1. Spirit Fanfics >
  2. Okay >
  3. Respostas

História Okay - Respostas


Escrita por: GSilva

Notas do Autor


Penúltimo capítulo da segunda parte. O próximo cap sai amanhã...

Capítulo 10 - Respostas


CAPÍTULO 9 – RESPOSTAS

 

Yian parecia especialmente nervoso, mostrando claramente que estava com medo da aproximação de Kaio, medo de uma iminente explosão de raiva. Ele se colocou entre mim e Kaio, barrando a passagem do garoto.

— Kaio, não vá fazer algo errado. — Yian disse, com a voz branda, porém certeira.

— Eu quero respostas tanto quanto você, Yian. — Kaio respondeu. — Eu não vou machucar esse garoto. Só quero saber de onde ele conhece o Montmore.

Vi Yian cerrar as mãos, com raiva, mas logo depois deixou-se relaxar. Ele se afastou lentamente e permitiu que Kaio se aproximasse ainda mais do garoto.

Era estranho vê-los em todos os seus detalhes, por causa da luz que eu tinha acendido há minutos. Graças à luminosidade, eu podia ver que Yian tinha traços que eu nunca havia percebido: cabelos com algumas mechas cinzas, manchas nos punhos e cicatrizes nas costas. Kaio também parecia diferente. Ele não era tão grande igual eu imaginava, mas seu olhar parecia muito mais centrado e hostil pela luz. Quando percebi todos esses mínimos detalhes, olhei para os fundos do porão, onde Alan parecia evitar qualquer contato conosco. E não, eu não olhei para as genitais deles, embora todos estivéssemos nus.

— Vamos lá. — Disse Kaio, abaixando-se na frente de Erick, cortando o meu devaneio. — Não vou te pressionar muito. Apenas nos diga como você conhece esse nome: Montmore.

O novo garoto parecia ansioso, com seu olhar pulando de Kaio para Yian e para mim. Cada vez que ele olhava, eu sentia a dor escondida sob seus olhos, como se ele tivesse passado por problemas terríveis. Fiquei imaginando isso. Ele estava com marcas por todo o corpo, cicatrizes profundas, ferimentos que pareciam mais antigos do que qualquer sequestro. Ele parecia ter sofrido antes de chegar à casa.

— Responda à pergunta, Erick. — Yian disse, gentilmente.

— Eu… — O garoto respondeu. — Eu o conheço há algum tempo. Ele… Ele me sequestrou.

— Montmore? Foi ele que te sequestrou? — Kaio perguntou impacientemente. — Há quanto tempo?

— Há dois meses. — Erick respondeu, com a voz afetada pelo medo. — Ele me pediu para não contar nada.

Kaio olhou para Yian com um sorrisinho perverso no rosto, e eu conhecia aquele olhar. Era o olhar de quem é ávido por respostas, quando atingem seus objetivos. Ele estava prestes a arrancar informações de Erick, machucando-o com as lembranças de tempos que ficavam melhores esquecidos. Não posso negar que também fiquei duvidoso, pois não sabia que Montmore sequestrava pessoas, assim como o “Mestre”, mas não podíamos torturar o garoto mentalmente atrás de respostas.

Sem responder aos meus próprios comandos, andei até Erick, quase empurrando Kaio para o lado, e me abaixei ao seu lado.

— Ei. Erick. — Eu disse, olhando-o fundo nos olhos. — Você precisa contar. Eu sei que pode ser horrível, mas você precisa se lembrar. Não se esforce muito. Se estiver pesado demais, nos avise.

Erick olhou para mim e, por causa da distância curta entre nós, pude ver mais claramente os pensamentos dele. Havia dor lá. Senti, também, o olhar de Yian queimando as minhas costas, mas não me virei para encará-lo.

— Tudo bem? — Perguntei, fazendo Erick assentir rapidamente. — Agora, nos explique. Você disse que foi sequestrado há dois meses… O que aconteceu nesse período?

Erick piscou algumas vezes antes de limpar a garganta para responder.

— Eu não estava aqui, nesse país. — Disse ele. — Eu estava em Londres, em algum lugar de Londres, onde eles me mantiveram preso. Havia outros garotos lá, dezenove no total, mas foram sendo assassinados aos poucos. Eu fui um dos três que conseguiram sobreviver.

Sem pensar duas vezes, coloquei minha mão no ombro do garoto e tentei afagá-lo. Por sorte, ele não se afastou, e pude sentir sua pele queimando.

— Londres? — Kaio perguntou.

— Sim. — Erick respondeu. — Parece que lá é o núcleo, ou algo assim. Eles disseram que eu era especial, disseram que eu viria para os Estados Unidos para conhecer alguém importante.

— Espere. Você sabe onde estamos? — Yian interrompeu com a voz claramente afetada pela empolgação.

— Não. Só vi um deserto. Foi tudo o que vi. — Erick respondeu. — Nunca estive aqui, então não posso dizer onde estamos.

— Tudo bem. — Respondi. — Agora, continue. Você sabe quem era essa “pessoa importante” que você precisava conhecer aqui na América?

— Não. — Ele respondeu rapidamente, como se já tivesse pensado na resposta. — Eles não me disseram. Mas havia algo lá, uma palavra que ouvi várias vezes. Um nome, de uma marca de fotografia ou revista, não tenho certeza.

— E qual é? — Perguntei, curioso.

Não sei explicar o porquê, mas todos os pelos do meu corpo arrepiaram nesse momento. Erick olhou para mim, temerosamente, e respondeu sem rapidez:

— New Style.

 

Sem pensar duas vezes, afastei-me de Erick, Yian e Kaio. Demorei algum tempo para perceber o que o novo garoto havia dito, ainda mais para relembrar a cena de Montmore parado à minha frente. Não fazia muito tempo desde que o sequestrador me obrigou a tirar aquelas misteriosas fotos e eu lembrava claramente do nome New Style marcado na fita de uma das câmeras.

— Eu já ouvi esse nome antes. — Respondi, tentando relembrar. — Quando conheci o Montmore. Ele estava segurando uma câmera que tinha uma fita, e nessa fita havia esse nome. O que significa?

— É uma revista. — Erick respondeu sem rodeios. — É uma revista de moda de Londres, até onde eu sei.

— Mas que diabos uma revista de moda tem a ver com a gente? — Kaio perguntou, elevando a voz. — Nós não somos modelos.

— É o que eu estava tentando descobrir, quando eles me pegaram. — Erick respondeu. — Eu trabalhava na New Style, era meio que um estagiário lá. Só que… Só que de repente alguns funcionários começaram a desaparecer. Eu estava prestes a achar a resposta, depois de ter visto algo relacionado a alguém chamado Gordon Dale, quando eles me acharam.

— Então você não foi sequestrado como nós? — Perguntei. — Eles te levaram porque você sabia demais…

— Sim, acho que é isso. — Erick disse.

— E quem é Gordon Dale? — Yian perguntou, parecendo surpreso e curioso ao mesmo tempo. Eu nunca havia escutado aquele tom na voz dele.

— Eu não faço a mínima ideia. Saí de lá antes de descobrir, mas acho que era alguém importante. — Erick respondeu.

Repentinamente, como se todos tivessem sanado as suas dúvidas, o porão ficou num completo, mortal e duvidoso silêncio. Eu duvidava que Kaio ou Yian tivessem derrotado todas as perguntas que haviam formulando há dias, sobre o nosso paradeiro, sobre a nossa localização. Erick parecia ser a chave; a chave para algo que queríamos muito sabe: como sair de lá. Porém, quando eu estava quase desistindo de perguntar mais alguma coisa, o garoto mais quieto do grupo se manifestou.

— Gordon Dale era um empresário famoso que ficou conhecido por encabeçar a maior rede de tráfico de pessoas no mundo. — Disse Alan, aproximando-se. — Dizem que ele foi morto por uma de suas vítimas, embora ninguém saiba quem é. O seu último caso de tráfico de pessoas, e o mais notório, foi quando ele sequestrou vinte garotos e os obrigou a obedecê-lo, matando-os cinco a cinco por dia.

Todos nós olhamos para Alan imediatamente. Ele estava perto de nós, com as mãos entrelaçadas na frente do corpo e um olhar caridoso no rosto. Parecia uma enciclopédia humana, falando com todas aquelas palavras, como se tivesse decorado.

— Como você sabe disso? — Perguntei.

— Eu vi na televisão. Já faz muito tempo. — Ele disse. — Isso aconteceu por volta de 2005, se não me engano.

— Então o que um homem morto e um crime cometido na década passada tem a ver com a gente? — Yian perguntou.

— Vinte. — Erick interrompeu. — Eu estava preso com mais dezenove garotos, quase todos morreram. Apenas eu e mais três sobrevivemos. Não pode ser coincidência.

— Alan, houve sobreviventes desse último crime desse tal de Gordon Dale? — Kaio perguntou. Nós esperamos por um tempo, pois Alan certamente parecia confuso e amedrontado, mas, depois de uns instantes, ele respondeu:

— Dizem que sim. Eu nunca pesquisei sobre o assunto, porque ainda era uma criança quando fiquei sabendo da história.

— E onde esses sobreviventes estão agora? — Yian perguntou.

— Também não sei. Talvez seja sigiloso. — Alan respondeu.

 

***

 

Por algum motivo, nós não fizemos mais perguntas para Erick e o deixamos descansar de uma longa e turbulenta viagem. Eu queria saber sobre muitas outras coisas, mas não pude simplesmente perguntar, pois o novo garoto parecia tão amedrontado quanto eu, quando cheguei à casa. Me lembro do modo como Kaio me confrontou no instante em que entrei no porão pela primeira vez. Eu não gostei daquele momento, e não era justo fazer o Erick passar pela mesma coisa. Por causa disso, apenas afastei-me e fui até a escada, procurando pela corda da lâmpada e apagando a luz dentro do recinto.

É um dos piores momentos da vida: ficar no escuro. E eu não estava apenas no escuro pela forma literal da palavra; eu estava sem respostas, praticamente perdido. Ainda que Erick estivesse lá, todos ainda estávamos presos, condenados a uma possível morte. Eu não conseguia tirar da cabeça que em breve alguém morreria, que o sequestrador ia descer aquelas escadas e escolher sua próxima vítima fatal. De repente, percebi que não podia perder uma pessoa em especial.

 

Fui andando até a parede oposta do porão, longe dos outros garotos, enquanto Erick e Kaio conversavam alguma coisa sobre a comida. Encostei-me à parede e deixei-me deslizar até atingir o chão. Eu estava exausto, incrivelmente exausto e (ainda) faminto. Precisava de ar puro, precisava olhar para o céu e para o sol, sentir o calor do lado de fora, o vento… Eu precisava sair. Não estávamos amarrados como Erick ou presos em celas, mas, de alguma forma, ficar naquele porão era tão horrível quanto.

Permaneci sentado no chão, pensando e pensando, até que um dos garotos se aproximou.

— Você está bem?

Era Yian. Ele tinha se aproximado sem que eu me desse conta, de alguma forma num silêncio tão cuidadoso que eu não o ouvi.

— Não. — Respondi sem pensar duas vezes, dizendo a verdade.

— Por que? — Ele perguntou. — Está machucado? Com fome? Eu posso pedir para o sequestrador mandar mais comida se você estiver…

— Não, não é isso. — Interrompi.

Ele não sabia. Yian não sabia do que estava ocorrendo dentro de mim, de modo que eu precisava falar. Por algum motivo, eu sentia que podia me abrir para ele, contar tudo para ele, e isso não se dava apenas ao fato de ambos sermos gays, mas a alguma coisa a mais… Talvez fosse mais do que nossa sexualidade que nos unia.

— Então o que é? — Ele perguntou. Ouvi um barulho de algo sendo arrastado contra o chão e percebi que ele havia se sentado ao meu lado.

— Eu estou… Eu estou apavorado. — Respondi, pela primeira vez falando o que eu sentia. — Um de nós vai morrer. Eu só percebi isso agora.

— Oh, Oliver… — Ele disse.

Eu não estava vendo o modo como ele estava sentado (e obviamente ele também não estava me enxergando), mas conseguia ouvi-lo. Ouvi quando ele respirou profundamente, ouvi quando ele se aproximou e ouvi seus batimentos cardíacos quando seus braços me envolveram numa espécie de abraço solidário.

— Eu acho que sei como está se sentindo. — Disse Yian, gentilmente, sussurrando no meu ouvido. — Eu também fiquei apavorado quando vi a primeira morte.

Passei meus braços ao redor do corpo dele, que era mais magro do que o meu, mas mais musculoso. Senti as dobras dos ossos dele sob a pele, o calor que emanava de seu corpo, os músculos abaixo da omoplata. Eu percebi naquele instante que aquilo, aquele abraço, era tudo que eu precisava.

— Não se preocupe. Você vai se recuperar. — Disse ele. — E isso não é motivo para ficar tão triste. É quando estamos com mais medo que precisamos lutar. Não tenha medo de morrer.

— Eu não tenho medo de morrer. — Respondi rapidamente, com a voz grave.

— Então do que tem medo? — Ele perguntou, cochichando. Eu aproximei meus lábios do ouvido dele, sentindo seu aroma, sentindo sua força, seu desejo de ajudar, e percebi naquele instante o que eu queria, do que eu temia.

— Eu tenho medo de perder você. — Respondi.

 

***

 

Esse romance não constava no relatório original. Não vejo o porquê de você querer esconder isso, Sr. Colton, mas não vou me exceder fazendo perguntas, pois pode se tornar muito doloroso para você. Por favor, prossiga. O que aconteceu logo após?

 

Eu acordei algumas horas depois. Abri meus olhos, assustado, pensando que tudo aquilo poderia ter sido um pesadelo, mas não era. Não sei se foi pelo cansaço ou pela fome, mas acabei adormecendo nos braços de Yian. Ele também parecia dormir, com a respiração oscilando. Eu podia sentir suas expirações na munha nuca.

— Ei. Yian. — Eu disse, tentando acordá-lo. — Acorde.

— Oli? — Ele perguntou, lentamente, começando a se mover. Em outras situações, eu acharia até cômico o fato do sono dele ser tão leve.

— Acorde. Nós temos que ficar atentos, o sequestrador pode aparecer a qualquer hora. — Eu respondi.

— Só mais cinco minutos. — Ele respondeu, com a voz carregada de sono. Eu sorri e o empurrei.

— Vamos.

Ambos nos levantamos, sacudindo a poeira que se acumulou ao nosso redor. Eu odiava aquele canto do porão em especial, por causa de um detalhe mega desagradável: era o nosso ponto de “necessidades fisiológicas”. Sim, nós tínhamos um ponto onde fazíamos o que precisávamos fazer, mas não convém dizer isso aqui. Vocês, investigadores, já viram como era.

Comecei a andar para a direção oposta, lentamente, sentindo dores nas pernas e uma irritável fome no estômago. Erick ainda estava acordado, pude ver a silhueta dela quando cheguei perto da escada. Ele ainda estava encostado à parede, com as mãos atadas à frente do corpo.

— Tudo bem? — Perguntou ele, usando um tom um tanto quanto alegre.

— Não. — Respondi secamente. — Ainda estamos presos.

— Acho que não podemos fazer algo a respeito disso.

— Onde estão os outros? — Perguntei, olhando em volta, embora não pudesse enxergar nada no escuro.

— Foram dormir também. Só eu fiquei acordado, acho. — Ele respondeu, olhando na minha direção.

Eu não conseguia ver o rosto dele, a expressão que estava fazendo, mas meus olhos já tinham se acostumado à escuridão, então consegui distinguir que seus olhos estavam virados para mim. Ainda com dores nas pernas, caminhei até a escada e me sentei no primeiro degrau.

— Você sabe por quanto tempo eu dormi? — Perguntei, mesmo que não fizesse diferença.

— Algumas horas. — Erick disse. — E é bom que tenha acordado.

— Por quê? Estava se sentindo sozinho?

— Não. — A voz dele de repente se tornou séria. — Porque eles vão vir me buscar em breve.

Eu estreitei as sobrancelhas e olhei para onde achava que ele estava, mas não consegui perguntar mais nada. Fiquei apenas analisando o tom sério dele, tentando descobrir o que aquilo significava, e repentinamente a resposta veio de uma forma indesejada.

Ouvi um estrondo atrás de mim. Olhei para trás imediatamente, quando a luz branca invadiu o porão e iluminou, na forma de um retângulo, o lugar onde eu estava sentado. O alçapão se abriu e, parado no topo da escada, estava o sequestrador.

 

Senti que Yian estava por perto, ao lado do corrimão da escadaria, então saí de onde estava e me aproximei dele, tocando seu torso. Ele me puxou para longe, num gesto de prevenção e tentativa de me deixar seguro de qualquer ameaça. Foi nesse momento que o sequestrador começou a descer os degraus. Eu olhei, um pouco fascinado, admito, o momento: o modo como Erick olhava para o sequestrador, o modo como o homem descia as escadas, a expressão de espanto de Yian, o sorrisinho no rosto do novo garoto que, em breve, seria levado. E então foi aí que percebi.

Ele sabia. Erick sabia que iam buscar ele.

— Espere! — Eu gritei, numa tentativa de fazer o sequestrador parar, mas não adiantou em nada. — Você sabia, não sabia? — Perguntei, dirigindo-me para Erick.

— Oli, do que você está falando? — Yian perguntou.

— Ele sabia. Ele sabia. — Eu respondi euforicamente. Uma sensação de tormento vinha de dentro de mim, fazendo-me sentir como se o fim do mundo estivesse próximo. — Ele sabia que ia ser levado. Ele falou isso para mim. Ele tentou avisar, dando pistas. Ele… Ele é uma cobaia.

Quando eu disse essas exatas palavras, o sequestrador parou e olhou para mim, com um sorriso no rosto. Os dentes amarelados dele não eram nada amigáveis.

— Você é inteligente, Oliver. Mas ele não é uma cobaia. — Disse ele. — Erick vai se tornar um de nós. E é bom que aproveitem, porque em breve um de vocês quatro não contará mais com a própria vida.


Notas Finais


Esse capítulo tem SÉRIAS conexões com outras histórias minhas, da Série Observado. Se quiserem, podem checar exclusivamente no meu perfil aqui no SocialSpirit.

Beijos e até amanhã <3


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...