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História O Vigia - Better Than Revenge


Escrita por: lavegass

Notas do Autor


Essa capítulo é responsável em dar um grade passo a essa história, espero que gostem!

Capítulo 7 - Better Than Revenge


“She should keep in mind

There is nothing I do better than revenge”

 

Quinta-Feira, 10 de Dezembro de 2015.

- Eu não posso acreditar! – Resmungou Letícia jogando-se no sofá. – Depois de tudo ela ainda quer dificultar esse divórcio?

- Não se preocupe. – Falei massageando seus ombros. – Jorge disse que eu já ganhei essa, nada do que ela dizer pode mudar isso.

- Quer que eu vá com você hoje? – Perguntou virando-se para mim.

- Acho que não é necessário, mas se você quiser vim por mim tudo bem.

- Na verdade a vovó Isabela me ligou. Aparentemente esta tendo problemas do inicio do casamento e quer desabafar.

- Diga a ela que eu mandei um beijo.

- Ela provavelmente vai querer que você faça isso pessoalmente.

- Se quando eu sair do escritório do Jorge você ainda estiver lá eu vou, tudo bem?

- Ótimo. – Respondeu Letícia sorridente.

Resolvi sair mais cedo para deixar Letícia na casa de Dona Isabela e logo em seguida segui em direção ao escritório de Jorge. Dei uma olhada no estacionamento e notei que o carro de Márcia não estava lá, ou ela não havia chegado ou veio de carona com o amante.

Entrei no prédio e segui em direção ao elevador apertando para o andar onde Jorge trabalhava. Assim que cheguei sua secretaria disse que ele estava a minha espera e que eu já podia entrar. Assim que o fiz vi Jorge se levantar sorridente da cadeira para me cumprimentar.

- Quanto tempo Fernando! – Falou puxando-me para um rápido abraço. – É uma pena só nos encontrarmos agora em uma situação como essa.

- Antes tarde do que nunca. – Brinquei arrancando-o uma risada.

- Sente-se. – Pediu. – Onde esta Márcia?

- Não tenho ideia. – Respondi e Jorge deu um sorriso torto.

- Entendo. Pediu a ela que viesse?

- Sim.

- Ótimo. Vocês provavelmente resolverão isso de forma amigável não é?

- Na verdade não. Márcia deixou claro que não vai me dar o divórcio e que pretende fazer de tudo para dificultar as coisas.

- Ela não vai conseguir, não depois daquelas fotos que você me mandou.

- Acha que vai demorar muito para finalizarmos tudo?

- Se depender de mim e tudo correr como planejado na segunda-feira você será um homem livre. – Disse Jorge e eu não pude evitar em sorrir. Só então percebi o quanto eu ansiava por aquilo há muito tempo. E saber que estava perto de se tornar real me causava uma sensação maravilhosa a qual era ao mesmo tem indescritível.

O telefone de Jorge tocou e assim que ele atendeu me olhou parecendo um pouco apreensivo.

- Tudo bem, pode pedir para que ela entre. – Falou desligando o telefone logo em seguida. – Márcia esta aqui. – Completou olhando para mim.

Olhei para a porta e imediatamente pude ouvir o barulho dela sendo aberta de forma bruta. Márcia passou por ela e diferente de quando a vi pela manhã sua aparência estava boa, mas sua expressão ainda era de mau humor.

- Boa tarde, Márcia. – Disse Jorge. E como resposta ela apenas o olhou dando um sorriso debochado. – Sente-se, por favor. – Pediu.

- Podemos andar logo com isso? – Perguntou ela sentando-se ao meu lado sem olhar.

- Como eu estava dizendo ao Fernando farei de tudo para que encerremos esse processo o mais rápido possível...

- Fernando já deve ter te adianto que eu não irei dar a ele o divórcio não é? – Interrompeu Márcia. O fez com que eu repousasse meu rosto em minhas mãos na procura de paciência.

- Sim, de fato ele mencionou isso, mas como já expliquei, a senhora não tem escolha. E esse divórcio ira sair você queira ou não. – Assim que Jorge falou isso eu olhei para Márcia e foi a minha vez de soltar um sorriso debochado o qual a fez revirar os olhos impaciente.

- Eu posso até dar o divórcio a ela, mas vou pegar tudo o que ele tem.

- Você sabe que eu só tenho um carro e aquela casa, não é? – Perguntei. Márcia parecia esquecer-se que os ricos eram os meus pais e não eu. Ela não me olhou e também não me respondeu.

Jorge suspirou ao observar nossa situação e começou a revirar os papeis que estavam em cima de sua mesa.

- Bom. Vocês se casaram comunhão de bens então tudo que vocês conseguiram depois de casados será dividido igualmente um com o outro.

- Ainda bem! Eu não fiquei 19 anos casada com esse traste para sair de mãos abanando. – Resmungou ela. E aquilo me deixou chateado, não porque tinha que dividir meus bens com Márcia, afinal, eu já estava ciente disso, mas sim que mesmo depois de tudo ela ainda me via como o único errado.

Não estou dizendo que sou nenhum santo, se as coisas no nosso casamento chegaram a esse ponto a culpa também foi minha, quando Márcia se afastou e se tornou a megera que é hoje em dia ao invés de conversar com ela e buscar encaminha-la para uma mudança eu apenas aceitei e resolvi me calar para não ouvir brigas. Ela se afastou de mim, mas eu também me afastei dela. Porém, ainda assim, Márcia me vê como o único culpado nessa história.

Eu estava em silêncio e as palavras dela e de Jorge passavam-se por minha cabeça, até que notei algo na fala de Jorge que mudaria tudo.

- Desculpe, mas você disse que teremos que dividir igualmente todos os bens que adquirimos depois de casados, certo? – Márcia e Jorge me olharam confusos.

- Sim, foi exatamente isso o que eu disse.

- Então... A única coisa que terei que dividir com ela é o meu carro. – Márcia arregalou os olhos parecendo incrédula.

- Do que você esta falando? – Perguntou ela alterando seu tom de voz.

- Quando meus pais passaram a casa para o meu nome nos ainda não estávamos casados, por isso ela foi adquirida antes do nosso casamento então não há nenhuma lei que me obrigue a dividi-la com você. – Expliquei em meio a um sorriso vitorioso.

- Isso... Isso não esta certo. – Gaguejou Márcia.

- Na verdade esta sim. – Disse Jorge enquanto lia um dos papeis em suas mãos. – Aqui diz que Fernando adquiriu a casa seis meses antes de se casar com você, por isso ela é inteiramente dele.

Tive a audácia de encostar-me no ombro de Márcia enquanto meu sorriso só se aumentava.

- Ao que parece Márcia, você ficou 19 anos vivendo com esse traste para ganhar 15mil reais. Se é que aquele carro vale R$30.000 porque ele esta com cada arranhadinho feio. – Impliquei. Márcia bufou levantando-se e caminhando em passos duros até a porta.

- Isso não vai ficar assim Fernando, você não vai conseguir me tirar daquela casa, NEM MESMO MORTA. – Gritou batendo a porta com força ao sair. Fechei meus olhos pelo susto que levei com o barulho.

- E então? Quando vou poder assinar os papeis? – Perguntei animado a Jorge o qual parecia estar se divertindo com todo aquele espetáculo de Márcia.

- Segunda-feira te aguardo aqui para torna-lo um homem livre. E acredite. – Falou encostando uma de suas mãos em meu braço. – Você esta fazendo a coisa certa.

...

Infelizmente minha conversa com Jorge havia demorado mais do que o esperado e quando sai de lá recebi uma mensagem de Letícia dizendo que já havia ido para casa. Não era hoje que eu veria dona Isabela e me sentiria lisonjeado em ouvi-la elogiar a minha aparência.

Assim que cheguei ao estacionamento vi Márcia entrando no carro de Otávio e ao notar que eles também me viram fiz questão de dar um tchauzinho. Entrei no carro e segui em direção a casa de Letícia, sem ter ideia de que aquele e os outros 3 próximos dias seriam cheios e me dariam muita dor de cabeça.

- Como foi lá? – Perguntou Letícia assim que entrei em sua casa. Ela estava sentada no sofá com o cabelo amarrado e um vestido que a deixava extremamente feminina. Tão linda.

- Na verdade foi bem, Márcia gritou um pouco e bateu algumas portas, mas no final tudo se resolveu ao meu favor.

- Então ela vai te dar o divórcio?

- Ela não tem escolha. – Respondi sentando-me no sofá ao seu lado. – Vou ter que vender o meu carro e dar a ela metade do dinheiro. Ela achou que também aconteceria o mesmo com a casa, mas como eu já a tenho antes de nos casarmos ela continua minha.

- Isso é ótimo. – Falou Letícia. - Já pensou em como vai colocar a Márcia para fora? – Perguntou divertida.

- Ainda não, tudo que eu sei é que provavelmente precisarei de ajuda.

Letícia riu concordando, mas logo depois seu sorriso sumiu e ela me olhou com ternura.

- Como você esta? Sei que o casamento já estava conturbado há algum tempo, mas foram 19 anos. Às vezes você não tem vontade de... Tentar de novo?

- Não. – Respondi confiante. – Porque eu sei que não daria certo. Eu e Márcia perdemos o mais importante que todo casal precisa ter, o interesse um pelo outro. Quando a paixão em um relacionamento acaba, as coisas se tornam difíceis, mas ainda assim é possível que dê certo, porque ainda existe amor. No nosso caso os dois acabaram e é impossível estar em um relacionamento onde tudo o que você sente pela pessoa é... Afeto. Acostumamos-nos um com o outro e isso não esta certo.

- Eu entendo. Se não tem amor não tem nada.

- Sim. – Respondi em meio a um sorriso triste.

- Se eu me casar quero que o meu casamento seja como o de meus pais. Não tem um dia se quer que o meu pai não diga o quanto a minha mãe esta linda e o quanto ele a ama. Todos os anos eles fazem surpresas um para o outro para comemorar os aniversários de casamento e é sempre com o mesmo entusiasmo.

- Esse é o tipo de relacionamento que todos merecem ter, e tenho certeza que você conseguirá.

- Você também.

- Eu não sei. Você esta jovem ainda vai ter muitos namorados, noivos... Eu... Eu não.

- Oh meu Deus! Quem te ver falando assim pensa que é velho de 90 anos. Por favor, Fernando, você sabe muito bem que basta sair dessa porta para fora que consegue arrumar a quantidade de namoradas que você quiser e pensando bem você nem precisa sair porque... – Ela interrompeu a frase provavelmente arrependendo-se do que havia acaba de dizer, seu rosto corou e eu sorri. – Você entendeu. – Completou.

- Sim. Obrigado por isso. – Falei dando-lhe um demorado beijo na bochecha. – Vamos ao supermercado? – Chamei. – Tem muitas coisas que já acabaram na sua casa e seus pais ficam fora até o natal, não podemos simplesmente só comer nos restaurantes enquanto isso.

- Você sabe que se você não estivesse aqui isso é exatamente o que eu faria, não é?

- Sim eu sei e não posso permitir. Então vamos logo. – Falei levantando-me e estendendo a minha mão para ajuda-la a se levantar.

- Vamos. – Respondeu.

Antes de irmos a supermercado eu e Letícia fomos até sua cozinha para anotar todas as coisas que estavam faltando. Ela dizia os cardápios que pretendia que eu fizesse e com isso tínhamos a ideia do que precisaríamos comprar. Durante isso acabei me lembrando de que trabalharíamos no McDonald's em dois dias e Letícia ainda não sabia nem se quer como e fervia uma água. Após a lista estar pronta seguimos em direção ao supermercado. Ao chegar lá acabamos comprando o dobro de coisas que estavam em nossa lista, Letícia era como uma criança e queria comprar tudo o que visse pelo caminho e sempre que eu perguntava se ela tinha certeza de que aquilo era bom ela que respondia que “Nunca comi, por isso preciso experimentar para descobrir”, meus pais mesmo com uma boa condição financeira jamais permitiram que eu exagerasse em qualquer tipo de compra e eu nem se quer tive o trabalho de ensinar o mesmo à Carolina, pois ela era ainda mais controlada do que eu e sua mãe juntos.

Quando terminamos as compras tivemos dificuldade de fazer com que tudo coubesse no porta-malas e acabou que tivemos que colocar algumas sacolas no bando de traz. Chegamos à casa de Letícia e ficamos mais de uma hora organizando e guardando tudo, quando finalmente terminamos eu me sentia exausto.

- Acho que vou tomar um banho. – Falei.

- Pode ficar a vontade. – Respondeu Letícia jogando-se no sofá, ela também estava cansada.

- Na verdade eu vou tomar na minha casa, preciso ver como estão às coisas por lá e pegar algumas roupas. Quer vir comigo? – Perguntei e isso parece tê-la surpreendido, pois notei que Letícia arregalou os olhos.

- Sim... Claro.

- Ah e se não for pedir muito você pode pegar as minhas roupas enquanto eu tomo banho? Já deixei a maioria separada.

- Tudo bem. – Respondeu ela em meio a um sorriso nervoso.

Saímos de sua casa e fomos em direção a minha. O carro de Márcia não estava estacionado lá e eu rezei para que isso significasse que ela já havia tirado suas coisas e arrumado outro lugar.

Caminhamos até a porta e eu coloquei a chave para abri-la, mas não consegui.

- Algum problema? – Perguntou Letícia.

- Não esta abrindo. – Respondi tentando novamente.

- Tem certeza de que essa é a chave certa?

- Tenho sim.

Continuei tentando, mas não obtive sucesso. A chave entrava, no entanto era impossível move-la para os lados.

- Ela trocou as fechaduras. – Disse uma voz atrás de mim. Era Omar. – Sua esposa veio até aqui com um chaveiro há uma hora. – Explicou.

- Só pode ser brincadeira. – Resmunguei bagunçando meus cabelos, eu estava extremamente irritado. – O que eu vou fazer?

- Eu não sei. – Falou Letícia. – Mas você definitivamente precisa fazer algo.

- O que aconteceu com vocês dois que fez a fazer isso? – Perguntou Omar. Só então explicamos para ele tudo o que havia acontecido desde a última vez que o vi. Tirando é claro o que eu e Letícia achávamos que havíamos descoberto sobre o pai dele. – Isso é... Intenso. E essa mulher é louca. Você precisa se vingar.

- Me vinga? Omar, não estamos no colégio.

- Ele esta certo. Fernando, a Márcia claramente declarou guerra ou lutamos ou perdemos. Você pode chamar o Jorge, a polícia, mas aquela mulher é louca e vai continuar fazendo coisas para prejudicá-lo, então você precisa fazer isso primeiro. – Me surpreendi com a reação de Letícia, ela tinha um jeito doce, mas se tornava uma fera quando necessário.

- Suponhamos que eu aceite essa loucura. – Falei e os dois comemoraram. – O que acham que eu deveria fazer?

- Eu tenho um plano. – Respondeu Omar em meio a um sorriso maligno.

...

- Não, eu não vou matar passarinhos e colocar no guarda-roupa dela. Isso é loucura! Esse é realmente o seu plano? – Perguntei.

- Um deles, mas todos os outros você já recusou. – Falou Omar, ele havia dado diversas ideias absurdas e maioria delas necessita o uso de animais ou fezes deles.

- Fernando está certo, até uma criança de cinco anos pensaria em algo mais maduro. – Disse Letícia.

- Então o que você acha que ele deve fazer? – Questionou Omar. Os dois não concordavam em nada e suas opiniões contrarias sempre geravam pequenas discussões.

- Primeiramente precisamos arrumar um jeito de entrar nessa casa.

- Deixa comigo. – Avisou Omar. Ele atravessou a rua correndo e entrou em sua casa da qual saiu em menos de dois minutos carregando com sigo um pedaço de arame. Sem precisar de muitas tentativas Omar abriu aquela porta com extrema facilidade. Ele provavelmente havia feito aquilo mais vezes, mas não me atrevi a perguntar.

- Olha se ela não levou nada. – Falou Letícia e assim o fiz. A casa estava intacta e todas as coisas encontravam-se no lugar de sempre.

- Esta tudo ok.

- Tem certeza? – Perguntou Omar.

- Sim, eu tenho.

Eu e Omar olhamos para Letícia na espera que ela por fim revelasse sua ideia.

- O que foi? – Perguntou.

- O que você acha que ele deve fazer?

- Trocar as fechaduras novamente.

- E o que mais?

- Nada. Vamos esperar o novo passo dela e ir pagando na mesma moeda.

Omar revirou os olhos ele estava animado com toda aquela historia de vingança e agora havia se decepcionado com o rumo que ela estava tomando. Eu honestamente não queria fazer nada. Já havia passado tempo demais da minha vida brigando com Márcia e sabia que aquilo não levaria há lugar nenhum. A casa era minha e se caso ela insistisse com aquilo bastava denuncia-la por invasão de propriedade.

- Eu prefiro assim. – Falei. – Não acho que ela vá muito longe com isso.

- Bom, se resolverem fazer alguma coisa me chamem. Agora eu já vou indo porque a Netflix esta me esperando para atualizar as minhas series. – Avisou Omar, saindo da casa logo em seguida.

- Tem certeza que ele parou com as drogas? – Perguntou Letícia.

- Sim, acho que esse já é o normal dele. – Brinquei. – Eu vou subir para tomar o meu banho. Quer vir comigo?

- O que? – Perguntou Letícia assustada e só então notei o que eu havia acabado de dizer.

- Desculpe, saiu errado. Não quer subir comigo para que você arrume as minhas roupas como combinamos?

- Oh, sim. Claro. – Respondeu ela timidamente.

Subimos as escadas e fomos até o meu quarto, Letícia hesitou um pouco, mas acabou entrando. Mostrei a ela onde estavam às coisas que eu pretendia levar para a sua casa e a entreguei uma mochila para que as colocasse. Em seguida entrei no banheiro para tomar o meu banho. A água gelada batia no meu corpo me aliviando daquele calor insuportável, se eu pudesse ficaria ali o resto do dia, mas Letícia não me esperaria por tanto tempo. Assim que terminei me enxuguei e só então percebi que não havia levado roupa para o banheiro, enrolei a tolha em minha cintura e sai. Assim que abri a porta Letícia, pensei que ela desviaria o olhar timidamente, mas ao invés disso ficou me encarando.

- Esqueci a roupa. – Falei explicando-me.

- Ah sim... Quer que... Eu pegue para você? – Perguntou.

- Não precisa. – Respondi indo em direção ao guarda-roupa. – Conseguiu encontrar tudo?

- Sim, já está na mochila. Também já tomei a liberdade de ligar para o chaveiro, ele disse que esta aqui em vinte minutos.

- Ótimo. Só vou me trocar e desço para esperar ele.

- Tudo bem. – Respondeu ela se sentado na cama e me olhando. – Oh, é melhor eu sair, não é?

- Você é quem sabe. – Brinquei. Letícia soltou uma risada nervosa e saiu um pouco apressada do meu quarto.

Assim que me troquei fui até a sala onde ela me esperava sentada no sofá. O chaveiro não demorou muito a chegar, mas em compensação seu serviço não foi tão rápido e nem barato. Quando tudo foi resolvido eu e Letícia voltamos a casa dela. 

Fizemos o jantar e nos sentamos na sala para beber um dos vinhos que seu pai havia autorizado que consumíssemos. 

- Isso é muito bom! – Falei enchendo a minha taça novamente.

- Sim, mas se eu fosse você iria devagar. – Sugeriu Letícia.

- Já sou acostumado. – Respondi, mas confesso que já estava um pouco mais alegre que o normal e Letícia obviamente já havia percebido.

- Sei. E esse cheiro de fumaça? – Reclamou ela colocando sua taça em cima da mesa e caminhou até a janela. – Está muito calor aqui, vou abrir essa janela assim pelo menos entra um ventinho e esse cheiro horrível vai embora. – Completou abrindo-a. O cheiro realmente estava perturbador. Letícia debruçou sobre ela e começou a assistir algo que se passava lá fora. – EU NÃO ACREDITO! – Gritou.

- O que foi? – Perguntei assustado.

- A Márcia esta colocando fogo na sua bicicleta!

- O QUE??? – Essa foi a minha vez de gritar. Márcia sabia exatamente o quanto eu adorava aquela bicicleta e como demorei a encontra-la, ela era o tipo de objeto que eu tinha um grande apego e que salvaria em caso de incêndio, mas agora ela estava sendo incendiada. – ELA ME PAGA! – Falei indo em direção à porta.

- O que vai fazer? – Perguntou Letícia segurando-me pelo braço.

- Pagá-la com a mesma moeda, assim como você disse. – Respondi.

Sai enfurecido em direção a onde Márcia estava e Letícia veio atrás de mim, provavelmente preocupada com o que eu poderia fazer. Ela assistia contente o assassinato de minha bicicleta caríssima.

- Oh, você veio e trouxe seu novo capacho. – Falou assim que nos aproximamos.

- Por que você fez isso? – Perguntei.

- Por quê? Eu te avisei que as coisas não seriam fáceis. E você ainda provoca trocando a fechadura, mas é tão burro que não trocou a da garagem onde ficava a sua preciosa... Qual era o nome dela mesmo? Ah, Grace Kelly. Uma bicicleta chamada Grace Kelly, Fernando você é...

- Você trocou as fechaduras primeiro! – Falei interrompendo-a.

- Eu sei! Mas não pensei que você se atreveria a fazer o mesmo! Na verdade você não se atreveria provavelmente foi ideia da sua namoradinha. – Disse olhando para Letícia com desprezo, cujo a qual só assistia tudo em silêncio.

- Essa é a minha casa e eu quero que você saia AGORA.

- Eu não vou a lugar NENHUM.

- Ah, você vai sim, porque se não eu vou chamar a policia.

- CHAME! NEM A POLICIA NEM NINGUEM VAI ME TIRAR DAQUI. TODAS AS MINHAS COISAS ESTÃO ALI.

- Não seja por isso, eu as tiro e envio para a casa do seu novo namorado. Bárbara já aceitou a relação de vocês?

- Posso apagar esse fogo? Esta me incomodando. – Falou Letícia referindo-se a Grace Kelly, eu apenas assenti e Márcia revirou os olhos bufando.

- Eu não vou sair daqui Fernando. – Continuou Márcia enquanto Letícia ligava a mangueira. – Nem que eu durma na calçada. – Ao finalizar essa frase Márcia foi bombardeada por jatos de água. – QUAL O SEU PROBLEMA? – Gritou indo enfurecida em direção a Letícia, mas eu a impedi.

- Você não vai encostar um dedo nela. Eu não me importo se você não tem nenhum lugar para ficar, eu quero que vá embora. Ou prefere ficar molhada do lado de fora da casa? Ou dormir na garagem já que é o único lugar que você tem a chave?

- Eu vou, mas as coisas não ficar assim. – Falou.

- Espera um minuto. – Pedi. – Quero te mostrar uma coisa antes. – Márcia me olhou confusa mais esperou, peguei o álcool e a caixa de fósforos que ela usou e joguei em suas queridas rosas.

- O QUE ESTÁ FAZENDO? – Gritou ela tentando tomar os fósforos da minha mão, mas devido nossa grande diferença de altura ela não conseguiu. Joguei o fósforo em cima das flores e uma grande chama de fogo se formou. Márcia me olhou furiosa e pude notar algumas lagrimas escorrendo-se pelo seu rosto. – EU TE ODEIO FERNANDO! EU TE ODEIO! – Falou dando socos em meu peitoral.

- Sentimento mútuo. – Respondi.

- Quer saber? – Falou Márcia. – Eu vou te dar o divórcio, porque eu não quero ter você na minha vida. NUNCA MAIS! – Gritou e saiu pisando duro em direção ao seu carro.

Letícia se aproximou de mim encostando-se ao meu braço.

- Você conseguiu Fernando. Você conseguiu! – Falou puxando para um abraço. Sim, eu havia conseguido. Eu seria um homem livre e não teria mais que conviver com Márcia. Era o começo de uma nova vida. E eu me sentia renovado.

- O que aconteceu aqui? – Nos soltamos para ver quem dizer isso, era Omar. – Droga! Vocês prometeram que iriam me dizer se fizessem algo mais para se vingar! – Resmungou.

...

Sexta-Feira, 11 de Dezembro de 2015.

Não tive noticias de Márcia durante todo o dia e acredite eu estava feliz por isso. Minha sexta-feira foi maravilhosa. Conversei com Carolina pelo FaceTime, ensinei Letícia, ou melhor, tentei ensina-la a fritar batatas, algo tão simples, mas tão desastroso quando ela estava no comando. Ela melhorou um pouco depois da décima tentativa, mas ainda assim não era aconselhável que ela fizesse isso sem supervisão de ninguém.

Depois de Letícia insistir muito eu cedi em assistir ao filme do tal Beethoven, confesso que era engraçadinho, mas não a ponto de fazer com que o meu medo deixasse de existir.

Omar apareceu no meio da tarde e falou algumas coisas sem sentido sobre as pirâmides do Egito terem sidas construídas por alienígenas eu e Letícia ouvimos tudo aquilo atentamente e nos seguramos para não rir.

À noite resolvemos fazer uma pequena vizita para Dona Isabela, a qual deixou claro o quanto estava feliz com nossa vizita. Joguei Xadrez com o senhor Antônio enquanto ela e Letícia assistiam a uma novela. 

Aquele foi um dia calmo e ao mesmo tempo incrível.

...

Sábado, 12 de Dezembro de 2015.

- Você esta animada? – Perguntei a Letícia enquanto eu dirigia em direção ao McDonald’s.

- Na verdade estou com medo, e se eu for péssima? – Ela provavelmente iria ser péssima, mas não queria desanima-la dessa forma. Então menti, uma mentirinha branca que não faz mal a ninguém.

- Você vai se sair bem. Teve um grande avanço ontem, me deixou orgulhoso.

- Sério?

- Sim. – Falei. Mesmo sendo para o bem dela eu me sentia desconfortável dizendo aquilo.

Ao chegarmos Leo nos recebeu extremamente contente nos entregando as blusas e os bonés. Letícia foi para a cozinha e eu para o caixa. Era um sábado movimentado, mas graça a simpatia da maioria dos clientes as horas estavam passando rápido.

- Fernando. Posso falar com você? – Pediu Leo. – Já pedi para que a Denise fique no seu lugar enquanto isso.

- Claro. – Respondi.

- Na minha sala, por favor. – Falou. Acompanhei Leo até a sua sala e no caminho fiquei me questionando sobre qual seria o assunto de nossa conversa.

- Sente-se. – Assim o fiz. Leo não estava tão contente como normalmente e aquilo me preocupou. – Eu amo o seu trabalho Fernando. As pessoas sempre elogiam você, sua simpatia, sua aparência e eu realmente quero te manter aqui, mas sua namorada é desastre.

- Ela não é minha namorada...

- Mas ainda vai ser. – Respondeu Leo com total convicção. – Ela é o pior funcionário que já tivemos aqui desde que eu me tornei gerente e acredite já tivemos muitos funcionários ruins.

- Eu posso trocar de lugar com ela, tenho certeza que Letícia vai se dar bem no caixa...

- Não, não! Definitivamente não. – Interrompeu Leo com o tom de voz alterado o que acabou me assustando. – Você precisa ficar no caixa. – Completou, dessa vez com seu tom natural de voz.

- Por que ela não serve os refrigerantes? – Sugeri. – Algumas vezes eu acabo me atrasando em anotar os pedidos porque estou servindo outro cliente...

- Perfeito. Ela fica no caixa por você e, por favor, tente evitar que ela derrube as coisas.

- Tudo bem. – Respondi

- Mais uma pergunta. – Disse Leo. – Você se importaria em tirar a camisa enquanto atente os clientes?

...

Juro que tentei evitar que Letícia causasse muitos danos e ela definitivamente se saiu melhor no caixa, no entanto ainda assim não chegava nem perto de ser a funcionaria do mês. Ela tinha dificuldade em fazer duas coisas ao mesmo tempo e prometi a mim mesmo que quando saíssemos de lá eu começaria a rezar para que sua carreira de atriz desse certo, porque suas outras habilidades eram bem limitadas ou talvez até mesmo inexistentes.

Quando o expediente acabou nos despedimos e fomos embora. Letícia parecia exausta e eu não estava diferente.

- Como eu me sai? – Perguntou assim que entramos em sua casa.

- Você... Foi... Ótima.

- Ok, agora me fala a verdade. – Pediu. Dessa vez não consegui disfarçar tão bem que estava mentindo.

- Tem certeza? – Perguntei.

- FERNANDO!

- Esta bem, esta bem. O real motivo do Léo ter te colocado no caixa comigo é porque você estava sendo um desastre na cozinha e todos os funcionários reclamaram.

- O que?

- Sinto muito.

- Mas eu esforcei tanto! – Falou ela desapontada.

- Eu sei. Você só não leva jeito para isso. Mas não importa, porque todo mundo é bom em algo diferente. Eu por exemplo, seria um desastre atuando.

- Mas você não precisa ser um bom ator para ser rico. Basta ser bonito e você é bonito.

- E você é os dois. – Falei e ela me olhou dando um sorriso frouxo.

- Estou exausta. – Resmungou. – Acho melhor eu ir tomar um banho e dormir, amanhã vai ser um longo dia e eu prometo que vou dar o melhor de mim e vou conseguir surpreender o Leo e todos os outros.

- É assim que se fala!

E acredite, ela conseguiu.

...

Domingo, 13 de Dezembro de 2015.

Letícia havia tido uma melhora incrível a qual eu não pude evitar em me sentir orgulhoso e após ser elogiada por todos eu notei o quanto aquilo significava para ela. Era de certa forma sua independência.

Depois daquele longo dia de trabalho ao invés de irmos para casa descansar como fizemos anteriormente fomos até um bar com Omar para conversarmos. Nunca ri tanto em toda a minha vida as teorias de conspiração que ele tinha eram as mais hilárias possíveis. Letícia sentiu falta de ar após ouvir a historia de que Lindsay Lohan tinha uma irmã gêmea que foi morta em um ritual satânico organizado pela Disney. Omar era louco, e a loucura dele me divertia.

Apesar de o papo estar bom não fomos embora muito tarde porque eu teria que acordar cedo no dia seguindo para por um ponto final em uma longa e torturante etapa da minha vida a qual eu faria o possível para esquecer ou ao menos evitar me lembrar.

- É amanhã. – Falou Letícia escorando-se na porta do quarto onde eu estava dormindo.

- Sim, amanhã. – Respondi.

- Ansioso?

- Você não imagina o quanto.

...

Segunda-feira, 14 de Dezembro de 2015.

Era o grande dia. O meu grande dia. Não consegui dormir toda a noite, estava nervoso e não via a hora de colocar as mãos na caneta e assinar aquele maldito papel. Carolina insistiu em vim embora, mas eu a convenci de que não haveria necessidade. Ela conversou com Márcia pelo telefone a qual provavelmente deve ter tentado envenená-la contra mim, mas jamais obteria sucesso nisso, Carolina sempre esteve e sempre estará do meu lado.

- Você acreditaria se eu dissesse que sinto falta das flores? – Falei com Letícia enquanto íamos em direção ao carro.

- Pensei que você as odiasse, disse toda aquela filosofia de que elas eram vazias como a sua vida.

- Eu ainda vejo dessa forma, mas não posso negar que eram bonitas.

- Se você quiser depois plantamos outras, que tenham cheiro é claro.

- Eu adoraria. – Respondi.

- Agora vamos logos porque se não vamos chegar atrasados.

- Vamos. – Falei abrindo a porta do carro para ela e entrando logo em seguida.

Aquele dia era um dos dias em que parecia que tudo estava ao meu favor. Todos os semáforos pelos quais passamos estavam com o sinal verde, o tempo era fresco, porém o dia estava bonito. O transito mesmo naquela hora da manhã estava bem tranquilo e em menos de 15 minutos o meu carro foi estacionado na garagem do prédio de Jorge. Para a minha surpresa o de Márcia também já estava estacionado, o que significava que eu já teria a minha liberdade em poucos minutos.

Entramos no prédio e rapidamente me vi parado em frente a porta da sala de Jorge, sua secretaria já havia autorizado a minha entrada.

- Pronto? – Perguntou Letícia.

- Definitivamente. – Respondi.

- Vou esperar você aqui. – Falou. – Boa sorte. – Completou dando-me um beijo na bochecha.

Coloquei a mão na maçaneta e entrei. Márcia e Jorge ao ouvirem o barulho da porta viraram-se para mim. Jorge sorriu e Márcia apenas me olhou com desprezo, a qual era provavelmente a forma como eu também a olhava.

Sentei-me ao lado de Márcia e ouvi o que Jorge tinha a dizer, ou pelo menos tentei. Não conseguia prestar atenção porque uma imensa alegria dominava o meu peito e percebi que não parava de sorrir, mas assim que Jorge arrastou o papel com a caneta até mim eu despertei. Aquela era a hora. Eu assinaria a minha liberdade. Sem hesitar escrevi o meu nome e direcionei o papel para Márcia. Ela o olhou por um tempo e depois olhou para mim. Respirou fundo e assinou ao papel. Sim ela assinou. Eu Fernando Mendiola estava livre.

Cumprimentei Jorge e me despedi de Márcia sem obter resposta, o que é claro não me importou. Ao sair de lá senti que estava caminhando nas nuvens, era como se um enorme peso houvesse sido tirado de mim e eu enxergava tudo com mais cores e de forma mais viva. Assim que sai Letícia deu pulinhos em comemoração puxando-me para um forte abraço. Caminhamos até o carro enquanto eu tentava explica-la essas maravilhosas sensações que haviam tomado conta de mim.

- Eu não estou casado mais. – Falei. – Eu estou livre, eu estou livre de Márcia.

- Sim você esta. – Respondeu Letícia, ela parecia feliz em me ver feliz e aquilo significava muito para mim.

- Estou livre. – Repeti aproximando-me dela. – Livre. - A beijei. Porque aquilo era algo pelo qual eu ansiava há muito tempo. O nosso primeiro beijo apesar de ter sido maravilhoso havia uma sensação de culpa. Mas dessa vez foi diferente, não tinha nada que me impedisse de fazer aquilo. Eu era um homem solteiro e tinha uma forte atração por Letícia a qual para minha sorte era correspondida. Eu a puxei para mais perto de mim fazendo com que nossos corpos tivessem o mínimo de distancia possível. Ela correspondia aos meus beijos de forma doce e eu segurava em seu rosto, Letícia era como uma delicada boneca de porcelana e eu era o seu vigia que tinha o dever de protegê-la e era isso que eu faria. Não entendia ainda meus sentimentos por ela, mas sabia que eles existiam e agora eu teria a oportunidade de entende-los de forma melhor e não deixaria que nada e nem ninguém estragasse isso.

 

 

 

 

 


Notas Finais


E então o que acharam?



Sinopse do próximo: Fernando faz uma lista das coisas que sonhava em fazer, mas nunca pode e Letícia tenta ajudá-lo enquanto o convence a ir visitar os seus pais e fazer as pazes com Humberto.


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