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História Obsessão Fraterna - Desnecessário dizer


Escrita por: Kalynna-Zoel

Notas do Autor


Olá, boa noite pessoas.
Venho com mais um capítulo finalizado!
Quero agradecer a quem favoritou e a quem leu, meu muito obrigada!!!
Também quero muitíssimo agradecer a minha amiga que perde seu tempo precioso a ler e betar para mim, Alice (xEuphie), fofa você é dez!!!
Espero que gostem desse capítulo especial, pois escrevi com todo empenho!!
Boa leitura

Capítulo 2 - Desnecessário dizer


Fanfic / Fanfiction Obsessão Fraterna - Desnecessário dizer

AINDA À NOITE. 22h15min.

Saga caminhou até o quarto, levando consigo uma bandeja com refeições, uma água tônica e alguns comprimidos analgésicos. Por um momento segurou a maçaneta e meditou se deveria abrir. Num suspiro tranquilo trancando os olhos, abriu cuidadosamente e correu os olhos pela penumbra do quarto; apenas uma luz branda pairava no criado mudo do pequeno abajur de porcelana francesa e, sobre a cama, seu irmão Kanon dormia profundamente com o sono dos justos, com os lençóis bagunçados sobre o corpo e, ainda assim, Saga pôde ver que dormia nu, pois suas costas e bumbum ficaram expostos. Ignorando isso, lentamente se ajeitou, ainda com a bandeja sobre uma das mãos. Havia uma cômoda branca com puxadores dourados rusticamente entalhada de madeira nobre próxima à grande cama de casal, e nela pôs a bandeja para descansar o braço. A noite estava um tanto fria e a janela ainda estava escancarada, indo até lá, arrumando as cortinas de cetim, mas não as trancando. Lembrava-se de que seu irmão era calorento, e se deu ao luxo de sorrir, melancolicamente.

Pegando uma cadeira da escrivaninha, parou para observá-la; era semelhante à cômoda, com detalhes entalhados e pigmentos dourados. Balançou a cabeça em outro sorriso mudo. Kanon sempre fora do tipo detalhista. As coisas sempre tão organizadas, para que o ambiente ficasse bom e agradável, para obter energias positivas que alcançassem todos os cantos. Seu peito palpitou nessa nostalgia. Quando ele pedia alguma opinião, sendo algumas capciosas, Saga sugeria o mínimo possível, pois sabia que o irmão não ouviria; Kanon o testava apenas para ver alguma contestação de sua indubitável opinião. Saga não rebatia, no fundo reconhecia seus gostos iguais.

Não era à toa que sua cozinha fora considerada pela revista Time Greak Time a mais organizada e estruturada na época de sua construção, tanto pela modernidade que o restaurante trazia, quanto pela manutenção da tipicidade de uma cozinha Grega, trazia também sabores novos e construindo novidades para um povo distinto. Kanon era, de fato, um grande chef.

Como Saga se orgulhava disso.

Jeitosamente, corrigiu os braços do irmão que estavam sobre o rosto. Ouviu um resmungo baixo, mas não discerniu muito, dando de ombros e continuando a corrigi-lo carinhosamente. O perfume inebriante dele o incendiava, de modo que se trancava a ignorar tal toque. Trazendo para perto da cama a cadeira, entrelaçou uma de suas mãos com a de Kanon, que ressonava como uma criancinha. Mãos quentes e acolhedoras, certo desejo sentiu, mas preferiu reprimir ali mesmo. Já havia muito reprimido em diversas vezes, mesmo assim foi necessário, desnecessário dizer...

E disse baixo:

- Kanon... querido irmão, saiba que o amo. Nossos desejos são, de modo atípico, triviais demais aos nossos ensejos perversos que nos alimentam pecaminosamente. Tento refutá-lo, não minto, não gostaria de menosprezá-lo, pois amo-te. Prometo não deixá-lo assim, triste e confuso. – Pausou num suspiro longo e pensativo. – Odeio quando dorme sem ao menos dizer boa noite.

Silenciosamente, beijou os lábios mornos e respirou fundo pela ultima vez aquele cheiro prazeroso que tanto lhe condenava.

Levantou-se calmo e foi para seu aposento, deixando para trás a bandeja.

                                                                 

                                                                GRÉCIA. 00h00min

 

O restaurante fechara no horário certo e, na cozinha, com os funcionários, estava Shion, sub chef* e chef confeiteiro – cargo tido por Kanon, mas administrado junto à Saga. Shion era subordinado da cozinha e mais ligado à execução dos pratos; a coordenação ficava nas mãos criteriosas de Kanon, que era primeiro chef geral. Entretanto, na sua ausência, era responsável por toda equipe, pois além de chef era o orientador do organograma* nas seguintes praças daquela noite – exaustiva, pois alguns cozinheiros falharam em entregar seu prato. A noite pedia algo mais requintado, já que era uma quinta-feira, e Kanon exigia que todos fizessem e dessem o seu melhor.

Porém, algo não saiu de acordo com os seus respectivos projetos. Shion, então, concentrava-se em dizer algo, mas não na altura que Kanon diria, pois quaisquer que fizessem algo de maneira estúpida – que não fosse de acordo com seu jeito – recebiam esporro de modo rígido, até mesmo ofensivo. Saga presenciara vários, aquela área não lhe pertencia, não desnecessariamente, mas sua voz era a última a ser ouvida.  

Marin, cuisinier entremetier* responsável pela praça de massas, falhara pecaminosamente: seu Fettucine com Camarão Cremoso e Brócolis saiu como se fosse uma macarronada cozida a 220 graus centígrados; sua massa estava colenta e os Brócolis passaram do ponto de serem crocantes a ficarem borrachentos, e suas tentativas de sucesso só causavam mais recusas em seus pratos. Talvez ficasse nervosa demais – momento fortuito, pois Kanon não estava presente e não suportava que em sua cozinha houvesse nervosismo de ninguém, nem dele próprio! Um prato Italiano e muito simplório; ela perdera a mão descuidadamente de como fazê-lo, o que resultou em três devoluções de seu Fettucine. Shion, condescendente, embora frustrado, permitiu que ela continuasse na cozinha, porém teve de ir até as mesas pedir desculpas pela cozinheira errar a mão de modo grosseiro, e teve que ouvir por ela as reclamações um tanto ordinárias pela falta.

Sua consciência ficava dolorida só de pensar em reportar a Kanon, que de forma alguma se agradaria e, Marin, com isso, ficara a um fio de sua demissão.

– Diga-me Marin, o que houve? – Perguntou Shion, com uma mão flexionando suas têmporas, enquanto a outra tamborilava em cima do balcão de inox.

– Chef... Eu juro, não sei o que houve comigo... – Respondeu ela com voz trêmula, sem deixar de mirar o rosto sério de Shion.

– Faltou concentração – ponderou – isso eu sei que houve. – Ele andou até ela, parando de frente e prosseguiu, dizendo: – se você acredita em algum deus, acho bom rezar para ele, pois Kanon lhe paga muito bem para não deixar de se concentrar.   

Ela engoliu em seco, sem piscar os reluzentes olhos lacrimejados, e disse num fio de voz:

– Chef... Eu estudo, dependo disso para minha faculdade...

– Deveria ter pensado nisso, já que precisa tanto! – E lhe deu as costas, indo em direção de Aioria, responsável pelas carnes.

– E você, Aioria? Qual é a sua desculpa? Não vá me dizer que também não sabe! – Questionou ainda mais sério. Aioria olhou para os lados procurando não encará-lo, mas sentiu seu queixo sendo pressionado pela ponta do dedo do chef, devagar sendo virado para direção deste, e por fim encarou os olhos vítreos. Não obstante, ouviu a seguinte pergunta:

– Você sabe o que é cuisinier rotisseur*?

– Sim, chef! – Retorquiu rápido.

– Responda para todos o ouvirem. – Pediu, retirando o dedo do queixo dele, elevando o braço para o alto, como uma apresentação de uma figura parada.

Aioria deu um longo suspiro e olhou para Marin, que timidamente mostrou o polegar enquanto movia a cabeça num “sim” mudo, dando-lhe força para continuar na posição em que estava. Seus olhos ainda estavam brilhantes, a moça segurava o choro a todo custo. E, ele, sem hesitar, falou seguro com o queixo erguido:

– Um cuisinier rotisseur é responsável por toda elaboração de carnes nos pratos, dando satisfação ao cliente, tanto no corte como na preparação de seus grelhados e também assados ao vapor...

– Excelente! – Replicou – Viram que não é nada difícil? – E calou-se momentaneamente a observar os rostos dos demais que nada diziam, apenas suas respirações se faziam presentes. Shion continuou a dizer: – para quem estudou, sabe bem do que ele falou. Eu estou nessa cozinha há seis anos trabalhando com Kanon, e vocês deviam dar graças a algum deus que ele hoje não esteja aqui. – Ele virou-se pra Marin. – Ele faria você comer seu Fettucine, para você sentir o quão ruim estava. – Marin abaixou a cabeça, triste. – Aioria, o cliente apenas queria um Kleftiko* e sabe o que você mandou para ele? Mandou um suco de limão com alho, no que estava pensando? Queria matar o cliente com suco gástrico?

– Não, chef... – Respondeu ainda com queixo erguido.

– Não? – Ele andou pela cozinha, indo até a pequena estante de taças e, pegando uma, pôs água. – Por um momento, quando comi, pensei estar sendo envenenado com o tanto de alho que tinha. Sem contar que a carne do cordeiro não tinha ficado marinada, ela estava um tanto dura, não foi à toa que seu prato voltou no primeiro pedaço, concorda? – Perguntou irônico.

– Isso não vai acontecer de novo, chef. – Aioria desculpou-se, sabia perfeitamente que tinha errado a mão no prato, e ao fazer outro, confundiu a remessa passando o errado. Não quis confessar o erro, Shion já estava pelos cascos.

Shion bebeu um gole de água, já passava da meia noite e meia quando olhou rapidamente para o relógio de pulso. No balcão de alumínio estava Dohko, que olhava seriamente para ele, sem nada dizer. Dohko ficara no lugar de Saga como Maitre*.

– Terminem de arrumar a cozinha, vou para escritório fechar o serviço. – Disse Shion.

Havia um longo corredor até chegar ao escritório que ficava no fundo, passando apenas pela porta de despensa das mercadorias, a única porta de vidro fumê escuro, com puxador de aço inox. Ao entrar, lembrou-se de que Kanon não havia ligado; olhou para mensagens de seu telefone, também não havia nenhuma. Não deveria se importar, mas o cansaço e, principalmente, a maneira como ia contar sobre o fiasco da noite o impediam, pois ainda não tinha ideia de como iria dizê-lo.

Tirando o dólmã, de corte italiano com botões brancos pequeninos – se não observassem o traje, não notariam eles ali junto às duas costuras horizontais de cada lado do peito e uma pequena dobra que descia pela gola num corte simples –, colocou-o de modo displicente sobre os braços da cadeira, ficando apenas com uma camiseta branca simples, denotando sua musculatura de porte atlético.

Caiu pesadamente no estofado descansando o corpo com os olhos fechados e com a cabeça virada para trás, quando sentiu seus ombros sendo massageados delicadamente. Carinhosamente levantou seus braços até tocar o do outro, e abriu os olhos a encontrar o rosto mais fastuoso de sua vida.

Dohko sorriu afetuosamente ao encontrar aqueles olhos de íris lilases e ouviu-o indagar:

– Acha que pequei pesado com eles?

– Eu diria que não.

– Foi um desastre. – Dohko envergou-se sobre ele, dando-lhe um selinho singelo.

– Pare. A culpa não é sua, foram eles que erraram. – Ele passou breve suspirando. – Sua parte foi feita.

– Embora eu tenha feito, eles são minha responsabilidade; se eles erraram, eu também erro por não tê-los orientado corretamente.

– Tolice!

Dohko se afastou dele, indo pegar o dólmã sobre o braço da cadeira, dobrando em seu braço.

– Você entende apenas o que quer, Dohko?

– Entendo apenas que você fez sua obrigação, não vou discutir isso, você reconhece bem.

– Reconheço um cara que não entende bem o que é obrigação, e meu dever aqui é zelar pelo cliente. Um bom prato é resultado de um bom salário, a menos que você não goste de dinheiro. Eu exijo deles concentração.

– Calma... Não precisa ficar nervosinho. – Dohko foi até ele e se aproximou, pegando sua mão com ar de galã e beijando-o, para logo em seguida comentar romântico:

– Eu só quero que fique bem, independente do que eles não façam, não se estresse tanto. É isso! – E novamente deu outro beijo na boca, porém com mais vigor, exigindo dele um toque, no qual Shion retribuiu o assanho. Entendia o lado dele, mas queria que ele também o compreendesse. Interrompeu o beijo.

– Tente ser compreensivo, sim? – Levemente mordiscou os lábios, olhava com atenção para os lábios dele, pois o gosto inalava sua boca.

– Sim, chef! – Sorriu divertido. Eles ouviram uma batida de porta, e Dohko atendeu recebendo Marin.

– Terminamos, chef.

– Ótimo, podem ir, mas antes apaguem as luzes, deixando apenas a do portão dos fundos.

– Faremos isso, chef. – Disse ela.

A moça de cabelos castanhos vermelhados se retirou, e Shion percebera que a moça chorara rios, pois mesmo que ela tentasse esconder com sua franja amarrotada, suas pálpebras estavam visivelmente inchadas. Dohko apenas a observava e acenou ao término de Shion, com um adeus de sua retirada.

– Vai ligar para os gêmeos? – Dohko quis saber.

– Farei isso.

Enquanto pegava o celular e seus apetrechos de dentro do escritório, caminharam juntos para a saída, e Dohko ia averiguando se tudo estava de modo como ordenado, conferindo visualmente. Chegando até o portão de saída, uma área enorme que servia como uma garagem para carros de pequeno porte, Shion estranhou algo incomum, preferindo olhar com atenção. Na lembrança que Kanon outro dia falara sobre ampliar o local de estacionamento, ainda estudava uma maneira melhor para mais espaço, já que o tamanho de seu restaurante era bastante amplo.

– Deixou meu carro lá fora? – Questionou Shion, já que não encontrava seu carro.

– Deixei sim.

– Por quê? – Indagou, enquanto via Dohko abrir o portão.

– Porque precisei deixá-lo, pensei que talvez chegassem mais clientes, então optei por deixar o NOSSO carro lá fora.

- Nosso... – Se corrigiu na ênfase do seu amante, com um sorriso torto nos lábios.

Dohko deu uma piscadela sacana.

Shion ainda estava absorvendo a ideia de morar junto com Dohko; conheciam-se desde a mocidade, e amizade de ambos só aumentara no colegial. Dohko era formado na área de administração, já Shion sempre fora apaixonado pela gastronomia. Por cinco anos morou na escola Le Cordon Bleu, França, e fez alguns intercâmbios na Itália, Londres e Portugal, onde conheceu Kanon e Saga. A partir desse momento se formou uma grande amizade, e Shion só conheceu Dohko numa viagem para China, quando tinha 12 anos. Desde então mantiveram contato, mesmo quando precisou sair de seu país no Tibete, local de um povo de raça Muviana, hoje, porém, “extinta” já que existiam poucos deles. Shion saiu para obter conhecimento do ramo que tanto lhe agradava, mesmo quando seu coração palpitava nas raras lembranças de quando esteve presente com Dohko.

Hoje, com 29 anos, assumiu que o amava, e Dohko não foi diferente.

Muitas vezes Dohko viajara para apenas encontrá-lo e manter a harmonia que sempre tiveram. De fato, era um casal feliz. Embora na cozinha onde eles trabalhassem poucos soubessem do envolvimento deles, pois Shion sempre prezou pela discrição.

Quando contou para Kanon, foi bem recebido. Saga também aprovou eles morarem juntos, e se deram como exemplo que morar com outro homem não era tão ruim assim. Dohko tentou ver com bons olhos, embora também desconfiasse deles dois, já que nunca apareciam com alguém, somente eles juntos. Shion sempre dizia que talvez eles fossem bem discretos para não deixar ninguém especular sobre suas vidas. Dohko não concordou isso.

No carro, Shion tentou ligar para Kanon, mas seu telefone, por sorte, estava desligado, então foi para o número seguinte e desta vez tentou para o irmão gêmeo. Ele atendeu.

– Saga, desculpe-me, é o Shion.

– Algum problema?

– Nenhum, apenas me preocupei. – Shion ouviu um bochecho. – Vocês não me ligaram hoje.

– Pensei que Kanon tivesse feito isso... – Disse. – Tudo foi bom para vocês, digo, o movimento foi bom? – Questionou. Shion virou o rosto para Dohko, enquanto via-o fazer sinais para não contar sobre o incidente dos pratos.

Respondeu condizente:

– Hoje foi como todas as quintas, bem lotado. – Um silêncio se fez do outro lado da linha.

– Saga? – Chamou Shion.

– Desculpe...  – Respondeu adinâmico. – Algo mais a dizer, Shion?

– Não, senhor, bom descanso.

– Pra você também. – E desligaram o telefone.

Dohko comentou:

– Pela sua cara de pasmo, ele não gostou muito da ligação, certo?

– Ele pensou que Kanon tivesse me ligado, seja lá o que houve, mas não ocorreu. – Shion olhava as mensagens, e sentiu a mão de Dohko indo para sua coxa.

– Esses gêmeos. – Ele olhou para Shion. – Sei não, hein...

Shion nada disse, mas sabia que algo não estava bem com eles. O tom de voz de Saga denunciava um ressentimento recente.

 

                                                        Itália 08h35min da manhã

 

Amanheceu no hotel Palazzo Viceconte, e Kanon olhou para os lados. Sentia-se ainda um tanto sonâmbulo, sua cabeça estava dolorida, e ao se olhar percebeu-se nu. Levantou-se indo cambaleante até uma toalha; nao pegou seu roupão como de praxe, porém, preferiu a toalha, enrolando-se nela e saindo do quarto. Mas antes de abrir a porta, algo lhe chamou a atenção em sua cômoda: a bandeja de alimentos junto com um analgésico. Voltou rápido e tomou alguns com a água que foi deixada, instantemente reconheceu que Saga lhe visitara na calada na noite. Seu telefone estava desligado, mas tanto se importava com isso, saiu logo do quarto indo em direção deste, e ao chegar se deparou com uma arrumadeira que tomou um susto. Coitada da mulher, ao ver o homem seminu, paralisou de imediato no que fazia, sem piscar os olhos, o ouviu dizer:

– Onde está Saga, meu irmão?

– Ele saiu há poucos minutos daqui... – Disse a arrumadeira num gaguejo perceptível. Kanon lhe deu as costas.

Já na área externa no hotel, onde Saga repousava tranquilo, enquanto também divagava sobre momentos constrangedores com Kanon. Ele sempre o perseguia, no entanto, Saga passara a repeli-lo, desde o incidente de suas vidas. Por mais que seu amor por ele fosse inegável. Lembrava-se das vezes que o sentia tão perto, e das vezes que o próprio Kanon o masturbava. Riu consigo, perverso.

Tomando um cappuccino, de codinome Café Mocha*, uma variação diferente do qual já experimentara na Grécia, apreciou encantado.  Havia um rapaz bem afeiçoado de porte meio magro e de sorriso cafajeste que perambulava o ambiente e lhe chamou atenção. Saga passou observá-lo de longe, vendo quando ia se dirigindo às mesas de forma desinibida, à vontade que nem parecia ser um serviçal.

Saga fez um sinal, chamando-o.

Prontamente, o rapaz esguio moveu a cabeça num cumprimento gentil e disse:

– Posso ajudá-lo, senhor?

– Sim. Explique-me, o que estou tomando? – Mostrou a xícara branca levantada. Tão franco perguntou, e analiticamente ouvia-o.

Num pigarro educado, ele iniciou:

– Pois bem, o senhor está tomando Café Mocha, um cappuccino que leva um pouco de chocolate, que está dividido em quatro partes de preparação.

– Prossiga. – Pediu gentil Saga.                              

– Chocolate em pó ou em calda, com 50 ml de expresso, com leite e a espuma do leite. – Falou o rapaz, orgulhoso e seguro de si.

– É barista?* – Perguntou Saga, curioso.

– Sou sim, senhor. – Confirmou o jovem, que também olhava a figura sentada na mesa de maneira imponente. De repente tomou um sobressalto, ao ver um homem idêntico ao que estava sentado em sua beira indo em direção deste. Saga notou seu espanto, explicando normalmente:

– Este é meu irmão, Kanon. Somos gêmeos. – Ele apenas meneou a cabeça em um cumprimento rápido, puxando a cadeira se ajustando nela. Seu rosto está naturalmente bem, fazendo Saga erguer uma sobrancelha, curioso.

– Bom dia, Saga. – Diz ele, neutro. – Você disse que é um barista? – Pergunta ao garçom.

– Sim, senhor.

– Precisamos de um barista, não é mesmo, Saga? – Kanon o questiona naturalmente. Saga demora um pouco a responder, pois analisava rapidamente o incidente na véspera.

– O senhor precisa de algo mais? – Perguntou o garçom, tirando Saga de seu transe.

– Não, mas pegue isto. – Saga pegou um pedaço de guardanapo e escreveu seu número de contato entregando nas mãos dele, dizendo: – Esse é meu número, tenho um restaurante na Grécia, já esteve lá?

– Sim, conheço a Grécia. – Respondeu o rapaz, sempre atento e mantendo sua polidez.

– Pagamos bem, se tiver algum interesse, ligue para nós. – Saga falou, vendo Kanon beliscar seu prato.

– Traga o mesmo para mim. – Kanon pediu e espreguiçou os braços para o alto de modo sexy, deixando o rapaz rubro de vergonha. Os gêmeos realmente eram lindos.

– Agora mesmo! – Respondeu, engolindo a saliva nervoso e se retirando da mesa deles, enquanto Saga tentava ignorar a maneira cínica do irmão chegar.

– Tomou os analgésicos? – Quis saber Saga, tinha uma ponta de preocupação camuflada.

– Sim. Graças aos deuses que tenho você.

– Não torne esse café simples em um turbilhão. – Falou gentil. – Quantas vezes tenho que lembrar que sou seu irmão? Por ser o mais velho que tenho que tomar conta dos mais novos, nesse caso você. – Ele bebericou um pouco.

Kanon gargalhou divertido.

– Estou ainda com a cabeça doendo, pode então, depois daqui, ajudar-me a tomar banho? – Saga o olhou pelos cantos dos olhos. – Eu poderia me desequilibrar você sabe como isso é provável, na minha situação. – Ele apontou para própria cabeça.

– Sei...

– Por favor, vai. – Insistiu Kanon, num ar dengoso. – Nem me molhei agora cedo, tive medo de cair...  – Dramatizou, Saga o via fingir mais que cinicamente, era ordinário nas falas. O garçom se aproximou deles.

– Aqui está, senhores. – O garçom serviu a Kanon um Tiramisù.* Saga o fez outra pergunta:

– Diga-me o seu nome, garçom.

– Me chamo Marco D’boamortte.

– Boa o quê? – Kanon quase engasgou com o Tiramisù ao indagá-lo.

– Marco D’boamortte. – Repetiu ele. – É uma junção do nome de minha mãe com o do meu pai. Em outro momento explicarei melhor. – Ficou envergonhado.

– Interessante. – Saga disse a ele, Kanon riu baixo. – Tem algum apelido? – Perguntou em seguida.

– Sim. – Respondeu acanhado. – Mas acredito que os senhores não irão gostar muito...

– Só irá descobrir se nos contar.

– Espera. – Saga disse apreensivo. – Não deixe o rapaz retraído, Kanon.

E ao ouvir isso do irmão abriu um delicioso sorriso, que fez Saga também sorrir brevemente. Foi charmoso vê-lo feliz, mas Saga gentilmente foi até sua perna e o beliscou.

– Aí. ..

– Pare... – Repreendeu brincalhão. – Vai deixar o rapaz sem jeito, Kanon.

– Tudo bem, tudo bem. Desculpe-me rapaz, fique à vontade se quiser nos contar, sim?

– Não vejo problema algum, senhor. – Replicou o jovem, já um pouco embaraçado. – Mas já que os deixei curioso, não vejo como não mais contar...

– Diga-nos então! – Kanon pegou sua xícara de café e, ao beber um gole, engasgou numa tosse alta quando ouviu o apelido do rapaz. Algumas pessoas os miraram em reprovação, pois Saga ia às suas costas dando-lhe palmadas para tentar desengasgar o irmão, enquanto o garçom se apavorava indo ajudar também. O restaurante do hotel numa sexta-feira estava lotado, mas via-se um garçom parado rente à mesa dos clientes; o gerente já estava passando mal de tanta angústia em ver seu serviçal batendo papo, como se não houvesse mesas a ser servidas. Já sabia da lição que passaria ao seu garçom.

– Diga de novo... – Pediu Kanon, já melhor da tosse.

– Máscara da Morte. – Disse ainda mais sem jeito ao ver a cara de espanto dos dois gêmeos.

– Obrigado, é... Bem, máscara da morte. – Arquejou um pouco Saga, enquanto o gerente vinha trazendo um copo d’água e o interrompia muito falante.

– O senhor está bem? – Perguntou o gerente fuzilando o seu garçom. – Perdoe-nos por nosso garçom, prometo a vocês que irei repreendê-lo como se deve!

– Estou sim. – Respondeu Kanon a ele, ainda divertido. – Seu garçom é hilário, eu quero contratar ele!

– O quê? – Arregalou o gerente. – Mas ele o fez engasgar...

– Mas não foi ele que estava tomando o café! – Rebateu malcriado, e virou-se para Marco. – Eu o contratarei, basta dizer sim!

– Kanon, ele ainda está aqui. – Lembrou Saga, já que seu irmão estava com o humor elevado na diversão e no constrangimento do gerente.

– Bom rapaz. – Rememorou Kanon. – Quero dizer. Máscara da Morte, já tem o nosso contato. Estarei feliz em recebê-lo em nosso restaurante. – E se levantou chamando o irmão. – Vamos, Saga.

E antes que eles partissem, o rapaz foi até eles agradecer a oferta, já que no momento não teve palavras para expressar seu espanto e alegria. Bom, não era toda vez que engasgava um cliente com o apelido e ainda ganhava um excelente emprego. Os gêmeos foram para o elevador e conversaram. Por um momento, Saga se esqueceu da noite passada.

– Será que ele vai aceitar? – Indagou incerto.

– Sim. Não viu a animação dele? Do Máscara da Morte? Que apelido gozado, não me recordava de rir tanto, é um apelido tão estranho! – Comentou Kanon, ainda divertido pela lembrança de ter engasgado. Recordou-se também de que não tinha tomado um banho, e fingiu uma tonteira.

Já sendo amparado pelo irmão, sentaram juntos no sofá. Por sorte a arrumadeira ainda estava presente, e foi servindo um medicamento para ele tomar.

– Preciso de um banho... – Disse manhoso, caindo a cabeça sobre o peito de Saga. – Vamos comigo...

– Eu já tomei banho, Kanon. – Sentiu o corpo do irmão anelar no seu de forma prazerosa. Num suspiro rápido, levantou ele pelo ombro e encarou seu rosto como um espelho. Disse a ele num murmuro:

– Por que faz isso comigo?

– Porque sei o que sente. – Kanon foi ávido nos lábios de Saga, que relutou, mas, ao sentir a pressão em seu rosto preso nas mãos dele, entregou-se ao libidinoso beijo, por causa da invasão inesperada da língua que insistia em ser chupada, concedendo-lhe espaço. Kanon sobrepujou ele sobre o sofá, beijando-o euforicamente, enquanto ousadamente desceu com uma das suas mãos em direção ao sexo do irmão e o segurou forte, pressionando o saco escrotal. Um gemido abafado o ouviu proferir, na tentativa de negar o sabor do pecado. Porém, ao se sentir pudico, Saga retorceu violento por ver o que estava sucedendo e se apartou num pavor incontrolável, virando-se rápido para o lado e causando sua queda no tapete aveludado do chão.

– Vá para seu banho! – Ordenou na tentativa de ser impassível.

– Eu vou. – Ele se levantou, ajeitando os cabelos para trás, porém cínico. – Mas se eu me machucar, sinta-se culpado.

– Não me venha com suas besteiras – Falou alto, ainda caído no chão. Temeu se levantar, pois tremia com os pequenos espasmos que sentia. – Melhor tomar cuidado, Kanon! – E se levantou rápido, disfarçando seu temor enquanto ia até a varanda do hall. Apanhado os chinelos, entregou-os nas mãos dele, dizendo:

– Isso irá ajudar a não cair, caso se sinta mal. – E saiu bufando alto, dizendo, antes de bater a porta de seu quarto: – pense antes de beber muito, às vezes possa ser que ninguém venha te socorrer! – Bateu a porta com força.

Kanon ficou estático, por um momento chocado pela sua façanha. Riu consigo mesmo, pois aos poucos estava começando a afetar Saga... lambeu os lábios sentindo o gosto de Tiramisù que invadia o céu de sua boca com o gosto dele. Neste misto de sensações vitoriosas, foi para seu quarto tomar banho, pensando: não foi dessa vez, mas haverá outra que você me banhará de prazer... E riu ainda mais divertido.




Notas Finais


Chef. Responsável geral de toda a equipe da cozinha, tanto pela elaboração dos pratos (cardápio) Além de líder, tem a função de supervisor e administrador da cozinha como seus utensílios e equipamentos, e pela matéria prima. Para um bom restaurante tudo tem que ser de primeira linha. Como de Kanon e Saga na minha visão, Kanon é orientador de tudo.
Sub-chef. É o primeiro chef subordinado da cozinha, ele é o único depois do chef geral a mandar, isso na ausência deste. No entanto sua função é mais ligada à execução dos pratos do que na coordenação e liderança das equipes. No caso Shion, é mais propicio na formação dos pratos prontos.
Organograma. Apresentação gráfica que, obedecendo a uma hierarquia organizada representa de modo simultâneo os elementos e as ligações de uma organização. No caso na cozinha, todos devem seguir o plano escrito pelo chef ou Sub-chef. Sujeito de exclusão quem não respeitar a norma predita.
Cuisinier entremetier. (francês) Apenas conseguir traduzir o Cuisinier que quer dizer cozinheira, o restante não, infelizmente. Mas notei sobre a área especificada. Que no caso de Marin é massas em geral, e até mesmo no preparo de guarnições. Etc.
Cuisinier rotisseur. (francês) Responsável pelas carnes. Nesse trecho que Aioria explica, foi com minhas palavras, pois é mais ou menos isso, pra quem que mexe somente com preparações de carne, li muita coisa e quis falar com minhas palavras também, para fugir do técnico.
Kleftiko. Carne de cordeiro com osso lentamente marinado com alho e limão, tem outros temperos, mas quis encurtar a delonga. ^^ Pois são muito detalhes e existem vários tipos de preparo com essa parte do cordeiro (paleta ou pernil)
Maitre. Nome francês também que quer dizer chef, porém, de outra forma. Esse é responsável por receber e acompanhar os clientes de dentro dos restaurantes, coordenar quem vai servir a mesa e garantido eficiência e um bom atendimento. É um dever do profissional, caso haja reclamação manter o equilíbrio possível dentro do ambiente. E assegurar que todos os clientes estão sendo atendidos de forma educada. Que é o caso de Dohko e Saga, são eles que recebem os anfitriões proporcionado o bom estar destes.
Café Mocha. De fato é essa preparação: Chocolate em pó ou em calda, com 50 ml de expresso, com leite e a espuma do leite, e existem mais formas pra esse cappuccino.
Barista. Pessoa especializada em café, tanto no preparo nas bebidas como no conhecimento dos seus ingredientes. Vai do detalhamento dos processos até chegar ao consumidor. (resumi também)
Tiramisù. É um doce, tipo e italiano que leva como ingrediente queijo tipo. Marcarpone* que possui 60% a 75% de gordura, mas o gosto se acentua no café, esse doce é uma sobremesa, como não tinha mencionando o que Saga tinha pedido e Kanon beliscou atrevidamente, então quis colocar algo doce na mesa deles, já que Kanon não estava muito bem da cabeça.
Espero que tenham gostado a maioria das comidas mencionadas, são pesquisas para Fic em questão, vale lembrar também que essas pesquisas são todas verídicas e de tudo aqui discursado, eu reduzi e falei com minhas próprias palavras.
Kanon vai perturbar muito o Saga... só posso dizer isso!
Abraços!


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