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História Oculta, SQ - Raymond Reddington


Escrita por: ellasanto

Capítulo 4 - Raymond Reddington


Fanfic / Fanfiction Oculta, SQ - Raymond Reddington

Too Fake – Hockey ♪

Regina, vestida com trajes para exercício, deu um aceno com meio sorriso para seus vizinhos antes de partir para o início de suas corridas matinais.

— Olá Regina! É bom vê-la de volta! — Elizabeth abriu um enorme sorriso, retribuindo o aceno.

— É bom estar de volta, Lizzie. — Regina retribuiu. — “Mesmo não estando.” — Pensou ainda com o sorriso em seu rosto.

— Depois nos faça uma visita, chame Emma. — Tom disse cordial, depois de acenar e dar um selinho em sua esposa em despedida. — Tchau Mills, até mais! — Disse antes de partir em seu carro, deixando sua esposa e Mills para trás.

A mulher tinha por volta de seus trinta e três anos, os cabelos castanhos e meio longos contornavam seu rosto quadrado e realçavam os olhos azuis, seu sorriso era singelo e vestia roupas sociais de quem iria para o trabalho.

Em uma de suas conversas com a esposa no jantar, Emma explicou que aqueles nos quais ela sempre cumprimentava eram amigos de longa data das duas. Tom Keen era amigo de trabalho de Regina, quando a mesma trabalhava no centro de pesquisa da Universidade de Virgínia, e Elizabeth Keen conheceu Tom em uma saída que os três, mais alguns amigos fizeram em um bar.

Na noite anterior, depois do jantar que tudo isso foi esclarecido, a doutora de Regina – que assumiu seus cuidados depois que acordou do coma excêntrico – Kate Kaplan, entrou em conflito com Emma quando questionada se a escritora deveria ou não começar a se exercitar.

— Eu não vejo motivo para não. — Emma cruzou os braços, vestindo uma expressão birrenta que fez Regina travar o sorriso nos lábios. Infelizmente, para toda a insegurança de Mills, era adorável.

— Swan... — Kate adotou um semblante sério e frio. — A Srta. Mills acordou de um coma particularmente delicado e não sabemos o que um esforço pode provocar.

— Ela está bem! — Emma defendeu-a.

— Esperamos que esteja. Mas, além da saúde física, eu me preocupo com a psicológica. A senhora sua esposa está sem memória e isso é um grande alarde quando se trata da crueldade de um mundo, Swan.

— Ela não tem cinco anos de idade, Sra. Kaplan. — Emma desafiou-a com o olhar e recebeu um ainda mais intenso em resposta.

— Estará colocando em risco sua esposa. — Cerrou os olhos.

Regina olhava ora para uma, ora para outra tentando entender o que acontecia ali e se havia algo subliminar dentre as alfinetadas das duas.

— No início eu também não apoiaria pela fragilidade do corpo, mas agora não. Regina está forte e sente a necessidade de voltar a um hábito que sempre foi dela. Pode ser resquícios de memória, não irei privá-la disso. Acha que sou imprudente a esse ponto? — Deu um passo para perto da doutora, como se ali travando uma batalha com a mais velha, conversassem pelo olhar. — Como você mesma afirma, ela é minha esposa! — Disse duramente. — E jamais a colocaria em perigo se eu achasse que correria.

— Será? — Regina arqueou as sobrancelhas ao ouvir a doutora e percebeu que Emma deglutiu em seco. — Você age com a emoção Swan... — Continuava com sua postura firme, dando um passo para trás. — Eu tenho que agir profissionalmente e, dentro do quadro clínico de Regina, não aconselharia que ela saia sozinha para exercitar-se em doses altas. Mas, como você mesma diz, ela está aparentemente bem, portanto, caso ela queira fazer seus exercícios, está autorizada. E Re...

— Eu não vou colocar um guarda-costas na cola dela. — Rebateu Emma.

—Ei, ei! — Regina suspendeu a mão com um leve aceno, tentando estourar a bolha de tensão que se ponderou entre elas. — Eu estou aqui, não precisam agir como se eu não estivesse. — Aproximou-se das duas, dando um leve sorriso em agradecimento para Emma por todo empenho em defendê-la e olhou para a Doutora de olhar tão frio e sério, que se amaciava ao encarar a escritora. — Eu posso não saber quem eu fui, mas eu tenho consciência ainda e não me sinto segura para extrapolar os limites que desconheço quais são. Serei cautelosa e não será necessário contratar uma babá.

— Certo, eu confio em você Srta. Mills. — Kate deu um sorriso confortante para Regina e olhou duramente para Emma que tinha um semblante indignado. — Tenho de ir, qualquer coisa não hesite em nos chamar ou nos dar notícias.

Regina sentia-se desconfortável com toda aquela situação, principalmente, quando Emma voltou bufando para a sala e murmurou: “Eu não gosto dela e deveríamos trocar de médico, não sei o porquê de substituírem Cooper.”

— Emma... — Regina aproximou tocando as mãos gélidas e suadas de sua esposa, recebendo um olhar surpreso pelo toque. — Você foi bem atrevida. — A escritora começou a rir, percebendo a birra em proporções maiores nos lábios de sua esposa. — Desafiou a sabedoria dela... Está tudo bem, ela é boa, não é?

— É, mas...

— Então pronto. — Deu um sorriso de lado, tocando um ombro da loira e apertando-a em conforto. — Ela só pensou no meu bem estar.

— Eu também... — Disse com um tom murcho, fazendo Regina rir baixo e afirmar com a cabeça.

— Eu sei. Bem, caso sentir necessário e estiver com vergonha de me dizer, você pode me acompanhar.

— Só se você quiser, eu sinto que queira fazer isso sozinha, ao menos agora. — Emma brincou com os dedos na palma da mão de Regina involuntariamente e deu meio sorriso. — Eu confio em você, caso sinta qualquer coisa você me ligaria? — Regina assentiu e Emma abriu um sorriso ainda maior. — Certo.

 

A escritora sentia-se bem em poder respirar ar fresco, observar pessoas andando pelas ruas de seu bairro e ouvir o som do movimento e vida. Nas últimas semanas andou tão trancafiada em seu quarto e escritório que sentir como era estar fora da proteção dos cômodos não foi tão assustador como imaginou.

A cada passo que dava em sua corrida tentava absorver a leitura da noite anterior “O anjo perdido”. Sem entender o porquê, a leitura do livro referente ao seu filho foi deixada por último. Talvez fosse pelos inúmeros questionamentos quanto às memórias perdidas, quanto a quem era ela e o que faria dali para frente. Descobrindo que o pai do pequeno Henry morreu dois anos antes por um infarto fulminante e seu filho, aos cinco anos de idade, morreu por um acidente de carro.

Sua cabeça relampeava cobranças em libertar a mente presa, como se estivesse dormindo ou como se fosse uma bomba prestes a explodir com trilhões de informações. E os passos rápidos, que começavam a afetar sua respiração e corpo, foi uma ótima forma de extravasar o surreal que acontecia dentro de casa.

Sentia o corpo chegando ao limite, com uma fina capa de suor pelo rosto e respiração acelerada; diminuiu o passo, sua corrida agora era bem tranquila para acalmar o pulmão. A escritora amarrava seus cabelos negros em um alto rabo de cavalo quando uma loira, um pouco mais baixa que ela, lhe acompanhou nos passos com um enorme sorriso.

— Oh! Olá Regina!       

A morena desceu o olhar por todo o corpo, vestes de ginástica, cabelos loiros presos em um desajeitado coque, fones de ouvido pendurado pelos ombros e olhos cintilantes e verdes em expectativa de uma saudação.

— Olá! — Respondeu tentando não mostrar sua confusão quanto à presença inusitada e nunca mencionada da loira por sua esposa. — Desculpe eu...

— Ah, quanta ignorância da minha parte. — Estendeu a mão para a escritora, sem parar os passos, que logo foi apertada. — Tinker! — Abriu um sorriso ainda maior. — Sou sua vizinha de corrida... E sinto muito pelo o que aconteceu, achei que pudesse ter acontecido algo ainda mais grave, já que sumiu...

— Então, você sabe? — Regina deglutiu em desconforto, continuando a correr e ouvindo a voz da Dra. Kaplan em sua cabeça.

— Sim. Vamos dizer que você é conhecida...

— Pelo visto, só eu não me conheço então... — Sorriu com um semblante divertido. — Um prazer conhecê-la novamente Tinker. — Ia dando meio volta quando viu o cenho franzido da loira. — O que foi?

— Não vai mais? Você costumava ir até lá na frente. — Pararam para tomar uma respirada e analisarem com mais calma o perfil de cada uma. — Desculpe, eu não quis ser invasiva é só...

— Hábito. — Regina completou com um sorriso. — Sem problemas! Até mais Tinker!

— E como está Emma? — Continuou a fazer os movimentos de corrida mesmo parada, enquanto olhava Regina.

— Está ótima, obrigada por perguntar.

— Ótimo! — Tinker saudou com um aceno. — Até mais Regina!

 

x X x

 

Right On – Marvin Gaye ♪

Emma andava apressadamente pelo estacionamento do prédio do seu trabalho, em mãos tinha uma enorme pasta com alguns desenhos, chave de carro, carteira, celular e um copo de café; de baixo do braço segurava um tubo de projeto para apresentação com seu chefe e no outro uma grande bolsa pendurada no ombro. Enquanto apressava para pegar o elevador aberto, o telefone tocou, fazendo-a, desajeitadamente, prendê-lo entre o ombro e ouvido, e entornando um pouco de café ao tentar segurar a porta do elevador.

— Merda! — Praguejou quando olhou para a ponta da sua bota suja do líquido e sacolejando a porta para “limpar”.

Bom dia para você também, Swan! — August soltou do outro lado da linha. — Espero que já esteja nesse prédio.

— Ele já chegou? — Emma apertava trilhões de vezes o mesmo botão do elevador.

Já e está na sua sala.

— Estou no elevador.

Apresse-se.

— Mas que merda! — Emma desligou o celular e apertou mais algumas vezes o botão do elevador.

— Sabe, continuar apertando não fará subir mais rápido ou pular os andares. — Uma voz de sotaque forte veio do seu lado e Emma olhou antes de pensar em dar uma má resposta.

Era uma beleza peculiar e admirável. Os cabelos eram volumosos e cacheados, num tom castanho avermelhado; os olhos eram cor de mel e uma sobrancelha arqueada transmitia firmeza e, ao mesmo tempo, certo deboche.

— Navabi! — A mulher se apresentou. — Samar Navabi! Meu primeiro dia Srta. Swan.

— Uau! — Emma endireitou-se, suspendendo as sobrancelhas surpresa. A mulher deu um sorriso de canto e a loira afirmou com a cabeça. — Desculpe por isso... — Olhou para o lado para os botões e deu uma curta risada. — Muito atrevida para um primeiro dia. — Disse enquanto saía do elevador, com um sorriso de quem se afeiçoou a mulher.

— Aí está você! — August chegou pegando a loira pelo pescoço e guiando-a pelos corredores adentro. — Ele está lá dentro Emma, o que você fez?

— Nada? — Emma se embaralhava nos próprios pés enquanto era arrastada por August e, num movimento brusco, soltou-se da mão de seu amigo, derrubando ainda mais café. — Mas que...

— Bom dia Srta. Swan.

— Bom dia Belle! — Sorriu para sua secretária e olhou para a sombra de um homem sentado em sua cadeira pelo vidro fumê de sua sala. — Gold? — Juntou as sobrancelhas ao encarar August.

— Sim?

— Não entrou lá, certo? — August negou com a cabeça e Emma rolou os olhos. — Vá trabalhar August.

A loira respirou fundo e abriu a porta com dificuldade e assim que seus olhos se prenderam a figura sentada em sua cadeira, soltou sutilmente o ar de seus pulmões.

— Bom dia Emma Swan!

O homem estava sentado na cadeira de Emma, com as pernas cruzadas, as mãos perfeitamente pousadas no apoio e os lábios levemente torcidos para o lado direito. O olhar era duro e calculista, não havia desprezo, mas sim descontentamento e repressão. Um chapéu marrom, perfeitamente ajeitado em sua cabeça, combinava perfeitamente com seu casaco azul marinho.

— Oi Raymond. — Emma jogou suas coisas sobre o sofá e, fingindo não se importar com a presença do homem, deu um gole em seu café. Posicionando uma mão em sua mesa de desenho, direcionou o olhar para o homem. — Esperava Sr. Gold, não sua ilustre presença...

Raymond Reddington deu uma olhada em seu relógio de pulso e voltou a encarar Swan, soltando os lábios num estalar e colocando o chapéu cuidadosamente sobre seu colo.

— Ele está atrasado.

X

Dentro do carro, pelas ruas próximas do edifício da D9 Plan, Sr. Gold olhava inumeráveis vezes para o relógio e reclamava com seu motorista pelo atraso.

— Senhor, há um civil impedindo a passagem, bateram em seu carro. — Gold revirou os olhos e olhou para a imagem de seu motorista o observando. — O Senhor gostaria que...

— Não será necessário. — Soltou uma lufada de ar. — Não posso chamar atenção, estamos ao lado do prédio. Emma Swan aguardará.

X

— Claro que está! — Emma soltou um riso em deboche, dando mais um gole. — O que quer Reddington?

— Oh! — Ele soltou uma risada rouca, colocando-se de pé e ajeitando o chapéu sobre a mesa de Emma. — Conhece Alan Draper, Swan? — A loira respirou fundo e Reddington não deu tempo para uma resposta. — Ele não foi um pesquisador genial como alguns pensam, ele era apenas um bom médico com um dom de observação que documentava os casos de seus pacientes.

— O que é que Lizzie tenha lhe informado Raymond, eu não irei me envolver.

— Em um dos casos documentados, tinha o violinista Ronnie Stover que desenvolveu encefalite e Draper disse ser o caso de amnésia mais severo já documentado. Ronnie não conseguia guardar nenhuma memória por mais de 30 segundos, como se a cada meio minuto ele nascesse de novo. — Emma se remexeu no lugar e viu Raymond aproximar enquanto mordiscava a bochecha, uma velha mania. — Mas o mais sensacional desse caso era que de sua esposa Emily ele lembrava, e sempre a recebia com um caloroso sorriso; e ele nunca esqueceu como tocar o violino ou qualquer outro instrumento que soubesse; até mesmo as aulas de regência que teve, era capaz de reproduzir seus aprendizados.

— Aonde quer chegar Raymond? — Emma deixou o copo sobre sua mesa principal ao sentir um calafrio correr pela espinha pelo sorriso vencedor do homem e o rosto levemente suspenso.

— Eu quero que seja minha informante Emma Swan. — Disse firme. — E me conte tudo que acontecer. Você sabe muito bem o que está em jogo, sabe muito bem do que aquelas pessoas são capazes.

— Você é um mentiroso, não espera mesmo que eu confie... — Emma apontou, ainda com o olhar superior e sem se alterar. — Eu não trabalho para você Reddington, eu não tenho obrigação alguma de lhe oferecer informações. Você no meio disso apenas deixa a situação ainda mais complicada.

— Não seja ingênua Emma, sabemos que as informações que conseguiu na época fui eu quem permitiu que soubesse. — Soltou um riso em deboche, voltando para a mesa e pegando o chapéu e o alinhou em sua cabeça. — Não brinque com as peças Swan, é um jogo perigoso.

— Acha que ela saberia inconscientemente?

— É só mostrar o que ela precisa. — Reddington olhou para o relógio mais uma vez e estendeu a mão para Emma. — Te espero em minhas obras amanhã, Srta Swan.

No mesmo momento que Emma franziu o cenho sem entender a colocação de Raymond, a porta se abriu, revelando um Sr. Gold impaciente pelo atraso que se envolveu. A loira voltou a olhar para Reddington e apertou firme a mão do homem.

— Estarei lá às 08h.

— Sr. Gold... — Raymond acenou com o chapéu e saiu da sala de Emma.

— Quem era? E onde estão os projetos? — Gold entrou impaciente e Belle fechou a porta para terem privacidade.

Emma olhou para a mão que segurara um cartão de visita, que nem percebeu que Raymond havia lhe dado e segurou o riso ao ler “James Woods, CEO Gerrity Construtora”.

— Sr. Woods... — Emma voltou à atenção para seu chefe e tirou do tubo de projetos os desenhos de plantas que o mesmo havia pedido. — Esse é o corredor no qual havia lhe dito. — Apontou para um local na planta.

— Ótimo.

 

x X x

 

Where Is My Mind – Pixies ♪

Regina estava na varanda de sua casa, sentada na pequena escada que dava para o quintal e deixando os pés descalços sentirem a terra gélida e molhada pela chuva que caíra horas antes. Entre os dedos, um cigarro que, assim que tragado, era deslizado pelos lábios carnudos, enquanto o olhar se prendia a um ponto fixo não assimilado pela consciência.

 

“Existe um código, o código genético. Watson e Crick descobriram que esse código determina quem somos e que dependendo da ordem das letras G, A, C e T se determina quais proteínas serão produzidas, determinando cores dos olhos, texturas dos cabelos... E então, depois, descobrem que é a forma como o DNA é dobrado dentro de nossas células que controla esse processo.

Pergunto-me, existiria alguma forma de estudar meu genoma e descobrir quem eu sou? Ou terei de viver com a dúvida e aceitar o que me dizem que sou? Já sabemos da existência de informações contidas uma segunda camada do DNA, a questão é como acessá-la e entendê-la. Gostaria que, mais do que informações de uma sequência de olhos castanhos e cabelos negros, me dessem informações como o que sentir ou o que eu sou em essência.

Encontro-me perdida em cada palavra que leio de meus livros, como se me distanciasse da Regina que, aparentemente, fui. Eu posso modificar um DNA? Posso esconder informações em uma? Sinto como se minha sequência inicial fosse TGAC, mas embaralhou a ordem, tornando-me outro alguém, outra pessoa. Era como se, agora, minha sequência fosse um enigma, como se camuflado dentre as letras houvesse um pedido de socorro, TSGOASC. Eu estou oculta de mim mesma.”

 

Regina soltou lentamente a fumaça do cigarro e voltou a si, piscando algumas vezes até perceber uma presença ao seu lado. Seu olhar subiu até a loira que lhe fitava em admiração e com um leve sorriso nos lábios, fazendo Regina retribuir sutilmente o movimento dos lábios.

— Eu não quis te atrapalhar, mas também não consegui sair... — Confessou um pouco sem graça, fazendo Regina rir e as bochechas da loira ruborizarem.

— Como foi o trabalho? — Regina olhou para o cigarro que estava chegando ao fim e voltou o olhar para Emma.

— Exaustivo, mas tivemos bons resultados. Também, fui pressionada todo o dia.

— Se preferir, podemos deixar nosso encontro para outro dia. — Disse enquanto encarava o semblante cansado de sua esposa.

— Não! — Emma afastou-se da madeira e cruzou os braços, um pouco aflita. — Quer dizer, se você preferir, por mim tudo bem, mas não por minha causa... — As bochechas foram tomando um rosa ainda mais intenso, fazendo a morena suspender as sobrancelhas pelo desajeito de Swan. — E-eu estou bem, não precisamos adiar, por isso, é que eu realmente queria sair com você e... — Regina deu um curto riso e se colocou de pé, aproximando da loira. — Eu entendo, eu realmente entendo, é cedo e... Merda, eu... — Desviou o olhar.

— Emma...

— Eu devia ter ficado calada, não é? — Deu um sorriso entristecido. — Eu sabia, eu... Droga! Eu fico nervosa com você.

— Ei... — Emma arregalou os olhos ao sentir as mãos de Regina lhe segurar o rosto e o olhar analítico gravar cada traço de seu rosto com uma intensidade assustadora. — Eu gosto quando você chega em casa... — A loira suspendeu as sobrancelhas ainda mais surpresa. — Gosto do seu desajeito comigo... — Regina ainda segurava o cigarro entre o indicador e médio, deixando que o polegar ajeitasse uma mecha de Emma que caía pelo rosto, enquanto os olhos acompanhavam o movimento. — E eu adoraria ter meu encontro com você. — Olhou-a fixamente nos olhos verdes, como se pudesse desvendá-la, lê-la por completo.

— Eu... — Soltou todo o ar de uma só vez, sem nem se dar conta que o prendia, e sentiu as bochechas esquentarem ainda mais pelo sorriso que saiu dos lábios da escritora. — Eu vou tentar me controlar... — Suspirou trêmula pelo contato, pelo cheiro da nicotina lhe impregnando nas narinas, junto com um cheirinho de menta e o próprio aroma de Regina. — Mas... Você gosta quando eu chego em casa?

— Claro! — Mordeu o lábio inferior e se permitiu deleitar dos lábios finos e rosados de Emma entreabertos de expectativa e gostoso espanto. — É quando minha cabeça relaxa e eu me sinto livre de tantos questionamentos. — Voltou seu olhar para as esmeraldas tão intensas lhe desenhando.

— Você não precisa se cobrar em ser a Regina minha esposa...

— Eu não preciso me cobrar ser alguém Emma, desde que eu acordei nesse... — Desviou o olhar. — Pesadelo, você esteve ao meu lado. — Voltou a olhar para a loira. — Sem cobrar-me que eu me lembrasse de algo, como Cooper fez e, principalmente, como eu faço. Eu me cobro todo o tempo e é engraçado, pois eu não sei explicar o conforto que eu sinto estando ao seu lado e, por esse motivo, eu me afastei tanto.

— Você confia em mim?

— Hoje sim. Eu estou tentando entender os preceitos da vida Emma, eu estou incompleta, entende? É tudo tão complicado e eu não sei se posso dizer que confio totalmente, é como se uma parte de mim gritasse para eu ficar sempre em alerta. Eu sinto um enorme buraco dentro de mim. Mas quando eu penso em Henry, o que é ainda estranho, e em você, minha cabeça acalma e um pedacinho desse vazio é preenchido. — Regina olhou bem para os olhos esverdeados e deu um suave sorriso, entristecido, mas misto de frieza e esperança. — Eu tenho medo de não me lembrar de nada, nunca, e ter que viver com esse buraco em mim. É estranho, enlouquecedor. Questionamos tudo, sabe? Mas é bom saber que tenho alguém ao meu lado, é bom saber que tenho você.

Os lábios de Emma se abriam e fechavam, sem conseguir pronunciar nada; o peito se alarmava em perigo eminente ficar tão próxima à sua esposa e nada poder fazer. A respiração descompassada e os sentidos deturpados impediam de ver que a morena sentia a mesma expectativa e, talvez, os primórdios dos sentimentos mais inocentes e sinceros de um relacionamento. De início, talvez amizade, a confiança sendo construída e a estranha sensação de conforto e lar. Dentre as navegações nas intensidades de cada uma, faziam seus lares, os dourados moravam nos chocolates e os negros faziam morada nas esmeraldas.

Stay Don’t Go – Spoon ♪

— Hm... Quem tanto te pressionou hoje? — Resgatou o fio de sanidade.

— Ah! — Emma se desprendeu de seu transe e deu meio sorriso ao perceber a proximidade com sua esposa. — Gold, meu chefe. Ele aparece de vez ou nunca, mas quando aparece...  

— Acho que entendo... — Regina se afastou de Emma e deu a última tragada no cigarro antes de descartá-lo. — Gostaria de conhecê-lo um dia. — Deu os ombros.

— Não sei bem se realmente gostaria, ele tinha uma estranha obsessão por você. — Regina franziu o cenho e Emma começou rir. — Bem, enquanto todos os outros ele quase matava com olhares e tiradas irônicas e cruéis, com você ele maneirava e mantinha um zelo maior. Acho que ele acreditava que eu, como uma mulher, não poderia exercer esse papel em sua vida: protegê-la. E bem, acho que ele estava certo.

— Emma... — Regina repreendeu-a e soltou a fumaça pelas narinas. — Não pense assim... Enfim... — Sacolejou a cabeça e voltou seu olhar para sua esposa. — Talvez devêssemos fazer um jantar para Lizzie e Tom – que os vi e cumprimentei hoje. — Disse com um sorriso orgulhoso de si mesma e Emma abriu outro ainda maior. — E também para Gold e Tinker.

— Tinker?

— Ah sim... — Regina abriu um confortável sorriso. — Minha “vizinha de corrida” de acordo com ela e...

— Espera, eu não conheço nenhuma Tinker. Tinker do que? Ela sabia sobre você? — Aproximou de Regina enquanto pegava o celular no bolso.

— Ei... — Regina fechou o cenho sem entender tal atitude. — Eu não sei sobrenome, Emma ela só devia correr comigo...

— Talvez, mas... — Emma discou um número rapidamente e enquanto olhava seriamente para sua esposa, esperava a ligação completar. — Eu não a conheço.

— Eu sabia que não conseguiria passar um dia sem falar comigo Swan.

— Tinker. Você já ouviu falar? — Ignorou a provocação. — Não tem um sobrenome e disse correr com Regina antes do acidente.

— Emma, para! — Regina falou mais alto e a loira tentava manter sua respiração normal. — Quem está nesse celular?

Lizzie, Emma. Lizzie. — Disse Raymond do outro lado.

— É a Lizzie... Talvez ela conheça. Regina, você não entende...

— Claro que não entendo! Eu nem sei a merda de quem eu sou, por que isso? Você saberia todas as pessoas que digo olá na rua? Que tipo de relacionamento era esse? E você disse que confiava em mim Swan, eu não me expus.

— Eu tenho medo de lhe fazerem mal Regina, de aproveitarem da sua situação e...

— Que ouvisse Sra. Kaplan então.

Ela conhecia você, Emma?

— Ela me conhece Regina?

— Sim! Se você é minha esposa e eu costumava correr com ela, é um pouco óbvio que ela soubesse, não?

— O quanto ela sabia?

Emma! — Raymond repreendeu, soltando uma lufada de ar e revirando os olhos.

Regina cerrou os olhos, suspeitando da pergunta e explosão de Swan.

 — Ela perguntou de você, se preocupou. Talvez você só não se lembre dela. Eu posso perguntar amanhã, posso... — Regina sacolejou a cabeça um tanto quanto confusa. — Ela fez parte de quem eu fui, é o que eu preciso, entende? Pessoas que me conheçam e eu possa descobrir quem eu era. Não vou cair em qualquer coisa é apenas para me dar rumo... E, eu prometo compartilhar tudo com você.

Não seja impulsiva Swan, não coloque tudo a perder. — Raymond disse firme e olhou para Dembe, seu guarda-costas. — Encontre Killian Jones.

Um calafrio passou pela espinha de Emma e ela olhou fixamente aos olhos de Regina, dando um sorriso confortante e envergonhado, como se confessasse que realmente passou dos limites por uma bobeira.

— Lizzie, desculpe por isso... — Emma suspirou o telefone. — A preocupação subiu à cabeça... Não, não precisa procurar por Tinker. — Desligou o celular e, envergonhada, olhava para o mesmo em suas mãos. — Realmente, talvez eu só não me lembre.

— Venha Emma... — Estendeu sua mão. — Vamos nos arrumar para nosso encontro, você precisa distrair um pouco.

Emma sentiu seu coração errar uma batida e respirou fundo, olhado para a mão de Regina e a segurado firme. Com o toque quente, seguro e tão confortante, Emma pode se deleitar de um momento apenas delas, sem deixar que todo o temor e aflição lhe invadissem o peito.

— Ei, está tudo bem. — Regina disse entrelaçando os dedos com os de Emma. — Deixo para me explicar sobre todo esse temor amanhã, não cobrarei agora, mas irei depois. E, além do mais, eu li sobre vários assuntos para não ser uma companhia desagradável hoje, então, vamos logo...

— Isso seria impossível. — Emma deixou um riso sair, firmando ainda mais os dedos entrelaçados com sua esposa, enquanto subiam as escadas para o corredor.

— Eu ler sobre vários assuntos? — Soltou Regina afrontada.

— Você ser uma companhia desagradável. Eu trocaria todas minhas companhias só para poder ficar com você o dia inteiro... — Emma quando percebeu o que disse fechou os olhos e apertou as pálpebras, sabendo que poderia estar sendo invasiva e rápida demais. — Desculpe, eu...

O dançar das asas de borboletas tomaram todo o estômago de Emma quando sentiu os dedos de Regina lhe segurarem o queixo. Com receio, a loira abriu os olhos, encontrando com duas amêndoas repressoras lhe fitando.

— Não peça desculpas todas as vezes que falar o que sente Emma. É bom saber que você nutre sentimentos por mim, mesmo com tudo e eu sendo cética a tudo a minha volta, você está aqui. E, quando você pede desculpas, eu sinto como se suas palavras não fossem pra mim e sim para a Regina que eu fui antes de tudo.

— Não! — Emma deglutiu em seco. — Eu só... Eu me acho uma idiota por conseguir me apaixonar por você de novo, você é diferente e não ache que é ruim, é bom, é muito bom. Porque mesmo com toda diferença, você é você mesma. Mesmo com um semblante perdido, os olhos vagos em busca de qualquer informação, mesmo desconfiada e insegura, você carrega o mesmo brilho no olhar... E eu amo isso.

— Não me faça apaixonar por você Emma Swan. — Regina disse com um sorriso zombeteiro, tentando abafar as trilhões explosões em seu imo. — Dizem que primeira paixão é devastadora...

A loira deu uma gargalhada e arqueou uma sobrancelha com um semblante divertido.

— Imagina que honra ser o primeiro amor da lendária Regina Mills.

— Já vi que será uma má ideia. — Franziu o nariz em diversão e voltou a subir as escadas, sem mais segurar a mão de Emma. — Irei permanecer intocável.



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