História Olhos de Arco-Íris - Prologue, As Sete Cores

Dizer que eu sou um cara responsável, pode ser uma mentira, ok, não sou completamente responsável, mas também não sou delinquente juvenil. Claro que já cometi alguns delitos, mas nenhum grave, eu prometo, como mentir em entrevistas de estágios e beber demais em festas. Atitudes que provavelmente minha avó reprovaria, e puxaria minhas grandes orelhas, e ainda passaria um grande sermão sobre obrigações e responsabilidades, como se eu não as conhecesse. Mas o fato era que estava na faculdade, local onde a tentação é grande, as pessoas uma grande novidades e seguir o mal caminho é ainda mais fácil.

As vezes a faculdade parecia uma grande festa, e o campus um grande parque de diversão. Exceto apenas em época de provas, e era nesse momento que a faculdade parecia um filme de terror, com universitários andando como zumbis e notas vermelhas que fazia sangrar os estudantes. E eu, estava sangrando no momento junto com a minha nota na prova que tinha acabado de fazer. 

O dia começava a dar indícios que o sol logo iria dormir, enquanto estava no lado de hora do meu prédio da faculdade. Todos meus neurônios tinham sido queimamos nas últimas horas. Meus pés estavam doendo presos em um tênis que apesar do tempo ainda não tinha aliciado, e provavelmente nem iria, e o caminho para casa era longo. 

Por estar no segundo ano da faculdade, não poderia mais permanecer morando dentro do campus em um dos apartamentos que eram disponibilizado para os calouros, e assim, tive que alugar um apartamento próximo, mas ainda levava um bom tempo de caminhada.

- Chanyeol! - Levantei o rosto e observei Jongdae se aproximando enquanto puxava a sua mochila que tombava pelo seu ombro para o lugar correto. - Foi bem na prova? Ah, droga, não acho que fui tão bem. - Despejou, e foi nesse momento que observei seus olhos verdes claros sempre brilhantes tinham assumido uma tonalidade mais escura.

Jongdae estava de fato cabisbaixo, ele lutava constantemente para manter o seu C.R. alto na procura de maiores chances nos melhores estágios e futuros empregos, estávamos no mesmo curso e período, e praticamente frequentávamos as mesmas aulas, porém, ele passava noites em claro revisando cálculos, enquanto eu estudava o necessário para ter a média.

A ideia de morarmos juntos foi algo natural, a faculdade tinha nos posto no mesmo quarto quando entramos e desde o primeiro dia tínhamos nos dado bem, enfrentando todas as dificuldades e desafios juntos. E quando chegou a carta anunciando que deveríamos deixar o pequeno quarto que dividíamos dentro do campus, foi natural começarmos a procurar um apartamento juntos para dividirmos.

- Qual é? Você sempre fala que vai mal, e tira a maior nota da sala.

- Não. - Ele disse firme, eu não precisava ver seus olhos para saber que estavam verdes escuro. - Às vezes aquele metido do Junmyeon tira a maior nota.

Aquele era definitivamente o fim do mundo para Kim Jongdae. Não que ele fosse o tipo de pessoa que competia por notas e esfregava na cara das pessoas, mas quando o assunto era Kim Junmyeon, Jongdae se tornava extremamente competitivo.

Não sabia ao certo quando começou essa competição idiota, que eu tinha muitas vezes certeza que apenas o Chen, apelido do Jongdae, parecia participar e lutar pelo primeiro lugar. Para ele qualquer aluno da sala poderia tirar uma nota melhor que a sua, menos Suho, o guardião e representante da nossa turma - vulgo rival do Jongdae.

O fato era que Junmyeon, com seus profundos olhos azuis transmitiam uma calma e maturidade, que o tornou o exemplo a ser seguido. E mesmo que ninguém mais enxergasse aquele tom de azul dos seus olhos, todos sentiam a serenidade que Suho transmitia.

Era engraçado como os dois eram opostos, Jongdae com seus olhos verdes era a juventude enquanto Junmyeon era a maturidade... Talvez fosse por isso que Chen se sentia tão irritado na presença do mais velho.

Para mim, era fácil decifrar e entender as suas personalidades, devido à minha herança de família.

Nunca de fato consegui enxergar a verdadeira cor dos olhos de alguém. Isso era algo que a minha mãe não compreendia, quando eu era pequeno e dizia que os olhos dela eram laranja, não castanhos como conseguia ver nas fotos, e somente através de fotos posso ver a cor real.

Meu avô me dizia que eu era especial, e só fui entender o significado dessas palavras com cerca de dez anos. Ninguém mais enxergava o mundo da forma que eu enxergava. Enquanto a minha mãe não compreendia o motivo de sempre responder cores "aleatórias" diante as pupilas que me eram questionadas quando criança em tom de brincadeira, até mesmo de me forçar a realizar testes de daltonismo, meu avô por outro lado compartilhava um sorriso sincero.

Nós éramos iguais.

- Acho que devemos ir tomar uma cerveja. - Estávamos caminhando de volta ao apartamento, quando uma entrada de um bar me chamou atenção.

Jongdae precisava de uma cerveja. Talvez o álcool o relaxasse, seus olhos estavam mais escuros que o normal e isso definitivamente significava que estava chateado com o resultado da prova.

- Eu realmente preciso de uma. - Resmungou, logo entrando no estabelecimento.

O local ainda estava vazio, por isso, escolhemos uma mesa mais afastada das demais ocupadas. A decoração do local me lembrava filmes de faroeste com uma iluminação debilitada, e com detalhes todos de madeira e um grande piano localizado em um dos cantos do estabelecimento. Esse local provavelmente seria reprovado pela crítica de Baekhyun, que sempre defendia a modernidade e ambientes de cores neutras para parecerem mais limpos.

Um garçom surgiu e anotou os nossos pedidos rapidamente, tentei encarar seus olhos, era uma mania estupida que tinha, cada um possuía uma cor diferente e era interessante conhecer as cores, e tentar entender as pessoas, porém pela luz negra não consegui identificar.

- Se o bastardo do Junmyeon for bem nessa prova, estarei destruído. - Jongdae desabafou logo após o nosso chop chegar a mesa. - Estudei tanto, tanto... Não podia ter ido mal.

- Você já parou para pensar que o Junmyeon pode ser um cara legal? - Questionei, meu amigo arqueou a sobrancelha. - Você tem uma implicância com ele incomum.

- Não é isso. - Defendeu-se após um longo gole. - Nós somos opostos, não gosto do jeito dele.

- Os opostos se atraem. - Rebati com um sorriso malicioso.

- Não, não, não! Nunca, Chanyeol! - Seu tom de voz foi mal alto que ele esperava, e por fim, Jongdae jogou seu corpo para trás até o encosto da cadeira. - E você e o Baekhyun?

- O que que têm?

- E o lance de vocês? Acontece que vocês praticamente namoram e...

-  E nada. Ele não é a minha pessoa. - Afirmei. - Não somos compatíveis. Na realidade, pareço estar preso em uma relação unilateral. Baekhyun não discorda de mim, não discutimos, não temos opinião diferente.

- Talvez seja, mas você está preso a detalhes. O amor se constrói, Chanyeol. - Os olhos de Jongdae pareciam mais claros e calmos, talvez fosse o efeito da bebida. - Ele não surge do nada.

- Eu vou saber quando ele aparecer...

- Ah, vai? - Questionou com um sorriso mal intencionado. - Não dá para saber quando ele vai surgir.

- Vou saber sim.

Vou naquele momento que tudo se paralisou a minha volta. Mesmo com a iluminação precária e com álcool no meu organismo, eu consegui identificar.

- Vão querer mais alguma coisa? - A criatura mais bonita que já vi na minha vida me perguntou.

Ele estava usando uma camisa branca e calça jeans, com o avental do bar localizado por cima dos seus membros inferiores em tom azul. Os seus fios eram completamente negros em contraste com a pele extremamente alva e bela como a luz do luar. O que me chamou atenção não foram suas características físicas, mas sim a cor dos seus olhos.

Nunca em minha vida tinha visto olhos tão lindos e diferentes como aqueles. O tamanho dos seus olhos eram acima da média e as suas pupilas brilhavam radiantimente com as sete cores do arco-íris

Naquele momento eu soube.

Tudo tinha mudado.

E eu finalmente o tinha encontrado.