História O Voo da Fênix - Parte 2 - p.2

    Depois de passar algumas horas em repouso, Auroro acordou, abriu suas asas e pôs-se a voar pelo porão frio e escuro para se alongar. Quando terminou de se alongar, pousou numa viga de uma coluna de sustentação, sentia-se estranhamente bem em relação a sua atual situação, permaneceu imóvel, se tornando imperceptível a quem olhassem sem prestar atenção no velho porão, podia ser confundida com um animal empalhado, de tão sem vida que era sua expressão. Após passar um longo tempo meditando, refletindo a respeito de seu dia até o momento em que fora interrompida por um som que vinha de sua barriga coberta por penas, estava faminta, ainda não tinha comido nada desde que acordara, porém, algo estava diferente, não era a mesma sensação, sentia que seu alimento estava no porão, então, Auroro abriu as asas e voou até aterrissar no chão. Assim que aterrissou, pôs-se a seguir o aroma que atraía sua atenção, foi quando viu que o que parecia que saciaria sua fome era, na verdade, um camundongo que vivia no porão. Deixando se levar pelo novo lado animal, avançou sem pestanejar na direção do pobre roedor, o dilacerando em milhares de partes, agarrava um pedaço com seu bico, o jogava para o alto e comia. Quando saciou sua fome, guardou os restos mortais do pequeno roedor, a fim de consumi-los mais tarde, após terminar de guardar a comida, percebeu um corte ligeiramente profundo em sua garra direita, "Como não senti isso antes ?", questionou-se Auroro, tentando lembrar do momento em que se cortou, porém, de nada lembrou. Essa situação, somada com as anteriores resultaram em uma enorme carga de sentimentos misturados, fazendo com que Auroro desabasse em lágrimas, uma dessas lágrimas caiu justamente em cima do corte, o curando. Surpresa com a nova descoberta, abaixou sua cabeça até ficar bem próxima de sua garra, já que queria ter certeza de que não estava enlouquecendo, "Essa é nova.", disse para si mesma.
    Os dias se passaram e Auroro foi se tornando cada vez mais selvagem, aquela era o "novo eu" dela, embora não precebesse estava, realmente, muito diferente desde que se metamorfoseara, estava mais ágil, experta, veloz e até mais arisca em relação a território, competia com os animais do porão e como se é de esperar, ganhava todas, tornou-se superior a todos, em todos os sentidos, tinha se tornado completamente diferente, exceto por um único assunto em especial, sua família.
    Em todo esse tempo em que estivera vivendo no porão, ninguém, nem uma única vez a foi visitar. Preocupada, pois não via seus pais a bastante tempo, decidiu sair do porão para ver como eles estavam.
    Assim que saiu do porão, foi procurar seus pais. Procurou por eles na casa toda, mas não os achou, reparou que havia muita poeira nas fotos penduradas nas paredes, estranhou, "O que aconteceu aqui ? Por quanto tempo fiquei naquele porão escuro e frio ?", perguntou-se Auroro, foi quando viu, ao entrar no quarto de seus pais, caixas de papelão empilhadas por todo o cômodo, "Não pode ser... eles abandonaram a casa ?!", gritou ela, que ao andar, com passos fortes, na direção do porão, olhou no relógio eletrônico e ficou surpresa com o que viu. Haviam se passado dois anos desde que se trancara no porão, "Não posso acreditar nisso...", pensou Auroro, enquanto voltava para o porão, andava com passos lentos, estava praticamente se rastejando  de tão chcada que estava.
    Quando chegou no porão trancou a porta, foi para os fundos do cômodo e sentou-se no chão, pensando na descoberta feita recentemente e em como sua metamorfose estava a atrapalhando somente. Já que Auroro adorava mitologia, já tinha pesquisado sobre as fênix e chegara a conclusão que, graças aos seus poderes de cura, elas automaticamente iam se rejuvenescendo, o que alterava a questão de tempo para elas.
    Passou a relembrar de sua vida antes e depois da metamorfose, com isso dm sua mente, começou a refletir sobre questões como: "Por que essa metamorfose aconteceu justamente agora ?" e  "Por que os meus pais nunca foram me vistar ? Eles tinham vergonha, nojo e asco de mim ?" e a questão que mais martelava seus pensamentos era "Por que comigo ?", quanto mais tentava encontrar a resposta, mais distante se sentia de solucionar esse complexo enigma que tanto a atormentava. De tanto que estava atormentada, tanto com suas dúvidas, quanto com o fato de se sentir abandonada, começou a ficar seriamente perturbada, chegando ao ponto de não conseguir dormir, tinha terríveis pesadelos, o que estava a levando à insanidade completa. Com o tempo, Auroro passou a se acostumar com a escuridão e a solidão, sua única companhia era a sua futura comida, suas presas indefesas. Em suas reflexões e meditações frequentes, passava a se sentir cada vez mais insignificante, até que um dia, chegou à conclusão de que havia se tornado um nada, de que não tinha mais uma razão de viver, que toda sua vida fora em vão, de que nada mais tinha um determinado sentido.