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História Okay - Desejos


Escrita por: GSilva

Notas do Autor


Este é o penúltimo capítulo antes do hiatus de 2 semanas...

Capítulo 5 - Desejos


Fanfic / Fanfiction Okay - Desejos

— Então, o que realmente o sequestrador queria, além de mantê-los presos? Ele tinha um desejo em especial, queria alguma  coisa excepcionalmente diferente?

CAPÍTULO 4 – DESEJOS

 

A primeira vez que eu vi o que o sequestrador realmente queria foi naquele mesmo dia. Eu estava deitado no chão, quase completamente nu, usando apenas minha roupa íntima, tentando digerir todas aquelas informações que Yian havia me dado. Primeiramente, não consegui estabelecer uma relação lógica para tudo aquilo, porque não sabia o que o sequestrador queria. E sim, eu perguntei para os outros garotos se o “Mestre” queria pedir resgate ou algo assim; a resposta foi negativa. Eles me disseram que o sequestrador não pediu o resgate nem uma vez sequer. Ou seja, naquele momento, eu não tinha ideia do que aquele homem queria.

            A resposta veio de uma forma que eu não esperava. Enquanto eu estava deitado, e enquanto os outros garotos tentavam aparentemente não fazer barulho, a porta do porão se abriu novamente. Desta vez, uma luz muito fraca surgiu, como se já estivesse escuro fora da casa. Não havia janelas no porão, obviamente, então não podíamos ver se ainda era dia ou se já era noite. Porém, quando aquela luz fraca iluminou toda a sala, eu pude ver algo que passou despercebido antes, quando entrei lá pela primeira vez. Em uma das paredes do porão havia uma porta de escape, uma saída de emergência. Fiquei com as sobrancelhas franzidas até o homem aparecer à minha frente.

            — Levante-se! — Disse ele, ordenando-me. Eu não respondi nem esbocei uma reação. — Vamos!

            Continuei deitado. Eu simplesmente não conseguia olhar para cima, virar meu rosto para mirá-lo. Era como olhar para um demônio, um monstro sanguinário, e eu realmente não queria ver algo do gênero.

            O homem bufou e eu senti-o se aproximar.

            — Sabe, ficaria muito mais fácil se você decidisse cooperar. — Disse ele, com a voz lenta. Eu fechei os olhos com força, esperando pelo pior, mas ele parecia imune à minha repulsa.

            — Vamos, Oliver, faça o que ele pede. — Disse Yian, sussurrando para mim. Pela pouca luz, pude ver o rosto do garoto virado na minha direção.

            — Não... — Murmurei.

            Pelo jeito, a minha resposta pareceu ativar algo dentro do sequestrador, porque ele se aproximou significativamente e bruscamente. Meu primeiro reflexo foi me afastar, mas as mãos dele já estavam sobre mim. A força dele era descomunal comparada à minha, puxando-me para si como um trator.

            Eu tentei me desvencilhar do toque dele, sentindo seus dedos sobre os meus braços, apertando-o, deixando marcas provavelmente permanentes. E foi nesse ínfimo momento que eu tive meu primeiro impulso de adrenalina. Foi como se milhares de pessoas estivessem me ajudando, pois, incrivelmente, consegui levantar-me e de repente estava longe dele. Provavelmente as mãos dele estavam suadas ou algo do tipo. Corri até a parede oposta, onde os garotos estavam parados. Dois deles se afastaram quando cheguei perto, Kaio e Alan, mas Yian permaneceu.

            Segurei nos ombros do garoto com toda a força que tinha, sentindo-me tonto, com medo de machucá-lo.

            — Oliver. — O sequestrador rugiu, esticando as mãos no meu quadril.

            Senti a força do homem me puxando para trás novamente e de repente toda aquela força que tive por causa da adrenalina desapareceu. E, no lugar da força, veio o medo.

            — Yian, não deixe que ele me mate. — Supliquei para o garoto na minha frente. Ele parecia tão aterrorizado quanto eu. — Por favor, não deixe que ele me mate. Eu não posso morrer!

            Lágrimas já percorriam o meu rosto, caindo como uma cachoeira. Eu tentei segurá-las, mas foi como segurar a corrente de um rio. Yian pareceu ter visto o meu desespero, pois segurou nos meus braços, enquanto o homem me puxava. Pensei, por um momento, que o garoto ia me puxar de volta, mas ele apenas olhou fixamente nos meus olhos e respondeu:

            — Oliver, faça o que ele pede. Eu sei o que é. Você precisa fazer.

            — Vamos, sua putinha. — O sequestrador esbravejou, apertando ainda mais forte nos meus calcanhares.

            — Você precisa fazer. Não é nada demais. — Yian continuou, com a voz branda, como se já tivesse falado aquilo para outras pessoas, como se tivesse certeza do que estava falando. — Não dói. A não ser que você se oponha. Eles não podem te machucar.

            Havia uma certeza estranha sob a voz dele, como se ele realmente tivesse certeza, então eu tentei perguntar novamente.

            — O quê?

            — Vai por mim. Eles não podem te machucar. Eu sei disso. — Yian respondeu.

            E essas foram as últimas palavras que escutei antes de ser definitivamente puxado para trás pelo sequestrador. Senti o impacto que tivemos ao cairmos sobre a escadaria, mas ele não pareceu sentir qualquer dor, pois seus braços me apertaram ainda mais. Esperneei, gritei, tentei socá-lo, mas nada adiantou. Só me restava ceder. E foi isso que fiz.

 

***

            Deixei que o homem me puxasse para cima, subindo as escadas. Num certo ponto, eu estava até mesmo contribuindo, andando por conta própria.

            Estávamos novamente naquele corredorzinho estreito que aparentemente interligava todas as portas da casa. Porém, todas as entradas para outras portas estavam fechadas, com exceção a uma. O homem me puxou para perto de si novamente, com força.

            — Não precisa me machucar. Eu vou andar sozinho. — Respondi, com os dentes cerrados. Ele gargalhou debochadamente antes de responder:

            — Garoto, eu gosto de usar a força.

            Revirei os olhos e franzi o cenho ao ouvir aquilo. Havia um tipo desejo na voz dele, como se estivesse com prazer em me machucar, algo que eu nunca tinha visto. Se não estivéssemos numa situação tão perigosa, eu até poderia dizer que ele realmente estava sentindo atração por mim.

            A terceira porta do corredor estava aberta, sendo a única aberta. Uma luz esbranquiçada e tremendamente forte emanava de dentro dela, deixando tudo mais claro. Conforme o sequestrador foi me puxando para lá, deixei que meus sentidos avisassem se havia algo estranho. Eu não podia tocar e não podia olhar lá dentro, mas escutei vozes, inúmeras vozes. Parecia uma reunião, para alguma coisa.

            Quando chegamos ao batente da porta, quase fui cegado pela luz tremendamente forte. De fato, naquela sala havia mais de uma pessoa, cinco, no máximo, pelo que pude contar. A luz, que vinha de dois grandes refletores de led (daqueles específicos para estúdios fotográficos), não ajudava muito, e a sala era completamente branca, do chão ao teto, o que também piorava a situação ainda mais.

            — Vamos! — Disse o sequestrador, jogando-me para dentro da sala, quando me recusei a entrar.

            Sem ter nenhum ponto de apoio (ou braços me segurando), acabei tropeçando num revestimento plástico no chão. Caí com força sobre o piso, usando as mãos como apoio, mas, infelizmente, torci um dos pulsos. Fiz uma careta de dor e olhei para cima, quando um homem, que aparentava ter uns sessenta anos ou mais, sorriu e disse.

            — Clark, você sabe, não danifique a mercadoria.

            Levei pouco tempo para perceber que a “mercadoria” era eu, ele se referia a mim. Na verdade, os olhares daquelas pessoas mostravam isso, de alguma forma.

            — Desculpe, chefe, mas esse daí gosta de lutar. — Disse o sequestrador.

            Nesse momento, enquanto mudava meu olhar de uma pessoa para outra, percebi que estava deixando passar algo, algo que eles haviam dito. Clark... Esse era o nome do homem, aparentemente o nome real.

            — Isso é verdade, meu jovem? — Disse o velho, virando-se para mim, despertando-me do devaneio. — Você gosta de lutar?

            Não respondi. Eu simplesmente não conseguia entender aquele momento, não sabia o que eles queriam comigo. Todas aquelas pessoas... Todas pareciam más. É claro, fiquei com medo naquele instante e não soube o que fazer.

            — Pelo jeito, ele não gosta da falar. — Disse uma mulher, que estava parada no fundo da sala. Ela veio andando até onde eu estava, com os saltos ecoando pelo local.

            Eu não tinha reparado, mas percebi quando a moça se aproximou de mim: todos pareciam incrivelmente formais, como se tivessem acabado de sair de algum lugar muito chique, como se todos eles fossem empresários. A mulher trajava um vestido coração cor de avelã e seu cabelo parecia impecavelmente penteado, sem nenhum fio fora do lugar; já os homens estavam todos com ternos completamente alinhados.

            — Ah, mas ele vai falar para mim. — Disse a moça, aproximando-se. De alguma forma, o olhar dela parecia mais terrível do que o do sequestrador. — Diga-me, garoto, o que você faria para ficar com uma mulher como eu, para ter todo esse corpo aqui apenas para você?

            Ela chegou perto o suficiente para que eu pudesse ver os detalhes dos seus sapatos, e então esticou uma das pernas. A mulher tocou o meu queixo com a ponta do pé e me forçou a olhar para cima.

            — Nada. — Respondi. — Você não faz o meu tipo.

            — Ele é gay. — Disse o sequestrador, entrando na sala. — Eu pesquisei, como vocês pediram.

            — Pois bem. — Disse a mulher, retirando o pé do meu queixo. — Ele é todo de vocês.

           

            Fiquei por um tempo olhando para baixo, não conseguindo suportar todos aqueles olhares sobre mim. Eles pareciam demônios andando em volta de mim, como lobos cercam as presas antes de atacá-las.

            — Qual o seu nome, garoto? — Disse o velho, abaixando-se, sem sair da cadeira. Levantei meu olhar para ele.

            — É... É Oliver. — Respondi, gaguejando. Ele deu um pequeno sorriso e esticou a mão.

            — O meu é Montmore. Sebastian, para falar a verdade, mas todos me chamam de Montmore.

            Fixei meus olhos nele por um tempo, antes de me apoiar em um braço só e esticar o outro para o aperto de mãos. Foi um aperto confiante, mostrando que ele provavelmente estava cheio de si.

            — Vamos fazer um trato, tudo bem? — Disse Montmore. — Gostaria de fazer um trato comigo?

            — Sim. — Respondi, sem rodeios, na esperança de que um resgate fosse posto em discussão. Eu não tinha muito dinheiro, mas meus amigos tinham.

            — Muito bem. O trato é o seguinte. — Disse ele, olhando para a parede branca atrás de mim. — Você vai retirar essa cueca imunda que está usando, vai ficar parado na frente daqueles refletores e eu vou fotografá-lo. Se você não fizer isso, eu vou atrás dos seus amigos. Quais são os nomes deles mesmo? Amy e George, não é?

            — Deixei-os fora disso! — Gritei, sentindo o sangue invadindo o meu rosto. Deus sabe que eu queria fazer mais do que gritar, mas não tive forças para outra coisa.

            Montmore gargalhou secamente.

            — É um trato. Aceita? — Disse ele.

            — Eu não pareço ter muitas opções.

            — Não tem. Por mim, tudo bem. Você pode rejeitar o acordo e seus amigos sofrerão as consequências. Ok. — O velho respondeu. — Mas e para você, tudo ok?

            Por um momento, não disse nada. Eu via, nos olhos dele, reflexos de uma sabedoria horrível, como se ele soubesse formas de torturar alguém, como se estivesse comigo na palma da mão. Senti que não era apenas a minha vida que estava em risco, mas as dos meus amigos também. Senti que precisava fazer algo, mesmo que aquilo me humilhasse.

Olhei fundo nos olhos do velho e juntei o ar para responder:

            — Okay.

 

***

 

            Eu não sei se foi a ameaça contra os meus amigos, ou a ameaça contra mim, mas consegui me levantar. Uma espécie de força me fez ficar em pé, talvez algo até sobrenatural. Senti que os olhares estavam todos sobre mim, mas, mesmo assim, não parei.

            Só consegui respirar profundamente quando fiquei completamente em pé, com as pernas esticadas. Relembrando o que Montmore havia dito, curvei-me apenas para retirar a roupa íntima que estava vestindo, ficando completamente nu. Por algum motivo, aquilo não me envergonhou, talvez porque eu sabia que ficar pelado na frente de pessoas desconhecidas nem se comparava com estar preso numa casa, sofrendo ameaças de morte.

            O velho olhou para mim, com um sorriso no rosto.

            — Muito bem. — Disse ele, virando-se para trás e agarrando a câmera fotográfica que repousava no chão. — Agora, olhe para a câmera, e tente não parecer tão desanimado.

            Olhei para a câmera, como ele pediu, mas apenas consegui ver uma única palavra antes de ter a visão interrompida pelo flash.

 

NewStyle.



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