas preferi começar imediatamente. O turno acabaria as 16h o que me daria tempo de chegar a minha casa e pesquisar na internet como consertar as roseiras, ou pelo menos tentar.

Eu não estava mentindo, eu realmente adorava fritar batata e eu era bom. É claro que não tinha muito segredo, mas eu conseguia deixá-las sequinhas, diferente dos outros que trabalhavam ali. Em menos de duas horas de serviço fui promovido para o caixa e o motivo daquela promoção era desconhecido por mim até o momento. Meus novos colegas de trabalho me olhavam curiosos e alguns até mesmo raivosos, mas eu não me importei, não estava ali para ser amado, apenas queria receber o meu salário no inicio do mês.

Ao contrario dos funcionários os clientes foram super simpáticos comigo e todos tiveram paciência por eu ainda não saber direito como funcionava as coisas. No final do expediente percebi que estava com cinco telefones de clientes que passaram por ali e eu não fazia ideia do que faria com eles. O gerente me parabenizou pelo meu primeiro dia de serviço e disse que eles não faturavam tanto há mais de dois anos, eu não entendia o que eu tinha a ver com isso, mas fiquei agradecido.

O McDonald’s não era muito longe da minha casa e em menos de dez minutos eu já estava lá. Quando cheguei vi um bilhete de Carolina pregado na geladeira que dizia que ela havia ido se encontrar com alguns amigos de escola. Coloquei uma bermuda e uma blusa velha e depois fui até o porão pegar algumas ferramentas de jardinagem. Era hora de concertar as roseiras, ou pelo menos tentar.

Apesar de ser quase cinco da tarde o sol ainda era forte e eu sentia o suor escorrer no meu rosto. Não havia muito o que fazer para concertar a roseira, então apenas tosei as flores que estavam caindo após terem sido atingidas pelo meu carro e arranquei as mortas. Estava concentrado aguando-as quando senti alguém se aproximar.

- Oi. – Falou. E assim que me virei fiquei surpreso ao ver Letícia.

- Oh, oi.

- Esta dando uma de jardineiro hoje? – Perguntou.

- Eu as estraguei e estou tentando concertar. – Expliquei. – Mas não sirvo para isso.

- Eu não entendo muito de flores, mas você parece ter se saído bem. Foi sua esposa quem plantou?

- Foi sim, assim que mudamos para essa casa ela as plantou. Eu nunca vi sentido em querer cultivar essas rosas.

- Por quê? Elas são lindas. – Falou admirando as rosas e encostando em algumas delicadamente, como se fossem as coisas mais frágeis e preciosas do mundo.

- São sim, mas é apenas isso. Costumo até mesmo compara-las com a minha vida. – Respondi sorrindo fraco.

- O que quer dizer com isso? – Perguntou Letícia me olhando de forma curiosa.

- Essas rosas podem ser lindas assim como você disse, mas elas não possuem espinhos e nem cheiro, são como plástico, são vazias. – Letícia me encarou durante um tempo como se procurasse por algo para dizer, mas antes que ela encontrasse alguém nos interrompeu.

- Olá, seu Fernando.

- Oi Omar. – Falei surpreso. Ele parecia nervoso e até mesmo assustado. – Aconteceu alguma coisa?

- Não, quer dizer ainda não. – Letícia o olhou, provavelmente assim como estava achando estranho o jeito em que Omar se encontrava. – Eu preciso de um favor. Sei que já te devo um, mas terei que te pedir outro.

- O que é? – Perguntei e logo em seguida Omar colocou as mãos no bolso retirando de lá um potinho.

- O senhor poderia fazer xixi aqui? – Questionou ele entregando-me o potinho.

- O QUE? – Falei ao mesmo tempo em que Letícia.

- Meu pai quer que eu faça esse exame para ver se eu estou limpo. E eu não estou, caso o exame aponte que eu usei drogas ele vai me mandar para uma daquelas clinicas de novo. E vocês não fazem ideia do que eles fazem com a gente lá.

- Não deixam vocês usarem drogas? – Perguntou Letícia.

- Pior do que isso, temos que rezar e ler.

- Isso parecem férias para mim. – Comentei e Letícia riu.

Omar nos olhou sério e sacudiu a cabeça.

- Sábado depois que conversei com você eu decidi mudar de vida Fernando, mas não quero fazer isso preso em um lugar como aquele. – Explicou Omar e vi sinceridade no que ele dizia. Meu coração era mole demais para dizer “não”.

- Tudo bem eu faço. – Falei tomando o potinho da mão dele e Letícia me olhou surpresa. – Mas tem uma condição.

- E qual é?

- Você vai me dar agora àquela árvore de maconha que você tem plantada.

- O que? Mas aquilo vale muito.

- Sim vale, mas já que você quer ficar sóbrio não vai mais precisar dela.

Omar me olhou hesitante e Letícia observava aquela cena em silêncio, parecia estar se divertindo com tudo aquilo.

- Está bem, está bem. Mas você pode me devolver os enfeites de natal que eu coloquei nela?

...

A árvore era maior do que eu pensei e o tempo todo em que a carreguei até a minha casa com a ajuda de Letícia fiquei me questionando como os pais de Omar nunca haviam a visto antes. Tudo bem que quando fomos buscá-la ela estava dentro do guarda-roupa, mas ainda assim não fazia sentido.

- O que vai fazer com isso? – Perguntou Letícia assim que a colocamos no fundo do meu jardim.

- Vou queimá-la. – Falei. – Você pode pegar os fósforos na minha cozinha enquanto eu faço xixi no potinho?

- Claro. – Respondeu em meio a uma risada.

Fiz o xixi, quando desci as escadas Letícia me aguardava na sala. Mandei mensagem para Omar e ele logo veio buscar o potinho, não parava de me agradecer e de prometer que não iria me decepcionar. E era isso que eu esperava, pois caso eu descobrisse qualquer coisa iria imediatamente entrega-lo para os seus pais, os quais ele tanto temia.

Letícia e eu seguimos para o fundo para o meu quintal e queimamos a árvore de Omar. Sentamos-nos próximos a ela e a assistimos virar cinzas.

- Eu nunca pensei que faria isso. – Disse Letícia apontando para a árvore.

- Nem eu. – Respondi e nos dois caímos na gargalhada. – Hoje foi provavelmente um dos dias mais loucos da minha vida.

- O que aconteceu? – Perguntou Letícia. – Além disso, é claro.

- Eu me demiti.

- Sério?

- Sim, meu pai queria que ficasse quase um mês fora do país, quando eu disse que não queria ir e que ele deveria arrumar outra pessoa ele surtou, mas dessa vez eu não consegui simplesmente abaixar a cabeça e fazer o que ele mandou.

- Você fez o certo. Naquele dia que você almoçou lá em casa eu percebi que estava insatisfeito com seu trabalho. E esse é provavelmente um dos motivos que te fazem achar que a sua vida esta vazia. – Falou Letícia recordando-se da nossa conversa sobre as flores. – Eu tenho certeza que irá encontrar outro logo.

- Na verdade eu já encontrei. – Letícia me olhou como se esperasse que eu continuasse. – No McDonald’s. E com apenas um dia de trabalho eu já fui promovido para o caixa.

- Oh... Isso é... Ótimo. – Respondeu Letícia de forma divertida e me questionei se ela achava que eu estava brincando.

- Minha esposa vai me matar. – Falei enquanto mostrava a ela o meu novo crachá que eu havia guardado no meu bolso. Letícia o pegou e sorriu.

- Provavelmente sim.

- O que vocês dois estão fazendo aqui? – Perguntou Carolina sentando-se junto a nos.

- Queimando essa árvore de maconha. – Respondemos ao mesmo tempo. Ela nos olhou incrédula por um tempo e depois deu de ombros.

- Ok. Só espero que a vizinhança inteira não fique noiada depois dessa.

...

Assim que a árvore se queimou por completo Letícia foi embora e eu e Carolina entramos em casa. Subi para o meu quarto e tomei um banho longo para relaxar o qual foi interrompido pelos gritos de Márcia.

- VOCÊ FICOU LOUCO FERNANDO? – Perguntou ela adentrando o banheiro sem nenhum aviso prévio.

- Olá Márcia, boa noite! – Respondi ironicamente enquanto desligava o chuveiro e me cobria com a toalha.

- Sua mãe me ligou dizendo que você se demitiu da Conceitos, o que deu em você?

- Eu me cansei da empresa e não quero mais trabalhar lá. Simples assim. – Falei enquanto me enxugava.

- Esta de brincadeira não é?

- Não, na verdade nunca falei tão sério.

Márcia me olhava incrédula enquanto eu me vestia calmamente sem dar a ela muita atenção.

- O que tem de errado com você? – Perguntou puxando o meu braço. – Não pode simplesmente ficar desempregado, você tem uma família para tratar.

- Eu não estou desempregado, já arrumei um emprego.

- Onde? – Perguntou Márcia surpresa.

- No McDonald’s.

- Eu estou falando sério Fernando.

- Eu também.

Ela abriu a boca e ficou me encarando por longos segundos, sua vontade provavelmente era de voar no meu pescoço.

- Você não vai trabalhar lá. – Gritou ela. Fiz careta e cocei o ouvido. Ficaria surdo qualquer dia desses.

- Por que não? Eu não tenho um diploma, eu não tenho experiência em nenhum lugar além da Conceitos então lá é um dos poucos lugares que irá me contratar.

- Não te incomoda que a sua esposa vai ganhar mais que você? – Perguntou ela.

- Por Deus Márcia, é claro que não. Eu não sou machista. Quem parece ver um problema nisso é só você.

- Você vai se arrepender de ter feito isso. – Disse ela me ignorando totalmente. – Sugiro que vá até a casa dos seus pais peça desculpas a ele e pegue seu emprego de volta.

- Eu não vou fazer.

- Ah você vai.

- Não Márcia, eu não vou. Eu já tenho um emprego e estou satisfeito com ele, então você terá que superar isso. – Respondi calmamente o que a irritou ainda mais.

Márcia pegou sua bolsa e desceu as escadas com passos duros.

- Aonde você vai? – Perguntei, mas honestamente não estava nenhum pouco interessado em saber.

- Eu não sei. Só sei que essa noite eu não posso ficar no mesmo ambiente com você sem tentar mata-lo. – Ela fechou a porta com força e foi embora.

Como se nada tivesse acontecido eu me sentei no sofá da sala e liguei a televisão.

- Esta tudo bem? – Perguntou Carolina sentando-se ao meu lado.

- Vai ficar. – Respondi com sinceridade. Ela respirou pesadamente, parecia estar inquieta. – O que foi?

Ela me olhou apreensiva.

- Não sei como dizer isso...

- Têm alguma coisa errada? – Perguntei já um pouco preocupado.

- Não, não tem nada errado. Quer dizer... Mais ou menos.

- Carol você esta me assustando, o que aconteceu?

- Hoje eu fui à casa da Patrícia, aquela amiga minha do ensino médio. – Apenas assenti para confirmar que me lembrava de Patrícia. – Ela esta fazendo alguns trabalhos de modelo e vai viajar para a capital por uma semana em um concurso.

- Isso é ótimo. – Falei na tentativa de entender o que afligia Carolina.

- Ela me convidou para ir, assim eu poderia cuidar do cabelo e maquiagem dela, se caso ela ganhasse seria bom para nós duas, mas eu não vou aceitar.

- E por que não? – Perguntei. Eu realmente não via nenhum motivo que a impedisse de ir.

- Primeiro porque minha mãe jamais permitiria e segundo... O senhor acabou de se demitir para poder passar mais tempo comigo, eu não posso simplesmente viajar depois do que você fez.

- Você pode sim. – Falei segurando as mãos dela. – O seu caso é totalmente diferente do meu, você vai viajar por uma semana, a minha viagem era por tempo indeterminado. E é claro que eu não queria ficar longe de você nas suas férias, mas não foi apenas isso que me fez tomar essa decisão. Eu estava cansado da empresa e de ter que abaixar a cabeça para todo mundo por achar que devia muito a eles. Estou tentando mudar a minha vida, como você pediu para que eu fizesse. Não cometa os mesmos erros que eu, não deixe de fazer nada que você quer por medo de alguém não aprovar. Quanto a sua mãe não se preocupe, você pode dizer que vai há algumas palestras sobre odontologia. Eu te cubro nessa.

- O senhor faria mesmo isso por mim?

- Eu faria qualquer coisa por você. – Carolina enxugou algumas lagrimas e me puxou para um abraço, o melhor abraço do mundo.

...

Já se passava das duas da manhã e eu não conseguia dormir, o calor não permitia. Virei-me de um lado para o outro e suspirei em derrota. Desci as escadas e me sentei em minha varanda. Lá fora não estava tão quente e eu podia sentir um vetinho gelado bater contra o meu corpo. Cogitei em pegar o meu travesseiro e dormir ali mesmo.

- Perdeu o sono? – Ouvi uma voz um pouco longe perguntar. Olhei ao meu redor a procurando até perceber que vinha da varanda vizinha. Era o senhor Erasmo.

- Impossível dormir com esse calor. – Expliquei.

- Você deveria arrumar um ar condicionado. – Sugeriu ele.

- Talvez mais para frente, por enquanto não tenho dinheiro para isso.

- Eu sei, Letícia me contou o que aconteceu. – Falou ele. E eu me surpreendi em saber que Letícia conversava com seu pai sobre mim. Teria ela mencionado minha historia com o Omar também? Provavelmente não, pois o pouco que eu conhecia Erasmo ele já deveria ter chamado a polícia para mim. – Por isso eu tenho uma proposta para você.

- Uma proposta?

- Sim, de um trabalho temporário.

- E o que seria? – Perguntei, estava começando a me interessar por aquela conversa.

- Eu tenho uma conferencia de vinhos na Itália, eu e Julieta vamos para lá amanhã. Insisti muito para que Letícia viesse junto, mas ela se recusa. – Explicou ele parecendo estar um pouco contrariado. – Não quero deixa-la sozinha porque sei que ela vai acabar se encontrando com aquele traste. – Falou, provavelmente referindo-se ao namorado de Letícia. – Por isso gostaria de contrata-lo para cuidar dela enquanto eu estou fora. Você é um bom homem, de família e sei que posso confiar em você. Prometo que pagarei bem. O que diz?

Eu estava confuso sobre essa proposta de Erasmo.

- O que eu deveria fazer exatamente?

- Eu quero que você me mantenha informado sobre o que ela faz aonde ela vai, com quem ela esta entrando e contato.

- E ela vai saber disso ou vou fazer tudo escondido?

- Ela vai saber. Pelo menos parte. Quero dizer não é necessário que ela saiba que você esta me mantendo informado de tudo. – Erasmo fez uma pausa, buscando uma forma mais simples de me explicar toda aquela situação. – Letícia é um desastre na cozinha e não tem habilitação para dirigir. Então posso introduzir você como o cozinheiro e motorista dela enquanto eu e a mãe dela estamos fora.

- Mas na verdade eu serei o vigia? – Perguntei para ter certeza se havia entendido direito àquela proposta absurda.

- Sim, você será o vigia. 


Notas Finais


É isso gente, finalmente chegamos ao fim da parte que eu menos gosto de escrever que o Início. Por essa ser uma história mais longa do que a minha anterior, prometo tentar não demorar para postar os novos capítulos. As coisas esquentarão em breve, de várias formas.


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