História Olá, Happy. - Sexta-feira, 18 de Novembro de 2016.

Olá, Happy.

Levy está internada em um hospital. Levy tentou se matar.

Eu não sei nem como pôr isso em palavras, foi assustador, completamente assustador. Uma hora ela estava sorrindo e na outra estava sendo levada por uma ambulância, foi tão… ah, não sei como explicar esse sentimento.

Veja bem, eu vi Levy durante o dia inteiro. Ela estava bem, ela me deu bom dia, ela conversou animadamente com Lucy e Erza no almoço. Ela parecia feliz, tão feliz que não parecia ser Levy. Eu percebi que algo estava estranho, Levy não é muito animada perto de Erza ou de qualquer outra pessoa, ela geralmente é calada e suas risadas são quase inaudíveis. Algo nela sempre dizia que ela não queria chamar atenção, mas hoje parecia gritar “Olhe para mim! Eu estou aqui!”, acho que Lucy não percebeu porque tudo que ela quer é ver Levy feliz e Erza estava animada demais porque finalmente ela havia conseguido se aproximar dela, mas eu vi, eu percebi e ainda assim eu não consegui fazer nada.

Quando as aulas terminaram e eu saí da sala Levy ainda estava lá, ela sorriu para mim e acenou timidamente. Eu ainda estava ocupado demais me sentindo incomodado com aquele comportamento estranho para poder ir até ela e perguntar o que estava acontecendo, eu simplesmente não pensei que algo assim fosse acontecer. Encontrei com Lucy nos portões da escola, ela estava esperando Levy para que as duas fossem embora juntas, como eu havia prometido para Zeref que ajudaria Mavis com as compras de casa eu também tinha que esperar então fiquei conversando com Lucy, mas se passou cinco, dez, quinze, vinte minutos e Levy ainda não havia saído. Mavis iria demorar, ela havia avisado, mas Levy nem mesmo atendia as ligações de Lucy, então entramos para procurá-la. Olhamos as salas, o refeitório, andamos por todos os corredores e nada dela, foi ai que Lucy resolveu procurar pelos banheiros.

Eu sinceramente não lembro de muita coisa a partir daí, lembro de ouvir Lucy gritando meu nome desesperada, lembro de entrar no banheiro feminino e encontrar o corpo de Levy jogado no chão com uma lâmina do lado e os pulsos marcados com feridas profundas, também tinha sangue, muito muito sangue mesmo. Lucy estava desesperada, ela chamou por Levy muitas vezes, mas Levy nem ao menos se movia, isso só fazia com que Lucy se desesperasse cada vez mais. Acho que eu não consegui fazer nada, não lembro de ter feito algo além de tirar Lucy de perto dela quando a ambulância chegou, provavelmente eu estava em choque. Acho que ainda estou.

A imagem de Levy no chão não sai de minha cabeça, eu tento dormir para esquecer, mas então eu lembro de todas as vezes em que ela sorriu hoje, lembro sobre como ela parecia feliz demais e me dou conta de que talvez, só talvez, eu pudesse ter feito algo para impedi-la se tivesse perguntado o que queria para ela. Me sinto culpado por diversas coisas e estou arrependido por não ter simplesmente aberto a boca para perguntar um mísero “Tudo bem?”.

Isso faz eu me sentir inútil, eu ignorei os problemas de Levy, assim como ignorei os do meu pai e então eu a vi a beira da morte da mesma forma em que também vi meu pai. Sei que são duas situações diferentes, mas nas duas eu não consegui fazer nada, fui impotente e tudo que pude fazer foi ver o sofrimento das pessoas que realmente estavam tentando ajudar. Na verdade, quando vi Lucy desesperada eu me lembrei do meu irmão e de como ele chorava quando levaram o corpo do papai, eu não soube como reagir a aquilo na época e percebi que hoje em dia eu ainda não sei.

Passar por algo assim outra vez… eu me sinto horrível.

Eu estava preocupado (ainda estou) com Lucy, ela não respondia minhas mensagens nem atendia minhas ligações. Eu sabia que ela estava no hospital em que Levy foi internada então fui até lá. Talvez você me ache uma pessoa horrível por me preocupar mais por Lucy do que com Levy naquele momento, mas sabe Happy, os médicos disseram que Levy ficaria bem, infelizmente ninguém pode dizer o mesmo de Lucy. Levy era tudo para ela, vê-la naquele estado a deixou completamente arrasada, quando a encontrei no hospital ela nem mesmo conseguia falar, apenas estava quieta olhando para o chão a sua frente como se aquilo fosse a coisa mais interessante do mundo. Consegui chamar a atenção dela apenas quando deram notícias de que Levy ficaria bem, eu achava que ela nem mesmo havia percebido minha presença antes mas quando ela ouviu aquilo simplesmente se virou, me abraçou e então chorou, chorou como uma criança perdida.

Os pais de Levy não apareceram no hospital, Gajeel nem ao menos sabia sobre o que havia acontecido e Lucy me pediu para avisá-lo sobre isso. Eu não sabia o que dizer e não podia mandar um “Oi, sua namorada tentou se matar”, acabei deixando esse trabalho para Mavis. Ela está lidando com essa situação melhor do todos nós, afinal, é o trabalho dela.

Sabe Happy, eu me pergunto o que aconteceu. O que será que se passou na cabeça de Levy durante os vinte minutos em que a esperamos?

Acho que, provavelmente, eu nunca vou saber a resposta.

N.D.