Separei um tempinho da tarde para caminhar um pouco. Fazia tempo que eu não me exercitava e pretendia voltar a fazer exercícios. Até uma academia e um estilo de arte marcial seriam bem-vindas.
— Caminhando sozinha, Valentina? — Myung me seguia com a sua bike.
— Oi, Myung. — Sorri. — Tenho que estar em forma, não é?
O entregador desceu de sua bicicleta e optou por empurrá-la enquanto andava ao meu lado.
— Estava pensando em ir de novo ao cinema qualquer dia desses. — Ele disse. — Mas enquanto não podemos ir, aceita uma tradicional rodada de sorvete?
— Vamos lá! — Aceitei o convite, animada. — Mas hoje eu pago.
— Nada disso, mocinha. — Myung protestou. — Eu vou pagar.
— Se você não deixar que eu pague, não falo mais com você.
— Okay, mocinha. Você paga.
Myung colocou sua bicicleta em algum lugar que eu não vi e entrou comigo na sorveteria. Como de costume, sentamos nos banquinhos do balcão e pedimos os sorvetes, que por sinal chegaram bem rápido.
— Você gosta mesmo de baunilha, hein?
— E você de chocolate. — Myung riu. — Mas me diga, como vai a vida?
— Vai bem, apesar da correria e dessas coisas que você sabe que andam ocorrendo. Foi bom ter ido à praia e pensando um pouco. Mas e você? Como está?
— Vou bem, obrigado. Então quer dizer que você foi à praia, é?
— Sim. Fui junto com uma staff e um amigo dos meninos para acompanhar o Jin e o Jungkook.
Uma sombra de decepção pareceu ter passado pelo rosto do entregador.
— Ah, sim. — Ele disse, meio tímido. — Que bom que você se divertiu.
— Sim, me diverti muitíssimo. — Dei uma colherada em meu sorvete. — A praia de Daecheon é muito bonita e refrescante. Jamais poderia imaginar que houvesse tanta beleza assim por aqui, além dos coreanos.
— Me incluo nesses coreanos. — Myung deu uma piscada.
Comecei a rir do que ele disse e dei um tapa em seu braço.
— É, você é bonitinho.
— Bonitinho? — Myung se indignou. — Diga logo que eu sou um garoto lindo, que conquista todas as meninas.
— Não fique se achando.
Terminei minha taça de sorvete e me levantei de onde estava sentada, agachando-me para amarrar o cadarço do meu tênis.
— Já vai? — Myung indagou.
— Sim, quero ligar para o meu irmão. — Me ergui do chão. — Te vejo depois, está bem?
Me despedi do entregador e voltei para o apartamento, dando aquela corridinha básica. Clover não estava por lá, então seria mais fácil falar ao telefone já que ela não ficaria gritando. Disquei o número e aguardei alguns segundos. Tyler atendeu logo na primeira chamada.
— Tyler?
— Oi, maninha! — Ele respondeu, todo felizinho. — Como você está? Demorou um pouco para ligar pro seu maninho.
— Foi a correria, desculpe. Mas estou bem. E você? Como estão nossos pais?
— Eu estou bem e nossos pais também. A mamãe pergunta de você direto, mas fica feliz por saber que você está fazendo o que gosta. Enfim, tenho que falar com você uma coisa.
— O quê?
— Os pais da Clover parecem ter brigado. Ela não disse nada?
— Não, ela não disse. — Fiquei preocupada. — Quando isso aconteceu, Tyler? Eles brigaram feio?
— A Clov nem deve saber disso, pelo visto. Bem, isso foi há uns dois dias atrás. Eles tiveram uma discussão, parece que por falta de tempo juntos e desgaste da relação. A mãe da Clover disse que ia conversar comigo depois. Não diga nada a ela, okay? Deixe que os pais dela resolvam isso.
— Tudo bem.
Fiquei um pouco triste por minha amiga. Ela ama os pais mais do que qualquer coisa e ficaria muito mal quando soubesse que eles estavam brigados. Conversei com Tyler por mais alguns minutos e encerrei a ligação. Logo após, peguei um pacote de biscoitos e me meti a comê-lo sozinha no sofá da sala.
— Olá! — Jimin abriu a porta do apartamento e entrou.
Levei um susto com sua chegada, colocando a mão no peito para controlar a respiração.
— Não era pra você estar na Big Hit? O que aconteceu?
— Eu não me senti bem e me disseram pra vir pra casa. — Jimin sentou-se ao meu lado com uma expressão nada boa no rosto.
Coloquei a mão em sua bochecha e constatei que o garoto estava ardendo em febre. Suas maçãs estavam mais rosadas do que nunca.
— Você tá fervendo, menino! — Me desesperei. — Deita aqui que eu vou trazer algo pra te cobrir.
— Não se preocupe e...
— Me obedeça!
Jimin se deitou no sofá e eu fui correndo buscar um cobertor. Voltei para sala e vi que ele estava todo molinho, gemendo de frio. Cobri seu corpo e coloquei uma touca em sua cabeça.
— Vou fazer algo quentinho pra você comer. — Falei, igualzinha a uma mamãe. — Fique quietinho aí.
Fui para cozinha e preparei um ramen delicioso. Pus um temperinho nele e retornei a sala, sentando-me novamente no sofá.
— Vou dar na sua boca. Fique sentado para não engasgar.
— Isso é sério? — Jimin apontou para a tigela que eu segurava, rindo que nem um bobo.
— Não fique caçoando. Senta logo!
Jimin obedeceu e abriu a boca para eu colocar as colheradas. Parecia um bolo de arroz.
— Assim eu vou melhorar bem rápido. — Ele sorriu. — Obrigado por cuidar de mim, jagi.
Fiquei meio sem jeito por ter sido chamada por um adjetivo íntimo como esse. Não que fosse problema, mas "jagi" geralmente é uma palavra usada por casais e era um tanto estranho ouvir outro garoto, além do seu namorado, lhe dizendo isso.
— Descanse um pouco, ouviu? — Aconselhei. — Como foi ficar desse jeito?
— Eu andei pulando refeições por esses dias. — Jimin balbuciou.
— Você é louco! — Briguei. — Sabe que deve se alimentar bem. Por acaso é uma nova dieta?
— Não. Eu esqueci de comer por causa da correria.
Ouvi o barulho da porta sendo aberta. Clover havia voltado e arqueou as sobrancelhas quando viu Chimchim no estado em que estava.
— O que houve com você? — Ela segurou o rosto dele.
Explicamos tudo o que tinha acontecido nos mínimos detalhes.
— Não pode ficar esquecendo de comer, Jimin. — Clover o repreendeu. — Você é um bebê que tem que ficar forte e bonito.
— Com você pedindo assim... — Jimin se aproximou de Clover e deu um beijo no canto de sua boca.
Se eu não visse a cena, até acreditaria, mas ficaria duvidando.
— Parece que alguém aqui já está melhor. — O empurrei.
— Se controla aí, filhinho. — Clover franziu o cenho e quase riu.
— Me desculpem. — Jimin deu uma risadinha.
Balancei a cabeça, bastante surpresa com a atitude do ''pequeno''. Ele não é nada fácil.
— Vá para o quarto e...
Puxei o cobertor e minhas mãos pararam no abs de Jimin. Como ele estava enrolado até o pescoço, não adivinhei que estava sem camisa. Afastei minhas mãos na hora e senti que comecei a ficar ruborizada.
— Eu vou para o quarto. — Jimin disse, me encarando.
— O-Ok. — Tentei soar natural. Falhei, obviamente.
O abdome de Jimin ainda não era como antes, mas estava quase lá. Ele se levantou e recolocou sua blusa, dirigindo-se ao seu dormitório.
— Que tensão sexual foi essa, hein? — Clover riu. — Esse menino é louco.
— Acho que ele faz isso pra ser sexy. — Comentei. — Mas acaba nos deixando envergonhadas com isso.
— Concordo.
Olhei para minha amiga e me lembrei do que Tyler havia me dito. Não queria que ela sofresse ou ficasse magoada, o que talvez fosse impossível.
— O que foi? — Perguntou.
— Nada, mana. — Disfarcei.
*****
E mais um dia os meninos chegaram bem cansados da Big Hit. O ambiente ao redor deles conseguia transmitir com êxito suas exaustões.
— Boa noite pra vocês. — Clover os cumprimentou.
— Boa noite. — Todos eles responderam.
— Como o Jimin está? — Jungkook questionou, sentando-se ao meu lado e me dando um selinho bem rápido pra ninguém ver.
— Preocupado com o seu amor? — Provoquei.
— Sério? — Jungkook riu, quase que não querendo.
— Ele está no dormitório desde que chegou. Fiz um ramen pra ele e depois disso o mocinho não comeu mais nada.
— Você fez ramen pra ele? — Jungkook fez uma expressão impressionada. — Não sabia que podia fazer essas coisas.
— Devemos admitir que sua namorada tem muitos dotes. — Yoongi zombou. — E você, Clover? É capaz de fazer um ramen para o Taehyung?
— OOOOOU! — Um breve urro foi exclamado.
— Você só pode estar pirado dessa cabeça. — Clover revidou.
— Alguma vocês andam conversando. — Observei o rosto de cada membro.
— Não invente. — Yoongi cruzou os braços.
— Só vejo as coisas, meu amorzinho.
Jimin deu as caras na sala, parecendo recuperado do mal estar. Eu sou uma ótima cuidadora, não era pra menos. Okay, parei de me achar.
— O que aprontou enquanto não estávamos por perto, Jiminnie? — Yoongi quis saber.
— Deitei na cama e comi ramen. — Jimin piscou para mim.
— Fiquei sabendo que a Valentina cozinhou pra você. — Jungkook disse.
— Ela é uma ótima garota, Kookie. — Jimin sorriu. — Deve ser por isso que você a ama.
Achei esses comentários meio ''pás'', mas tentei não ficar pensando neles. Não tinha porquê pensar.
— Vou tomar banho e dormir. — Jungkook se espreguiçou e me chamou com a mão. — Antes, me dê meu beijo de boa noite.
— Alguém pode aparecer. — Olhei para os lados, verificando se alguém além dos rapazes e da Clover nos via.
— Se você ficar demorando a me beijar, claro que vai aparecer alguém.
— Todos vão ver o nosso beijo. — Fiquei tímida.
— Finja que não estamos aqui, menina. — Namjoon riu.
— Fingir que você não está aqui maliciando as coisas é o mesmo que acreditar que humanos têm asas e voam. — Ironizei. — Sem ofensas, Tae.
— Eu entendi a referência! — Clover deu uma de Capitão América.
— Seja menos retardada. — Yoongi disse, sério.
— Eeee, começou! — Exprimi, erguendo os braços no ar.
— Você fique quieto, Min Yoongi. — Clover rebateu. — Jamais conheci alguém irritante como você.
— Não ligo pro que você acha.
— E nem eu pras suas provocações. — Clover continuou.
— Você é louca. — Yoongi balançou a cabeça.
— E você é um porre.
— Basta! — Jin interferiu. — Vocês parecem que estão brigando de verdade.
— E estamos. — Yoongi afirmou.
— Não posso acreditar nisso. — Jin se esticou no sofá.
As brincadeiras dos meninos continuaram por um bom tempo. Eles não se cansam de ficar caçoando um ao outro nem por um segundo. É revigorante ver que eles se amam e são uma linda família.
— Só falta o Jungkook querer ficar imitando todo mundo. — Sentei no braço do sofá ao lado de JK.
— Não me dê sugestões. — Ele riu. — Fique falando e eu vou acabar imitando você.
— Não tenho o que ser imitado.
— Mas óbvio que tem. — Kookie se virou para mim. — ''Clover, eu estou bonita?'', ''Pare de me chamar de noona, sua criança rebelde''.
— Pegando as minhas frases? — Yoongi se pronunciou.
— Naninarinoninonarinarinarino. — J-hope cantou, no ritmo de ''On the Floor'', da Jennifer Lopez.
As gargalhadas se espalharam pela sala. Clover e eu ficamos com dor de barriga com tanta risada grátis.
— Não achei engraçada a sua imitação, hein, Jungkook? — Falei, ainda rindo.
— O amor é um sentimento muito lindo mesmo. — Namjoon falou.
— Concordo. — Taehyung fez um biquinho fofo. — Eu te amo, hyung.
— Também amo você, filhinho. — Namjoon abraçou ele.
Já estava ficando tarde e os meninos resolveram ir de uma vez para o dormitório. A brincadeira estava muito legal, mas era bom não abusar e ir dormir logo.
— Tenham bons sonhos, meninas. — J-hope deu um beijo no topo de minha cabeça e na de Clover. — Durmam bem.
— Obrigada, Hoseok. — Sorri.
— Não quero crianças saindo de madrugada e indo no quarto de ninguém, hein? — Namjoon avisou, olhando para Jungkook e para mim.
— Vou aguentar ficar essa noite sem beijo, pode deixar. — JK disse.
Abracei o maknae e todos os outros membros na tentativa de mostrá-los que estaria ali para o que precisassem.
— Vamos dormir também, Clover. — Falei.
Minha amiga assentiu e foi comigo para o quarto, sem antes se despedir de cada um dos garotos. Chegando em nossos aposentos, colocamos nossos pijamas e nos preparamos para descansar.
— Vai comigo no shopping amanhã? — Ela pediu, vindo em direção a minha cama.
— Vamos, amorzinho. — Puxei-a para que se deitasse em meu colo.
— Quero me divertir um pouco. Estar com você é a melhor coisa do mundo.
— Penso a mesma coisa. — Fiz cafuné em seu cabelo. — Eu te amo, mana.
— Também te amo.
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