História Olhar da Serpente - Noivado

Quando todos já estavam de volta à Godric’s Hollow, Caterina e Snape escutaram estupefatos o pedido de casamento de Luka com Victoria.

— Casar?! Mas vocês não acham cedo demais?! – Caterina se levantou de um salto do sofá enquanto Snape se manteve impassível apesar do seu maxilar tensionar no momento e ser bem visível.

— É o que queremos, mãe... – Victoria entrelaçou sua mão na de Luka.

— Mas... – Caterina não conseguia falar e era só desespero ao se virar para Snape que entendeu e interviu:

— Você vai precisar levá-la ao castelo do seu avô? – ele perguntou com certa frieza no olhar.

Caterina se agitou e voltou a se sentar no sofá. Luka a observou entendendo toda a angústia dela.

— Não será necessário – Luka respondeu com firmeza.

— Mas e a tradição dos Lumaj? – Caterina voltou a se levantar mais pálida do que nunca – E a bênção que seu avô tem que dar? Afinal não é qualquer um que pode entrar na sua família, não que a Victoria seja qualquer uma.

Luka fez um gesto com a mão pedindo para que Caterina se acalmar.

— Não vou seguir essa tradição. – Luka a encarou firme – Meu avô não tem nada a ver com a minha escolha, só resta então, ele acatar.

—Luka, me desculpe, mas você sabe que as coisas na sua família são mais complexas, não sabe? – Caterina se voltou para o bar, pois necessitava beber algo para se acalmar e então aproveitou e serviu a todos.

Victoria e Snape assistiam a conversa de Caterina e Luka sem muito entendimento de que como funcionava a dinâmica familiar dos Lumaj.

— Eu sei, Sra. Lowe, e estou dizendo para não se preocupar. Na há necessidade nenhuma de Victoria sequer pisar naquele castelo, mesmo que automaticamente tenha passe livre ao se casar comigo. – Luka foi enfático, mas Caterina dava mostras de que não acreditava nele.

— Você dá a sua palavra? – a voz de Snape soou cortante por todo o recinto chamando a atenção de todo.

— Sim – Luka respondeu muito sério dando um passo à frente na direção de Snape que o encarou nos olhos gelidamente e com o maxilar tensionado.

Mais do que nunca Snape necessitava manter seu autocontrole, ainda mais com Caterina à beira de um colapso nervoso e que esvaziava sua taça de hidromel muito rapidamente tornando logo a encher. Victoria era a única que assistia a tudo com muita curiosidade.

— E o que acha que seu pai vai pensar sobre isso?  – Caterina ainda não se convencia.

— Vou marcar um jantar com meu pai e apresentar Victoria oficialmente a ele e comunicar do casamento. E vocês estão convidados e eu também gostaria que Mila fosse. Pretendo que seja um jantar em família, bem íntimo – Luka respondeu calmamente.

Caterina sentou pesadamente no sofá após ouvir tudo completamente estarrecida.  Snape desviou seu olhar gélido para o lado ao passo que Victoria abriu um imenso sorriso.

Luka e Victoria não se demoraram mais e assim se despediram de Snape e Caterina já que iriam para o flat de Luka.

— Agora já está dormindo fora de casa – resmungou Snape não conseguindo disfarçar o ciúme ao ver a filha sair pela porta da frente acompanhando o namorado.

Caterina se aproximou e pousou a mão nos ombros dele: — Se acostume...

Snape não se virou e não esboçou reação, mas sentiu a apreensão de Caterina que com um pesaroso suspiro se afastou dele e foi para o quarto.

* * * *

Dias depois o que o jantar íntimo no flat de Luka fora marcado, Caterina esperava por Mila na rede de Flu para irem todos juntos.

Luka e Victoria estavam com os preparativos a todo vapor quando o alarme bruxo soou forte e o rapaz atendeu a porta dando de cara com Alek.

— Oi pai... – Luka cumprimentou Alek com um forte abraço.

Victoria, que até então ficou na cozinha, sentiu um leve gelo na espinha ao ouvir a voz do pai de Luka e suspirando forte para criar coragem, foi se juntar aos homens que atravessavam a sala.

Ela parou estaticamente ao ver Alek Lumaj que tinha uma presença muito forte apesar da extrema semelhança física com Luka.

— Sr. Lumaj... – ela se aproximou de Alek estendendo a mão para ele que lhe sorriu levemente retribuindo o cumprimento.

— Boa noite, Victoria. Prazer em conhecê-la... – ele respondeu polidamente.

Ela acenou com a cabeça e os três se acomodaram na sala. Alek passou os olhos pelo recinto e reparou numa mesa de jantar impecavelmente arrumada com seis lugares num canto da sala bem próximo à grande janela.

— Quem mais vem? – Alek perguntou já imaginando a resposta.

— Meus pais e Mila – Victoria respondeu reparando que o homem prendeu a respiração por um instante.

Houve um breve silêncio que só foi quebrado por Luka ao oferecer uísque de fogo para o pai que prontamente aceitou. E aproveitando a chance, Victoria pediu licença e voltou para a pequena cozinha a fim de trazer um pratinho com petiscos para acompanhar a bebida e no mesmo momento, o alarme bruxo soou novamente e dessa vez, Victoria sabia que era os pais e respirou aliviada porque estava muito constrangida pela maneira que o futuro sogro a analisou.

Caterina, Snape e Mila cumprimentaram Luka assim que ele atendeu a porta. Todos foram conduzidos para a sala e Alek imediatamente se levantou para cumprimentar os convidados que chegavam.   

Victoria retornou para a sala e parou bruscamente de novo ao avistar sua família que havia chegado pensando que aquele jantar prometia ser um grande acontecimento na vida de todos os presentes. E então, logo foi cumprimentar os pais e Mila e assim que todos se acomodaram confortáveis, Luka providenciou mais bebida e propôs um brinde, fazendo os convidados se levantarem e erguerem suas taças.

— Essa noite é muito especial para Victoria e para mim, – Luka começou – pois decidimos dar um passo muito importante nas nossas vidas...

Mila era a convidada mais efusiva diante das palavras de Luka, enquanto que Alek sorriu de leve em aprovação ao passo que Caterina e Snape se mantinham impassíveis.

— Este jantar que oferecemos à vocês, que são as nossas famílias, sela oficialmente o nosso noivado... – Luka aproximou sua taça das demais e todos tilintaram os cristais.

Após um pequeno gole na taça, Luka retirou do seu bolso um pequeno estojo e o estendeu para Victoria que tinha os olhos brilhantes, pois não esperava tal mimo. Ele abriu a caixinha e ela pode ver um lindo solitário de ouro branco em formato de uma cabeça de dragão incrustado com diamantes do mais fino quilate, símbolo máximo do clã Lumaj. Ele retirou o anel do pequeno estojo com cuidado e o colocou no anelar esquerdo de Victoria com muita delicadeza, Luka levou a mão dela aos lábios dele e beijou o anel.

Caterina perdeu o fôlego novamente, pois ela mesma havia ganhado um anel igual ao firmar noivado com Alek tantos anos antes e estava apreensiva por ver a filha ao um passo de se tornar uma Lumaj. Mila comemorou mais entusiasmada ainda, ao mesmo tempo em que Snape não desgrudou seu intenso olhar de todos os movimentos de Luka e Alek mantinha o leve sorriso. 

Victoria estava fascinada com a beleza rústica daquele anel. Ela nunca imaginou que uma simples joia, pudesse significar tanto.

Passada a euforia do momento, todos voltaram a se sentar e Alek foi direto ao ponto:

— Quando vocês pretendem se casar?

— O mais rápido possível – Luka respondeu à Alek com um olhar vibrante carregado de imensa felicidade, deixando o pai contente por ver o filho de semblante leve e apaixonado, cujo amor era amplamente correspondido pela noiva.

— E aonde vocês vão se casar? – Caterina reuniu forças para perguntar.

— Na igreja de Godric’s Hollow, mãe... Pedi a Luka e ele concordou – Victoria respondeu sorrindo de mãos dadas com Luka que se sentavam bem juntos.

— Será uma cerimônia pequena, Sra. Lowe. Não queremos muita gente. Apenas os amigos mais chegados... – Luka finalizou.

— O seu avô não vai participar se for fora do castelo – observou Alek, com uma expressão de dúvida.

— Eu sei e não faço questão de que ele participe de alguma coisa... – Luka respondeu com um sorriso sardônico no rosto – Acabei de dizer que só reuniremos os amigos mais chegados, os quais tenho certeza de que nos querem bem...

 Um silêncio sombrio se fez na sala, mas Luka não se abalou e decidiu não esticar mais a conversa convidando a todos a se sentarem à mesa e degustar o jantar que ele e Victoria haviam preparado.

Entre risos, Luka e Victoria contaram da falta de intimidade dela com a cozinha, conseguindo arrancar um riso de Caterina, ainda que tímido.

— Um dia eu chego lá, vovó, e vou cozinhar como a senhora – Victoria piscou para Mila após finalizar.

— Vou te ensinar a preparar uma deliciosa massa! Fresbo acostumou você muito mal – Mila concluiu rindo muito.

— E Fresbo deixa alguém chegar perto do fogão, Mila? – Caterina interveio com uma nota de indignação. – Você sabe como ele é...

Mila riu mais e concordou. Alek e Snape comiam pouco e se preocupavam mais em nunca deixar suas respectivas taças vazias. Apesar de interagirem no jantar, ambos ficaram bem mais calados diante do falante e radiante Luka que fingiu não perceber a velha rivalidade dos dois.  

Em dado momento no decorrer do jantar, Snape notou algumas olhadas significativas de Caterina para Alek e vice e versa, como se eles estivessem conversando através da legilimência. Tanto Luka e Victoria, assim como Mila continuavam conversando entre si e nem notaram. Porém, Snape era muito mais esperto quando lhe convinha e ficou desconfiado de que algo não ia bem.

Assim que o jantar se findou, Alek não se demorou muito alegando que a viagem de volta seria longa, o que Snape em seu íntimo achou a desculpa claramente esfarrapada já que o homem devia ter alguma chave de portal para aquele fim de mundo onde ele morava. O fato que Snape também já estava impaciente querendo ir para casa o mais rápido possível, pois queria tirar satisfação com Caterina sobre o que tanto ela teria conversado com o ex-marido pelos olhares que trocaram. Não que Snape estivesse com ciúmes, pois ele percebeu claramente que a troca intensa de olhares entre Caterina e Alek demonstrava apreensão ao invés de qualquer paixão adormecida que pudesse ter reacendido, disso tinha absoluta certeza.

Uma hora mais tarde, o que foi uma eternidade para Snape, ele e Caterina chegaram em casa cansados e muito tensos, entretanto, Snape não quis perder mais tempo:

— O que você andou conversando com seu ex-marido, Caterina? – Snape se aproximou dela perigosamente.

— Do que está falando? – Caterina o encarou igualmente.

— Vocês ficaram de conversinha pela legilimência, não pense que não percebi, não sou um tolo, Caterina! – Snape aumentou o tom de voz deixando-o ameaçador.

— Você está imaginando coisas, pra variar! – Caterina se afastou do olhar agudo de Snape que a pegou pelo braço no mesmo tempo – O que pensa que está fazendo?!

— Não vá fazer nenhuma besteira, Caterina! – Snape apertou ainda mais o braço dela.

— Me solta, Severo! – Caterina rosnou.

— Eu te conheço! – Snape vociferou no ouvido dela – Toda vez que há um grande problema à vista, você corre pedir ajuda ao seu ex-marido!

— Eu não estou te entendendo, Severo! – Caterina se desvencilhou do aperto de Snape.

— Claro que está – Snape insistiu cortante. – Não finja e não minta para mim.

Caterina sustentou o olhar gélido de Snape para ela apenas por poucos segundos, logo se voltando para escada que dava acesso ao andar de cima da casa e assim saiu rapidamente deixando Snape sozinho que a acompanhava com ar feroz.