História Olá, Happy. - Quarta-feira, 25 de Janeiro de 2017.

Olá, Happy. 

Queria te contar o que anda acontecendo entre mim e Lucy, na verdade eu tinha a intenção de fazer isso hoje, mas acho que posso deixar isso para outro dia, porque tem algo que você precisa saber que é mais importante do que minha patética vida amorosa. 

Hoje (na verdade ontem) faltei aula para acompanhar Mavis à uma de suas consultas. Era para Zeref ir mas ele teve uma emergência no trabalho e me pediu para ir com ela já que ele não quer Mavis andando sozinha por aí estando grávida, por mais que Mavis e eu achamos que isso é um exagero da parte dele acabamos concordando, então nós fomos. 

Acho que estar na sala daquele consultório esperando por ela me fez perceber que Mavis realmente estava grávida e que faltavam apenas três meses para o bebê nascer, não que eu não tivesse percebido isso antes mas é que eu nunca parei para pensar no que aquilo significava para mim. Quer dizer, eu vou ser tio! É um pouco inacreditável que nossa pequena família de três pessoas vai aumentar. Não posso negar que estou muito feliz com isso. 

Depois da consulta fomos ao shopping, Mavis queria comprar algumas coisas para o quarto do bebê e eu estava morrendo de fome. Depois de eu ter devorado pelo menos dois hambúrgueres nós começamos a andar pelas lojas. Sinceramente, eu não estava dando muita bola para aquilo, mas achei que eu deveria comprar algo para o bebê, embora não soubesse o que devia comprar já que não tinha certeza se era uma menina ou um menino, então resolvi perguntar a Mavis. 

– Hum? O sexo do bebê? – Ela olhou curiosa para mim, acho que não esperava que eu perguntasse sobre aquilo – Eu não posso contar, quero que seja uma surpresa para o seu irmão.  

– Eu não vou contar para ele, por favor Mavis – Insisti. Ela me ignorou e voltou a olhar para as roupas de bebês, resmunguei irritado e ela começou a rir.

– Não achei que logo você fosse se importar com isso, Natsu. 

– Por que não?  

– Ah, bom… – Ela me encarou por alguns minutos, parecia estar escolhendo bem as palavras – É que eu achei que você não gostaria muito do bebê. Você não parece ser do tipo que gosta de crianças.

– E não gosto – Respondi – Mas ele é meu sobrinho, é claro que eu gosto dele. 

– É bom saber isso – Ela sorriu por alguns segundos, mas seu sorriso de repente sumiu e ela ficou estranhamente desanimada – Na verdade, Natsu, eu… será que você poderia prometer para mim que, se algo acontecer comigo, você pode ajudar seu irmão a tomar conta do bebê?  

– Do que você está falando? – Perguntei preocupado. 

– Você sabe, minha saúde não é das melhores e meu médico me disse que existem chances de que eu não resista ao parto, nem mesmo se for por uma cesariana – Acho que eu nunca vi Mavis ficar tão séria e ao mesmo tempo tão triste como ela estava naquele momento – Essa situação é um pouco cruel para o seu irmão, já que foi assim que… – Ela não terminou, nem precisou, eu sabia muito bem do que ela estava falando. Foi dessa mesma forma que Zeref e eu perdemos nossa mãe – Eu não queria que ele passasse por isso outra vez. 

– O quão altas são essas chances? – Perguntei. 

– Bem altas, mais altas do que eu imaginei que fossem – Ela esfregou os olhos com as mãos tentando limpar qualquer lágrima que poderia existir e voltou a olhar as roupinhas com um sorriso – Por isso que eu quis vir aqui hoje, daqui a alguns dias eu não poderei mais fazer esse tipo de coisa, então quero pelo menos poder dar muitos presentes ao meu filho antes dele nascer. Se for assim então eu sinto que vou estar preparada para escolher a vida dele quando a hora chegar. 

– Se a hora chegar – Falei. Ela sorriu.  

– Sim, se a hora chegar.   

Depois disso acabei apenas acompanhando ela enquanto ela comprava tudo que achava bonitinho e me fazia carregar, não voltamos a tocar no assunto e eu não queria chatear ela mais do que ela já parecia estar. Quando passamos pela porta da frente de casa e eu vi a fotografia que tínhamos da minha mãe na parede eu soube na hora o que deveria dar, então corri para o meu quarto e revirei até o canto mais sombrio do quarto até encontrar o que queria. 

Pensei em só deixar no quarto de visitas (que seria transformado no quarto do bebê) ao invés de dar para Mavis, mas quando entrei no quarto Mavis estava lá, olhando para as paredes cinzentas com um pose pensativa, assim que ela me viu me puxou para o lado dela e me fez encarar a parede também.  

– Acha que ficaria bom branco ou seria melhor algo mais vivo? – Perguntou. 

– Branco. 

– Também acho que branco ficaria melhor, mas seu irmão está teimando querendo cores fortes e chamativas. 

 – Ele nunca foi bom nesse tipo de coisa. 

Ela riu. 

– Você tem razão.  

Ela voltou a falar sobre a cor dos móveis e se colocaria ou não um papel de parede. Eu a respondia como podia, mas só conseguia pensar sobre o que ela tinha falado mais cedo, acho que ela adivinhou o que eu estava pensando ou então eu deixei muito na cara, mas foi ela quem resolveu dar a primeira palavra. 

– Você pode não comentar sobre o que eu te disse mais cedo para o Zeref? – Ela perguntou. Levou algum tempo até que eu processasse aquilo. 

– Ele não sabe? 

– Ainda não, estou procurando um jeito de contar. 

– Tudo bem. 

O clima entre nós ficou desconfortável, o que era estranho porque eu me sentia mais confortável perto de Mavis do que de qualquer outra pessoa. 

– O que você pensa sobre sua mãe? – Ela perguntou de repente.  

– Não tenho muito o que pensar sobre ela, eu nunca a conheci então nem sei o que dizer sobre ela – Respondi. Para falar a verdade, essa foi a primeira vez que alguém me perguntou sobre minha mãe, meu irmão geralmente evitava falar sobre ela perto de mim e ninguém mais está interessado em saber como me sinto – Mas eu sou muito grato à ela por ter me dado a luz mesmo sabendo que poderia morrer. Acho que isso foi realmente corajoso da parte dela.

– É claro que ela escolheria você, Natsu – Ela riu achando graça da minha resposta – Toda mãe escolhe o filho.  

– Nem todas, só as mais corajosas – Eu não sabia se aquele era o momento certo, mas mesmo assim estendi o cachecol quadriculado que meu pai havia me dado quando eu era criança para ela. Ela o pegou sem entender o que estava acontecendo – Meu pai comprou isso para minha mãe um pouco antes de ela morrer, mas ele nunca pôde dar para ela então ele me deu. De alguma forma, sinto que você precisa mais dele do que eu. 

– Isso é importante para você, eu não posso aceitar.

– Eu não estou te dando – Ela me olhou confusa e foi minha vez de rir – Isso aqui é muito importante para o Zeref também. É por isso que eu quero que você esconda em algum lugar que só você saiba e depois que o bebê nascer e você voltar para casa você tem que me devolver. 

– Você sabe que pode nunca mais ver esse cachecol se eu escondê-lo, não sabe? 

– É por isso que você tem que voltar, Zeref e eu ficaríamos muito triste se perdêssemos algo tão importante.  

Ela suspirou, mas logo depois riu e concordou em fazê-lo. Eu saí do quarto e já estava prestes a entrar no meu quando a voz de Mavis atravessou o corredor. 

– É um menino. 

N.D.