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História Ocean Eyes - Capítulo 1


Escrita por: AlicePolleti

Capítulo 1 - Capítulo 1


O despertador soou como uma maldita vuvuzela em plena Copa. Meu corpo passou do estágio quase morto, para ataque cardíaco. As mãos encontraram o celular em cima da pequena cabeceira do quarto, os dedos tatearam a tela até deslizarem para desligar o maldito barulho. Levantei alarmada, sentando na cama bagunçada. Os lençóis me embolavam e naquela altura do campeonato, não havia mais uma meia no meu pé. Fios desordenados de meu cabelo castanho e enrolado grudavam na testa suada. E, mais um dia da minha perturbadora rotina começava. Retirei o carregador da tomada e apanhei o celular, abrindo em qualquer rede social inútil e vendo imagens e vídeos de uma porção de nadas. Abri minha mochila rasgada e peguei minha escova e pasta de dente. Fui até o pequeno banheiro do quarto. Um cômodo realmente minúsculo, com um box velho, o chuveiro cercado por fitas isolantes nos fios à mostra. Com toda certeza um ótimo arquiteto ou decorador havia montado aquele espaço, colocando a privada grudada à pia. Aprendemos nossos pontos fracos e fortes, quando ficamos dois minutos sentada na privada olhando para o monte de roupas jogado no chão de carpete do quarto, imaginando como arrumar aquilo e percebemos que estávamos procrastinando ao máximo. O que não faz nenhum sentido, levando em consideração minha perturbadora rotina – como já mencionei -, é de obrigação acordar mais cedo do que todos para evitar o máximo contato social com pessoas completamente estranhas.  

Enquanto esticava o lençol na cama, encontrei o outro par da meia que havia perdido em meus belos sonos agitados. Enfiei as roupas jogadas no chão na mala, forçando o zíper ao máximo para fechá-la. O pequeno arrependimento de não usar o dinheiro ganho de dezoito anos em uma mochila maior. Finalmente, com o quarto arrumado e minhas coisas 'guardadas', sai dali em direção as escadas. O restante da casa estava vazio, como minha perturbadora mente já havia planejado. Aliás, quem acorda às quatro da manhã em um sábado? Pequei uma caneta e um papel da minha agenda de planejamento da viagem e escrevi um rápido recado para a dona da casa: 

''Obrigada Neusa, por deixar que eu dormisse na sua casa. Gostaria de me despedir de todos pessoalmente, mas infelizmente, me parte o coração em não poder fazer isso. Espero não ter te atrapalhado, e nem atrapalhado ninguém. 

Seu dinheiro já foi depositado no banco ontem por volta das seis da tarde. Ligue-me se algo estiver faltando. A chave do quarto está em cima da mesa de jantar junto com esta carta.  

Obrigada novamente, serei eternamente grata. 

Com gratidão, Helena Bascikowska. '' 

Que patético, essa timidez era complemente irracional. Alguns hábitos não mudam mesmo fazendo uma viagem que seria para mudar sua vida em um mês. Deixei a chave do quarto na mesa junto com a carta. Mesmo cética com uma possível mudança de estado em alguns dias, ao fechar a porta de madeira, algo se trancou a sete chaves dentro de mim.  

♡♡♡ 

Uma Kombi minúscula não poderia ser chamada de 'ônibus', ou não poderia ter adjetivos em uma propaganda como ''confortável'' e ''segura'', porque todos ali se mantinham em pé com menos de um centímetro de distância. Por sorte ou azar, estava encolhida, se apoiando na porta e apreciando a visão da beira da praia. Mesmo com minha respiração falha, o cabelo preso em uma trança fazendo o suor queimar meu pescoço, a música que tocava em meu fone entorpecia cada músculo contraído, fazia com que me soltasse quase como uma analgésico. Por pouco não havia percebido que já havia chegado no meu destino. Berrei para o motorista estacionar e assim foi feito.  

 ♡♡♡ 

 

Olhei para o papel em minhas mãos, um convite à reunião dos novos alunos, nos corredores da UNL – Universidade Nacional de Laurade. Incrível como no papel, havia imagens de dois jovens sorrindo, com livros nas mãos, prontos para engatarem na faculdade dos sonhos. Parecia desesperador uma prova viva que eu nunca voltaria para a escola. Normalmente, nunca iria em eventos como esse, mas como estava disposta a tentar uma nova vida, em uma nova fase, a vontade de participar beliscava minha mente. Havia mentido para mim mesma, naquela pequena viagem, tinha percebido o quanto eu não vivia nada. Um amor repentino por mudanças floresceu dentro de mim, eu desejava ardentemente não ser mais a mesma. Estava cansada da minha ilustre companhia. De não ouvir nada além da minha própria voz. Eu sabia o que queria, sempre fui teimosa o bastante para me convencer a mudar.   

Peguei a xícara de café, deleitei-me com o gosto amargo. Guardei o papel em minha mochila no chão.  

Misturaria meu azul com vermelho e me tornaria roxa. 

♡♡♡ 

Havia levado uma de minhas preciosas amigas à tal reunião. Caso dissesse que tinha música, petiscos e uma grande faixa de 'bem-vindos', eu estaria sendo uma péssima mentirosa. A universidade era grande, com diversos corredores, um belo jardim com algumas mesas, e o refeitório parecia uma praça de alimentação de qualquer shopping comum. Segurei o sorriso e uma felicidade muito frágil prestes a ser quebrada pela minha estúpida timidez. Aurora estava completamente avoada, mexendo nas mãos, brincando com os dedos, olhando para o celular a cada minuto. Acabei conhecendo alguns professores e conversando com alunos que faziam parte de uma roda de conversa. Parecia uma peça de um quebra-cabeça que não se encaixava. Até que enquanto caminhava pelo jardim da universidade, com o sol se pondo e o céu em uma explosão de tonalidades quentes e frias, uma jovem se aproximou com um rosto animado. Eu a reconheci, havia conversado com ela mais cedo. A garota aparentava um padrão de beleza vivo, com olhos de azul tão claro, que chegavam quase ao branco, as bochechas de rosa salmão.  

— Você é a menina que eu falei sobre feminismo na roda, né? — perguntou abrindo o sorriso carismático nos lábios, aparentemente, vermelhos naturais. 

— Sim... 

— Cara, incrível, eu concordo com tudo o que disse! — um segundo de silêncio, ela parecia pensar no que dizer. — Sou a Sofia, mas pode me chamar de o que você quiser, apelidos estão disponíveis.  

Eu ri baixo. 

— Posso te chamar de Sofia Cláudia? — perguntou Aurora meio perdida na conversa. 

Era completamente visível que ela estava sofrendo por estar tão alheia. O rosto dela enrubesceu. Eu soltei uma gargalhada, mas era comum a aleatoriedade nela. Sofia franziu o cenho, sorrindo confusa. 

— Não sei se isso é um apelido, mas pode... Você é a...?  

— Aurora e acho que não existe apelidos para o meu nome, porque 'Au' fica meio estranho. 

— Parece um latido desanimado, tipo, — preparei-me para o pequeno teatro, deixe que um semblante de tédio e desânimo aparecerem no meu rosto. — Au, Au, venha cá. — murmurei. 

Sofia aparentou não entender o que estava acontecendo, porém nem eu entendia, era o tipo de diálogo comum entre nós.  

— Sou a Helena. — apresentei-me finalmente. 

— Bom, vai ter uma 'festinha' depois dessa reunião, como se fosse uma reunião pós reunião. Vai ser super restrito, na área da churrasqueira no prédio que moro, se quiserem, podem ir, eu passo o endereço e tals.  

Por algum motivo, o rosto de Aurora se iluminou, ela pareceu prestar atenção em alguma coisa tirando a tela do celular que naquele momento raro, estava guardado no bolso do jeans largo.  

— Vocês vão? — Sofia perguntou. 

— Caso não for atrapalhar... —disse sem graça. — Seria legal.  

A garota passou os dados da casa dela e seu celular para caso nos perdêssemos. Dei-me conta que não sei como me portar em frente de pessoas extremamente gentis. Eu e Aurora fomos de ônibus até o prédio de Sofia, conversamos pelo caminho, ela parecia animada e nervosa, quase suava e seu rosto não tinha outra coloração do que eu denominei de ''Vermelho Tomate.'', algo que combinava muito com seu cabelo comprido, liso e preto. Ao chegar lá, o lugar era simples, como qualquer prédio que se encontra da classe média. O céu já havia escurecido. A área da churrasqueira era elegante, com um 'telhado varanda' cobrindo uma parte do espaço. Sentei-me em uma das cadeiras em frente ao balcão, olhava de frente o garoto de penteado legal assar algumas carnes enquanto conversava com seus amigos ao meu lado. 

♡♡♡ 

O garoto pelo qual não sabia o nome, o que estava à minha frente, não havia prestado muita atenção em mim, talvez seja pelo meu jeito introvertido, o modo como eu sentava com as costas arqueadas, apertando o celular entre os dedos suados. Minha falta de confiança sempre foi um problema, um fator que muitos tentavam tirar proveito. Ele apenas olhou-me com pena quando um de seus colegas que sentava ao meu lado, se dirigiu a mim com uma cantada péssima e barata. 

— Oi, por acaso você tem um mapa? — o garoto loiro me perguntou. 

Olhei para chão, negando com a cabeça.  

— Meu Deus, o que quer? — fui direto ao ponto.  

— Um mapa. Não vai perguntar o motivo, princesa? — ele continuou. 

Respirei fundo com o novo apelido, minha paciência era um balão prestes a ser estourado por uma agulha. 

— Pare com essa merda. — o menino do outro lado do balcão murmurou para o colega. 

— Cala a boca. — o loiro disse enquanto esperava minha resposta. 

— Não, por que? — cedi abrindo um sorriso de vergonha alheia. 

Ele se aproximou, me obrigando olhar em seus olhos. Aquele era os momentos em que desejo morrer lentamente, me engasgar ou simplesmente levantar e ir embora, mas continuei sentada e quieta. 

— Porque me perdi em seus olhos. — ele sussurrou.  

— Uou. — murmurei ligando meu celular e abrindo as mensagens. Havia implorado que Aurora não me deixasse naquele lugar sozinha, porém ela tinha dito que precisava encontrar uma pessoa, então não pude fazer nada a não ser esperar. — Estou realmente impressionada. Encontrou essa cantada no WikiHow, em ''Como conquistar uma garota em três passos''? 

— Meus poderes de sedução são altamente poderosos, princesa.  

— Sim, claro. — zombei digitando mais uma das quinze mensagens desesperadas para Aurora.  

Helena: MENINA, CADÊ TU? Que merda, estou sozinha. Ok, se divirta.  

Mensagem não lida, perfeitamente ignorada. Ela não aparecia online desde que havíamos chegados nessa maldita festinha. Sofia, a dona daquela ''reunião'' de umas quarenta pessoas, tinha desaparecido entre a música e os corpos dançantes. Um futuro se dividiu em minha linha temporal, onde poderia ter ido embora para minha casa, mas continuei ali, descendo o feed do Instagram, lendo algumas mensagens antigas e ignorando os meninos que sentavam ao meu lado. Uma adolescente normal, tentaria conhecer novas pessoas, dançaria, mas eu era como uma estátua, petrificada. Minha cabeça latejava com o som alto da música, alguns forros, funk e pop eram os únicos estilos que tocavam. Eu desejava ardentemente que aquela merda acabasse para que pudesse tocar os lençóis limpos da minha bela cama e deixasse que lágrimas molhassem meu travesseiro por mais uma tentativa em vão de me divertir. Depois de uma hora torturante, aqueles meninos foram se misturando e indo embora, sobrou-se o som das músicas e o cheiro de carne assada, eu e o garoto de cabelo legal.  

— Não acho que essas músicas combinem muito com o seu estilo alternativo independente. — ele soltou. Levantei o olhar, observando-o de costas para mim e para frente da churrasqueira. Talvez estivesse se referindo à minha blusa regata simples, coberta com uma jaqueta comprida de jeans customizada. O garoto caminhou em minha direção e apanhou o celular que estava em cima do balcão, o vi digitar alguma coisa e logo ''Do I Wanna Know'' começou a soar pelas caixas grandes de som. Ele abriu um sorriso brincalhão. — Acho que deve gostar disso.  

— Um clássico. A próxima será ''Stressed Out''? — ironizei. 

Ele soltou uma risada e colocou um parto coberto de carne em cima do balcão e empurrou-a levemente para mim, me oferecendo. 

— Daqui para frente serão apenas salgadinhos baratos, então a minha dica é comer isso antes que acabe e você morra de fome.  

— Desculpe-me, mas sou vegetariana. — o garoto me olhou extremamente constrangido. Soltei uma gargalhada. — Estou brincando, não sou tão alternativa assim.

Olhei para as garrafas de bebida em cima do balcão. Estava cansada de prender-me em meu próprio corpo, como uma prisioneira da minha mente. Voltei a observar o garoto que comia algumas de suas carnes cortadas. Abri um sorriso. 

— Aonde tem copo? —perguntei. 

— Dentro dos armários, pode deixar que eu pego. — ele foi até a pia ao lado da churrasqueira e abaixou-se, pegando um copo de plástico e me entregando. — Primeiro mundo é assim.  

Eu não bebia, odiava o gosto ácido queimar minha garganta. Na verdade, não fazia o que a maioria esmagadora da minha idade fazia. Não fumava, bebia, não ia para festas. Tudo o que trazia a simbologia ''Adolescente problemático'', eu não tinha gosto por fazer, já era problemática demais não fazendo nada. Repudiava imaginar me transformar como a família de meu pai, bêbados e drogados. Porém, não podia negar que não tinha vontade de alguns pecados, principalmente quando se sente segurando o mundo nas costas. Tentei desligar minha mente das vozes que me diziam para não fazer o que queria. Apanhei a garrafa de uísque e deixei o líquido amarelo meio laranja escorrer e completar o corpo. 

— Só, vá com calma, você não parece o tipo de pessoa que bebe. — o garoto tentou me aconselhar, só que virei o copo sem nenhuma noção do estava fazendo. Precisava ser rápida, antes que minha falta de coragem me dominasse em alguns segundos. Aquela merda era pior do que cerveja. No mesmo momento que aquilo desceu minha garganta, teve vontade de subir novamente. Meus dedos agarraram a garrafa de novo. Enchi o copo e fiz a mesma coisa, o gosto continuou sendo péssimo e meu estômago embrulhou. Como uma pedra cair dentro da barriga e colocar fogo na garganta. Eu iria fazer aquilo de novo por pura teimosia, mas o garoto puxou a bebida para longe.  

— Devolva essa merda.  

— Acho que já deu nesse minuto de beber. Aliais, quantos anos tem?  

Odiei o modo como ele parecia me acusar que estar sendo irresponsável. Ele me olhava como se tivesse treze anos.  

— Dezoito anos, pai. — disse com um sorriso sarcástico, apertando o copo descartável. — Desculpe.  

— Tudo bem... filha.  

Soltei uma risada nasal, quase imperceptível. Apertei o copo algumas vezes, acompanhando o ritmo da música. Deixei que a falta de iluminação e o álcool me possuísse aos poucos. O celular pelo qual era meu ponto de segurança, foi largada no balcão. O menino, que mais tarde descobri seu nome, Rafael, distraía-me com sua conversa leve e simples, cheia de humor. Meus músculos se descontraíram e as piadas não eram mais tão indigestíveis, o mundo não era tão sério. Aquele quase ''barman'', fez com que uma parte mais infantil florescesse em mim. 

♡♡♡ 

Cantarolava a música que ecoava em meu ouvido como se a caixa de som estivesse ao meu lado. Meu corpo parecia dançar sozinho, os pés davam pequenos pulinhos. Passava as mãos pelo cabelo ondulado que recaia rebelde e volumoso pelo meu ombro. As mangas da jaqueta estavam puxadas até o cotovelo. O pescoço queimava, assim como o peito. Sentia o olhar fixo de Rafael, que se divertia em me ver assim. Ele, que havia acompanhado minhas mudanças de estado naquela noite, ria ao apreciar o poder do álcool. O ritmo um pouco mais calmo se tornou frenético com a troca de música. Dog Days Are Over estalava em minha língua, descia meus ouvidos como doce na boca de uma criança. Batia palmas enquanto dançava e mexia a boca, cantando sem, necessariamente, cantar. Olhei para Rafael que estampava um sorriso brincalhão, soltei uma gargalhada, era insano não sentir vergonha. O piso frio no pé, com os tênis longe, quase girava dando piruetas. Aproximei-me do balcão enquanto dava pequeno chutes no ar no ritmo da música.  

— Vou filmar isso e te expor na internet. — ameaçou ele. 

— Eu não me importo.  

Tentava manter minha mente longe. 

— Não se importa agora.  

Inclinei-me no balcão, o alcançando. Empurrei-o com o indicador, colocando a ponta do dedo no peito de Rafael. 

— Não vou me importar amanhã se não me lembrar. —sussurrei.  

— Você não está bêbada ao bastante para isso. 

Peguei uma das garrafas, pelo qual o rótulo não consegui ler, e empurrei para ele.  

— Então faça as honras.  

Ele riu, como se aquilo fosse uma piada. 

— Não irei te embebedar. — Rafael colocou a garrafa no lugar. — Depois que me beijar, todos falarão que era assédio.  

Era minha vez de rir. Gargalhei com a confiança dele.  

— Cuidado com o ego. Eu não vou te beijar, fica calmo.  

Rafael abriu a portinhola do balcão com um copo nas mãos. Ele colou-se na minha frente. O gelo batendo fez quase uma melodia. Já não dançava mais. A música era um simples fundo sem cor, que não brilhava mais e ecoava na mente como lembranças. Olhei os olhos dele o quanto pude pela má iluminação. Eu sabia que eram castanhos, brincalhões e juvenis, cobertos por uma película de mistério. Ele parecia me ler também, prestando atenção em minha íris. O coração apertou-se, como se duas pessoas o puxassem em um cabo de guerra. Toquei-o, coloquei a ponta do indicador em sua bochecha de um jeito desajeitado e tímido. Senti um sorriso se formar no escuro. Meu dedo escorregou até os lábios dele, confirmei o riso contido que Rafael dava. Ele segurou minha mão com cuidado, retirou-a de seu rosto.  

— Não acho que devesse fazer isso.  

Assenti. 

— Eu realmente não devo nada. — murmurei. — Mas eu quero.  

— Você é muito bonita para querer algo comigo.  

Aquela insegurança era uma linha que me bordava a querer algo. Odiava admitir, mas gostava de joguinhos, sentir o sabor de estar no comando e perder o controle era viciante. Eu estava fora do meu controle, em um lugar longe em que minha mente não me alcançaria. Coloquei a mão novamente na bochecha de Rafael e sussurrei: 

— Que ridículo.  

Deixei minha mão recair até o pescoço dele, o vi estremecer. Estava feliz por não estar sóbria, aquilo não era uma atitude que tomaria se estivesse em meu eixo. Olhei para os lábios dele, pareciam serem feitos de mel. Aproximei nossos rostos de forma letal. Deixei que meus músculos pesassem e caíssem no chão. Sentia sua respiração falha. Ele ergueu a mão, pronto para tocar-me da mesma forma no rosto, mas parou, a deixando petrificada no ar, depois caindo e voltando a ficar ao lado da perna. Rafael bufou e se afastou, passando as mãos pelo cabelo. Desviei o olhar para o chão. Ele simplesmente recuou. Minha mente tomou meu coração de volta, enfiou-o em uma caixa de pandora. Meu rosto corou, as mãos estilhaçaram ao chão. 

— Eu sou um merda. — ele murmurou para si. — Desculpa. 

Recuperei o fôlego, já pensava com mais clareza. 

— Eu entendo,  tudo bem você não querer nada.  

Ele lançou um olhar tóxico, abrindo um sorriso sarcástico. Rafael me olhava, mas parecia não me ver. Aparentava observar uma piada sem graça que tinha que segurar um falso riso. Passou alguns segundos naquele estado, tornando uma tranca sem chave. Então, virou-se, pegou a mochila do outro lado do balcão e foi embora. Demorei algum tempo para entender que ele não estava mais lá, mas parecia que o seu fantasma continuava naquela churrasqueira, queimando-me de perguntas.  Pisquei algumas vezes com a respiração alterada. Peguei meu celular, a luz da tela estourou meus olhos. Já era meia noite. Abaixo dos dígitos do horário, apareceu uma mensagem da minha mãe. 

Mãe: Aonde vc está, Helena??? Nunca vai voltar para casa, não? 

Helena: Estou indo embora agora.  

Abri as mensagens de Aurora, todas tinham sido visualizadas e nenhuma respondida. Decidi enviar outra para ela: 

Helena: Eu vou embora, cadê vc?  

Meu celular tremeu, ela havia finalmente respondido depois de dois minutos. 

Aurora: Pode ir, vou ir sozinha para casa.  

Helena: Ok. 

Desliguei o celular e o coloquei no bolso, abri a portinhola do balcão e peguei minha mochila que estava embaixo dele. Andei pelo ar livre daquele prédio, passei por algumas pessoas. Caminhava um pouco bamba e uma leve dor de cabeça me irritava, a música era alta demais. Procurei por Sofia, mas não a achei. Desisti de tentar encontrar, eu iria fazer o que sempre fazia, ir embora sem se despedir, depois enviaria uma mensagem para ela dizendo que tinha me embebedado e não a encontrei. Fui até a entrada do prédio que estava vazia, iluminada por alguns postes. Olhando para um banco de praça um pouco distante ao lado de uma quadra de futebol deserta, vi Rafael com um cigarro nas mãos. Ele soltava a fumaça como se aquilo fosse algo interessante de ser visto. Tinha uma postura melancólica. Pensei em ir até lá, mas desisti, meu coração já pertencia a minha mente dolorida de novo. Pedi para que o porteiro abrisse o portão metálico, então parti para rua pouco movimentada e caminhei em direção ao ponto de ônibus.  

♡♡♡ 

Minha cama era reconfortante, macia como algodão. Deixei que afundasse a cabeça no travesseiro. Os males da bebida explodiram-me em melancolia. Retirei o shorts jeans, a jaqueta e a blusa, joguei tudo em cima da cadeira, acomodando apenas com as roupas intimas e o cobertor. Caso pudesse escolher a dedo uma das cenas mais ridículas que vivenciei, era aquela. Estava agachada em cima da cama, em um silêncio absoluto, enquanto encarava o breu. 

Por que diabos eu tive bebido tanto? Beber era fugir dos problemas, ser completamente irresponsável. Era assim, essa era a pessoa que tinha me tornado? Alguém que enfia a cara em garrafas de vidro para poder se divertir? Que não tem nem a capacidade de rir sozinha? Eu nunca contaria para ninguém o tinha acontecido naquela noite.  

Estava me chicoteando por cada erro que tinha cometido na vida e quase me matando por ter bebido um pouco mais que meu limite. Pelo meu próprio bem e sanidade mental, decidi largar tudo o que estava pensando e deitar para dormir, porém o celular apitou - já mencionei que ele tocava como uma maldita vuvuzela?  

Tirei o celular de cima da cabeceira ao lado da cama. Lá estava uma mensagem de Aurora estampada em caps lock: 

Aurora: MENINA, EU FIZ UMA MERDA GIGANTE. 


Notas Finais


AAAAAH, bom, romance é o gênero que eu menos consigo escrever, então isso é meio que um teste. Um livro bem pequeno com fatos e pessoas baseadas na realidade. A Helena sou eu descrita, desenhada, passada na purpurina, então tratem de gostar dela hdskjkjdalkz.


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