História Obrigada. - Nem tão único assim.

6 de março de 2017

Para você, quando quiser lembrar.

Reli a carta no dia de hoje, o tal do dia 6.

Incrível como algumas coisas mudam de aspecto quando você as vê sobre outro ponto de vista, não? Sei que isso soa óbvio, mas não é tão óbvio assim!

A última carta foi escrita um mês antes de terminarmos, pelos deuses, como eu estava apaixonada! Bem que dizem que o amor é cego, surreal. Depois de o quê...? Um ano de relacionamento sério eu acordei, e isso apenas dois meses depois de você terminar. E foram meses de muito sofrimento e várias tentativas de reaproximação. Da minha parte.

Acho melhor fazer uma visão do fim ao começo. Mais lógico, não? Ficamos algumas vezes após terminar, e na última vez você falou que vivia em um relacionamento abusivo... Espera, relacionamentos abusivo? O que você quer dizer com isso? Então eu refleti sobre tudo que eu sabia sobre relacionamentos abusivos. Eu olhei as marcas roxas de mordidas em meus ombros e os vermelhos que estavam em meu pescoço. Lhe questionei como explicaria aquilo caso alguém perguntasse, e você falou apenas "diga que fui eu", irão pensar que voltamos foi a minha resposta. "Não voltamos, fim".

Foi aí que eu percebi que todas as marcas que você me deixou era marcas de dominação.

Cam e Deborah me jogaram na parede do colégio, no corredor mesmo. Eu me remexia e me debatia, tentando me livrar delas, que não pegaram leve. Cam retirou meu casaco e Deborah me segurou ainda mais forte contra a parede, tirando meus cabelos de frente do pescoço.

"Que marcas são essas? Você andou o vendo?"

"Não acredito que você fez isso!", Deborah falou mais alto que Cams, em seguida. 

"Eu estou decepcionada com você! Depois de tudo que ele fez!"

Eu senti vergonha das mordidas em meus braços e lembrei daquele dia, em sua casa. Estávamos em seu quarto vendo filme, e então você começou a me encher de beijos até que eu sorrisse. Eu sorri, e você sorriu mais ainda, logo em seguida você modeu de leve meu ombro, e mordeu de novo, e na última vez não largou. Meu ombro doía e eu senti meus olhos arderem. E eu chorei de dor na sua cama, com o que era para ser uma "brincadeira".

Tenho outras recordações, que prefiro não falar muito sobre, mas que também me fizeram chorar de dor, e também você não parou. Você foi até o fim, até você estar satisfeito.

Objetificação. Isso é um relacionamento abusivo.

Era como você me objetificava perto dos seus amigos, como se eu fosse uma conquista a te enaltecer. Era como você me fazia correr atrás de ti, caso algo te incomodasse. Era por isso que não dormíamos brigados, pois você me fazia correr atrás de ti, manipulando minha ansiedade ao seu favor.

Era como você falava que sou irritante, para seus amigos, comentava de tudo que eu fazia e você considerava errado. Como sempre dava um jeito de me levar quando ia sair com seus amigos, para ouvir coisas como "sua namorada é bonita" ou "ela é gostosa" e ainda se sentia no direito de se irritar com isso.

Meu bem, de amor você não entende. 

Amor não é dominação. 

Amor é sobre compreensão, companheirismo, liberdade e respeito.

Amor não era o que você sentia, você sentia orgulho.

Até que você achou uma nova garota para se orgulhar com seus amigos, e fez questão de espalhar para os sete ventos e cantos e rede sociais no dia que começou a namorar com ela. Mas... Espera, na semana anterior você estava me iludindo sobre voltar, não era?

Mas a vítima foi você. 

"Você não era atenciosa."

"Você tem amigos demais."

"Dá pra parar de ficar andando com esses seus machos?"

"Eu não aguento mais você.".

"Todo mundo te mima, eu não tenho ninguém."

"Pare de reclamar, você tem tudo o que quer."

"Minha vida é o inferno perto da sua."

"Você engordou."

"Pare de falar essas coisas, é ridículo."

"Tudo tem que ser do seu jeito."

"Fresca."

"Você me irrita."

"Não faça joguinhos comigo."

"Deixe disso, nem doeu."

Com repúdio ,

A. B.