História Oito ou Oitenta - Capítulo Único

Garoto, na primeira vez que te vi já soube que seria um problema. Um problema específico, um problema pra mim. 

Seu sorriso, seus olhos, cada centímetro de você gritava: perigo. Sim, você era perigoso, ainda é, mas, quando te conheci, todos os meus neurônios queimaram, assim como cada célula do meu corpo.

Sua voz, baixa, sedutora, completa e irrevogavelmente irresistível, me encantara e me fizera sentir borboletas no estômago - de uma forma que nunca pensei que sentiria.

Garoto, você mudou meu ponto de vista sobre várias coisas, você conseguiu fazer com que eu simplesmente me rendesse à você em nossas brigas bobas. Você era meu ponto fraco, eu sabia. Com você não havia certo ou errado. Esquerda ou direita. Era oito ou oitenta.

Ah, você era tão errado. Errado para o mundo, mas não tanto quanto era pra mim. Mas, às vezes, o errado simplesmente parecia o certo.

Garoto, eu sempre o queria ao meu lado, seja discutindo sobre filmes que não faziam sentido ou sobre peculiaridades do seu dia.

Você sempre me ouvia, sempre estava lá, mesmo que eu estivesse proferindo frases bestas ou sendo aquela garota dramática que nós dois sabíamos que eu era.

Você me aceitou e mesmo sendo um idiota quando não deveria, eu também te aceitei. 

Garoto, você me libertava e me fazia ceder ao melhor de mim. Você fazia-me ser melhor. Mas eu tinha medo, tinha medo de me render aos meus sentimentos. Sempre me sentia à beira de um abismo. Quase pulava. Mas eu era covarde, tão, tão, tão covarde. E eu apenas recuava, com as bochechas enrubrecidas e às vezes até mesmo com raiva de mim mesma por ter tentado e, logo após, falhado.

Garoto, você disse, mas eu não te ouvi. Eu fiz. E me perdoe por isso. Não espero que entenda, tampouco tente concretizar tal proeza.

Apenas peço que me abrace por essa noite e seja, por algumas horas, meu mais. 

Porque você era meu problema, o meu perigo, o meu ponto fraco, o meu idiota, o meu errado, o meu mais, mas nunca seria realmente meu.