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História O Vigia - Mean


Escrita por: lavegass

Notas do Autor


Demorei, mas postei.

Capítulo 8 - Mean


“You, have pointed out my flaws again
As if I don't already see them
I walk with my head down
Trying to block you out cause I'll never impress you”

Segunda-feira, 14 de Dezembro de 2015.

Eu continuava beijando Letícia naquele estacionamento sem me importar com as pessoas que passavam por lá, ela me correspondia e era apenas isso no que eu me concentrava, por mim permaneceríamos ali durante muito tempo.

- Deveríamos ir. – Falou ela. Interrompendo o beijo.

- Tudo bem. – Falei sorrindo, mas ao mesmo tempo um pouco desapontado. – Eu estou tão feliz. – Completei abraçando-a. Aquilo não havia necessidade de ser dito, pois era evidente, eu não conseguia parar de sorrir e estava mais agitado do que o normal.

- Deu para notar. – Respondeu Letícia. – Mas que tal irmos para casa? Acho que precisamos ter uma conversa...

- Sim! Claro. Vamos! Vamos! – Chamei.

Juro que estava tentando não parecer tão estranho, mas meu corpo todo vibrava e era como se eu tivesse aquela necessidade de mostrar ao mundo o quanto eu estava feliz, já que eu não me sentia assim há muito tempo.

Durante todo o caminho eu cantei, ou pelo menos, tentei cantar todas as musicas que passavam na rádio, Letícia me assistia e estava se divertindo com tudo aquilo, as vezes até cantava comigo.

- Eu quero fazer uma lista. – Falei assim que entramos em sua casa.

- Uma lista?

- Sim! Quer dizer, na verdade eu já tenho essa lista. Só quero fazer as coisas escritas nela.

- E o que tem nela? – Perguntou Letícia jogando-se no sofá. Sentei-me ao seu lado e tirei a minha carteira do bolso. Eu havia feito àquela lista há pouco mais de um ano atrás. Assim que a encontrei no meio dos meus documentos comecei a lê-la mentalmente.

- Duas coisas escritas nela eu já fiz.

- Sério, e o que é?

- Me demitir e me divorciar. Agora faltam apenas três.

- Deixa-me ver. – Pediu ela puxando a lista da minha mão. – “Comprar uma geladeira vermelha”, por que você quer uma geladeira vermelha?

- Eu gosto, é Retrô. Ou Vintage, na verdade eu não sei a diferença.

- Entendi. Segundo item “Resgatar um animal de rua”...

- Vai precisar ser um gato, o motivo você já sabe.

- Então você vai sair por ai procurando gatos?

- Não, tem que ser por acaso, precisamos ter uma conexão, sabe?

- Ok. Terceiro item “Entrar para a faculdade”. Esse é interessante, que curso você pretende fazer?

- Gastronomia.

- Sério?

- Sim, eu quero ser um Chef, ter o meu próprio restaurante e depois o meu próprio programa de TV também.

- Você já cozinha bem, então pode contar com o meu apoio.

- Obrigado!

- E agora o ultimo... “Convidar uma mulher bonita para sair.”.

- Esse vai ser difícil. Eu não conheço nenhuma mulher bonita. – Brinquei. E Letícia me olhou surpresa, mas antes que ela dissesse alguma coisa eu continuei a falar. – Na verdade eu conheço uma, mas não sei se ela aceitaria...

- E eu a conheço? – Perguntou aproximando-se.

- Sim.

- Posso saber o nome dela?

- É a Mariana que mora na casa da esquina.

- Fernando! – Xingou Letícia afastando-se.

- Calma. Calma. É brincadeira. – Falei puxando-a para perto de mim. – Quer jantar comigo hoje à noite? – Perguntei.

- Eu não sei. – Respondeu ela.

- O que?

- Não sei se você esta merecendo. Você já me fez muita raiva hoje.

- Eu prometo que vou me comportar.

Letícia me olhou pensativa.

- Tudo bem, mas tem uma condição.

- O que você quiser.

- Você vai ter que me deixar livre essa tarde.

- Como assim livre?

- Não vai ter graça se ficarmos o dia todo juntos e depois sairmos para jantar. Então vou vai para algum lugar e me busca aqui na hora combinada.

- Tudo bem, mas ainda temos um tempo juntos e eu preciso que vá comigo até a minha casa. Como tem um tempo que eu não cozinho lá a despensa deve estar cheia de coisas perdidas.

- Então vamos logo, podemos fazer o almoço lá.

- Você quis dizer que eu posso fazer o almoço lá.

- Eu sempre te ajudo!

- Você tenta. – Impliquei, mesmo aquilo sendo a mais pura verdade. Letícia me olhou com cara feia, mas logo soltou um sorriso.

Fomos até a minha casa e não consegui deixar de notar o caos que estava o meu jardim após as flores de Márcia terem sido queimadas, eu precisava dar um jeito naquilo, mas não seria agora.

- O que é isso? – Perguntou Letícia assim que entramos ao encontrar um envelope perto da porta. Ela se abaixou e o pegou.

- É uma carta? – Questionei ao analisa-lo em sua mão. Letícia o virou e afirmou com um meneio de cabeça.

- Sim, é da Márcia. Posso abrir?

- Claro! – Respondi. – Você pode ir lendo ela para mim enquanto organizo a cozinha. – Pedi.

- Tudo bem. – Falou Letícia acompanhando-me até a cozinha. Ela se escorou na pia e começou a ler a carta a qual era basicamente Márcia listando todas as coisas dela que ainda estavam na casa e que seriam buscadas por um caminhão na próxima semana. – A geladeira também esta no meio, então essa é uma oportunidade de você comprar a vermelha.

- Na verdade pelo que eu entendi, eu só vou ficar com a TV e o ventilador.

- Você pode redecorar sua casa toda Retrô.

- Com o dinheiro que eu tenho acho que vou ficar é sem moveis por um tempo.

- Ou você é muito controlador ou você é muito dramático.

- Acho que ambos. – Confessei.

Retirei todas as coisas estragadas da cozinha e acredite, não foram poucas. Márcia provavelmente mal pisou lá dentro quando esteve sozinha na casa. Assim que terminei preparei o nosso almoço.

- Onde vai querer que eu te leve? – Perguntei enquanto recolhia a louça.

- Quero que me surpreenda.

- Se eu fosse você não esperaria muito de mim.

- Tarde demais. – Respondeu ela aproximando-se, coloquei a mão em seu rosto na intenção de beija-la, mas fui interrompido pelo toque do meu celular, pensei em ignorar, mas a possibilidade de ser Carolina fez com que eu resolvesse atender.

- É o meu pai. – Falei surpreso. – Nos não conversamos desde o dia em que eu me demiti...

- Atende. – Sugeriu Letícia. – Pode ser importante.

- Tudo bem, com licença. – Falei caminhando em direção à sala. – Alô.

- Eu soube do divórcio, você ficou maluco Fernando? – Disse meu pai quase gritando.

- Bom dia para você também. Há quanto tempo não é? Como estão as coisas por ai?

- Sem gracinhas Fernando!

- Bom, vejo que o senhor não parece ter nenhuma novidade, mas eu tenho. Finalmente eu consegui me divorciar de Márcia, como eu já disse para o senhor algumas vezes eu já não suportava mais esse casamento. – Falei ignorando tudo o que havia sido dito por ele.

- Casamentos não funcionam dessa forma Fernando. Você não pode simplesmente desistir porque tiveram um mês difícil. – Insistiu ele.

- Um mês pai? Foram anos! Eu fiquei 19 anos esperando que as coisas melhorassem, mas isso não aconteceu. Não podia perder mais tempo da minha vida na espera de uma mudança impossível. Quando eu finalmente assinei aqueles papeis foi como se eu peso saísse de cima de mim. Eu estou feliz agora e eu já não me sentia assim há muito tempo. – Falei e por um largo período a única resposta que obtive dele foi o silêncio. Após aparentemente ter absorvido tudo o que eu disse meu pai soltou um grande suspiro.

- Pode vim aqui em casa? Eu e sua mãe queremos falar com você. – Pediu.

- Se for para tentar me convencer a voltar com a Márcia...

- Não, não é nada disso. Nós só... Sentimos sua falta.

Confesso que aquilo havia mexido comigo, mas ainda não sabia se deveria acreditar. Meu pai nunca foi de me procurar e em todas as desavenças do meu casamento ele sempre se mostrou estar do lado de Márcia e eu duvidava que dessa vez seria diferente.

- Eu não sei... – Respondi sincero. – Conversamos depois tudo bem?

- Como você quiser. – Falou ele desanimado. Eu não sabia o que dizer então resolvi desligar. Eu e meu pai nunca tivemos uma boa relação, é claro que eu o amo, mas vendo a forma como me dou bem com Carolina percebo que nunca tivemos essa liberdade um com o outro. Eu nunca me senti confortável em poder contar as coisas a ele. Éramos apenas pai e filho quando também deveríamos ser melhores amigos.

- Desculpe por ter ouvido a conversa mais você precisa ir. – Falou Letícia vinda da cozinha. – Eu não sei o que aconteceu com você e com o seu pai, mas precisa ser resolvido.

- Eu não tenho coragem o suficiente para encara-lo. Pelo menos não agora.

- E se eu for com você? – Sugeriu.

- Pensei que queria ficar livre de mim essa tarde.

- Não seja dramático Fernando. Além disso, agora são 13h podemos ir e voltar as 15h, o que acha?

- Eu acho que não vamos aguentar ficar duas horas na casa dos meus pais. – Respondi.

...

Eu estava nervoso. E notando isso Letícia tentou me distrair o caminho todo, não obtendo muito resultado. Assim que estacionei na frente da casa dos meus pais meu corpo gelou. Parecia até que estava indo para a cadeira elétrica, quando na verdade aquela visita seria provavelmente o meu julgamento. Respirei fundo e antes que eu cogitasse em apertar o interfone o porteiro abriu o portão.

- Não quer estacionar o seu carro aqui dentro, Senhor Fernando? – Perguntou ele.

- Não Marcos. Nos não vamos demorar. – Respondi. Ele apenas assentiu e eu caminhei com Letícia até a porta. Minha mãe foi quem nos atendeu.

- Eu pensei que nunca mais veria você de novo. – Falou ela assim que colocou seus olhos em mim.

- Se quisesse me ver era só a senhora ter ido a minha casa. – Essa resposta faz com que minha mãe me encarasse incrédula e Letícia me desse um leve beliscão.

- Fernando... Você sabe que as coisas não são tão simples assim.

- Claro! – Não queria que aquele assunto rendesse então resolvi termina-lo. – Essa é Letícia, minha... Amiga, ela mora do lado da minha casa.

- Muito prazer querida! – Falou minha mãe cumprimentando-a. – Eu sou Tereza.

- O prazer é todo meu.

- Que cabeça a minha, até agora não convidei vocês para entrarem! Venham, entrem! – Chamou e assim fizemos. A última vez que estive na casa dos meus pais foi no dia do aniversário de minha mãe, o qual havia sido em março. Mas nada estava diferente. - Vamos à sala de visitas, o seu pai esta lá.

Respirei fundo e a segui. Apesar de ter tido uma conversa mais tranquila do que o esperado com meu pai pelo telefone vê-lo pessoalmente me deixava nervoso, ele poderia tacar coisas em mim e desde criança toda vez que ele gritava comigo eu tinha vontade de chorar. Evita-lo durante uns cinco anos parecia ser uma melhor opção. Minha vontade naquele momento era de sair correndo daquela casa, mas infelizmente Letícia não permitiria isso. E eu tinha essa estranha necessidade de tentar agrada-la sempre.

- Você veio. – Falou meu pai deixando o jornal que lia em cima da mesinha.

- Sim. – Respondi. Se eu estava ali era por que eu tinha ido, não é mesmo? – Essa é Letícia.

Como resposta meu pai olhou para ela e em seguida para mim, ele fez isso mais umas três vezes a ponto de deixar aquela cena o mais estranha possível.

- Olá Letícia, eu sou Humberto, é um prazer conhecê-la. – Disse ele.

- O prazer é todo meu, senhor Humberto.

- Sentem-se, vamos conversar. – Chamou minha mãe. Por um momento pensei que entraríamos em um silêncio constrangedor, mas para a minha sorte ao contrario de mim e dos meus pais Letícia era extremamente comunicativa e iniciou uma agradável conversa. Ela começou falando sobre os moveis dos meus pais e como em sua casa tinham alguns parecidos, eles falaram sobre musica, teatro e no meio daquela conversa meus pais já haviam convidado Letícia para passar o ano novo no sitio deles. No entanto o assunto “Conceitos” acabou surgindo e é claro que sobrou para mim.

- E você Letícia, se interessa pelos negócios do seu pai ou não dá a mínima como Fernando? – Perguntou meu pai alfinetando-me.

- Eu me interesso, mas não esta entre as minhas prioridades. Assim como Fernando eu tenho outros sonhos e pretendo correr atrás deles. – Respondeu ela. E eu não pude evitar em olhá-la com ternura.

- E quais são seus sonhos Fernando? – Perguntou minha mãe. É claro que ela não sabia, sempre que sentávamos para conversar ela era a única que falava. Nunca se interessou em saber como iam meus estudos, meu trabalho e muito menos o meu casamento.

- Eu pretendo abrir um restaurante, mas antes quero fazer Gastronomia.

- Esta falando sério? – Perguntou meu pai com uma risada de deboche.

- Sim, eu estou.

- E sua tentativa é adquirir experiência na cozinha trabalhando naquele lugar? – Questionou a minha mãe. Ótimo, os dois estavam contra mim, de novo.

- Eu acho que o Fernando já tem experiência suficiente. – Falou Letícia, como se tentasse evitar uma provável discussão caso eu soltasse a minha impulsiva resposta.

- Não sabia disso. – Disse meu pai. – Ele nunca cozinhou para a gente.

- Em minha defesa já chamei o senhor e a mamãe centenas de vezes para jantarem lá em casa, mas apenas obtive “não” como resposta.

- Você sabe que nos não temos...

- Tempo para mim. Sim eu sei, mamãe.

- Falando assim parece que somos os piores pais do mundo. – Falou meu pai e eu fiquei calado. Não porque eu concordava com aquilo, eles não eram os piores, mas definitivamente não haviam sido bons o suficiente para mim. – Quando você chegou eu pensei que estaria diferente. – Continuou meu pai na tentativa de nos tirar daquela cena delicada.

- O que quer dizer?

- Pensei que te veria abalado com o divórcio, mas você parece...

- Feliz. Eu estou feliz papai.

- Eu também Fernando, eu também. – Falou minha mãe surpreendendo-me. – No meu aniversário eu vi a forma como você e Márcia se olhavam, não tinha mais amor ali. Talvez eu não demonstre muito, mas eu tenho muito orgulho de você e tudo o que eu mais quero é ver a sua felicidade. – Continuou ela.

- Obrigado mamãe, de verdade. A senhora não tem ideia de como me fez bem ouvir isso. – Respondi sincero. Letícia nos olhava contente, enquanto meu pai parecia desconfortável e perdido em seus próprios pensamentos.

- Como Carolina reagiu com isso? – Perguntou ele. – Soube que ela viajou.

- Ela reagiu bem, Carolina melhor do que ninguém sabia como estava o meu relacionamento com a mãe dela.

Ele apenas assentiu. Meu pai sempre demonstrou ter um carinho por Márcia, afinal ela sempre fez de tudo para agrada-lo, ao contrario de mim que estava sempre o decepcionando.

- Por que você não fica para o jantar? Pode cozinhar para gente. – Pediu ele. – Assim descobriremos se Letícia foi sincera ou se apenas disse aquilo para te agradar. – Confesso que aquele convite foi totalmente inesperado. Meu pai nunca me convidava para nada a não ser em eventos especiais como aniversário, natal e ano novo. Nunca nos reuníamos apenas por reunir. Tínhamos sempre que ter algo ou uma data que justificasse tal ato.

- Eu adoraria, mas já tenho um compromisso. – Respondi. Apesar da proposta de jantar com meus pais fosse algo totalmente tentador para um filho carente como eu, a vontade de ter um momento a sós com Letícia falava mais alto. Tínhamos muito que conversar e eu não queria adiar isso.

- Entendo. – Respondeu parecendo desapontado o que quase me fez mudar de opinião, mas por sorte minha mãe trouxe uma solução para todos.

- Por que não um almoço, amanhã? E a Letícia pode trazer um dos vinhos do pai dela. – Sugeriu.

- Eu adoraria. – Respondeu Letícia.

Aquilo me deixou feliz, era como se o vento naquele dia soprasse ao meu favor, meus pais pareciam querer se redimir comigo e eu não poderia estar mais contente.

...

- Que horas quer que eu te busque? – Perguntei assim que estacionei o carro na garagem de Letícia.

- Agora são 16h, seus pais pegaram a gente de conversa por mais tempo que o esperado. Acho que até às 21h consigo ficar pronta. – Respondeu.

- Por que vai demorar tanto?

- Preciso dormir um pouco.

- Sei. – Falei desconfiado.

- E você? O que vai fazer enquanto isso?

- Na verdade eu ainda não sei, mas com certeza vou conseguir ficar pronto antes das 21h.

- Engraçadinho.

- Bom, vou parar de tomar o seu tempo. Não quero que se atrase mais do que o previsto. Até mais tarde.

- Até mais tarde. – Respondeu saindo do carro.

Eu realmente não tinha ideia do que faria enquanto esperava pela hora do meu encontro com Letícia, mas precisava me distrair com algo ou aquela ansiedade iria me consumir. Resolvi separar a roupa que eu usaria, mas antes que entrasse em minha casa fui interrompido por Omar.

- E ai cara! Como foi o lance do divórcio? – Perguntou.

- Já está tudo resolvido. – Respondi satisfeito.

- Então você se livrou daquela maluca?

- Sim!

- Finalmente vai poder pegar a Letícia! Se é que já não esta fazendo isso...

- Mais respeito. – Falei. Apesar de conhecer Omar há pouco tempo tínhamos uma grande liberdade um com o outro.

- Desculpa. – Pediu. – Mas falando na Letícia onde ela está?

- Provavelmente dormindo. Ela me deu o dia de folga. – Não queria contar a ele sobre o nosso encontro, pois o via como algo apenas meu e dela.

- Legal! E o que pretende fazer?

- Eu ainda não sei. Sabe de algum lugar que por acaso tenha uma geladeira vermelha para vender?

- Talvez... – Respondeu ele desconfiado.

...

Omar parecia conhecer a cidade como a palma de sua mão e isso podia ser facilmente explicado com o fato de que ele era um sem serviço e não fazia nada além de ficar andando por ai.

Havia três lugares que ele me indicou onde eu possivelmente encontraria a minha geladeira vermelha. O primeiro deles ficava no centro, era uma loja parecida com um topa-tudo onde vendia móveis usados. Encontrei a geladeira vermelha, mas o seu estado estava péssimo e o preço alto fazia com que definitivamente não valesse a pena.

O terceiro lugar ficava em um bairro próximo ao meu e me senti idiota em não ter passado lá antes. Eles não tinham uma geladeira vermelha e queriam que eu levasse a azul de todo jeito, mesmo gostando dela eu não poderia desobedecer ao que estava escrito na minha lista.

As pessoas costumam dizer que encontramos o que procuramos no ultimo lugar que olhamos e isso é claro que não faz sentido algum, afinal se a gente encontrou o que faria com que continuássemos a procurar? Bom, nesse dia talvez eu tenha entendido o possível sentido que as pessoas veem nisso. A terceira loja ficava em um bairro afastado e quando entrei La dentro senti vontade de compra-la toda. Eu não costumo ligar muito para decoração, mas os moveis que vi lá me encantaram. Quando dei por mim já estava passando o cartão e agendando a entrega da minha nova geladeira e estante para a manhã do dia seguinte.

Quando cheguei a minha casa eram 18h e eu ainda tinha três horas até o meu encontro com Letícia. Resolvi ir comer alguma coisa na padaria do meu bairro. Fiquei lá por mais tempo que o esperado e acabei saindo às pressas para tomar o meu banho, no entanto no caminho algo que eu temia aconteceu. Um cachorro me seguiu. Ele era pequeno, provavelmente um filhote, mas isso não o deixava menos assustador, pelo menos não para mim. Apressei os passos, no entanto, a sorte que esteve comigo o dia todo parecia ter desaparecido e o azar que naquele momento me acompanhava fez com que eu tropeçasse. Antes que eu obtivesse energias o suficiente para me levantar o cachorro se aproximou. Meu corpo gelou e inevitavelmente eu comecei a tremer. Era o meu fim. Eu iria morrer na calçada de três casas antes da minha. Ele estava mais extremamente perto do meu rosto e abriu sua grande boca, fechei os olhos porque tinha a absurda certeza que seu próximo ato seria o de devorar a minha cabeça, mas ao invés disso ele me lambeu. Sim, ele me lambeu. E não de uma forma bruta, mas sim carinhosa. Ao sentir o meu rosto úmido devido “aos beijos” que eu havia recebido daquele animal, todo o meu medo sumiu e eu comecei a rir. Finalmente tive forças para me levantar e assim que o fiz acariciei a cabeça dele.

- Você não me matou, obrigado. – Falei, e obviamente não obtive resposta. – Você é macho ou fêmea? Deixa-me ver... – Continuei, abaixando-me. – Macho. Você fugiu de alguma casa? É claro que não. Se tivesse fugido não estaria tão magrinho. – Aquele cão me encarava e pude notar que seus olhos brilhavam. Naquele momento não pude deixar de pensar que aquele era o animal que eu deveria adotar. – Não. Eu não posso fazer isso. – Falei sozinho, ou para ele. – Eu tenho medo de cachorro. Tudo bem que eu não tive medo de você e... Você parece ser um carinha legal, mas... Por favor. Não me olha assim. Eu não quis te ofender. – O cachorro continuava me encarando e suas expressões mudavam como se entendesse o que eu dizia. – Tudo bem, já que você insiste eu levo você para casa, mas vai ser só um teste ok? Se não se comportar eu... Não se preocupe eu não te deixar na rua de novo, mas vou ter que arrumar outro lar para você. Não pense nisso, pelo menos não agora. Concentre-se em se comportar.

Ele me acompanhou abanando o rabo todo o caminho. Eu provavelmente havia ficado louco, estava levando um cachorro para a minha e pior de tudo eu realmente havia gostado dele. Rua raça era indefinida, parecia uma mistura de chihuahua com yorkshire, mas era provavelmente uma das criaturas mais fofas que eu já havia visto.

Assim que cheguei a minha casa dei a ele água e alguns pedaços de pão. Compraria a ração na manhã seguinte. Arrumei uma caixeta e coloquei alguns panos para esquenta-lo. Quando terminei e olhei no relógio me assustei, já eram 20h30. Corri para o banheiro e tomei um dos banhos mais rápidos de toda a minha vida. Vesti a roupa que havia separado mais cedo e me perfumei. O cachorro olhava atentamente todos os meus movimentos e só então me lembrei de que deveria dar um nome a ele.

- Vamos deixar isso para mais tarde esta bem? Eu tenho um encontro para ir... Prometo não voltar muito tarde. Comporte-se. – Pedi acariciando-o. Quando sai de casa já eram 21h10, não me preocupei porque tinha grandes possibilidades de Letícia não estar pronta. Eu estava errado. Assim que bati a campainha ela me atendeu e eu fiquei hipnotizado.

- Pensei que não viria mais. – Falou e eu não consegui responder. Não conseguia parar de olhá-la de cima a baixo. Estava linda. Maravilhosa. – Fernando. – Chamou e só então me lembrei de fechar a boca.

- Você está linda! – Respondi e ela sorriu, conseguindo ficar ainda mais deslumbrante.

- Você também não esta nada mal. – Falou.

- Obrigado! – Respondi passando a mão em meu palito. – Vamos? – Completei estendendo meu braço a ela.

- Claro.

...

O restaurante que eu iria levá-la ficava um pouco longe, mas valia a pena. Eu havia ido nele apenas duas vezes, uma com Carolina e outra sozinho. Era um lugar tranquilo, agradável e que tinha uma comida maravilhosa. Um lugar perfeito para o nosso primeiro encontro o qual eu faria o possível para que fosse especial.

Letícia adorou o lugar e posso afirmar isso porque ela me disse isso diversas vezes. Sentamos-nos em uma mesa mais reservada e rapidamente fomos atendidos. Eu pedi o mesmo prato que havia pedido das outras duas vezes e Letícia o quis também. Iniciamos a nossa conversa de forma agradável, primeiramente comentamos sobre o lugar e em seguida sobre a nossa vizita a casa dos meus pais.

- Eu gostei deles. – Falou Letícia. – O almoço amanhã será agradável.

- Assim espero. – Respondi olhando-a.

- O que foi? – Perguntou tímida após dar um gole em seu vinho.

- Você esta linda. Adorei o vestido.

- Sério? Eu escolhi qualquer um, peguei de ultima hora no meu guarda-roupa.

- Achei que tivesse comprado ele para o nosso encontro.

- E o que te fez pensar isso? – Perguntou divertida.

- A etiqueta pendura atrás dele. – Respondi e o rosto de Letícia corou imediatamente.

- Droga! Eu sempre faço isso... – Falou colocando as mãos no rosto. – Que vergonha.

- Não precisa ter. Na verdade isso fez com que eu me sentisse especial. – Letícia sorriu timidamente, seu rosto estava mais vermelho ainda.

- Pode tirar ela para mim? – Pediu e eu assenti me levantando da cadeira. A etiqueta era grande então mesmo alguém “voado” como eu rapidamente a perceberia.

- Foi caro em? – Falei enquanto lia a etiqueta. Letícia a puxou da minha mão e soltou uma gargalhada.

- Mas provavelmente vou poder usá-lo a vida toda.

- Não se você engordar. – Letícia me encarou incrédula. – O que foi? Acontece com todo mundo, eu, por exemplo, engordei uns 10kg.

- Você esta ótimo.

- Obrigado. Faço caminhada com as vizinhas todo dia de manhã. – Brinquei e acabei levando um soco no braço.

Tivemos dificuldade em comer porque não conseguíamos parar de conversar, principalmente eu. Estava mais tagarela do que o normal. Contei a Letícia sobre a geladeira e a estante e ela disse que mal podia esperar para vê-las.

- Tem mais uma coisa. – Falei. – Eu adotei um animal de estimação.

- Conseguiu achar o gato?

- Na verdade foi um cachorro.

- O QUE? – Gritou Letícia atraindo a atenção de alguns clientes para-nos. – Desculpe. Você esta falando sério?

Afirmei com um meneio de cabeça e comecei a narrar a ela como havia sido o tal encontro com o meu mais novo “amigo”.

- Eu estou impressionada. – Falou. – Já sabia que você perderia esse medo por cachorros, mas pensei que demoraria mais um pouco.

- Eu não perdi, eu só não tenho medo dele.

- Sei. – Respondeu desconfiada. – Já pensou em um nome?

- Na verdade não. Pode me ajudar?

- Para isso vou precisar vê-lo antes.

- Tudo bem. – Respondi.

Continuamos falando sobre assuntos aleatórios até que notei que já era tarde e ainda não havíamos tocado no que realmente importava: qual seria o nosso futuro.

- O que vamos fazer? – Perguntei.

- O que quer dizer?

- Com relação a... Nós.

- Oh. Bem eu... Eu gosto de você e confesso que já não me sentia assim há muito tempo. È confuso o início de relacionamentos, mas... Acho que estamos no caminho certo.

- Eu também. – Respondi pegando sua mão e beijando-a. – Eu gosto da forma como estamos indo.

- Sim e eu aposto que vamos gostar mais ainda de onde chegaremos. – Aquilo não fez muito sentido para mim naquele dia, mas depois pude entender completamente.

Fomos os últimos a deixar o restaurante e confesso que só o fizemos ao notar que os garçons já nos olhavam de forma impaciente. O tempo com Letícia passava voando, ela era divertida e eu me sentia bem quando conversávamos.

- Eu adorei o jantar. – Falou ela encostando-se à porta do carro assim que chegamos a nossas casas.

- Eu também. – Respondi apoiando o meu braço um pouco acima de sua cabeça. Letícia sorriu e eu não pude evitar em encarar a sua boca. Encostei nossas testas e a beijei. Toda vez que beijava Letícia meu corpo era presenteado com sensações distintas e uma melhor do que a outra, seus lábios eram macios, seu beijo era doce e eu sentia que poderia ficar ali pelo resto da minha vida. Eu não me importava em ficar sem fôlego ou que estávamos fazendo isso em uma rua onde todos os vizinhos conheciam muito bem a sua família e podiam ligar a qualquer momento fazer o senhor Erasmo sair da Itália só para me bater. Quando eu estava com Letícia daquela forma à única coisa que se passava por minha cabeça era a sorte que eu tinha em ter uma alguém como ela interessada em mim. E eu não permitiria que nada e nem ninguém atrapalhasse o inicio de algo que provavelmente seria uma das melhores coisas da minha vida. Ela me puxou para mais perto e acariciou o meu cabelo segurei em sua cintura apertando-a levemente. Só então notei que era melhor pararmos por ali. Não queria ir longe demais, prometi a mim mesmo que não apressaria as coisas, precisávamos dar um passo de cada vez e eu tinha certeza de que todos esses passos seriam maravilhosos. Parei o nosso beijo com selinhos e Letícia suspirou parecendo desapontada.

- À noite esta linda. – Falei assim que notei a lua que nos iluminava.

- Sim. – Respondeu Letícia encarando o céu, e eu não conseguia parar de encara-la com os lábios rosados devido ao nosso demorado beijo. – Oh, meu Deus! – Falou ela despertando-me.

- O que foi? – Perguntei.

- Olha quem esta ali na janela. – Falou apontando para a casa de Omar. Assim que olhei pude ver o pai dele nos encarando.

- Há quanto tempo será que ele estava ali? – Perguntei.

- Eu não. Só sei que esse homem me dá arrepios. – Respondeu ela se sacudindo de forma divertida.

- Se ele tiver nos visto deve estar se perguntando “Esse cara já superou a esposa?”.

- Na verdade se ele tiver nos visto deve estar se perguntando “Esse cara é bissexual?”. – Brincou Letícia caindo em uma gostosa gargalhada logo em seguida a qual eu não pude evitar em não acompanhar. Aquela noite havia sido incrível e eu mal podia esperar pelo dia seguinte, pois sabia que ele não iria me decepcionar já que eu o passaria com Letícia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Esse capítulo é pequeno, mas prometo que o próximo será maior e ainda terá passagem de tempo. Espero que tenham gostado!


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