História Olhos da Tempestade - Capítulo Único - A Sereia dos Olhos Dourados

A tempestade castigava o convés do Devorador de Mundos, o navio de guerra está no mar à dois dias, e a chuva havia começado no fim do primeiro e foi piorando. Eu estava no meu escritório, que fica na ala norte interna.

- Capitão, - Chamou-me um dos marujos. - estamos com diversas rachaduras pequenas no casco! Precisamos da sua orientação lá em cima!

Ao chegar no convés, meu rosto é golpeado por grandes e pesadas gotas de chuva. Vou até a murada do barco para ver se estavam tão danificadas quanto o marujo havia relatado. Inclino-me sobre ela com cuidado para não cair no mar revoltoso, vejo cortes no casco, parecidos com cicatrizes, estranhei, eram retas demais para terem sido provocadas por rochas ou icebergs pequenos, pareciam ter sido feitos por lâminas que passaram de raspão.

Foi então que reparei nos olhos dourados que pareciam faróis dentro da água escura, para um instante depois sumirem. Fico paralizado no lugar enquanto raciocino, arranhões no casco, tempestade, olhos dourados despreocupados, malignos e femininos.

-Você! - Grito mais alto do que a tempestade para um marujo que tentava tirar a água de dentro da embarcação. - Tem alguma mulher nesse navio?! - O homem nega com curiosidade.

Era impossível, mas não havia outra explicação, aquilo na água era um demônio, uma sereia.

Seus piores medos se confirmaram quando ouviu a melodia bela e suave do conto da sereia. Pelo visto os outros ouviram também, pois uma calma mortal tomou conta de seus corpos enquanto se dirigiam à murada do barco e pulavam nas ondas do caos.  O feitiço da canção envolveu meu corpo e de repente eu ja não tinha mais controle sobre ele, que abriu os braços e repuxou os lábios na forma de um sorriso macabro, como se eu estivesse brincando e não pulando para a morte.

Sinto como um choque quando bato com tudo as costas na água. Abro bem os olhos tentando enxergar algo na penumbra da água, oque não ajudou muito. Começo a nadar na direção que acho ser a superfície assim que recupero o controle de meu corpo.

Encho meus pulmões de ar no momento em que colocoa cabeça para fora da água, para em seguida ser nocauteado por uma onda de quase 4 metros de altura.

Me lanço de volta para a superfície assim que me recupero. Olho em volta tentando encontrar meus homens. No período que fiquei desacordado, por causa da onda, a tempestade tinha parado e o mar ia se acalmando, enquanto o Devorador de Mundos afundava.

Foi então que vi uma pessoa de costas pra mim, olhando o navio.

- Ei você! - Berro para o sujeito. Quando se vira, agradeço por estar na água e não em terra firma, porque se não, teria uma poça de urina aos meus pés. Era uma mulher loira com cabelos curtos como o de um homem e olhos vermelhos como sangue seco.

Começo a gritar por socorro, oque foi estúpido, pois mais quatro delas surgiram e formaram um círculo ao meu redor. Estava encurralado.

Tinham cauda de peixe da cintura para baixo, com lâminas em forma de nadadeiras na ponta e nas laterais dela. Eram magras e esbeltas, com dentes afiados como os de um tubarão e belas como deusas. Ao encará-las, vejo a sereia de olhos dourados que tinha visto antes do caos surgir. Ela começou a nadar em minha direção, eu estava paralizado novamente e não consegui me afastar.

Ela segura minha cintura e me deita na água, estraçalha minhas roupas e começa a fazer o mesmo com meu corpo paralizado, enquanto grito a ponto de quase arrebentar minhas cordas vocais. As outras fazem o mesmo com os corpos afogados de meus companheiros.

Um pouco antes de desmaiar pela dor, vejo aquele belo rosto cheio de sangue sorrir para mim de forma maníaca, com os olhos brilhando, como se fossem ouro, prestes a devorar, não somente meu corpo, mas também minha alma.