História O Voo da Fênix - Parte 3

    A cada ano que passava, Auroro sentia mais e mais asco, nojo e raiva de si mesma, o que a deixou em um conflito emocional extremamente complicado de se libertar. Passava horas a fio refletindo sobre sua vida, não havia um único momento em que não desejava estar morta. De tantos ter pensamentos sobre a morte, acabou ficando louca, enlouqueceu, ficou se ferindo de formas extremamente perigosas, em sua maioria eram letais. Auroro abusava de seu poder de cura, por isso se martirizava com certa frequência, até que chegou o momento em que os ferimentos não eram suficientes, decidiu então acabar com isso de uma vez por todas.
    Sabendo que não poderia morrer queimada, devido sua mutação, optou por tomar comprimidos. Como forma de garantia, achou um humidificador e junto da água, colocou os velhos remédios para dormir, moídos. Na certeza de que isso a mataria.
    Assim que ligou a máquina, pegou os comprimidos que achara nos banheiros, fora do porão e os ingeriu. Primeiramente ficou tonta, mas não tinha certeza se era devido os comprimidos ou o gás que ligara. Ao contrário do que normalmente seria, Auroro não demonstrou medo, aflição ou qualquer coisa do gênero, ela sentia algo que há tempos não sentia, sentia-se ótima, livre finalmente. Cai no chão do cômodo, ficando totalmente esparramada, largada como uma boneca de pano, abandonada por sua dona, esboçou um sorriso verdadeiro, de alívio completo, sentia-se finalmente viva. Tudo ficou escuro.
    Mais tarde, naquela mesma madrugada, algo inesperado aconteceu, Auroro abriu seus olhos. Estava viva afinal. Decepcionada com o fato de ainda estar viva, permaneceu deitada na escuridão fria do porão olhando para o teto na pose em que normalmente deixam-se os defuntos. "Será possível que eu nunca morrerei ? É o que todos  temem, então qual o por quê de eu não conseguir algo tão simples e natural para os outros ? ", perguntou-se Auroro, que com um simples piscar de olhos começou a chorar, sem entender mais nada que acontecia.
    Cada dia que passava, Auroro tentava novamente o ato, mas não importava o quanto se esforçasse, nunca dava certo, sempre levantava, continuava respirando, o coração batendo como se nada acontecera. Auroro chegou a inventar novas formas de suicídio, mas nenhuma podia libertá-la de sua eterna solidão, sua loucura insana, nada podia libertá-la de seu eterno sofrimento.
    Estava sozinha agora, como em toda sua vida.