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História Obscure. - Confidentes


Escrita por: SoniaG

Capítulo 10 - Confidentes


“O pecado pode ser enterrado com toda segurança, como um cadáver, e a grama pode até crescer por cima da sepultura, mas um dia a ressurreição virá.” 
 ( Wilmar Leitte)


O corpo nu descansava imóvel diante do olhar atento do legista. Longos cílios negros faziam contraste com a pele extremamente branca, quase transparente, os lábios arroxeados também se destacavam diante da palidez macabra. O homem de altura mediana, virou o corpo sem vida para o lado com habilidade. Empurrou a cabeça do cadáver com uma das mãos, enquanto fazia anotações em um pequeno bloco de papel. 
- Então? – Indagou Parker  passando os dedos por entres os fios loiros da vasta cabeleira.
- O pescoço foi quebrado, assim como essas duas costelas. Vê esse pequeno corte? – apontou para a garganta. – Certamente feito para fazê-lo sangrar até a morte, porém não conseguiu a profundidade necessária, percebendo isso, o assassino quebrou o pescoço. Bem, essa é minha primeira hipótese. Agora essas costelas – observou o local de perto. – quase foram arrancadas. 
- Enquanto aos dois policiais? – Foi a vez de Hank indagar.
- Aquilo foi uma verdadeira carnificina.- o médico disse cobrindo o corpo com o lençol. – Sadismo sem sombra de dúvida. 
- Ótimo, mais uma testemunha perdida. – Parker enfiou as mãos nos bolsos. 
-  Ainda temos Piper. 
- Sim, mas com o andar da carruagem.
- Vamos reforçar a segurança, não podemos arriscar perdê-la. Enquanto ela viver, ele não vai parar. 
- Eh, enquanto ela viver ou até ele morrer – Parker disse acendendo um cigarro. 

****


Quando o novo dia surgiu no horizonte, Piper estava em pé olhando pela janela. Os braços cruzados, o olhar fixo na rua. O azul dos seus olhos estavam cercados por um leve avermelhado, era o tom do cansaço, do choro, da frustração... Da raiva. 
Ainda estava vestida com a roupa do dia anterior, passara horas e horas rompendo sua descoberta, estava exausta, porém era incapaz de dormir. Suspirou longamente, era cedo sabia, bem para ela não importava o horário, a ideia veio, e ela seguiu seu instinto. 


Quando parou diante da porta de Walter sentiu a baixa temperatura lhe atingir com força, não tinha levado nem mesmo um casaco. Bateu na porta e esperou alguns segundos, não ouviu nada. Fechou a mão em punho e bateu com mais força.
- Walter?– batia cada vez mais forte – Sou eu Piper. – ouviu sons de objetos caindo, não demorou até ver um Walter com cara assustada e sonolenta. 
- Piper ? O que houve ? 
- Será que posso entrar? – disse tremendo um pouco. 
- Claro...- deu espaço para que ela passasse. – Onde está a detetive Alex? 
- Dormindo eu acho. 
- Saiu sem proteção policial? Piper, sabe o quanto isso pode ser perigoso? 
- Me diga o que não é perigoso, Walter? Me diga alguma coisa que eu possa fazer sem estar correndo perigo?– sentiu a respiração acelerar. – Será que estou segura enquanto tomo banho ou enquanto falo com você... Será que estou segura com Alex? – tentou segurar as lágrimas, mas foi inútil. 
- Piper...- os ombros da loira tremiam. – Claro que está segura aqui, e também com Alex. – O jovem se aproximou meio sem jeito a envolvendo pelos ombros. 
- Então por que ela mente, Walter? 
- Me diga o que está acontecendo. Por que acha que ela mente pra você? 
- Ela me disse que não havia nada parecido com o caso de Nathan e Richard.
- Bem, aparentemente não existe mesmo. 
- Caso Colt. – disse limpando o nariz com a mão, sabia que não era um gesto educado, mas foi inevitável. 
 - Colt? Elisabeth Colt? 
- Exato! 
- Mas não existe a menor referência entre os dois, Piper. 
- Elisabeth Colt estudou com meu ex marido, David.
- Como assim? 
- Eu conheci David quando ele estudava na Universidade de Chicago, começamos a namorar pouco antes dele se formar e... 
- Espera um pouco! – Walter disse ficando de pé – Como você chegou ao caso Colt? 
- Bem, eu... eu... Li as anotações de Alex. 
- Essas informações são confidencias, Piper! 
- Eu sei, mas se eu não tivesse feito isso não teria chegado a esse detalhe. 
- Alex nunca me falou sobre isso, nem citou o fato no relatório. – pós as mãos na cintura.
- Agora entende minhas razões? Ela não é confiável. 
- As coisas não são bem assim, mas a postura de Alex não foi correta. 
- O que devo fazer Walter? 
- Preciso fazer algumas buscas- começou a procurar pelo computador. 
- Eu posso ajudar em alguma coisa? 
- Vou precisar de algumas informações sobre seu marido, seu primeiro marido no caso. 
- Tudo bem. – disse sentado mais perto do homem - David estudava direito, quando ocorreu o assassinato a festa de formatura foi cancelada. Quando li sobre o caso não recordei de imediato que a razão do cancelamento era a morte de alguém, ainda mais Elisabeth Colt.
- Eles se conheciam ? 
- Acredito que não já que ele não foi ao enterro. Além do mais estudavam áreas diferentes. 
- Hum... Sendo assim preciso pesquisar mais a fundo. Qual o sobrenome do seu marido. 
- Baker
- Vejamos David Baker. – disse enquanto digitava.- Morreu em acidente de carro carbonizado? – Olhou para a loira. 
- Ele perdeu o controle do veículo, capotou várias vezes antes de explodir. 
- Bem, vou tentar encontrar mais informações sobre o caso de David, tentar achar alguma ligação e... 
- WALTER – foi interrompido por batidas na porta. 
- É ela! – Piper reconheceu a voz de imediato. 
- Já estou indo! 
- Não abra! – pediu. 
- Piper, não posso não abrir para minha parceira. – foi até a porta. 
- Piper sumiu, temos que procura – lá, já acionei outras unidades. – a morena entrou parecendo um furacão. 
- Não precisa me procurar, estou aqui. 
Alex virou encarando a loira. A preocupação que carregava no rosto segundos antes  desapareceu dando espaço para raiva mal contida. 
- O que faz aqui, Chapman? – Piper encarou Alex e teve a nítida impressão que ela estava maior do que de costume. 
- Vim tomar um Café com Walter. – A morena a observou de cima a baixo. Ela sabia que Alex havia notado que ela estava com a mesma roupa do dia anterior. 
- Ligue para o departamento, avise que a Senhora Chapman já foi encontrada. – disse a Walter. – Enquanto a você, Chapman, me acompanhe. 
- Eu não quero ir com você! 
- Você não quer? – estreitou os olhos - Você acha que eu quero estar aqui as 6:45 da manhã? Acha que eu gosto do fato de ser sua babá? As coisas seriam muito mais fáceis se você aprendesse que o seu querer não importa merda nenhuma. Agora me acompanhe, e ao menos por um dia tente facilitar a porra da minha vida e de outros polícias que foram tirados de suas camas porque você resolveu tomar café com o Senhor Walter que não sabe nem mesmo ligar uma cafeteira. 
Piper estava furiosa com Alex, mas ela sabia que muitas daquelas palavras davam razão a morena. Olhou para Walter, o pobre rapaz parecia suplicar com o olhar que ela acompanhasse a detetive. 
- Só pensei que eu poderia sair para conversar com outro agente, no caso um agente com quem tenho mais afinidade. 
- Afinidade? – Alex olhou para Walter. 
- Bem, eh... Eu.. – o pobre homem gaguejava. 
- Obrigada pela conversa, detetive Walter. – Piper disse se levantando.
- Dis... disponha. 
As duas seguiram para casa de Alex. A loira ficou em silêncio todo o caminho, a morena também não parecia aberta ao diálogo. Assim que chegaram Piper foi para o quarto enquanto a detetive seguiu para o escritório. 
Seus ombros estavam duros feito concreto, nem mesmo a água quente fazia seu corpo relaxar, ela se sentia em alerta constante, sempre vigiada, sempre observada. Saiu do banheiro, seguindo mais uma vez para o quarto. Queria deitar um pouco, quem sabe dormir . Secava os cabelos enquanto passava pelo corredor. Viu que a porta do quarto de Alex estava entreaberta, não resistiu. Se aproximou mais tentando vê algo pela pequena abertura. 
- O que conversamos sobre bancar a policial? – sentiu a presença da morena. 
- Sabe, você é sempre tão misteriosa, talvez esconda algo. 
- O que acha que escondo? Deixa eu adivinhar! Você deve achar que tenho um corpo escondido no armário.
- Não, só acho que você não é totalmente honesta. 
- Você é totalmente honesta, Piper? – chegou mais perto. – Honesta sobre o que pensa ou sente? – encarou profundamente os olhos azuis. – É capaz de dizer a todos que conhece o que você realmente, realmente é? 
- Eu não tenho nada a esconder. 
- Mentira! 
- O que quer dizer ? – os olhos te Piper dançaram sobre os de Alex. 
- Significa ausência da verdade. Permita que eu lhe conte algumas coisas sobre você, Piper Chapman: 
Número um – levantou o dedo indicador – Mãe amorosa, porém incapaz, muitas vezes deixou de enxergar o melhor para o filho. 
Número dois – tinha o olhar irritado – Esposa exemplar, no entanto desatenta ao comportamento do marido. 
Número três – chegou a uma distância que ela é Piper ainda não haviam experimentado – Corajosa, mas descuidada. 
- Como se atreve a falar sobre meu papel de mãe  e de esposa? – empurrou a morena. 
- Omissa. 
- Eu nunca fui omissa!
- despreparada. – voltou a se aproximar da loira
- Sempre cuidei muito bem de Nathan e de Richard. 
- E ainda assim estão mortos. 
- SUA MISERÁVEL!! – Fechou as mãos em punho, partindo para cima de Alex. A morena foi rápida, encostou Piper contra a parede, o rosto delicado pressionado contra a superfície fria. 
- Acha que fui cruel?! Mas eu não fui, não disse nada que você já não tenha pensado. Você acha que vai conseguir respostas sobre o que aconteceu com eles em qualquer lugar, com qualquer pessoa? Eu já estive onde você está agora. Nesse momento todos são culpados, ninguém é confiável. Só um conselho. Seja menos transparente, menos verdadeira, esconda sua dor em um lugar onde ninguém possa encontrar-lá, isso que você está vivendo é só o começo, você ainda não foi lançada ao inferno. 
Alex se afastou deixando uma Piper completamente atônita. Quando as forças de suas pernas voltaram, ela foi enfim para o quarto onde deixou o corpo cair sobre a cama, as lágrimas desceram por sua bochecha trançando uma fina linha, seus olhos fecharam e entre soluços abafados ela adormeceu. 
****
Aquele era o segundo energético que tomava. Descia a barra de rolagem enquanto analisava os arquivos recebidos da Universidade de Chicago, conseguiu que lhe mandassem algumas fotos. 
Abriu um dos arquivos intitulado “ Formandos 2000” como não havia tido festa de formatura os alunos pousaram individualmente para fotos, trajando toga os estudantes sorriam para a câmera. Walter passou foto a foto, dezenas de rostos a cada novo arquivo aberto, porém nada que lhe interessasse. Resolveu então analisar fotos da jovem Colt, procurou na Internet e entre depoimentos dos amigos e familiares havia fotos de Elisabeth em algumas ela sorria solitária para a lente, em outras estava acompanhada, haviam também imagens de seu funeral a qualidade das fotografias era ruim, mesmo assim ali entre muitos rostos desconhecidos, Walter notou certa familiaridade. Encolhido em um canto, ombros curvados, expressão fechada, de todos ali era o que aparentava ter menos condição financeira. Walter nunca havia conversado de perto com aquele homem , e jamais chegaria a conversar, mas ele sabia de quem se tratava, já havia visto aquele rosto em fotografias atuais, fotografias que ele mesmo fizera. Puxou da gaveta um envelope marrom. Lá estava a prova, seu talento para fisionomia não o decepcionou. A foto sobre a mesa trazia a certeza que ele buscava, mesmo que a palidez cadavérica e o efeito dos anos trouxessem novos traços, não havia como negar, era Richard. 

 

 

- Piper? – Abriu os olhos assustada. – Sinto sua falta. – Piscou confusa. 
- Richard? 
- Estou com tanto frio, querida, me aqueça. – sentiu os braços fortes em torno do seu corpo. – Me dê seu calor. 
Afundou o rosto no pescoço do marido. Sentia tanta falta dele. Suas mãos agarravam com força a camisa branca que ele usava. O abraço foi ficando cada vez mais apertado isso começou a incomodá-la. 
- Me aqueça!  
Piper o abraçava o máximo que podia, mas não conseguia transmitir o calor que lhe era pedido, a sensação boa que sentiu no começo já estava desaparecendo. Tentou afastá-lo, o empurrava com leveza, porém ele apertava com cada vez mais força. 
- Richard, está me sufocando. 
- Preciso do seu calor, Piper. Preciso tanto. 
A respiração de Piper começou a acelerar, se sentia sufocada e pra piorar um odor horrível invadiu seu olfato, para seu desespero ele vinha de Richard. 
- Me solte... Richard, solte – me agora!!
- Me aqueça! 
Sentiu mãos frias segurarem seu rosto, os lábios roxos de Richard cobriram os seus. Ela o empurrava pelos ombros, o beijo que tanta gostava  agora tinha um gosto desagradável e o insuportável cheiro de podridão lhe atingia o estômago fazendo o mesmo revirar. 
- Richard, saia! Saia agora! 
Juntou todas as forças que tinha e empurrou o corpo pesado do marido, ouviu um baque seco contra o chão. Piscou assustada. Havia acordado de um mais pesadelo, estava no chão, no fim das contas era ela quem havia caído da cama e não ele. 
Levantou-se juntando as cobertas, rumou para o banheiro, tinha um gosto ruim na boca. Segurou a maçaneta, mas antes de girar e abrir a porta se viu dando duas batidas para se certificar que não havia ninguém. Não ouviu resposta, entrou e tomou um longo banho, seu corpo estava tenso e ela não conseguia se livrar daquele cheiro. Demorou longos minutos até que ela descesse, encontrou panquecas sobre o balcão, juntamente com um bilhete “ Passarei o dia no departamento, não saia de casa. Tem dois policiais do lado de fora que farão sua segurança, não faça nada estúpido. 
Att: Alex”
“ Não faça nada estúpido “? – a loira não conseguiu segurar um pequeno sorriso. 
Alex era muitas vezes desprezível, dura e indiferente, suas palavras já haviam machucado Piper em incontáveis momentos, talvez a última conversa que tiveram tenha sido uma das mais cruéis que Piper poderia ter com alguém, no entanto foi necessário, apesar da mágoa, Piper sabia que ela tentava ajudar, talvez sua abordagem desesperada tenha lhe rendido uma reação mais dura da morena. Ela não devia ter agido de forma tão enérgica. Lembrou-se então de uma conversa que tivera com Alex, naquela noite a detetive havia lhe contado sobre sua irmã, tentaria ser menos impaciente na sua busca por respostas, talvez se tentasse algo mais sutil Alex a deixasse se aproximar novamente. Girou sobre os calcanhares, sua mente trabalhando em maneiras de construir pontes. 


Notas Finais


Olá, demorei um pouco, mas os dias tem sido difíceis para todos, no entanto espero nunca deixar de contar essas histórias delirantes. Irei terminar essa, espero voltar com todos os capítulos dessa vez e não deixar vocês esperando tanto. Obrigada por ainda continuarem aqui.


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