História Olá, Happy. - Sexta-feira, 27 de Janeiro de 2017.

Olá, Happy. 

Sei que prometi que te contaria sobre minha trágica vida amorosa, mas o problema é que ela ainda não existe. Não que eu não tenha falado com Lucy ultimamente (eu falei até demais se quer saber), mas eu ainda não criei coragem o suficiente para dar um passo além da fronteira de “amigos”. Embora, eu acho que tenha ficado em cima dessa fronteira.  

Eu sei que devia ao menos tentar algo a mais com ela, mas existem muitas complicações e uma delas é que eu simplesmente não sou assim. Não sou do tipo que dá o primeiro passo ou tenta se aproximar de alguém, então eu estou ansioso e assustado. Eu não consigo! Meu coração parece que vai explodir sempre que penso em fazer algo. É frustrante que eu esteja deixando as coisas irem dessa forma, se continuar assim eu nunca vou poder dizer nada à ela e vou acabar a perdendo. 

Tentei até mesmo pedir ajuda com isso, contei à Gray sobre minha possível paixão por Lucy e mesmo que ele tenha parecido desinteressado tem feito de tudo para me ajudar. Ele até passou a falar com ela! É um pouco inacreditável já que ele não costuma ser do tipo que se aproxima de garotas (um dos maiores motivos disso é a Juvia), e também porque Lucy estranhamente se dá bem com ele. 

E também tem Levy. 

Nos últimos dias comecei a perceber que as duas estavam mais distantes; já não se falavam tanto nem faziam mais nada juntas, Lucy nem a esperava mais para ir embora. A distância entre as duas ficou ainda mais evidente ontem quando tivemos aula de Educação Física juntos. Não era incomum nossas salas se juntarem nessa aula, mas era estranho ver Levy de um lado do ginásio isolada do mundo e Lucy do outro também isolada. Eu não queria ter que me meter entre as duas mas Gray continuou me enchendo para ir falar com Lucy sobre isso, enquanto ele convenceria Erza de ir conversar com Levy, não achei que fosse fazer alguma diferença mas mesmo assim fui. Me sentei do lado dela esperando que ela estivesse distraída demais para me ver, mas ela me percebeu, me cumprimentou e voltou a ficar calada apenas olhando para frente. Acabou que me senti na obrigação de falar algo. 

– Você e Levy brigaram?  

– Não sei, talvez. 

– Talvez? 

– É, talvez. 

Suspirei. Eu não sou bom em manter conversas e Lucy não parecia querer conversar. Na verdade, o tom de voz que ela usou soava como se estivesse querendo que eu fosse para longe e eu até queria, mas não consegui. 

Não sou bom em manter conversas, mas eu não podia deixar ela sozinha.  

– O que aconteceu? 

Ela ficou inquieta, por um momento achei que ela não fosse me responder e então ela encostou a cabeça do meu ombro e resmungou algo que não ouvi. 

– Ela foi embora da minha casa – Ela finalmente falou, a voz dela estava tão baixa que tive que me esforçar para poder entender – Eu sabia que ela ia ter que ir mais cedo ou mais tarde, mas ela foi tão… fria. Eu e meu pai estávamos tentando ajudá-la com os problemas dela, mas ela não queria nos ouvir e então semana passada Gajeel apareceu e a levou de lá. Ela nem se despediu, Natsu. Ela nem mesmo olhou para trás.  

– Está decepcionada? 

– Não – Ela se agarrou ainda mais ao meu braço, algumas pessoas já começavam a olhar para nós. Inclusive Levy – Quando eu vi ela correndo em direção à ele toda feliz e sorridente doeu tanto que eu desejei… eu desejei que ele… 

Meu braço já estava começando a doer de tão forte que ela o apertava, então ao invés de só ficar ali aguentando a dor eu me levantei e puxei ela junto comigo. Disse ao professor que ela não estava bem e que precisava ir para a enfermaria. Então saímos de lá, da vista de todos e principalmente da de Levy. Levei ela até um dos bancos do pátio onde ninguém poderia ouvir nossa conversa. 

– O que você desejou? – Perguntei. 

– Eu não quero falar sobre isso. 

– Lucy, eu quero te entender. Então, por favor, me diz. 

– Desejei que ele morresse – Ela mordeu os lábios inquieta e então cobriu os olhos com as mãos para que eu não a visse chorando, mas já era um pouco tarde para isso – Eu pensei que se ele se fosse... se Gajeel não existisse mais… Ela só olharia para mim, só dependeria de mim… Ela ia amar somente a mim – Ela começou a soluçar entre uma palavra e outra. Eu não sabia o que fazer, nem mesmo o que dizer. Eu estava tão perdido quanto ela parecia estar – Eu quero de verdade que Levy-chan e Gajeel sejam felizes juntos, mas porque eu continuo tendo esses pensamentos horríveis toda vez que vejo eles? 

– Porque você ama ela – Respondi, mesmo que soubesse que não deveria fazê-lo – E mesmo que você queira ver ela feliz, ainda dói porque a felicidade dela não está com você. 

Ela riu, uma risada sem emoção alguma. 

– Eu sou uma idiota, não é? Eu empurrei meus sentimentos em cima dela e disse a mim mesma que estava tudo bem desde que eu pudesse continuar ao lado dela. Sempre achei ela dependia de mim, mas na verdade eu sou a única dependendo do afeto que ela se sente obrigada a me dar. 

– Ela não está se obrigando a nada, Lucy – Agarrei as mãos dela e olhei no fundo de seus olhos, estavam vermelhos e inchados, só que mais do que isso, estavam sofrendo – Levy gosta de você, ela não seria sua amiga por tanto tempo se não gostasse. Você pensar dessa forma só vai machucar a você e a ela. 

Lucy abaixou a cabeça e assentiu como se estivesse se desculpando. Eu a abracei esperando que ela parasse de chorar de vez, mas ao contrário do que eu pensei ela apenas chorou mais afundando a cabeça no meu peito. Depois de algum tempo ela se acalmou, respirou fundo pelo menos umas cinco vezes antes voltar a falar. 

– Você já gostou de alguém, Natsu? 

Eu, sinceramente, não esperava essa pergunta. Tudo que me vinha a cabeça era Michelle e as únicas pessoas com quem eu me senti confortável para contar sobre ela foram Gray, Erza e você, Happy. Não que eu sinta vergonha disso ou coisa do tipo, mas era pessoal demais para eu falar com qualquer um. Infelizmente Lucy precisava de uma resposta. 

– Teve uma garota. Ela era a garota mais bonita da escola e todos os garotos queriam sair com ela, mas ela estranhamente veio até mim. Nós ficamos e depois eu descobri que não passava de uma aposta, bom, é claro que fiquei chateado com aquilo mas eu gostava tanto dela que resolvi não me importar. Então nós acabamos ficando de novo mesmo eu sabendo que não significava nada para ela e no outro dia ela foi embora. Acho que sou suspeito para falar mas por incrível que pareça eu não tenho nenhum ressentimento contra ela, tivemos nosso bons momentos e foi divertido enquanto durou.  

– Foi divertido ter ela brincando com seu coração?  

– Sim, foi muito divertido.  

– Você é um masoquista, Natsu – Ela riu e apertou mais seus braços em volta de mim – Mas, eu gosto de você mesmo assim. 

Acho que nem preciso te dizer que essa é uma das complicações que me impedem de avançar a fronteira. Lucy não pode simplesmente superar Levy da noite para o dia, mesmo que ela tente é impossível. Além disso, meus sentimentos por ela ainda são instáveis, mesmo que meu coração bata como louco todas as vezes que ela diz que gosta de mim, eu não sei dizer se o que eu sinto é realmente amor. 

Afinal, o coração de qualquer um aceleraria nessa situação, certo? 

N.D.