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História Obscurus - Livrai-nos do mau.


Escrita por: SrtaFritzi

Capítulo 3 - Livrai-nos do mau.


“E minha alma, sem luz nem tenda,
passa errante, na noite má...
À procura de quem me entenda
e de quem me consolará.”

—Cecília Meireles.


 

— Vamos, minha filha. Acorde! O que está fazendo por aqui?
  O padre deu tapinhas de leve na bochecha de Stela para fazê-la despertar. A menina acordou alvoroçada, mas o pároco a acalmou: 
— Shh! Está tudo bem. Provavelmente, você entrou aqui durante a noite e acabou adormecendo. – A voz do padre era suave e Stela teve vontade de fechar os olhos de novo, mas não o fez. – Você deve estar com fome e precisa de um banho. Venha comigo até a cozinha do salão paroquial, estou indo tomar meu café e você aproveita para se alimentar também. Mas espero que esteja ciente de que me deve explicações, menina! 
A garota não protestou. Alguma coisa nele parecia ser familiar, mas ela não soube exatamente o quê. 
Seguiram para a cozinha e lá, Stela sentou-se numa cadeira de frente para uma mesa pequena, enquanto o padre preparava o café. 
Depois de vê-la alimentada e de banho tomado, o sacerdote deu início ao interrogatório:
— Antes de tudo, minha filha, como você se chama?
— Hãm... Stela. 
— Pode me explicar o porquê de fazer da minha igreja um hotel?
— Eu... estava cansada e... – Ela abaixou o olhar para o chão, melancólica.
— E resolveu deixar o sono em dia debaixo da mesa da sacristia? – O padre arqueou as sobrancelhas, como se pedisse respostas imediatas.
— Me desculpe. Eu... – As mãos de Stela começaram a transpirar.
— Você...? – Persistiu o pároco.
Droga. Como é incrível a capacidade de uma pessoa se enrolar tanto na hora de se explicar por algum feito. Stela estava à beira de um colapso, mas conteve-se.
— Olha padre... 
— Tudo bem – ele a interrompeu, convicto -, tudo bem, tudo bem. Não vou julgá-la e nem fazer mais perguntas. Devo admitir que encontrar alguém dormindo embaixo da mesa é um fato inusitado, ainda mais numa igreja. Mas, você deve ter motivos e não cabe a mim julgá-los. Está tudo bem, querida! 
Ele tinha um olhar brincalhão e, ao mesmo tempo, compreensivo. Seus olhos eram de um verde intenso e havia algo de familiar neles. Claro! Os olhos da mãe de Stela. Eram exatamente como os do padre... como se enxergassem além das pessoas. Outro choque de realidade veio à tona, o que quase fez a garota acabar-se em prantos, a não ser pelo fato de seu estoque de lágrimas e lamentos terem se esgotado temporariamente. 
— Desculpe-me, novamente, padre. Não vai mais se repetir. Agradeço pelo que o senhor fez e por ser tolerante. E obrigado por entender um pouco o meu lado. Garanto que o senhor não irá mais se aborrecer comigo. Preciso ir agora, padre.
— Vou acompanhá-la até o portão, querida. Mas... não quer que eu ligue pra alguém da sua família? Seria melhor se alguém viesse te buscar. Aqui é perigoso de mais.
Família... Como se minha mãe pudesse me buscar de onde está. pensou.
— Não há necessidade, mas obrigada! Eu me viro.
Seguiram até o portão e então, despediram-se:
— Vá com Deus, menina. Tenha juízo e muita fé. Caso algum dia queira voltar e conversar comigo, será bem vinda. O Padre Assis ficará contente em recebê-la novamente. 
— Mais uma vez obrigado, padre.
— Deus te abençoe, filha.
Stela saiu e seguiu rumo a outro lugar seguro de preferência, e longe daquele velho nojento e de seus dois capangas.
Uma hora depois, lá estava a garota em um shopping tumultuado, sentada num banco perto de uma lanchonete. Talvez, o conceito de Lugar Seguro estava longe de ser representado por um shopping com uma multidão de consumistas vidrados nas vitrines das lojas, mas, antes isso do que ter um encontro casual com um maníaco assassino de meia-idade.
Depois de comprar e beber inúmeras xícaras de café expresso, Stela começou a organizar seus pensamentos. 
Ok. Começou sua linha de raciocínio. Pense primeiro no que tem dentro da bolsa. Pra onde você deve levar? Como é mesmo o nome dele? Tenho quase certeza de que é Jack. Isso... Jack. Beleza! Agora, onde pretendo ficar? Em casa, não... óbvio de mais. Em baixo da ponte talvez seja mais seguro. Droga, garota! Pensa... Se pudesse achar alguém pra ajudar ou então...
— Moça? 
O menino aproximou-se de Stela sem que ela ao menos notasse e, como não teve respostas, agitou as mãos na frente do rosto da menina para chamar atenção.
— Oi. Terra chamando! – Afastou-se. - O que diabo aconteceu com você?
Ela olhou para frente e projetou uma cara de desgosto meio forçada.
— Ótimo! Sempre tem como piorar a situação. 
— Ei! – Protestou o menino. – É assim então? Nenhuma palavra de cumprimento? Nenhum “Oi. Senta aí, colega.”? 
— Dê o fora daqui, colega.
Ele pegou uma das cadeiras, virou-a e sentou-se com os braços apoiados no encosto.
— Obrigado pelo convite. Mas prefiro ficar aqui com você. – piscou.
— Mike, me deixa em paz! Com mais de um zilhão de lugares diferentes pra ir, por que justo aqui? Agora?
— É o destino, gata!
A menina revirou os olhos, entediada.
— Poupe-me...
— Tudo bem, é o seguinte: Eu vi você perdida por aí e decidi ver no que iria dar. Deduzi que precisaria de ajuda. Geralmente, é isso que as pessoas perdidas precisam. – sorriu com o canto da boca, dissimulado. - Não farei nada que você não queira, anjo.
Anjo? Quem aquele moleque pensa que é?
— Mike, você já está fazendo algo que eu não quero. 
— Mas... O que foi que eu fiz, musa dos meus sonhos?
— Já chega! – Stela levanta-se e caminha impaciente, tentando se afastar de Mike.
— Espera. – Ele a segue. – Calma. Foi mal, eu não queria incomodar. Espera aí.
— Só o fato de você conseguir reproduzir qualquer tipo de som me incomoda. – Stela para e volta-se para Mike. - Será que você já se esqueceu de quando eu quase fui expulsa do colégio por sua causa? Ou quando você me atropelou, por estar bêbado? 
— Ok! Aquilo foi um incidente, eu estava errado e você, certa. 
Stela olhou horrorizada para o garoto.
 Incidente, Mike?? Também foi incidente quando você espancou um menino e depois largou ele em um beco só por não ir com a cara dele? Incidente... a verdade é que você não presta e não dá a mínima pra ninguém... só pensa em si mesmo.
Mike suspirou, pacientemente, e disse: 
— Poderia, por favor, parar de trazer o passado a tona e dizer o que está havendo com você?
A obstinação do garoto foi tamanha, que Stela cedeu. estava cansada física e psicologicamente. A cólera extinguiu-se aos poucos.
— Mike... Há muitas coisas que você não sabe desde o incêndio ocorrido no Sword & Cross² anos atrás. Coisas que nem eu consigo explicar e muito menos entender, mas não por falta de tentativa.
— Você não foi a única vítima do maldito Bradley, Stela. - O menino se encolheu e dirigiu um olhar consternado a garota. 
 O quê? Como você...
Stela estava atônita. Alguns vislumbres transcorreram-lhe a mente e isso fez com que uma lágrima deslisasse sob seu rosto. Estoque renovado!
— Eu sei como está se sentindo... e eu não sou tão babaca como você tanto me idealiza. Aliás, é disso que você vive, não é mesmo? Idealizações. 
Por uma fração de segundo, uma nova onda de cólera manifestou-se em Stela, mas ela manteve-se sob controle. Mike estava esperando por algum insulto e, desapontado por não o conseguir, prosseguiu:
— Pare de bancar a difícil. Você sabe melhor do que eu que é verdade. Caso sirva de consolo, esse também é meu defeito. Agora, já que não vai abrir a boca para dizer o que está acontecendo, sente-se e deixe-me contar o que aconteceu.
                                                     ...

² Internato, onde se passa a maioria das cenas da série homônima, Fallen, de Lauren Kate. Localizado em Savannah, Georgia, EUA.



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