A Bordo
Há dezessete noites, o navio Sea Princess zarpou da cidade de Londres, na Inglaterra, rumo à Nova Iorque. A embarcação cruzou a Europa de forma terna. No entanto, em noites esporádicas, o oceano esteve rigoroso. Por conta dos balanços, alguns viajantes enjoaram. Outros optaram por dormir um pouco mais. Casos de desconforto rotineiros — lamentáveis, mas comuns. Todavia, nada se comparava àquela madrugada.
Na última noite a bordo, já em mares norte-americanos, as ondas empurravam o navio com força. O choque da maré contra o casco fazia com que o inclinar intenso trocasse o enjoo por um medo descomunal. Nem mesmo a presença de icebergs desenhando a passarela entre a imensidão negra assustou os passageiros daquela maneira. O céu pesado se misturava ao oceano. As únicas cores visíveis eram as beiradas brancas das ondas a quebrarem. De resto, o que facilitava a distinção entre pélago e céu era a possibilidade de um raio hora ou outra dividir a paisagem ao meio.
— Senhoras e senhores, desculpem-me pelo horário. Aqui quem fala é o capitão Dawson. — a voz do comandante entrecortava enquanto propagava por todas as caixas de som no navio. — Venho, por meio deste recado, avisá-los que os motores do navio foram reduzidos devido à tempestade local. Sendo assim, atrasaremos a chegada à Nova Iorque amanhã. Contudo, mesmo com a situação apavorante, não há motivo para pânico. Boa noite. — mentiu.
Os passageiros deitados à cama se desesperaram. Sem coragem para se levantar, eles fecharam os olhos à espera de paz. As pernas se encolhiam bem como os olhos cerravam, como se a posição pudesse salvá-los. Os corpos escorregavam pelo colchão. Entre os pulmões, os corações se debatiam em pavor. Mães de família aninhavam os filhos o mais próximo possível. Alguns precavidos colocaram colete salva vidas. O medo consumia os viajantes. Eles sabiam que aquela poderia ser a última noite de suas vidas.
No entanto, por mais que o receio percorresse os corredores e quartos, os jovens e adultos na boate não temiam. O chacoalhar forte da embarcação inspirava as mentes eufóricas a viver intensamente. Livres. Destemidos. Entregues.
— Se é para morrer, espero partir bêbada! — berrou uma das formandas de medicina, pousando o copo vazio de tequila no balcão. O cotovelo da loira cutucou no braço bronzeado da amiga. — Vamos, Anne. Quer que a minha última lembrança sua seja com esta cara emburrada?
— Estou cansada, Thyele. Estes sapatos estão me matando. Vá com a Tori, encontrarei vocês mais tarde. — desconversou a morena dos olhos azuis, a qual migrou as mãos para a fivela da sandália prateada.
Assim que viu os pés livres, preencheu o banco ao lado com os sapatos. Em seguida, retornou os olhos para as amigas.
— Nós te esperaremos no momento em que estivermos beijando muito na boca. — provocou Vitoria, a outra componente do grupo de médicas recém-formadas.
Anne Hayzell balançou a cabeça negativamente. Ela não estava feliz. Apesar de ter finalizado os estudos, encarar o mercado de trabalho era só um dos seus passos para a vida adulta. O amadurecimento obrigatório era o que a apavorava. Ondas certeiras pareciam bobagens para os olhos azuis ansiosos — e receosos — pelo futuro. Com certeza a distância mudaria a amizade com as meninas. A formanda dependeria dela mesma para tudo, não que antes fosse diferente. A cobrança lhe assustava, o perfeccionismo doentio. Hayzell não tinha os pais exigentes ou ríspidos. Para assombrá-la por completo, ela quem se exigia demais.
Dispersando todo e qualquer pensamento que lhe viesse à mente, uma mão tocou o ombro despido pelo vestido. O rosto polvilhado de sardas se virou para o homem em pé ao seu lado. O rapaz era loiro, tinha os olhos castanhos e um lábio carnudo. Para a surpresa dela, o desconhecido carregava um cigarro acima da orelha enquanto segurava um copo de uísque pela metade. Os dedos que tocavam a pele bronzeada estavam repletos de anéis, como uma espécie de gângster. Ao seu julgar, um visual deplorável. Definitivamente, mesmo com toda a beleza aparente, aquele moço não fazia seu tipo. Céus! Ele usava jaqueta de couro.
— Com licença, a senhorita poderia retirar a sandália para eu me sentar, por favor? — muito educado para um gângster, talvez Anne estivesse sendo preconceituosa. A morena se prontificou a pegar os sapatos, colocando-os próximos à base do banco em que estava sentada.
Ao invés de respondê-los com palavras, ela preferiu sorrir.
O homem trajando jaqueta de couro se abancou na cadeira alta ao lado da moça com olhos azuis. O tom de caramelo passeou calmamente por cada parte de seu corpo. O trajeto começou descobrindo os pés cansados, em seguida subiu pelas pernas torneadas e bronzeadas, elevou-se à diferença entre os seios avantajados e a barriga chapada, e, finalmente, estacionou nas sardas delicadas sobre as bochechas. Aquilo fora tão invasivo que Anne corou, cruzando as pernas para o lado oposto.
— Posso saber o nome da madame solitária no bar?
— Anne Hayzell. — disse a moça com os olhos azuis brilhantes, ao estender a mão.
— "Hazel"? Seria você a Hazel Grace Lancaster? — divertiu-se sozinho, unindo sua mão a dela.
— Não. — os orbes cerraram em reprovação, abandonando o cumprimento. — Apenas, Hayzell.
— Eu sou Sober, Edward Sober. — apresentou-se.
— Não perguntei.
Num gole só, o líquido, o qual delimitava a metade do copo baixo, foi tomado. O vidro chocou contra o balcão de madeira do bar, fazendo barulho estridente, devido à velocidade incrível na qual voltou. O calor da bebida fez com que Ed retirasse a jaqueta preta, revelando, desta forma, as tatuagens.
— Você precisa ser menos grosseira. — a morena bufou enquanto revirou os olhos. — Isso afasta as pessoas.
— Você se aproximou. — a resposta irônica acompanhou um sorriso provocante.
Ed rosnou, surpreso com a reação da moça com os azuis. A mão repleta de anéis subiu em direção a uma parte de sua franja que escapava do topete. Anne analisou cada movimento do perfeccionista. Preencheu os pulmões de ar e os esvaziou pesadamente.
— O que você quer comigo? Não transarei com você, poupe-me de suas cantadas baratas. — cuspiu todo o seu desgosto.
— Esta é a imagem que eu passo para as pessoas? Não vim aqui para te passar cantadas. — explicou-se, sem muita crença da formanda em medicina. — Eu te observo desde o primeiro dia de viagem. Você tem traços fortes, eu gosto disso.
— E a parte em que disse sobre não me xavecar?
— Não foi uma investida, eu fui sincero. — com esta resposta, o loiro conseguiu mais uma revirada de olhos da morena. — Você luta boxe?
— Por quê? Está afim de levar uns socos? — provocou com tamanha ironia.
— Meu Deus! Você é perfeita.
— Vá se foder. — esticou o pé, empurrando o banco para longe de si. — Afaste-se de mim, ou chamarei a segurança.
— Você está entendendo tudo errado. — gargalhou da reação explosiva. — Eu não estou te assediando. Sou escritor e quero descrevê-la como a minha personagem protagonista. Desde o dia em que te vi malhando com as tranças de boxeadora, eu tive certeza de que você era a minha Renai. — esclareceu.
Hayzell deu a devida atenção. Ainda em dúvida, ergueu uma das sobrancelhas negras.
— Escritor? Você?
— Nunca ouviu dizer sobre "Sober", "Os olhos de Jane" e "Omission"? — conforme ele citava, ela negava com a cabeça. — Então, com todo o respeito, a senhorita não entende nada sobre literatura.
— Não perco o meu tempo com tolices. — defendeu-se sem hesitar. — Garçom, uma vodca, por favor. — solicitou ao barman. — Diga-me, como seria esta "Renai"?
Edward não economizou ruídos na risada desajeitada. Podia-se notar uma pitada de deboche em seu devaneio.
— Terá que ler o livro. — zombou.
Os lábios macios se esticaram num sorriso desgostoso, o qual transmitia friamente seu sarcasmo.
— Onde estão as suas amigas? — arrumou um assunto qualquer para evitar pesar ainda mais o clima entre eles.
— Devem estar por aí aos beijos com algum ricaço, ou, no caso da Tori, alguma peituda. — riu de si mesma. — E o que faz um escritor "tão renomado" — gesticulou as aspas — estar em um cruzeiro sozinho?
— Engano seu, srta. Hayzell. Eu vim acompanhado... Da família, porém com companhia. — retrucou com o peito preenchido em orgulho.
— Ah é? Cadê ela?
O braço tatuado se esticou, apontando para a mulher com maquiagem forte e cabelos platinados, a qual estava recostada na parede. Suas pernas estavam envoltas ao redor da cintura de um rapaz tatuado com cabelos compridos. Os olhos azuis de Anne se arregalaram com a cena em meio à pista de dança.
— Aquela ali é Chelly, a minha irmã. — dava para ouvir o riso escondido em sua fala.
— Alguém com nome normal. — ironizou.
— Para o mundo do Jazz, ela se chama Cherrfire. — disparou, ciente do efeito que lhe causaria.
Anne gargalhou, afundando o rosto na vodca gélida. Em seguida, reprovou com frieza:
— Vocês precisam rever esses nomes artísticos.
Os tons de azul e castanho se encontraram numa risada doce. As ações se extinguiram. Aquele era o primeiro indício de paz entre eles. Sempre uma troca de olhares complexa.
— Vamos "bater sério"? — o loiro ergueu a sobrancelha castanha, um tanto confuso. — Ficamos nos encarando, sem dizer uma palavra. Quem rir primeiro perde. — Hayzell esclareceu.
— E o que eu ganho se vencer? — ele molha os lábios com a língua.
— O que quiser... desde que não envolva dinheiro.
Em tom sarcástico, Edward riu. Balançou a cabeça positivamente, ciente do que a proporia.
— Eu quero um beijo.
Os dentes grandes e brancos de Anne se revelaram no sorriso que estampou seu rosto.
— Tudo bem, Ed. — a esperança era nítida nos olhos castanhos. — Mas, se eu ganhar, você nunca mais me direcionará a palavra.
— Prepare-se para o melhor beijo de sua vida, Hazel Grace. — debochou de maneira soberba.
— Eu nunca perco.
A imensidão azul se franziu, quase se tornando escassa em meio aos cílios negros. Os olhares se encontraram em silêncio, numa batalha fria de gana pela vitória. Anne podia enxergá-lo através da íris carameladas, bem como Edward mirava a doçura por trás da frieza dela. Sober observava os lábios desenhados da morena, a pele bronzeada polvilhada de sardinhas e, o que, para ele, era mais encantador em seu rosto, o tamanho exagerado dos olhos. Aquele par turquesa penetrava. Céus, como aquilo o instigava. Por outro lado, Hayzell sentia os tons se misturarem.
O castanho no azul. O azul no castanho.
Apesar das desavenças, eles estavam conectados. O balançar do navio não era o suficiente para impedir que aquela troca de olhares interrompesse. Anne não se daria por vencida. Nunca. Desde a escola, ela sempre venceu aquela disputa de olhares. Afinal, ninguém nunca foi mais sério do que a morena. Porém, aquela noite não era como as outras. Nada que era comum estava acontecendo. Isso não seria diferente para Hayzell, quem sorriu assim que se recordou da prenda tola caso perdesse. E perdeu.
— Você sorriu! — acusou o escritor, minutos depois do longo silêncio.
— Aquilo não foi um sorriso, eu só movi um dos cantos da boca. — trapaceou. — Isso não conta.
— Aceite, Grace. Você terá que me beijar. — cada palavra abandonou sua garganta com gosto, apreciando a aversão em seus olhos.
— Cuidado, querido. — provocando-o, mordeu o próprio lábio. — Corre o risco de se apaixonar.
— Não se preocupe, eu não me apaixono facilmente.
Como num golpe veloz, uma das mãos de Edward invadiu o cabelo de Hayzell, deixando-a completamente imóvel. Os olhos azuis vibraram surpresos com a atitude, bem como sua respiração modificou. Em forma de resposta, as mãos de Anne seguraram-no o rosto desprovido de barba enquanto o ritmo de seu coração alcançava o do ar faltando nos pulmões. A outra mão de Sober tomou a cintura fina da morena, extinguindo, assim, a pouca distância entre eles.
O par de olhos âmbar não conseguia se decidir se mirava os lábios carnudos ou os orbes grandes. Ora delimitou o desenho da boca da morena, ora se imaginou nadando no azul da íris. Pouco a pouco, aproximou-se dos lábios. O espaço entre eles era quase nulo. Anne conseguia sentir o calor da respiração dele aquecer sua pele do lábio. Seu interior ferveu, trazendo consigo a sensação de borboletas no estômago.
A mão esquerda, a qual antes segurara a cintura estreita, subiu para se repousar no maxilar marcado da formanda. Num trajeto breve até sua boca, ele estacionou o polegar sobre os lábios desenhados. Lenta e cautelosamente, Edward acariciou o lábio inferior de Hayzell, quem se estremeceu com o toque. Os olhos azuis se fecharam, entregando-se ao momento.
De supetão, os dedos embrenhados nos cabelos negros puxaram fortemente os fios e, desta forma, afastaram os dois. Um sorriso torto estampa o rosto do escritor, que não hesita em provocá-la:
— Não te darei a honra de ser beijada por mim.
Anne ficou estática, com o coração prestes a saltar para fora. Ela não sabia se o sangue formigava nas artérias pela vontade de beija-lo ou movido pelo ódio de sua atitude. De qualquer modo, Hayzell não perdeu a pose. Arrumou os cabelos com a mão, acalmando a respiração trôpega.
— Graças a Deus. — mentiu na cara dura. — Eu odiaria estar na sua lista interminável de trouxas.
— Faremos um combinado, já que você me deve um beijo: caso sobrevivamos e nos reencontremos fora daqui, nós nos beijamos. Se isso nunca acontecer, fingiremos que essa dívida nunca existiu.
— Fechado, só não sonhe comigo na hipótese de não calhar. — um dos olhos azuis se fechou numa piscadela provocativa.
Os olhares intensos como uma bala de fuzil perfuravam um ao outro. A corrente elétrica em volta dos dois era nítida. Qualquer um presente naquela boate conseguia enxergar as faíscas ao redor de Hayzell e Sober. Até eles mesmos.
Faltando poucos minutos para o dia raiar, a coloração cinza plúmbica tomava os céus. As nuvens não abandonariam o entardecer. Cientes de que estavam a poucas horas do possível naufrágio, os dois resolveram se aventurar como adolescentes. Assim que a música trocou para uma batida extensa e pesada, Anne dançou como se ninguém estivesse olhando. Ed se divertiu com a coreografia desconexa e a imitou.
Os corpos se encontravam na pista. De costas para ele, Hayzell rebolava próximo ao abdômen trincado. O fervor provocado pelos troncos em movimento obrigou a morena erguer os fios num coque emaranhado. A pele úmida de seu pescoço exalava o resto de perfume diretamente nas narinas de Sober, quem não tardou em se perder em meio à fragrância.
Num rodopio brusco, a recém-formada se virou para o escritor. Um dos braços magros e bronzeados puxou o pescoço tatuado para mais perto de si. Na ponta dos pés descalços, Anne alcançou o ouvido direito de Edward.
— Você é o primeiro heterossexual que dança comigo sem ficar excitado. — provocou o novo amigo. — Tem certeza de que eu te devo um beijo?
— Anne, falta muito para você deixar o meu pau duro. — caçoou da morena, quem paralisou diante dos olhos castanhos. — Estou brincando, você é linda. Eu só respeito as mulheres. Imagino que seja horrível dançar com algo rígido nas costas. — Hayzell sorriu. — Você ainda se surpreenderá muito comigo.
— Mostre-me. — gritou com os lábios ainda próximos ao ouvido dele.
Rapidamente, sua mão foi puxada com força para fora do salão. Os dois começaram a correr nos corredores.
— Aonde estamos indo, Ed? — indagou em meio ao disparo. — Você é louco!
— E você está me seguindo.
Os dois gargalharam juntos, imprudentes. As mãos de Edward pousaram na porta para área externa. Anne parou, receosa. Assim que o portal fora aberto, os olhos azuis analisaram o deck molhado de chuva. O escritor saiu destemido, e ela o seguiu devagar.
— Ed, espere! — berrou, fazendo-o parar na chuva. — Eu esqueci minha sandália.
— E eu a jaqueta. — os lábios se elevaram num sorriso gengival terrivelmente sexy. — Venha!
Molhando os pés por completo nas poças largas sobre o deck, os dois dançavam sob os ruídos pouco audíveis da música extravasando a boate. As gotas grossas molhavam todo piso claro da embarcação junto aos corpos girando conforme a melodia. Ambos se divertiam e entregavam um ao outro.
Para a surpresa de Hayzell, Sober disparou em direção à piscina que transbordava. Imitando seus movimentos, ela faz o mesmo. Uniu ambas as pernas na hora de saltar, formando uma bomba perfeita. Uma onda se formou, desfazendo-se em segundos. Os pares de olhos se ergueram e vigiaram os desenhos formados por raios no céu acinzentado. Ora navio inclinava, afastando os dois... ora o balanço jogava os corpos um contra o outro.
A proximidade os instigava. O medo nem se quer passava por suas cabeças. Os cabelos negros deslizavam pela água salgada misturada à doce da chuva, o que desmanchou o coque sem dificildade. Anne fechava os olhos apreciando o momento. Edward se inclinou para trás, deitando-se na linha d’água, e o corpo boiou. Sem pensar com sua sanidade, a formanda caminhou até o tronco flutuante.
Hayzell analisou cada detalhe do rosto desenhado de Ed. Ela fora friamente prepotente quando o julgou como deplorável. Ele era, sem dúvidas, o seu tipo. Como aquele homem não seria o tipo de alguém? Devê-lo um beijo não era um castigo, muito pelo contrário. A mão delicada da morena tocou a pele úmida do rosto de Sober, e o despertou do transe. O loiro ficou de pé.
— O que houve?
Ela engoliu em seco e deu um passo para frente. Segura. À vontade.
— Não gosto de ter dívidas. — e direta, como de costume.
Antes que ela pudesse hesitar, avançou afoitamente. As respirações se cruzaram de maneira doce. Os orbes azuis vigiavam os lábios receptivos, os quais sorriam. A ponta arredondada do nariz de Anne contornou a maciez do beiço trêmulo. Edward estava ansioso. Por mais que omitisse, ele desejou este momento desde a primeira vez em que a viu.
— Anne! — berrou Vitoria, interrompendo-os completamente. — Desculpem-me, atrapalho?
Hayzell se virou bruscamente, com as bochechas ardidas em vergonha.
— Claro que não. — mentiu. — Pode falar.
— Está na hora de irmos. Ainda precisamos encontrar a Thyele em algum dos quartos. — a morena assentiu.
Com a ajuda de Sober, a recém-formada galgou a borda da piscina e caminhou ao lado da amiga. Os dois acenaram, despedindo-se.
— Então, Hazel Grace, a dívida está de pé. — provocou.
— Pode me chamar de Renai, acredito que esta personagem marcará ainda mais adolescências.
O brilho nos olhos era nítido junto à esperança nos lábios de se reencontrarem. Os dois se afastaram de vez, quando seguiram cada um para um lado. A busca por Thyele foi breve. No mesmo quarto em que Chelly transava com o cabeludo, um árabe investia na médica recém-formada.
Poucas horas depois, o cruzeiro ancorou no Porto de Nova Iorque. Aos poucos, os passageiros desembarcaram. Anne enrolou tudo o que pôde, na ideia de se despedir como desejava do escritor. Porém, ele não apareceu. Somente as três médicas e os tripulantes estavam na embarcação àquele horário. Hayzell segurou as malas com força, seguindo para a saída.
Confortada de que a madrugada havia sido única, adentrou o táxi em direção à 5ª Avenida, onde ficaria hospedada. Os seguranças do hotel as ajudaram com o transporte das malas até o quarto. A morena encarou o cartão que abrira a suite no navio e sorriu, aguardando-o na bolsa.
— Meninas, estou com uma ressaca forte. Tomarei um café na Starbucks aqui embaixo, ok? — “ressaca” foi a melhor maneira que ela encontrou para descrever como se sentia naquele momento.
Retirou-se do quarto, rumo ao elevador. Apertou três vezes a mais, além da necessária para chamá-lo. Ela queria sumir. A porta de metal se abriu e o olhar tenso de Anne filmou dos pés à cabeça o indivíduo parado ali. Era ele, Edward Sober, vestindo a maldita jaqueta de couro com as sandálias prateadas na mão.
Os lábios de Anne se ergueram de imediato e os olhos se encontraram mais uma vez. O azul no castanho. O castanho no azul. Hayzell e Sober. Sober e Hayzell.
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