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História Olhos de Vidro - Hope Doesn't Exist


Escrita por: Ailee-

Notas do Autor


Faz tempo que escrevi essa fic, foi pra um trabalho de filosofia. Postarei em partes pequenas, não sei se em 3 ou duas. Já está todo pronto, então não terá problema com atualização. :) Me baseei num livro que eu ganhei quando era pequena, com uns sete ou oito anos - que por sinal, eu perdi.

Ignorem erros de digitação. -w-

Boa leitura! :)

Capítulo 1 - Hope Doesn't Exist


Fanfic / Fanfiction Olhos de Vidro - Hope Doesn't Exist

OLHOS DE VIDRO – CAPÍTULO UM

"THE HOPE DON'T EXIST".

 

 

— Acorde, Jimin! Você tem uma consulta hoje. — A voz de Mina nunca lhe pareceu tão autoritária, mas haviam dias que ela estava muito pior.

Sua irmã mais velha não perdeu tempo, puxando-o pelos braços no intuito de incentivá-lo a levantar-se de sua cama. Porém, por mais forte e durona que Mina fosse, não tinha forças suficiente para levantá-lo, pois Jimin era muito mais forte que ela.

Paciência. Era o que Mina mais pedia aos céus, já que sozinha ela tinha a responsabilidade de cuidar do irmão caçula de vinte e um anos, Jimin. O problema não era o rapaz em si, pois ele era um bom homem, a maior preocupação dela era que ele era deficiente visual.

Deu-se certo trabalho para convencê-lo a deixar sua confortável cama, arrumar-se, descer as escadas e até mesmo fazer com que ele comesse alguma coisa, visto que ele dificilmente come algo pela manhã. Todavia, comera duas maçãs no caminho até o consultório.

Jimin encostou a cabeça na janela do carro e ajeitou seus óculos escuros em seu rosto. Era realmente uma pena não poder admirar a bela fisionomia dos prédios de Incheon, pobre rapaz, não sabia o que estava perdendo. E aquela beleza não podia ser admirada por qualquer um ao vivo.

Ele odiava ir às consultas, mas Mina o obrigava a ir, ela sempre o obrigava a fazer qualquer coisa, era manda-chuva da família, quer dizer... Bem, ela era a única família eu ele tinha e vice-versa. A mão de ambos morrera duma grave doença terminal. O pai, por sua vez, por conta da depressão pela perda de sua esposa, suicidou-se. É por isso que Mina é tão protetora além dos limites, porque tem medo de perder seu irmão assim como perdeu seus pais. Era seu dever protege-lo o quanto puder.

— Quando é que você vai me deixar arrumar um emprego? — Jimin resmungava, reconfortando-se no banco carona.

Mina suspira.

— Quantas vezes eu preciso lhe dizer? Eu vou cuidar de você, nada irá lhe faltar, não precisa de um emprego.

— Preciso, sim. Cegos também trabalham, sabia?

— Ah, é mesmo? — A moça sorri de canto. Ela nem mesmo deu atenção ao jovem, focada apenas na estrada.

— É. Tipo aquele cara lá dos Estados Unidos de uns anos atrás... Ele era cego e tocava piano e saxofone, até mesmo cantava. Como é mesmo o nome dele? Ah, Stevie Wonder!

— E daí? Você sabe tocar ou cantar? Você não sabe fazer nada!

Aquelas palavras machucavam, realmente, mas Jimin preferiu engolir a seco e fingir que não foram tão impactantes assim. Então, ele disse:

— Eu posso aprender a fazer alguma coisa, noona, nem que seja no ramo das artes ou um vendedor ambulante.

— É só ficar em casa onde é seguro, Jimin! É tão difícil fazer isso?!

Noona!

— Esse assunto morre aqui. — Interrompeu-o, completamente ríspida — Pra sempre.

Jimin bufou, cruzando imediatamente seus braços. Para ao menos tentar amenizar o clima, Mina ligou o rádio, onde tocava “Lightsaber”, do EXO. Ela sempre fazia isso, discutia sobre ele não precisar de um emprego e no final tentava afagar tudo com música. Mina, por que faz isso?

 

 

Desde pequena nunca precisou esperar sua mãe para que esta amarrasse o cadarço do seu tênis; houve uma época em que ela precisou aprender sozinha, descobrindo como fazê-lo perfeitamente e sem a ajuda de ninguém. Hoje em dia as pessoas colocam uma boa música e desfrutam de sua letra e melodia para distrair a cabeça enquanto se arrumam para passear ou quando vão para algum lugar interessante. Menos Dahyun, a única coisa que ela conseguia ouvir eram os gritos dos seus pais. Eram como uma música rebelde e violenta dos anos oitenta.

Só existia uma coisa ela realmente não entendia: como conseguiam quebrar tantas coisas e a casa nunca parecia vazia?

Aqueles acessos de ira, choros altos, gritos, vidros quebrando, pedidos de socorro, como alguém conseguia viver assim? É tão clichê, mas ao mesmo tempo tão comum no mundo em que vivemos. Por que ninguém fazia nada? E quando a pequena Dahyun pisava nos últimos degraus das escadas, seus pais agiam como se nada tivesse acontecido.

“Não vamos prejudicar nossa garotinha”, eles pensavam, “vamos fingir que somos uma família feliz”. Era engraçado dizer que eles só brigavam quando ela não estava por perto? Que idiotas. Dahyun pode ter apenas nove anos, mas sabe muito bem reconhecer uma briga quando presencia uma.

Dahyun amarrou o elástico de qualquer jeito em seus lisos cabelos com poucas ondas de cachos. O elástico vermelho com bolas rígidas de mesmo tom que enfeitavam o objeto. Encontrara sua mãe encolhida num canto quando desceu as escadas, abraçando os próprios joelhos. Ela os umedecia com suas próprias lágrimas, com um grande corte na bochecha direita. Certamente um corte feito por um pedaço de vidro.

— Mamãe, por quê está triste? — Dahyun arqueia a sobrancelha, ainda nas escadas.

— Mamãe não está triste, querida. Mamãe não está machucada, quer dizer... Foi só um acidente.

Dahyun assentiu, ajeitando a mochila em suas costas. A mulher nunca iria admitir que sofria violência doméstica, por isso a pequena nem insistia.

— Volto depois das cinco, não precisa guardar comida pra mim hoje. — Foram suas últimas palavras antes que girasse a maçaneta da porta e rumasse para o seu destino.

 

 

Enquanto via as outras crianças chorando por terem que abandonar seus pais no momento em que entravam na escola, outras até mesmo radiantes, mas segurando as mãos de seu responsável, Dahyun abraçava fortemente sua boneca de pano. Era sua companheira para todas as horas, a linda boneca Momo. Felizmente a boneca poderia acompanha-la no passeio que a escola estava fazendo para o hospital Kaitou para deficientes físicos, visuais, afônicos e auditivos.

E deixavam as crianças à vontade pelo hospital desde que não criassem problemas, mas elas foram orientadas a ter educação e cautela, especialmente com as perguntas.

Jimin já não se dava bem com as crianças, já odiava ter que ir ao consultório, daí decidem juntar ambos e só lhe resta suspirar. Ele teria de permanecer ali até que Mina viesse busca-lo.  

Dahyun não sabia por onde começar. Não gostava de gritar, gritos a faziam sentir-se mal, então teria dificuldades entrevistando os surdos. Tinha dificuldades em língua de sinais e não queria começar pelos mudos. Caminhando pelos corredores, o ar gélido fazendo cócegas em suas narinas e o cheiro misto de álcool e remédios e a visão dos médicos acompanhando os deficientes para os lados, pessoas caminhando com envelopes em mãos — ou até correndo—; Dahyun mal podia concentrar-se em sua entrevista com tudo aquilo à sua volta.

Segurou firmemente o pedaço de papel com as perguntas que faria, cujas mesmas ela improvisou na hora.

Jimin não se sentia bem no meio daquelas pessoas. Todos sentados em círculos e ouvindo um patético discurso da orientadora carregado de melancolia exagerada que não consolavam a ninguém. Aquelas palavras só o faziam perceber o quanto a dor e o sofrimento atormentam os deficientes.

Park Jimin apenas não sabia porque alguns assistentes da orientadora insistiam em gritar tanto quando avisava algo, Era um grupo de cegos, não de surdos. Quando as pessoas entenderiam que por uma pessoa ser cega não significa que automaticamente todos os seus sentidos foram inutilizados? Jimin possuía dons que poderiam ser muito bem utilizados por conta da cegueira, porque aprendeu a dominar bem seus sentidos. Ele possuía uma audição tão aguçada que era capaz até mesmo de identificar uma pessoa ouvindo seus passos ou sentindo seu cheiro. Ele sabia tocar piano e era bom em matemática e biologia.

Nos primeiros anos em que ficou cego, foi um inferno passar pelas ruas de Incheon. O motor das máquinas de construção, pessoas gritando, rindo, conversando, os roncos dos carros... Ele mal podia se concentrar em caminhar com tantos sons em sua cabeça! “Desde quando há tantos sons no mundo?”, uma pergunta que não saía de sua cabeça.

“Só estou cansado das pessoas fazerem piadinhas do tipo: ‘qual sua cor favorita mesmo?’, ‘você viu aquele filme novo?’. Era esse tipo de conversa que ele ouvia todos os dias. Será que ser cego era um crime? E os conselhos dos orientadores eram uma droga — para Jimin. Ele preferia mil vezes ficar em casa “tateando” seus livros, a maioria antigos, porque dificilmente encontra-se um best-seller recente em braile.

Por não conseguir e nem querer concentrar-se naquelas conversas fiadas, Jimin cruzou os braços e fechou os olhos, submetendo-se aos devaneios. Não tinha problema, ninguém iria vê-lo fechas os olhos para dormir, ele estava de óculos escuros. Além de quê, mesmo que eles estivessem fechados, não faria tanta diferença.

Sonhos. Ele tinha sonhos, ele via as coisas, sentia. Concentrou-se imediatamente na cena mais repassada em sua cabeça. Park Jimin, doze anos, uma criança coreana procurando pela saída no porão dum depósito de produtos químicos, tudo estava mergulhado em trevas, o garoto nem mesmo podia enxergar as coisas à sua volta. Naquele momento, guiava-se pelo som de sua própria voz, estava perdido e não sabia o que fazer. Caminhava cautelosamente e tocava tudo o que sentia estar perto de si, sem medo de que fosse algo perigoso.

Era horrível aquela sensação de não poder enxergar, não saber para onde ir, não ter noção de onde estava.

— Ajudem-me! — Ele gritava.

Sabia que havia uma agitação do lado de fora, dava para ouvir as sirenes da ambulância e do corpo de bombeiros por uma pequena janela — uma pequena fresta no topo das altas paredes de aço. Sentia o suor escorrer em suas têmporas, pescoço e costas, quase pôde sentir a morte se aproximando. Ele já estava ali há algumas horas desde a queda de energia na fábrica. O jovem procurava por seu pai, mas não o encontrou, e com tanto barulho do lado de fora, ele sabia que não conseguiriam ouvi-lo.

Sentou-se no chão de tão cansado. Não enxergava nada além da luz vinda da janelinha que não servia para nada. Nem mesmo conseguia alcança-la. Imaginou o desespero dos seus pais, a inquietação de sua irmã, devem estar todos preocupados com ele.

— Mamãe! Eu preciso voltar para minha mãe! — Pensou alto.

Maldita determinação. Nessas horas Jimin até mesmo sentia a mesma dor daquele dia, quando sua cabeça bateu forte numa prateleira com produtos inflamáveis e o ardor do ácido que caiu em seus olhos que parecia queimá-los. Ele gritou tão alto que sua garganta começou a doer, e se o fato de só poder enxergar aquela fraca luzinha o incomodava, agora, ele já não podia enxergar mais nada. Nunca mais.

 

— Jimin, é a sua vez! — O rapaz fora acordado do seu pesadelo pela voz de sua orientadora. Lembrança maldita.

O mesmo levantou-se de sua cadeira, segurando firmemente a longa bengala de ferro, sabendo que ouvidos estavam atentos às suas palavras.

— Ser cego é uma merda. É só isso o que eu digo.

 

 

 

 



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