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História Olhos de Arco-Íris - IV, Além do Arco-Íris


Escrita por: yehunnie

Notas do Autor


Olá <3 Queria agradecer todo o carinho que recebo com essa história, são comentários são lindos e que me deixa até tremendo aqui de emoção, enfim, como um presentinho editei no PhotoShop as cores que o Chanyeol enxerga nos outros personagens, minha edição não é a melhor do mundo (sorry!) e não sabia onde upar, por isso fiz no twitter mesmo, se alguém quiser ver vou deixar o link do tweet nas notas finais. Ah, logo no primeiro capítulo disse que essa fic teria no máximo cinco capítulos, mas hoje (revendo tudo que tem para acontecer) vejo que não dá para ser só cinco capítulos.
Muito obrigada, boa leitura <3

Capítulo 5 - IV, Além do Arco-Íris


Jongdae gritou que deveríamos comemorar assim que o acordei e informei a quantidade de questões acertadas.

Kyungsoo após largar meu abraço e foi abraçar seu amigo de longa data, Junmyeon. E eu aproveitei aquele tempo para acordar o meu companheiro de apartamento, que me pediu alguns minutos para acordar completamente. Para a minha surpresa, encontrei Kyungsoo na varanda com um aparelho celular encostado no ouvido e Junmyeon sentado no sofá. Não precisei me esforçar muito para que o mais velho entendesse a minha pergunta em uma leitura labial: Quem estava falando com Kyungsoo?

– Com a mãe dele. – Ele me respondeu em tom baixo quando me aproximei. E ele pareceu perceber a minha confusão mental... Kyungsoo tinha sido expulso de casa. – Todos temos pais, Chanyeol, mesmo que eles só tenham sido no ato do que fomos concebidos...

– E o pai dele? – Sabia que não tinha o direito de questionar aquilo, principalmente ao escutar a risada vindo da varanda... Eu não tinha o direito de saber mais do que ele me dizia.

– Como eu disse, todos temos pais, mas o pai do Kyungsoo deixou essa função a um bom tempo.

Quando Kyungsoo desligou o telefone, e Jongdae foi para sala o parabenizar, nós sentamos em volta da mesa para analisar as questões do vestibular, elas não estavam fáceis, e o vestibulando confessou que foi o último acabar a prova, e por isso, quando deixou o prédio, o gabarito foi divulgado cerca de dez minutos depois.

– Você não estudou isso. – Eu apontei para uma das questões de história, para ser mais especifico sobre a queda do muro de Berlim. – Eu não te ensinei isso.

História era uma matéria complicada de explicar, ela se subdividia em história do mundo, asiática e coreana – sendo a última pequena, mas confusa. Devido a grande extensão da matéria, tínhamos focado na história do nosso país, o qual sempre estava confirmado em todos vestibulares... A divisão da Coreia era bem complicada, e suas questões sempre dedicavam mais atenção e um questionamento básico: Qual lado a banca do vestibular estava analisando? O sul e o norte sempre se opunham e isso modificava as respostas corretas.

Acontece que a história da queda do muro de Berlim era matéria da guerra fria, que vinha após a segunda guerra mundial... Nós só tínhamos visto a primeira guerra, e os fatores que desencadearam para a segunda, e a sua divisão.

– Eu estudei sozinho. – Kyungsoo confessou, e suas bochechas se tornaram rubras. – Estava preocupado com a prova, e não conseguia dormir... Quando percebia eu estava lendo capítulos a mais do livro do Jongdae...

– Isso é ótimo! – Jongdae disse animadamente, ele estava vestindo o casaco já que ia comprar pizzas e algumas guloseimas no mercado. – Parabéns, Kyungsoo. – Ele se aproximou do nosso aluno e o abraçou novamente. – Em breve você será nosso calouro.

Os dois sorriam, e eu acabei sorrindo. Era como se subíssemos lentamente um grande pódio, mas se continuássemos no mesmo ritmo em breve chegaríamos ao primeiro lugar, no nosso caso, conseguiríamos uma vaga na universidade.

– Eu te levo, Jongdae. – A voz de Junmyeon surgiu no momento que os dois se separavam. Era estranho, já que o mais velho entre nós parecia ter algum tipo de fobia relacionada ao Jongdae, e confesso que meu amigo de apartamento poderia ser bem malvado quando queria. – Estou de carro, assim iremos mais rápido.

O mais impressionante não foi a oferta, mas sim Jongdae dando os ombros e saindo porta a fora com seu arqui-inimigo. Os dois pareciam se odiar, mas naquela noite tudo estava bem... Todos nós tínhamos conquistado uma grande vitória.

– Não fique chateado comigo, Chanyeol. – A voz baixinha de Kyungsoo se fez presente após ficarmos a sós no apartamento. Ele estava sem graça, e talvez se sentia um pouco culpado, mas ainda assim me encarava nos olhos... Ele parecia não ter mais medo de olhar no fundo dos meus olhos.

Eu não estava chateado, estava na verdade impressionado. Por mais que eu soubesse de seu desejo, nunca imaginei que ele se esforçaria tanto. Ele estava cada dia mais cansado... Isso não fazia bem.

– Você precisa dormir mais, Kyungsoo. – Estava preocupado, ele trabalhava muito, estudava muito... O seu corpo poderia não aguentar essa rotina insana. – Você tirou um conceito bom, pode relaxar um pouco agora, mas por favor, pegue mais leve. Durma mais.

Queria poder dizer para que ele trabalhasse menos, mas não podia. A sua rotina era pesada, e ele dependia de todos os centavos que iria cair no final do mês.

– Não posso relaxar, preciso tirar um conceito ‘A’ para conseguir realizar a segunda prova mais tranquilo. Para ter chances reais de passar no vestibular. – O Conceito ‘A’ equivalia a acertar mais de 70% da prova, e eu não tinha conseguido tirar esse conceito quando realizei a prova. – Eu preciso estudar, Chanyeol. A maioria dos meus concorrentes só estudam, e eu só tenho a noite para ver tudo praticamente do zero.

Respirei fundo. Ele estava determinado, seus olhos parecia uma brasa colorida. Não existia mais aquele menino que chorava no beco ao lado do trabalho pelo amor não correspondido e a sua falta de sorte no mundo, Kyungsoo queria mais, queria conquistar o mundo se fosse capaz, mesmo que isso o esgotasse, ele lutaria pelo seu futuro.

Não existia mais o comodismo.

– Não vou conseguir mudar a sua cabeça? – Questionei já sabendo a resposta.

– Não.

– Então, pense um pouco mais em você. – Era a única coisa que poderia dizer, enquanto seus olhos ferviam em determinação.

E Kyungsoo sorriu. Era uma sensação estranha, estávamos sozinhos no apartamento, sem livros em nossa volta e uma corrida contra o tempo. Ainda caminhávamos em direção ao sol, nós queríamos o nossos lugar ao sol, mas naquele momento poderíamos aproveitar o nosso descanso, curtir a brisa suave embaixo da sombra. Enquanto os mais velhos não voltavam, acabei buscando na geladeira duas cervejas escuras, não era muito fã de bebidas, mas eu preferia o gosto mais ‘doce’ que elas proporcionavam e Kyungsoo aceitou em seguida.

A facilidade em que Kyungsoo abriu a tampa me impressionou, e tentei fazer o mesmo tampando a tampa com um pedaço da minha blusa, porém falhei miseravelmente.

– Que vergonha eu não saber abrir uma cerveja. – Resmunguei enquanto Kyungsoo realizava o trabalho para mim. – Não tenho força isso.

– Posso ser baixinho, mas sou forte. Mas isso é jeito. – Bebericamos a cerveja, e o seu gelo desceu minha garganta queimando. – Quando eu era mais novo, acreditava que nunca iria beber... Meus pais são bem religiosos, e álcool nunca estaria na minha vida. – Ele soltou uma risada gostosa, e eu acompanhei. Seu corpo parecia estar relaxado sobre o sofá velho, com as costas deitadas como apoio para o resto do corpo. – Aqui estou eu, bebendo uma cerveja ao lado de um estranho.

– Parafraseando o famoso Justin Bieber... Nunca diga nunca. – Ele revirou os olhos e virou o rosto contra a minha direção para rir. – Você conhece o Junmyeon faz muito tempo? – Era uma pergunta boba, ele já tinha me perguntado, mas mesmo assim, queria saber um pouco mais de si.

Ele tombou o rosto para o lado, talvez pensativo. Aos poucos eu conseguia o decifrar, mas mesmo assim era uma tarefa difícil.

– Ele era meu veterano no colégio... A nossa cidade é bem pequena, e o Hyung era o presidente do grêmio escolar. – Sua cabeça tombou para trás, e deixou seu pescoço amostra, e seus olhos se fecharam. – Ele sempre foi amável com todos, tenho muito o que agradecer a ele... Mesmo quando fui expulso de casa, ele veio até mim e me ofereceu um local para ficar, mas eu acabei em seguida de mudando de cidade.

Queria perguntar mais, questiona-lo sobre a sua vida, mas não consegui. Seu rosto estava tão nostálgico, como se revivesse milhares de anos atrás, uma vida completamente diferente, como se questionasse o que poderia estar diferente. Kyungsoo poderia ter crescido com os pais, já estar na faculdade, mas eu poderia nunca ter o conhecido... Ele poderia estar do outro lado do país, e seus olhos nunca me encantariam.

– E você? – Ele me olhou suavemente, não tinha uma pressão no seu jeito, não era como Baekhyun que ao mesmo tempo se mostrava interessado, não possuía nenhum real interesse. – Como conheceu o Jongdae?

Kyungsoo tinha expectativa na minha fala, mesmo que a nossa história tivesse sido ‘normal’, contei a ele como nós nos conhecemos no dormitório da faculdade no primeiro ano quando fomos postos no mesmo quarto, e quando recebemos a que deveríamos sair do apartamento comunitário oferecido pela faculdade, foi natural procurarmos um apartamento para dividirmos.

– A minha mãe quando vem nos visitar agora, adora o Jongdae. Sempre que faz visitas ela faz as comidas favoritas dele e o mima mais do que a mim. – Isso sempre me deixava com um pouco de ciúme, afinal, eu era o filho caçula, e poxa, ela mimava logo meu companheiro de apartamento.

– Hoje? Ela não gostava dele?

– Bem... Não. Digamos que a minha mãe não aceita muito bem eu gostar de beijar rapazes. E quando eles se conheceram, uma das primeiras perguntas que ela fez foi sobre as preferências sexuais dele e ele disse “Eu gosto de gente, tia” – Imitei o jeito da fala do meu amigo, e Kyungsoo riu. – E ele me encarou maliciosamente... Digamos que foi um choque para ela.

De fato quando confessei a minha família que também curtia rapazes, a minha mãe quase teve um treco, pior até quando a Yura, minha irmã, apresentou seu namorado punk com piercings e tatuagens pelo corpo inteiro. Não foi uma época fácil, meu pai com seus olhos amarelados me encarou buscando algum tom de brincadeira em minha frase por longos segundos, e quando ele não encontrou, deu alguns tapinhas no meu ombro e disse “Nunca desejei ter um filho gay, sei das dificuldades e do preconceito, mas quero a sua felicidade”, isso era uma grande demonstração de carinho de sua parte

Achei que ele seria o pior a digerir a informação, porém, meu pai nunca me olhou torto ou me condenou por isso, nunca fui menos homem para ele e eu agradecia isso todos os dias. Minha irmã tinha olhos azul-esverdeados, era bonita a forma que eles se modificavam com o seu humor e oscilações, era fácil perceber quando ela mentia pois devido a cor, quando se tornavam escurecidos tinha algo errado, porém, naquele dia, seus olhos estavam claros como a água do mar, Yura estava em paz quando me disse que toda forma de amor era válida.

Quando eu achava que tudo estava bem, observei os olhos da minha mãe em tom castanho escuro.

Eu nunca tinha visto aquela cor antes. Era a sua cor real, que eu nunca tinha enxergado de fato, meus olhos captavam em seus olhos tons alaranjados, porém, naquela tarde era como se toda sua fé em mim tinha acabado. Ela desmoronou, e me levou junto. O laranja que me sustentava e amava tinha desaparecido... E eu perdi os sentidos naquele momento.

A minha mãe demorou a aceitar, a me aceitar por inteiro, e gradativamente seus olhos voltavam a se tornar alaranjados. Ela dizia que me conhecia melhor que eu mesmo, e que aquilo tudo era uma fase... Mas não era... Nunca foi só uma fase. Ela não aceitava, muito menos apoiava, mas pelo menos respeitava. E foi por isso que nunca apresentei nenhum dos meus casinhos na época de escola, muito menos contei sobre o Byun quando começamos a sair... Mas ela descobriu.

A minha mãe a primeiro momento detestou o Baekhyun. E mesmo que Yura não comentasse nada, eu percebia seus olhares – e revirar de olhos – quando o Byun visitou a nossa casa no meio de um feriado. Eu não estava o esperando, nem sabia que ele sabia meu endereço quando ele bateu na porta da minha casa em um sábado. A partir da daí foi um desastre, fui obrigado a dormir junto com a Yura e ceder meu quarto ao mais velho, quando ele tentasse se aproximar de mim, minha mãe se metia no meio e nos afastava. O resto do final do feriado foi um caos e terminou com a minha mãe no telefone, na segunda-feira, resmungando que não tinha gostado dele, pelo menos ela era direta nisso.

– Jongdae nunca mais fez uma brincadeira assim com a minha mãe. – Comentei rindo a Kyungsoo. – Ela quase o enxotou do nosso apartamento, quando confessamos que era brincadeira, que não tínhamos nada, ela ficou com o pé atrás até que Jongdae apresentasse uma menina que estava em um rolo.

– O Jongdae deve ter ficado aflito. – Kyungsoo comentou ainda rindo, limpando as lágrimas que escorriam de seus olhos. Era uma cena bonita de se ver, suas bochechas estavam rubras pela agitação do momento. Nos recuperamos o folego lentamente, acalmando nossas risadas. – Quando meu pai descobriu que gostava de beijar rapazes, ele me expulsou de casa.

O silêncio se perpetuou entre nós, eu tinha sorte de ter uma família que me dava amor e me aceitava e respeitava, enquanto Kyungsoo tinha sido expulso por não seguir o que ditavam como o correto. Amar é o correto, independente de quem ou gênero, ninguém deveria sofrer por isso.

– Não deveria ter falado isso. – Seus olhos me encararam como um verdadeiro arco-íris, Kyungsoo lutou contra as nuvens de lagrimas que tinham se formado e agora brilhava após a chuva, exibindo que sempre algo bom vinha após a tempestade. – Não sinta pena de mim.

– Não sinto pena... Acho você um guerreiro.

Não conseguia imaginar como sobreviveria após ser expulso de casa, para onde iria e como arranjaria comida. Mas lá estava Kyungsoo, trabalhando como um condenado mas sobrevivendo a cada dia desejando um futuro maior.

Jongdae chegou junto a Junmyeon logo em seguida, carregando em mãos caixas de pizza enquanto o mais velho carregava bebidas, como refrigerantes e até mesmo mais cervejas. Acabamos por nos sentar no chão frente a mesinha de centro na sala, onde cada um pegou o seu pedaço de pizza com as mãos e bebia direto na garrafa de cerveja.

O tempo poderia parar, tudo estava bem.

 

_______________

Acordei na segunda-feira com uma ressaca.

Nunca estive acostumado a beber, e na noite anterior extrapolei o meu limite enquanto conversávamos comendo pizza e rindo uns dos outros. Junmyeon acabou dormindo no apartamento, eu tinha bebido bastante, mas ele tinha quase entrado em coma alcoólico, na verdade quase, mas não tinha condições para dirigir e Jongdae que também estava bem longe de sua sobriedade não disse nada sobre o dorminhoco que se apossou do nosso sofá.

Os dois na noite anterior riam amplamente um para o outro, e era bonito de se ver como os olhos azuis de Junmyeon encaravam com certa devoção os verdes de Jongdae. E pode ter sido o efeito da bebida, mas poderia jurar que em certo momento da noite eu enxerguei em seus olhos uma cor próxima entre o azul-piscina e verde-água.

Kyungsoo ficou até umas onze horas da noite, quando seu telefone tocou e ele provavelmente conversou com Jongin dizendo que já estava indo para casa, ele tinha bebido mas de longe era o mais sobreo entre nós, “Tenho uma boa resistência para o álcool” ele me disse antes de rumar para sua casa, prometendo que me enviaria uma mensagem que tinha chegado bem em casa.

Já tinha perdido as aulas da manhã, e pelo estado dos outros dois Kims, eles provavelmente tinham perdido, mesmo sem vontade levantei da cama, precisava tomar um bom banho para acordar e poder ir para faculdade, mesmo que o meu desejo fosse hibernar até a hora que encontraria Kyungsoo – que afirmou que mesmo com a nota boa, não iria descansar nenhum dia até que finalmente passasse no vestibular.

Porém, me surpreendi quando encontrei o sofá arrumado apesar Junmyeon permanecer dormindo no mesmo, o lixo deixado na sala ter desaparecido e um cheiro de café que me fazia querer correr até a cozinha. E para a minha surpresa, a minha mãe estava na frente do fogão cantarolando baixinho alguma música trot.

– Mãe? O que você faz aqui? – Questionei e ela veio na minha direção para me abraçar. Sentia tanto a sua falta, mas as passagem para nossa casa eram caras e a faculdade consumia todo meu tempo.

– Até que enfim acordou, dorminhoco. Senti sua falta, querido. – Ela passou as mãos pela minha cabeça, rosto até chegar meus ombros. – Tinha alguns dias de folga, e resolvi fazer uma visitinha.

Ela me mandou sentar no balcão na cozinha, como quando eu era criança e percebi que estava fazendo panquecas, seus olhos laranjas me encararam como se conseguisse ler a minha mente, mães tinham aquele poder de desvendar as coisas antes mesmo de nós.

– Você está tão feliz. – Ela comentou como se me analisasse.

– Estou normal, mãe. – Disse desviando o olhar, desde que me entendo por gente, os olhos alaranjados tinham um forte poder sobre mim, nunca consegui mentir para eles. – Nós estamos felizes, mãe, o Kyungsoo conseguiu tirar uma nota boa no vestibular.

– Kyung... Quem?

Ela não sabia da história. Só nesse momento eu percebi como omitia essa história de todos o máximo possível... Gostava de guardar tudo que o envolvia somente para mim, como gostava de ver seus sorrisos somente para mim. Minha mãe me observou enquanto contava desde como o conheci, até mesmo escutava quando reclamava do Jongin o deixar confuso, e como isso era incorreto.

– Você é bem parecido com o seu avô. – Minha mãe disse quando se sentou a minha frente na mesinha na cozinha colocando as panquecas na minha frente, ela tinha preparado mais algumas para Jongdae (que ainda estava dormindo no seu quarto) e Junmyeon que estava jogado na sala. – Vocês tem um grande confiança nos outros. Isso é algo perigoso, Chanyeol.

– Eu preciso confiar nos outros. – Eu preciso confiar no meu dom, queria dizer. Se eu não confiasse nas cores, em que mais eu confiaria?

– Eu sei querido, mas você não deve nunca confiar cem por cento em alguém logo de cara. As pessoas enganam, as pessoas traem, todos nós somos suscetíveis a erros. Até mesmo eu já errei feio com você. – Nós dois sabíamos que ela estava falando do momento que ficou em pânico quando descobriu sobre minhas preferencias, mas não queria voltar a aquele assunto. E pelo visto, nem ela queria. – Quando irei conhece-lo? Parece ser um bom rapaz.

Jongdae entrou na cozinha dando um grito de “Tia” e abraçando a minha mãe. Os dois se davam bem, e ela o tratava como se fosse um filho postiço, o pobre Junmyeon acabou acordando com o escândalo e logo em seguida se junto a nos na mesa e pediu alguma medicação para sua dor de cabeça.

– Isso é suco de maracujá? Obrigado, tia!

Minha mãe realmente gostava de mimar o Kim Jongdae.

 

________________

Kyungsoo parecia com receio de entrar no apartamento.

Hoje na verdade era o dia de sua aula com o Jongdae, mas por ele ter compromisso na faculdade, acabamos invertendo os dias naquela semana, e o nosso aluno quando perguntei se ele poderia ir até o meu apartamento naquela noite pareceu um pouco surpreso.

– Desculpe não poder ir hoje até lá, mas a minha mãe chegou e não pude deixa-la sozinha aqui. – Era meia verdade, eu poderia deixa-la sozinha, mas não achava legal da minha parte fazer com que ela ficasse sozinha.

– Se te incomodar, podemos não estudar isso. – Kyungsoo disse segurando a alça da mochila nas costas, deveria estar pesada já que os livros eram bem completos.

– Vem, entra. Ela quer te conhecer.

Ele entrou meio incerto, e deixou a mochila sobre o sofá, enquanto seus olhos vagavam pelo apartamento, no fundo ele estava nervoso e talvez ter contado a história do primeiro encontro dela com Jongdae tinha piorado aquele ‘medo’.

Quando minha mãe surgiu da cozinha e observou Kyungsoo, foi algo inesperado, ela sorriu. Minha mãe era uma boa pessoa, mas nunca quebrava sua fortaleza e distribuía sorrisos facilmente para qualquer um, e era como se seus olhos também sorrissem. O mais novo fez uma breve referência, e quando a terminou foi abraçado pela minha mãe.

– Oh, querido, não precisa dessa formalidade. – Disse logo após o soltar. – Ouvi falar muito de você, vem, vamos comer para vocês poderem estudar em paz.

O cheiro do bibimbap preenchia a casa, fazendo a minha barriga roncar, e Kyungsoo parecia também apreciar aquele cheiro maravilhoso, ele provavelmente tinha vindo correndo após o trabalho e nem se deu ao luxo de comer algo, e eu confirmei quando a barriga dele roncou e seu corpo parecia ter paralisado.

– Estou com fome. – Ele me confessou após minha mãe sumir novamente para a cozinha, e a minha barriga também roncou logo em seguida. – Você também está pelo visto.

Acabamos nos olhando e por fim rimos, eu me sentia preso em um mundo alternativo como se nada mais existisse, gostava do som do seu riso e era como se tudo que Kyungsoo fosse me atraísse. Só acordamos do nosso mundo particular quando minha mãe gritou para irmos comer se não a comida esfriaria.

Devorei a comida como nunca, fazia tempo que comia comida enlatada, meus péssimos macarrões ou os assados do Jongdae que nunca estavam no ponto certo, era como provar um pedacinho do céu, e Kyungsoo estava igual, era preparava a sua comida ou viva se alimentando nos locais que trabalhava, mas não existia comida melhor que a caseira... Isso ele também concordava. Minha mãe fazia alguns questionamentos sobre sua vida, nada muito profundo, perguntas básicas como onde ele nasceu, o dia do seu aniversário, o que gostaria de fazer na faculdade – essa única ele pediu desculpas e não respondeu. Eram perguntas bobas, mas que eu sempre quis fazer, anotei mentalmente que seu aniversário era em janeiro, próximo da data da divulgação dos aprovados e eu queria o ajudar a conquistar a aprovação como presente.

Kyungsoo agradeceu pela comida e se ofereceu a lavar a louça, porém, minha mãe recusou e sorrindo disse que deveríamos estudar, que a sujeira ela dava conta. Juntamos o material e fomos para a sala, o aluno tinha trago a prova do dia anterior novamente e aos poucos resolvemos as questões que ele tinha errado e até mesmo as que tinha chutado, elas nunca mais cairiam na prova, mas ajudava a passar um pouco da matéria.

– Detesto matemática. – Kyungsoo deixou a cabeça sobre a mesa dramaticamente. – Isso parece que nunca vai entrar na minha cabeça... Matemática é exata, mas ao mesmo tempo tão abstrata.

– Não tão abstrato quanto os livros de coreano antigo que você leu, isso posso afirmar. – Kyungsoo levantou o rosto e me encarou.

– Aqueles livros fazem parte da nossa cultura, Chanyeol, não dá para ignorar que um dia das Coreias já foram uma e como a escrita foi modificada com essa divisão, me pergunto se em Berlim ocorreu o mesmo. Como também não dá para ignorar que se a resposta for 2, ele pode ser positivo, negativo ou pode não ser nada disso. – Bufou, seu material já estava todo recolhido e apenas restava a prova sobre a mesa. – Queria ter um chip na minha cabeça e saber tudo isso.

– Também queria, mas isso ainda não é possível. Mas uma coisa você poderia me falar, não vai prestar vestibular para nenhuma área de exatas, correto?

Ele pareceu ponderar por alguns segundos, eliminar exatas tirava consideravelmente o número de cursos oferecidos, mas mesmo assim ainda existiam um bom número.

– Você merece saber. Não, não sou de exatas, Chanyeol.

– Administração não é de exatas, é de humanas... – Disse lentamente, captando a sua atenção. –  Há chances de você ser meu calouro? Imagine a quantidade de xerox e resumos que você receberá de mim, do Chen e do Suho.

Kyungsoo levou a mão no queixo e fingiu pensar por alguns segundos. Seria realmente agradável o ver caminhando no mesmo prédio que o meu, e saber que ele poderia vir atrás de mim pedindo ajuda em alguma coisa, mesmo que isso não fosse tão provável já que os C.R.s dos dois Kims eram bem maiores.

– Desculpe, Chanyeol, mas não.

Não sei como, e nem o porquê, acabei o encarando. Meus olhos sempre procuravam os seus, era como dois imãs de polos opostos buscando a sua outra metade. Kyungsoo também olhava meus olhos, seu arco-íris parecia reluzir ao encontro dos meus castanhos. Os olhos são a porta da alma, dizia o ditado, e cara vez que eu olhava seus olhos era como se crescesse a nossa aproximação, a nossa intimidade.

– Você tem olhos bonitos. – Ele me confessou meio tímido, suas bochechas se tornaram rubras e eu sorri.

Sorri verdadeiramente, nunca tinham me dito tal coisa. Baekhyun mesmo uma vez disse que eram olhos incomuns, e eu sabia que ele não gostava deles. Olhos eram algo que eu era fascinado, meu suporte ao meu relacionar com alguém, era onde me encantava pelas pessoas ou as evitava.

– Obrigado.

Queria poder dizer que seus olhos também eram lindos, como eles eram únicos e especiais, mas não podia. Kyungsoo diria que era louco e nunca mais nos veríamos, não poderia deixar que isso nunca acontecesse.

Queria poder toca-lo e acariciar seu rosto, queria poder fechar meus olhos, como queria fechar meus olhos e diminuir a nossa distância e selar nossos lábios. Queria como nunca quis na minha vida.

Mas nada podia fazer.

O Arco-Íris estava longe no céu e mesmo que eu tentasse o tocar, não conseguia. Poderia pular, correr em sua direção, enquanto ele brilhava em um desafio para mim. Ele tinha que querer me tocar, e eu esperava que isso acontecesse...

 

 


Notas Finais


Foto dos olhos dos personagens de ODC https://twitter.com/yehunnie/status/718901653110419456
Chanyeol? https://twitter.com/yehunnie/status/718901998171643904
Não fiz o Kyungsoo pois é trabalhoso e sempre fica estranho, mas para o próximo capítulo tentarei fazer, ok?
Espero que tenham gostado <33 Estou no twitter @yehunnie e https://ask.fm/ohhtwi


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