História Olá, Happy. - Sexta-feira, 24 de Março de 2017.

Olá, Happy.

Você deve estar se perguntando como estou me sentindo depois de perceber que Lucy leu você. Bom, eu não estou sentindo nada em relação a isso.

Nem mesmo eu entendo, na verdade, eu nem sei como deveria me sentir. Eu devia estar com raiva? Chateado? Talvez… feliz? Eu não sei, realmente não sei, a ficha ainda não caiu mesmo depois de horas. Quer dizer, eu fui tão descuidado com você? Mavis e Zeref entram no meu quarto sempre que tem vontade e eles nunca (ou pelo menos, até onde eu saiba) viram ou tocaram em você, então eu me pergunto, o que aconteceu comigo naquele dia para eu ser tão descuidado a ponto de não te esconder? Acho que o fato de que Lucy viria aqui me deixou um pouco desnorteado, ela não é a primeira garota que entra no meu quarto, mas é a primeira que não quero que pense que sou um otário.

Em todos esses dias ela tem agido tão normal que eu nem mesmo desconfiei, ela só… foi ela. Nada de me olhar estranho ou coisa do tipo, ela só me tratou como normalmente trata, então quando me encontrei com ela hoje no telhado da escola eu não sabia o que dizer, acho que ela percebeu o que estava acontecendo, porque depois de quase cinco minutos em silêncio ela perguntou:

– Você viu, não é? O Happy.

– Por que não me disse?

– Eu estava invadindo sua privacidade, você ia ficar bravo assim como está agora.

– Eu não estou bravo. Eu só não queria que você ou qualquer pessoa visse aquilo, é vergonhoso demais. Me faz parecer uma adolescente dramática.

Ela riu, mas eu não estava vendo graça alguma naquilo.

– Às vezes tenho vontade de me jogar no sofá com minha roupa mais confortável, ligar a TV em um jogo de futebol e passar o resto do dia comendo porcarias e arrotando que nem um porco, isso faria de mim um homem?

– Não. Seria nojento. Não é porque somos homens que fazemos isso.

– Não é porque somos garotas que escrevemos em diários, Natsu. É porque somos pessoas com sentimentos. Eu, você e qualquer outra pessoa, todos temos que expressar o que sentimos de alguma forma, estou errada?

Eu queria dizer que sim, mas ela não estava, então apenas concordei.

– De qualquer forma, Natsu – Continuou – Tudo que você escreveu lá é verdade? Sobre mim e todo o resto?

Eu pensei em sair correndo dali o mais rápido possível, mas seria rude demais e eu não queria deixá-la com raiva. Então só disse o que ela já deveria saber.

– Tudo sobre você é verdade. E quanto ao que você escreveu? É verdade?

Por um segundo achei que ela era quem iria correr dali, ela corou e desviou o olhar. Eu sei que eu devia estar com medo de ela estar mentindo para nós Happy, talvez ela só esteja com pena de mim, mas naquele momento ela me pareceu tão linda que mesmo que estivesse mentindo eu não ia me importar.

– É claro que é, cada palavra.

Então o mesmo silêncio de quando nos encontramos voltou.

– Eu tenho que ir para a aula, então… bem… – Ela se levantou, respirou fundo duas vezes e me olhou com firmeza – Escuta, eu sei que o Happy é importante para você, mas sempre que quiser contar com alguém eu vou estar aqui. Do seu lado.

Eu estaria mentindo para você se dissesse que nunca quis ouvir ela dizer algo como isso, eu fiquei realmente feliz. Tão feliz que a beijei. Tão feliz que cabulei o restante das aulas apenas para ficar com ela.

Mas sabe Happy, não é que eu não tinha alguém com quem contar ou coisa do tipo, eu simplesmente tenho coisas que não quero dizer a ninguém. Nem a Erza, Gray, Lisanna ou Lucy, muito menos para meu irmão e Mavis, então eu recorri a você, porque essas coisas realmente me sufocam e me impedem de seguir em frente, mas tem certas coisas que nem para você eu consigo contar e foram coisas que Lucy percebeu só de olhar para um porta-retratos.  

Eu sei que pode parecer fácil dizer que está triste, mas não é para mim. É muito difícil aceitar, eu não quero acreditar que isso seja verdade. Porque eu estava triste antes que todas aquelas brigas com o papai e Zeref aconteceram; porque eu estava triste eu não pude me desculpar direito com ele; porque eu estava triste ele morreu pensando que eu o odiasse; porque eu estava triste preferi pensar que meu irmão havia me abandonado e saí de casa; porque eu estava triste eu me deixei depender da atenção do Happy, agora o Happy sumiu, talvez ele estivesse cansado de mim e apenas foi embora, para longe, assim como meu pai, como Michelle e como Lucy também irá um dia. 

Eu não gosto disso, parece que se eu admitir que estou triste coisas ruins vão continuar acontecendo e eu estou cansado, eu não posso mais lidar com nada disso. Acho que foi isso que Lucy quis dizer com eu sendo a única pessoa que pode entender Levy. Nesse momento, eu realmente sinto que entendo sobre as condições que ela falou.

Nesse momento, eu daria tudo para ouvir a história de Levy.

N.D.