História Olá, Happy. - Sábado, 5 de Novembro 2016.

Olá, Happy.

Hoje resolvi que iria procurar por Happy (o gato). Não contei para Zeref sobre eu ter sido demitido, mas acho que ele já sabe. De manhã assim que acordei ele estava na cozinha tomando café, pensei que era o momento perfeito para contar e me sentei em frente a ele na mesa. Fiquei uns bons minutos apenas olhando para minhas mãos sobre a mesa, eu não sabia por onde e nem como começar, estava completamente perdido.

– Como está a escola? – Ele perguntou.

– Hum… Bem, eu acho – Respondi sem encará-lo. Passamos mais algum tempo calados, então ele se levantou, passou por mim e colocou a mão no meu ombro.  

– Você sabe Natsu… pode ficar aqui o tempo que quiser… essa também é sua casa.

– Eu posso trazer o Happy?

– … Claro.

Sinceramente, eu perguntei sobre Happy porque não sabia ao certo como responder. Eu não esperava que meu irmão dissesse aquilo, ele podia ser como uma mãe superprotetora mas ainda assim nunca dizia coisas desse tipo, ele tinha o próprio jeito de fazer as coisas, ser gentil e dizer coisas legais não fazia parte do jeito dele. E deixar que eu buscasse Happy foi a maior prova de que se importa comigo que ele poderia dar, afinal, Zeref é terrivelmente alérgico a gatos.

Quando saí de casa era por volta das duas da tarde. Na verdade eu havia combinado de sair com Erza e Gray já que fazia tempo que eu não saia com eles, mas Happy era mais importante então liguei para eles avisando que iria até meu apartamento procurar por Happy. Para minha surpresa, encontrei com eles parados em frente a minha porta, não perguntei o que eles faziam ali, não precisávamos de perguntas e respostas, apenas um olhar bastou para eu entender que eles estavam ali para me ajudar.

– Qual foi a última vez que viu ele? – Gray perguntou assim que me viu.

– No dia da festa.  

Para mim, quando pensava sobre isso, não fazia tanto tempo assim, mas quando eu disse isso em voz alta percebi que, sim, faz muito tempo. Comecei a me sentir desesperado de repente, e se tiver acontecido alguma coisa com ele? Isso não parava de se repetir na minha cabeça o tempo inteiro. Nos três procuramos por todo o apartamento e quando não achamos nem mesmo uma mísera pista sobre ele começamos a procurar pelo prédio. Meu peito se apertou o tempo inteiro, eu não sei se estava triste, se estava nervoso ou se me sentia culpado por ser tão negligente com ele, só sei que quando não o encontramos pelo prédio eu me desesperei de vez.

Happy havia sumido. Eu estava perdendo alguém importante e a culpa era toda minha outra vez. Eu devia ter me preocupado mais. Devia ter corrido atrás dele todas as vezes que o vi na rua. Devia ter voltado ao apartamento todo dia para garantir que ele estava ali, que ele estava bem, mas fui egoísta e só me preocupei comigo mesmo, perdi meu tempo pensando em como preservar meu orgulho idiota quando na verdade eu devia ter me preocupado mais em tudo que está ao meu redor.

Antes que eu percebesse Lisanna e Juvia já haviam se juntado a nós na procura por ele e um tempo depois Lucy e Levy também. Não sei se fui eu quem chamei elas ou se foi Erza e Gray, mas naquele momento eu fiquei muito agradecido a todos. Nos separamos para procurar ele pelo quarteirão, eu corri por todos os lugares que ele gostava e por todos em que já havia visto ele. Foi completamente exaustivo. Na minha cabeça eu só conseguia pensar em coisas ruins a todo momento. Eu estava preocupado, eu estou preocupado.

Em algum momento eu acabei parando em frente ao lugar em que o vi da última vez. Ainda me lembro dele fugindo de mim naquela noite, ele pulou o muro sem nem mesmo olhar para trás. Sei que Happy é um gato e que provavelmente ele pode não sentir o mesmo que nós, mas isso doeu, senti como se ele tivesse me abandonado, embora, eu não tenha me importado muito com isso no dia. Uma hora ele vai voltar, foi o que eu pensei aquele dia. Uma hora ele vai sentir fome e vai voltar.

Droga, eu me sinto um idiota! Eu fui idiota quando pensei nisso, fui hoje quando me deprimi por ter pensando nisso e vou ser amanhã quando acordar e perceber que Happy realmente desapareceu porque fui idiota e pensei que não deveria ir atrás dele porque ele iria voltar. É tudo que eu consigo ser: idiota, idiota, idiota!

Voltei a me sentir sufocado, outra vez me sinto como se tivesse voltado ao dia em que meu pai morreu. O silêncio da casa me assusta, tenho medo de sair do meu quarto, andar pelos corredores e encontrar o corpo do meu pai jogado no meio da sala, sofrendo com uma morte silenciosa, e eu novamente sem poder fazer nada, com as pernas bambas e lágrimas embaçando meus olhos. Papai morreu porque eu não me preocupei quando ele disse que tinha algo importante a dizer; eu o ignorei, briguei com ele pelos motivos mais bobos possíveis, fiquei com raiva e disse que o odiava sem motivo algum e então quando eu soube que ele estava doente já era tarde demais.

Happy (o gato), sei que você nunca vai ler isso daqui ou muito menos ouvir, mas eu preciso dizer Happy, preciso que você volte para casa. Eu preciso de você então por favor, Happy, por favor, por favor volte para mim!

N.D.