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História Obsessão Fraterna - A tão chegada hora.


Escrita por: Kalynna-Zoel

Notas do Autor


Mais um capítulo finalizado, demorei um pouco a postar esse devido a uma fic do concurso pwp!
Mas não ganhei Lol.
Quero agradecer quem favoritou e aos comentários que postaram também.
Eu sei que lá no fundo há um fantasminha aqui lendo ^ - ^
Boa leitura galera!

Ah e quero agradecer a minha beta também!
Que me ouve todos os dias e ainda me ajuda gentilmente!!

Créditos da imagem:
スーツ
Pixiv ID: 13610246
Member: jeng

Capítulo 6 - A tão chegada hora.


Fanfic / Fanfiction Obsessão Fraterna - A tão chegada hora.

GRÉCIA, às 15h00min da tarde.

Aioria estava próximo ao restaurante dos gêmeos com seu robalo devidamente limpo e tratado, como seu chef sempre ordenara. Com seu fone de ouvido, escutava Bohemian Rhapsody, do Queen. Andava distraído, porém algo lhe chamou atenção. Uma Mercedes Benz preta passou em sua frente, devagar. Óbvio! Vários carros de luxo trafegavam na rua do seu trabalho, desde os melhores carros até marcas inferiores. No entanto, este pareceu ser estranho, tinha os vidros fumê escuro. Aiolia parou ante a entrada do portão dos funcionários para observar melhor. Viu o veículo parar a uns três metros longe do estacionamento do restaurante, a porta se abrir, e de dentro sair um ruivo vestido uniformizado para o trabalho, que aparentemente exigia dele impecabilidade dos seus trajes. Ele segurava apenas uma fina pasta preta e seguia na sua direção. Seus cabelos rubros estavam presos, deixando apenas duas mechas enormes caindo para cada lado do seu rosto límpido.

Aioria cantou alto sem perceber pra si:

- Galileo! Galileo! Galileo, Figaro! Magnifico! Oh, oh, oh!

Mal terminava de cantar a letra, viu o ruivo dizer algo, porém com os fones de ouvido não escutou, mas via-o fazer uma mímica o alertando dos fones.

- Oh! Desculpe-me, não ouvi você... – Rapidamente ele virou a mochila que estava levando em suas costas, abrindo o zíper, e já tirava os fones de ouvido, enquanto o ouvia falar.

- Talvez seja por causa dos fones de ouvido, não? – O moreno parou que fazia e mirou o rosto do outro. Sua expressão era neutra, contudo o moreno ficara sem jeito, o ruivo tinha sido direto demais.

- É... Talvez seja...

- Tudo bem. Você trabalha aqui no Dídymoi? – Perguntou o ruivo cortês, e olhava ao redor do restaurante.

- Sim, sou uns dos chefs parties. – Explicou. – Faço a demanda das carnes em geral. – Ele levantou a sacola em suas mãos mostrando os filés de robalo.

- Ah, entendo bem, o senhor é...?

- Aioria Ileó, prazer. – Eles estenderam as mãos num cumprimento.  

- Camus Victorine.

Aioria lembrava bem daquele nome, e também da fisionomia marcante que, de perto, mostrava um homem bastante bonito. Se fosse gay seu amigo Milo ia entrar numa disputa árdua, pensou divertido. Quando foi chamar o loiro, que dizia ter esquecido seu avental no escritório do chef, e pela demora devia estar aprontando, o pegou no flagra mexendo nos currículos em cima da mesa. Milo tomara o maior susto de sua vida, mas mesmo assim continuou vasculhando os papéis, e pedia afobado pra ele vigiar porta, tornando-o cúmplice dele sem querer. Seu amigo tinha se encantado com a foto do ruivo. Aioria balançava a cabeça reprovando a atitude do outro, quis sair do escritório rapidamente, então viu Milo colocar o currículo do ruivo em cima dos outros, e escondendo e rasgando alguns para que o chef não contratasse outra pessoa. Aioria até tentou impedir o amigo, mas com Milo? Era impossível alguma coisa ser certa. Se ele contasse ao chef, poderia dizer adeus ao seu bom serviço, afinal, ele também mexera nos papéis com certo enxerimento.

- Vamos, me acompanhe. – Aioria discretamente olhou para sua mão após apertar a do ruivo, estranhando a frieza da mesma, que parecia mais um cubo de gelo.

Aiolia abriu o portão dos funcionários, passando junto com Camus. Havia logo em frente um local bem aconchegante, com redes para descanso ao ar livre. Também havia três assentos e uma escada que dava para o terraço. Camus apenas observava a tudo, sem tecer comentários.

Assim que chegaram até a porta da cozinha, Camus admirou-se em ver tudo tão organizado. Bancadas de inox e de pedras de mármores em uma boa parte da extensão; dois fornos industriais padronizados ficando no canto da cozinha, mais três geladeiras enormes; e dois freezers do mesmo tamanho, alguns maquinários para suco e até mesmo batedeiras se faziam presentes, tudo em uma parte da bancada, que contava com gavetões. Logo depois se via esqueletos de estantes que continha todos os tamanhos de panelas e frigideiras, um armário repleto de vidrarias e peças francesas. Havia também as prateleiras embutidas nas paredes e alguns suportes para pendurar os utensílios. A cozinha em si parecia um labirinto, mas os corredores eram largos, nada que dificultasse a passagem com bandejas.

- Seja bem vindo. – Disse Aioria, deixando-o sozinho, e se dirigindo a um cômodo que ficava no corredor próximo ao escritório. Camus continuou olhando e andando um pouco, até que parou próximo à entrada por onde entrou. Viu a porta abrir e mais alguns funcionários ingressaram na cozinha, o cumprimentaram com um “boa tarde”, ao qual ele respondeu polidamente. Todos se dirigiam ao cômodo onde Aioria entrou, e Camus soube que todos iam se trocar pra começar a trabalhar. Estava prestando atenção nisso até que chef Shion chegou com Dohko, ambos estavam com as mãos dadas e conversavam animadamente, imagem que os olhos castanho avermelhados capturaram sem disfarce. O chef soltou as mãos rapidamente ao perceber, parando em frente ao ruivo e cumprimentando-o.

- Camus Victorine, que prazer em recebê-lo em nosso restaurante.

- Eu que agradeço pelo convite. – Respondeu Camus cumprimentando, enquanto se sentia avaliado pelos olhos do moreno.

- Sou Dohko Waage. – Também o cumprimentou, e sem papas na língua questionou algo que Shion não falara. – Sua mão está fria. – E olhou para direção do seu marido voltando à visão para o ruivo. – É normal?

- Faz parte de minha natureza, é normal sim. – Olhou rápido para o meio da cozinha e viu Aioria devidamente vestido com seu dólmã e uma toquinha na cabeça. – O restaurante abre às 18h?

- Impreterivelmente. – Respondeu Shion, não entendeu o porquê de dizer essa palavra, foi meio que instantâneo dizer.

- Me adiantarei sem notarem a minha presença. – Falou friamente se sentindo testado. – Se me permite, posso conhecer o estabelecimento e a adega?

- Dohko irá levá-lo. – Fez cara de poucos amigos discretamente, Shion não gostara do modo sisudo dele. – Fique à vontade e conheça também seus novos companheiros de trabalho. – Abriu espaço para que Dohko se aproximasse do ruivo. – Lembrando que os donos não estão aqui hoje, eu sou o sub chef, qualquer dúvida procure o Maitre, ele irá ajudá-lo. – Advertia-o, e observava com olhar suave a imagem de Camus.

- Agradecido. – Meneou a cabeça. Shion se sentia afrontado. Podia ser coisa de sua imaginação, mas o ruivo parecia ignorá-lo com aquele olhar indiferente.

- Venha comigo. – Dohko o chamou, assim Camus passou pelo chef com seu nariz arrebitado.

Shion apenas franziu o cenho, encucado. Antes de eles passassem pela porta que levava para o salão, Dohko o fez esperar por um breve segundo e foi até o marido.

- Não tinha uma palavra com menos sílabas pra usar, não?

- Foi tão automático que espero que ele não tenha se sentido testado.

- Acho que você testou outra coisa nele, meu amor... – Sibilou a última frase, Shion o olhou muito sério, não acreditava que aquilo saíra da boca do seu marido, e ele ainda ria divertido.

- Melhor você ir, não o deixe esperando...

- Como quiser, chef... – Piscando um olhar sacana, fez um sorriso cafajeste, que a carinha séria de Shion não resistiu e se desfez, sorrindo de volta.

Agora eles, no salão. Camus ainda se admirava. As mesas eram todas quadradas de madeira nobre e assentos estofados; suas toalhas eram todas brancas de um tecido fino e decorações pequenas no centro. Os guardanapos eram decorados com um emblema do signo de gêmeos. O teto em si era decorado com luminárias pequenas e espalhado em lugares específicos. Também ficara boquiaberto ao ver o tamanho do aquário que praticamente era uma meia parede, havia até um mergulhador dentro fazendo a limpeza. Continha várias espécies de peixinhos, de diversos tamanhos  e curiosos. Franzia o cenho ao mirar um peixe estranho cheio de pintas que parecia brilhar dentro da água, e ao tocar no vidro com a ponta do dedo indicador, ouviu o som da voz grave do Maitre e virou-se para ele.

- Esse é um trichogaster leri, ele é pacífico, embora tenha um comportamento territorialista.

- Não diga? – Voltou a mirar o peixinho que nadava calmamente perto do mergulhador. – Porque ele é assim? – Quis saber, afinal se encantara com o brilho reluzente do peixe, nem parecia ser um briguento.

Dohko foi até onde Camus estava ficando ao lado dele, como se estivessem vendo um quadro de parede. – Gosta de ter o próprio espaço. É um peixe bem individualista, e quando ele se sente ameaçado, – Fez aspas na palavra – costuma se agressivo até expulsar o seu invasor. – Ele pausou brevemente observando, e disse por fim. – Vale lembrar também que até com sua própria espécie ele age assim, vê? – Ele olhou para o rosto de Camus, que tinha os olhos vidrados nos demais. – Por isso Kanon trouxe poucos deles, pra não haver mortes no aquário que ele mesmo fez. – E sorriu com sua própria fala. – Não se engane com esse pequeno.

- Interessante. – Falou mais pra si. – Até na vida marinha eles disputam por espaço!

- Acho que todos são assim. – Respondeu, embora sentisse que Camus não estivesse falando com ele. – Deve ser uma lei que vale até para o ser mais estranho que venha a existir.

- Seria uma catástrofe ver um aquário tão bonito mergulhado no sangue dos próprios peixes, apenas por conta de um mero espaço...

Dohko não quis responder ao comentário frio de Camus, apenas o fitava pensando nessas palavras. Foi um pensamento bastante negativo. Camus saiu de perto do aquário, olhou para a frente do restaurante notando a porta de entrada que ficava no canto, e nos fundo, um espaço reservado para os fumantes. Logo próximo dali um púlpito de vidro com o livro de chegada dos clientes. Ainda próximo ao aquário, ele observou o outro lado do salão; na parede uma pintura simples, onde havia quadros pendurados da família dos gêmeos e do patriarca deles.

Não havia cortinas, e somente alguns vitrais de vidros que começavam da metade da parede e iam se estendendo até o teto.

- Belíssimo ambiente. – Observou o ruivo. – Tem um lado rústico, devido aos móveis de madeira nobre, por outro lado, tem uma bela atração. – Insinuou olhando ao aquário. – Parece ser tão simples, ainda assim tem essa modernidade na refeição. – Ele pegou o cardápio de cima do balcão, Dohko apenas o ouvia. – Pratos variados de diversos lugares, e os vinhos ainda são de ótimas safras pelo que vejo... Uma nota imensurável. – Sussurrou.

- Os gêmeos prezam muito o paladar dos seus clientes. – Diz Dohko, do lado de dentro do balcão, arrumando os enfeites. – Kanon sempre sai em busca do melhor, se ele ouvir sobre um prato novo no jornal ou na TV, ele sai em busca desse tempero! – Exclamou. – Chega a ser admirável, embora eu veja mais satisfação para seus egos do que para o cliente em si, em tudo que fazem. Mas gosto deles, dos seus arquétipos, por assim dizer. – Ele enfatizou – E sabe o que é legal nisso, Camus?

Camus o fitava e devagar mexia a cabeça numa negação.

- Eles não se importam com a opinião de ninguém.

- Tá aí um segredo de grande sucesso. – Disse sem ironia, entregando o cardápio. – Consigo compreender Kanon e sua visão egoísta. – Dohko sorriu e fez um sinal para acompanhá-lo,  ouvindo Camus falar. – Mas só ouvi o nome do chef e sua perspectiva dilacerante. – Dohko levou como um belo sarcasmo, mas não rebateu.  – Diga-me sobre o seu irmão, Saga. Como eles são? – Indagou, e já chegavam ao cômodo da adega.

- São como irmãos, oras. – Respondeu pegando uma garrafa de vinho e entregando nas mãos de Camus. – Qual comida me sugeria para harmonizar com esse vinho? – Perguntou Dohko, e olhava a feição do ruivo muito séria a examinar a garrafa. Ele cheirou o lacre e fechou olhos, suspirando como se tomasse dele.

- Harmonizaria esse Bordeaux com gigot d’agneau assado em baixa temperatura. É verdade que sua carne é um tanto gorda, mas sua maciez é incomparável e se encorpa bem com esse vinho seco, divino!

Dohko sorriu.

- Vi seu currículo, você é um enófilo.

- Sou sim. – Confirmou, porém ainda sério. – Uma das poucas coisas que gosto de fazer com prazer, é degustar um bom vinho. – Ele entregou a garrafa ao Maitre. – Aprendi com o tempo como harmonizar com boas comidas. Também não vou menosprezar as ruins! Elas também conseguem ser harmonizadas.

Eles riram e saíram do local. Dohko soube nesse instante que não teria problemas nenhum com o novo Sommelier. Por hora, pelo menos, não teria.

O restaurante estava perto de abrir, já passava das 17h e o movimento estava enorme dentro da cozinha. Zunidos de todos os sons podiam ser ouvidos. Quando não eram as panelas sendo retiradas de seu lugar, eram os sons dos liquidificadores e batedeiras sendo usados, mais toda aquela falação dos cozinheiros em seus postos. Camus abriu a porta um pouco,  para observar todo esse movimento. Havia apenas duas mulheres atarefadas nos seus pratos, e conversavam um pouco afobadas. O cheiro dos temperos se espalhava por todo ambiente; alecrim, aipo, manjericão e o cheiro do alho sendo frito, isso agradava seu nariz, os cheiros eram deliciosos. Discretamente via Shion orientar e experimentar pratos, sua fala era muito mansa, todos pareciam gostar muito dele e de sua forma de agir. Divagava sobre Kanon, como seria ele naquele momento?

Saindo pra não ser notado, via os demais funcionários terminando de ajeitar as mesas e conferir o cardápio da noite, todos os sábados eram especiais e as comidas todas servidas impecavelmente. – Pelo menos era esse o trato de todos os dias. Ouviu Dohko dizer:

- Vou ficar ali na frente aguardando a chegada dos clientes, você pode ficar aqui perto no balcão, recepcionando e atento quando um garçom pedir sua presença na mesa.

- Tudo bem. – E antes que Dohko se retirasse, fez uma pergunta curiosa. – Onde ficam os banheiros dos funcionários?

- Final do corredor, pode virar à direita.

Camus seguiu na direção indicada. Faltavam poucos minutos pra abrir o restaurante e precisava se olhar no espelho. Tinha chegado no horário exato, porém arrumado, e mesmo com o ar condicionado ligado em temperatura ambiente, por ser vaidoso, não se permitiria ter sequer uma dobra em sua camisa ou seu cabelo ruivo com fios emaranhados.

Enquanto se ajeitava no grande espelho, viu a porta se abrir abruptamente, e um jovem loiro passar apressadamente. Ele ia se despindo sem se importar com a presença do ruivo, talvez pela pressa não tivesse notado a figura deste. O rapaz tirava a camiseta e abria os botões de sua calça rapidamente. Camus não se moveu, pelo espelho olhava ele se despir e com muita atenção, via a pressa dele em se trocar, mostrando suas costas largas e ombros bem musculosos. O ruivo chegou a suspirar e prender o ar quando viu o loiro descer suas calças com rapidez, movendo a boxer vermelha que usava e mostrando o cóccix do traseiro, dando outra visão espetacular. Até segurou um risinho quando o viu ajustar corretamente a cueca. Coxas bem torneadas, definidas e alinhadas. E seu bumbum? Tão redondo que jurava ser empinado, tinha dois furinhos ao lado de sua cintura, como covinhas. Um monumento bronzeado, que eroticamente Camus se via chupando os mamilos dele. Lambeu os lábios devagar e se perguntou mentalmente:

- Será que ele não me notou aqui?

Ainda de costas, Milo virou para o armário de roupas jogando tudo de qualquer forma. Foi então que se sentiu observado por Camus, que estava parado de costas pra ele e de frente ao espelho. Milo paralisou de imediato. Era o ruivo do currículo que ele tinha colocado na frente dos outros currículos! Engolindo em seco, olhou para porta que estava fechada e foi em direção a ele com as calças nas mãos.

Camus se virou, ouvindo Milo dizer acanhado:

- Desculpe-me... Eu não percebi que você estava aqui se olhando no espelho... Estava me trocando...

- Eu notei isso...

- É... Eu me chamo Milo Skerpioen. – Milo estava chocado com a situação, mas não quis perder essa oportunidade! E sem perceber estendeu a mão que segurava calça, trocando rapidamente de mãos meio atrapalhado, até que jogou sua calça de trabalho no chão, deixando a mão livre erguida no ar.

Camus assim pôde ver a figura totalmente exposta para si, peito liso e abdome cheio de ondinhas. A pele dele cheirava tão bem, que ao invés de levantar a mão, desceu com os olhos para o sexo de Milo, e, ruborizado com a visão, voltou rapidamente para o loiro, que sorria desavergonhadamente.

- Sou Camus Victorine. – Segurou a mão firme e quente do loiro. Mantendo agora sua expressão de outrora, séria. E ficaram se olhando por uns breves segundos.

- Você é muito lindo de perto... – Falou Milo luxurioso, e olhava dentro dos orbes castanhos de Camus, fazendo-o espantar-se com a fala.

- O que disse?

- Eu disse que preciso me arrumar, se não o chef vai me matar!

Camus petrificou ainda mais ruborizado. Suas bochechas queimavam tanto que saiu rapidamente do banheiro, se esbarrando com Milo que corria por um lado e outro pegando o seu uniforme de trabalho. Milo apenas viu a porta abrir e fechar, e ficou com os lábios entreabertos sem dizer nada, apenas sentiu a fragrância do ruivo deixada no ar. Antes de chegar ao salão, o restaurante abriu. Camus parou no meio do corredor, ajeitando as pontas de seu cabelo, pensando afoito. – “Mas que merda foi aquilo que eu ouvi? Ele me chamou de lindo!”.

                                                                      ******

LONDRES. 16h, já no hotel Plaza.

Saga ficou calado o trajeto inteiro até chegar ao hotel. Ouvia seu gêmeo falar ao telefone e conversar com um fornecedor que oferecia alcaparras por um elevadíssimo preço, e por ter esse valor, exigia a nota a nota fiscal da mercadoria. Parecia que assim o fornecedor começava a aceitar o acordo do gêmeo. O produto era roubado, não tinha como passar a nota fiscal, aceitando por fim receber a metade do que valia pelas alcaparras. Kanon sorriu vitorioso.

- Irmão! Comprei alcaparras. Há tempos estava a fim de trabalhar com esse ingrediente. – Seu gêmeo abria a porta, o mais velho entrou primeiro.

- Parece ser bom... – Respondeu distraidamente.

- Vai chegar segunda feira, o cara pediu uma nota absurda! Que estúpido! E eu exigi a nota fiscal inteira, e pimba! – Ele estalou o dedo para alto. – Aceitou receber o valor que eu propus!

- Fez um bom trabalho, Kanon. – Saga, aparentemente perturbado, tentava não transparecer o incômodo. Abriu a porta que dava para um pequeno hall, se encostando à mureta e olhando fixamente para Kanon, que tirou os sapatos e deitou no sofá despojadamente. Saga precisava perguntar algo sério.

- Vou conversar com outro logo mais, preciso de um banho demorado. – Lançou a mão sobre sua calça, ajeitando um pouco pra ficar melhor na posição.

- Quem é aquele cara? – Perguntou Saga em riste, deixando o seu gêmeo sem entender por alguns segundos.

- De quem está falando?

- Vai me dizer que não o conheceu? – Inquiriu de modo prepotente. Kanon entendeu aquele ar desconfiado e confessou naturalmente.

- Ah! Eu o conheci no banheiro quando eu voltava pra mesa. Você acredita que fechei a passagem dele entrar? Minha cara queimou de vergonha! – E fechou o rosto com as palmas das mãos e depois riu com a lembrança. – Por quê?

- Tive a impressão que o conheço de algum lugar. – Dando as costas pro seu irmão, passou a observar a paisagem da cidade.

- Eu já não posso dizer o mesmo! – E pulou do sofá indo de encontro a ele, perguntando gentil – O que tem? Ainda zangado comigo?

- Já passou mano, só estou com uma dorzinha de cabeça.

E levemente Kanon deu um selinho nos lábios de Saga, que não recusou desta vez.

- Quero me desculpar com você, mano. – O mais novo colocou os fios dourados por de trás da orelha de seu irmão com carinho, não havia malícia. – Nessa viagem me comportei muito mal. Assediei você, fingi estar com ressaca, embora eu tivesse realmente bebido, tentei algo que você sempre se limitou a fazer e eu, com a minha obsessão, fiz. Mas você entende, não é mesmo?

Saga mirou aquele rosto, com os traços igualmente os seus. Eram tão infantis e tão sinceros. Kanon sofria por algo que ele também sentia; um amor proibido, uma paixão devassa que alastrava todo o seu ser e corrompia todas as convicções que impunha a eles. Regras, muitas delas, desde preservação familiar até mesmo religiosas.  

O sol estava baixo, com temperaturas agradáveis, e o vento soprava seus cabelos. Seus perfumes eram sentidos por cada um, seus olhos se mergulhavam no azul escuro de muitas lembranças, sorrisos, bagunças e momentos íntimos, como aquele em que se amaram por debaixo dos lençóis dos seus quartos. Porém hoje Saga se recusava firmemente a não ter mais desses momentos, ainda que já fossem adultos e sentissem certas afabilidades. Apenas se masturbavam para aplacar o maldito desejo. Kanon sempre fazia o ato em seu gêmeo, apenas para satisfazê-lo. Saga algumas vezes correspondia, quando via o mais novo dormir com o pênis duro de vontade. Precisava aliviar a barra do seu gêmeo já que ele fazia por si. Mas nunca permitia entre eles sexo oral, apesar de Kanon muitas vezes já ter tentado.  

- Eu entendo sim, sabe disso. – Falou o mais velho. – Mas sobre aquele episódio, melhor não tentar repetir.

Saga levantou a mão até suas têmporas fazendo uma massagem. Seu gêmeo apenas apertava o ombro dele, afagando.

- Vem. – Kanon o chamou para dentro. – Vou pegar um remédio pra você tomar.

Saga se dirigiu até o meio da sala deles, aguardando seu irmão chegar com um copo de água e o comprimido. Tomando rápido, se sentou no sofá. Kanon o fez deitar a cabeça em suas pernas, então começou um cafuné em seus cabelos e sorria dizendo:

- Saga, eu preciso de sexo.

- Eu não sei como eu poderia ajudar você... – Fechou os olhos, era tão bom sentir aquilo, Kanon enfiava os dedos com todo cuidados na raiz para não puxar. – Não é moralidade que me impede, sabe muito bem disso.

- Não estou falando de suas causas inventadas. – Falou com certo deboche. E novamente deu apenas um selinho nos lábios dele. – Estou falando que já não aguento mais apenas me masturbar. Como você consegue ficar sem sexo? – Perguntou o mais novo, agora com outra mão na barriga de Saga. Apenas alisava por cima da camisa, e Saga não via maldade nisso.

- Faço o mesmo que você quando estou com vontade, só não sou frequente porque eu sei me controlar.

- Não quero morrer virgem, Saga. – Sorriu. – Eu queria tanto com você...

- Não sente remorso pela nossa mãe? – Saga abriu os olhos, mirando o rosto de seu irmão. – Já conversamos tanto sobre isso, e você parece não querer entender muito bem a nossa situação.

- Nossa situação? – Ele parou de mexer nos cabelos do irmão ao falar. – Não me culpo pela tolice dela, e jamais o irei fazer. Ela que quis isso, não pedi nada para ela que não fosse compreensão.

- Kanon...

O mais novo falou, olhando sério para Saga.

- Olha Saga! Se você quer continuar nessa vida amargurada se culpando por algo que você não fez, é problema seu. – E se levantou rápido, deixando o mais velho tombar a cabeça no estofado. – Vou descer um pouco, esse assunto torra a minha paciência!

- Kanon... Deixa-me falar ao menos dizer a voc...

- Chega! – Interrompeu o irmão falar. – Eu já conheço sua ladainha! – Calçava o sapato ainda de pé. – Durma um pouco pra passar o remorso, ou finja que vai dormir. – Saga revirou os olhos, enfadado. Kanon se comportava como um menino rebelde, só ele tinha razão. O mais velho continuou deitado enquanto ouvia a porta bater, colocando uma almofada na cabeça.

Indo em direção ao elevador, ficou pensativo ao lembrar-se novamente daquele assunto tão pesaroso. Era verdade sim, que Saga se culpava pela morte da mãe deles, mas ele nunca se culparia por ela ter tirado a própria vida. De repente, uma mão segurou as portas para o elevador não fechar, e um cheiro familiar invadiu o compartimento por inteiro. Olhando com surpresa, reconheceu quem estava ali. Era o loiro do banheiro, Radamanthys.

- Olha quem eu encontrei, o cara que me impediu de entrar no banheiro. – Diz Radamanthys, em tom brincalhão.  

- Olá de novo! – Kanon respondeu sorrindo. Radamanthys se encantou com o sorriso, na verdade se encantara com ele desde quando o viu no aeroporto.

A porta do elevador se fechou.

- Nem perguntei e fui entrando, vai descer?

- Vou sim. – Respondeu Kanon, com um suspiro cansado. Radamanthys percebera isso.

- Você não me parece muito bem, algum problema? – Questionou ele. Kanon avaliou o timbre da voz, era forte e um pouco rouca.

- Não, nenhum problema. – Eles se olharam, Radamanthys o media e tirava suas conclusões. Os gêmeos, por mais que fossem idênticos, tinham sim algo de diferente.

- Quer tomar uma bebida comigo? – Ofereceu Radamanthys. – Eu vejo que você precisa de algo forte, e espero não ter de ouvir um não. – Dizia confiante.

Esse homem de alguma forma estava fazendo a cabeça dele. Era tão charmoso, com um ar sério e uma pitada de humor, pelo menos Kanon sentia graça nas falas dele. Sem hesitar Kanon respondeu.  – Vou aceitar sim.

Quando a porta se abriu, eles se dirigiram para o bar do hotel. Em nenhum momento eles falaram de suas profissões, apenas queriam se conhecer e fizeram isso naturalmente. Estavam tão entretidos, que Radamanthys não percebeu que estava sendo observado pelos olhos de seu primo, parado no meio das escadas com um olhar insano. Minos não era um primo que poderia se dizer de confiança, bastava olhar para as companhias de Radamanthys que procurava saber tudo sobre a vida deles. E aquela companhia com quem seu primo estava não era uma figura desconhecida, disso ele tinha certeza, devido ao sobrenome Dídymoi. Minos ia descobrir tudo sobre eles, ah se ia.

Deitado ainda no sofá, Saga se sobressaltou. Lembrou-se do loiro que seu irmão conhecera e por infelicidade não perguntou o nome dele. Por mais que não quisesse sentir, estava morrendo de ciúmes de seu gêmeo ter algum tipo de amizade com ele, afinal Kanon não disfarçara nada seu interesse, até falou de modo tranquilo a despeito deste.  E pensou:

“Kanon, eu também te desejo tanto! Porque é tão difícil você entender a nossa situação?”

Levantou-se zangado indo para seu quarto. Nem tudo ele poderia proibir de seu gêmeo, até mesmo que se apaixonasse por esse cara, mesmo a  ideia sendo intragável.

No barzinho do hotel, Kanon sorria e se divertia com a presença de seu mais novo amigo, e lá no fundo pensava no amor de Saga.

“Juro que estou tentando não magoá-lo, mas está claro o quanto preciso de sexo.”



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